Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Meu Diário
20/09/2018 07h34
Origens da Igrejinha de N. S. da Conceição Aparecida (1) A descoberta da imagem

Ilustração: Imagem de N. S. da Conceição, pertencente ao acervo da Família Campos, de Lambari, MG, que aqui aparece com a coroa encontrada junto da imagem


SUMÁRIO


Apresentação

Registra a memória da Família Campos (Lambari, MG) que uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada em fins do Século XIX na fazenda dos Campos, e que, desde então, Nossa Senhora passou a ser objeto de devoção no seio daquela família.

Dessa tradição foi que surgiu a Capelinha e depois a Igrejinha de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na Vila Campos, em Lambari, MG.

Essa é a história que vamos narrar, em três etapas. Abaixo vai a primeira parte: A descoberta da imagem.

Vamos lá.


VEJA TAMBÉM:

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A descoberta da imagem

A Vila Campos, em Lambari, MG, situa-se em parte de antiga gleba de terras que pertenceu à Família Campos, desde meados do Século XIX.

O núcleo dessa família era constituído por Antônio de Campos (Tonico), Joaquim de Campos e José de Oliveira Campos (Zeca).

Tonico de Campos era pai de Antônio de Oliveira Campos (Seu Toninho de Campos, que foi proprietário do Hotel Rezende - aqui).

Zeca Campos e Rita Agripina são pais de Ana e Francisca, duas irmãs que foram casadas com Francisco Guimarães (Chicão) e Alfredo Guimarães (Alfredinho), ambos irmãos de José Batista Guimarães, meu avô paterno (veja aqui).


  • José de Oliveira Campos e Rita Agripina de Oliveira Campos tiveram os seguintes filhos: José de Oliveira Campos, Maria de Oliveira Campos, Geralda de Oliveira Campos, Conceição Campos Pereira, Ana Campos Guimarães e Francisca Campos Guimarães.

Francisco Guimarães (Chicão) e seu filho Expedito

Alfredinho Guimarães (sentado) e seu irmão José Batista Guimarães 


Nos fundos dessa propriedade da Família Campos, formara-se uma capoeira em aclive, na qual criava-se gado e plantava-se milho. Na divisa, que dava para a pedreira do bairro Vila Nova, havia um valo, e na borda deste alteava-se uma árvore de óleo copaíba.

Árvore de copaíba - Reprodução - www.sitiodamata.com.br

Narram as tradições da família Campos — confirmadas por descendentes próximos: Expedito Campos Guimarães (neto) e Bernadete Campos Guimarães (bisneta) —, que em finais dos anos 1800, após a colheita do milho, foram jogadas no mencionado valo as palhas e hastes secas. A seguir, fez-se uma queimada, visando à limpeza e nutrição do solo em que o milho fora plantado (essa prática, hoje proibida, era comum à época desses fatos).

Expedito Campos Guimarães, filho de Ana Campos e Francisco Guimarães


O fogo subiu ladeira acima e quando chegou ao valo os trabalhadores notaram que dentro dele, próximo da copaíba, estranhamente, havia um lugar que o fogo passava por cima mas não queimava as palhas e hastes secas do milharal abatido.

Montagem: Fogo no milharal e imagem de N. S. da Conceição - Imagem: Reprodução. Fonte: Depositphotos

Correram para verificar o acontecido e encontraram, num buraco cavado no barranco, uma caixa de madeira, contendo uma pequena cruz e um brasão de cobre, e uma coroa; e, ao lado da caixa, uma imagem de Nossa Senhora Conceição, sem a coroa característica da santa. 

Mais deslumbrados ficaram ainda quando descobriram que a imagem fora talhada em madeira.


Objetos encontrados juntos à imagem da Virgem Santíssima

Nesta foto se pode ver que a imagem foi talhada em madeira

  • A imagem mais que centenária de N. S. da Conceição, com a coroa encontrada na caixa de madeira
  • A coroa não é a original da imagem, como se pode notar
  • A imagem guarda ainda manchas da fumaça e cinzas da queimada

Nesta foto, a imagem aparece com uma nova coroa

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A peregrinação da imagem

A partir desse fato, N. S. da Conceição passou a ser objeto de culto doméstico no seio da Família Campos, que, diante da imagem com marcas de fuligem, realizavam rezas e terços no ambiente doméstico.

Assim foi que em face de estiagens mais demoradas, as mulheres da Família Campos providenciavam uma novena para pedir a intercessão de N. S. da Conceição

Esse ato de fé católica não se dava somente na Família Campos, pois, com efeito, Expedito Campos Guimarães recorda que, ainda menino, sua avó Rita Agripina dizia:

Expedito, leva a imagem da Santa para a comadre Alexandrina, que lá nas bandas do Serrote tá carecendo de chover.

E lá ia o Expedito, todo fagueiro, conduzindo a imagem de N. S. da Conceição para a fazenda da Dona Alexandrina.

Tempos depois, dona Rita Agripina gritava novamente:

Expedito, busca a Santa, que a chuva por aqui tá demorando a cair!


Outra parte dessa história me contou o Serminho (Anselmo de Assis Pereira, neto de Dona Alexandrina). Diz ele que pelos idos de 1950, sua avó aprontava a charrete e dizia:

Vamos Serminho, vamos à casa do compadre Toninho de Campos buscar a Santa, modo de fazer a novena das chuvas.

Como dito acima, esse Toninho de Campos era um dos irmãos Campos, que por essa época morava nas proximidades da antiga matriz de N. S. da Saúde, acima do então cemitério da cidade (o chamado Cemitério Velho).

E assim foi que a imagem de N. S. da Conceição salvada do fogo peregrinava pelos sítios e fazendas de Águas Virtuosas de Lambari, conduzida pela fé católica de famílias devotas.


(*) Alexandrina de Assis Pereira, casada com Anselmo de Assis Pereira, é avó de José de Assis Pereira (Zequinha) e Anselmo de Assis Pereira (Serminho). Esses dois são filhos de Luiz de Assis e Ana Catarina de Carvalho. A família Assis Pereira morava numa fazenda no morro Serrote, na divisa com o bairro rural de Nova Baden, que ainda hoje pertence aos descendentes de Dona Alexandrina.

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Origem da imagem

Quanto à origem dessa imagem de N. S. da Conceição, a tradição narra três possíveis fontes:

  1. Teria sido perdida ou posta naquele local por bandeirantes paulistas a caminho das minas de ouro e diamantes da Província de Minas
  2. Teria sido posta naquele local por escravos fugidos das fazendas da região da Vila da Campanha do Rio Verde (atual Campanha, MG)
  3. Teria sido posta naquele local por antigos moradores daquelas terras.

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Guarda da relíquia familiar

A partir dos anos 1950, a imagem de N. S. da Conceição permaneceu sob a guarda das irmãs Maria e Geralda de Oliveira Campos.

As irmãs Geralda e Maria de Oliveira Campos

Foram essas duas que criaram, desde os três meses de idade, a sobrinha Bernadete Campos Guimarães, e, após a morte daquelas, nos anos 1980, a relíquia pertencente à Família Campos ficou sob a guarda de Bernadete. Aliás, de Bernadete e seu marido Marco Antônio de Oliveira.

Religiosos, o casal Bernadete e Marco Antônio ao lado da imagem peregrina de N. S. da Saúde

Na residência do casal Bernadete/Marco Antônio, a imagem está posta num oratório, que aparece iluminado

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Glossário

  • Aclive: Inclinação do terreno (considerada de baixo para cima); aclividade, ladeira.
  • Capoeira: 1. Terreno cujo mato foi roçado e/ou queimado para cultivo da terra ou para outras finalidades.

2. Mato ralo, constituído por vegetação de pequeno porte, que nasce em terrenos esgotados e abandonados depois da derrubada de mata primária. Terreno cujo mato foi roçado e/ou queimado para cultivo da terra ou para outras finalidades.

  • Copaíba: Denominação comum a árvores do gênero Copaifera, que fornecem madeira de qualidade e um óleo usado com finalidades terapêuticas e também na fabricação de vernizes e na produção de cosméticos; pau-de-óleo.
  • Haste: Parte do vegetal que se eleva do solo e serve de suporte aos ramos, às folhas e às flores; hástea, hastil.
  • Queimada: Ato de queimar mato ou vegetação, geralmente com o objetivo de preparar o solo para uma nova semeadura ou plantação; queima.
  • Valo: Escavação no solo, de profundidade média, natural ou artificial, para escoamento da água, proteção ou divisão de terrenos. (Dic. Michalelis)

A segunda parte: A construção da Capelinha de N. S. Aparecida

Veja a segunda parte deste post: A construção da Capelinha de N. S. Aparecida - aqui

Aguarde.


Referências

  • https://www.sitiodamata.com.br
  • https://depositphotos
  • Entrevista com Expedito Campos Guimarães
  • Entrevista com Bernardete Campos Guimarães de Oliveira e Marco Antônio de Oliveira
  • Memórias da família de Rubens Gentil Lobo
  • Acervo pessoal do Autor

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Publicado por Guimaguinhas
em 20/09/2018 às 07h34

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