Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
MEMÓRIAS DA INFÂNCIA - Campinhos de peladas
Ilustração: Capa do livro Pelada - Uma Volta ao Mundo Pelo Prazer de Jogar Futebol. Gwendolyn Oxenham. Edições Zahar. Reprodução (aqui)
SUMÁRIO

     - Apresentação
     - Jogo de bola no livro Menino-Serelepe
     - Meus campinhos de pelada
     - Regras dos campinhos de pelada
     - Referências
     - O livro Menino-Serelepe

Apresentação

(Na fazenda do Braizinho) ...joguei bola descalço contra um time de roceiros calçados de botina...
(Do livro MENINO-SERELEPE)

Boa parte de minha infância e juventude eu "gastei" correndo atrás de uma bola. De fato, aqui no GUIMAGUINHAS já contamos diversas histórias — todas verdadeiras — sobre minha "fome de bola" e de meus companheiros de peladas, como estas:

Hoje vou recordar alguns campinhos de peladas onde jogávamos de segunda a sábado, religiosamente. E era também por causa da religião que descansávamos no domingo...

Vamos lá.

 
Jogo de bola no livro Menino-Serelepe

Como escrevi em post anterior:
 
Par! Ímpar!... Ganhei! Eu escolho!

Para qualquer menino que jogou uma pelada, num campinho qualquer do Brasil, essas eram as palavras mágicas: as que davam início ao espetáculo. Em Aguinhas não era diferente.

Deixei anotado em o Menino-Serelepe diversas passagens sobre “jogos de bola” e “peladas” de que participei: jogo de bola de meia nas ruas da Vila Nova, jogo de bola no campinho do Chafariz, na roça do primo Braizinho, no Pasto do Fubá, no recreio do Coleginho, no campinho da Capoeirinha, na graminha do Hotel América, na quadra de terra da Igreja Protestante...

A verdade é que na nossa meninice — eu e Xepinha, e depois o Celinho Brigagão — rodávamos a cidade inteirinha a busca de uma pelada... Éramos fominhas de bola — como então se dizia.

Pois bem, num sábado desses, saí de carro por Aguinhas para rever esses antigos campinhos de pelada: Capoeirinha, Cerâmica, Vila dos Pobres, Igreja Protestante, Chafariz da Vila Nova, Piscina do Parque Novo, Barrancão do Cassino... E não há mais campos de peladas, nem jogo de bola, nem garotos batendo bola na rua...

Saudosismo? Certamente. Não tínhamos outra coisa pra fazer? Fazíamos muitas outras coisas, mas nada superava o jogo de bola!
 

No livro Menino-Serelepe anotei diversas passagens sobre jogo de bola, como dizíamos.

Confira:

Campinho do Chafariz

(A professora, olhando para os meus sapatos, disse:) 

— Mas, menino, como você conseguiu isso? Você vem chutando paralelepípedos da Vila Nova até o Grupo?

“Paralelepípedos não, pensei cá comigo, mas tudo o resto: pedras, tampinhas, bagaço de laranja, casca de banana... E, claro, bola na Rua de Cima, bola na Rua de Baixo, bola no campinho do chafariz, bola no recreio, bola depois da aula, bola, bola, bola...” 


Campinho do Pasto do Fubá

Depois, apareceu o Sérgio, um menino mais velho, filho da Salica. Ele trabalhava e nas horas vagas batia bola comigo num campinho em que o gol era formado por dois cupins...

 
Campinho do Coleginho

O meu grande lance desse ano de Coleginho foi, como quase sempre, a bola. E como lá havia um enorme campo, era uma correria na hora do recreio e outra depois da aula. Certa feita, por ocasião das festas juninas, a direção da escola estava organizando uma quadrilha e eu me apresentei para o ensaio, peguento de suor, com a roupa grudada ao corpo e marcada de terra e de grama, já que o jogo de bola do recreio havia sido muito disputado, com são-joão comendo pra todo lado e todomundo pegando tatu.

 
Campinho da Igreja Protestante

Dia de sábado, três horas da tarde, sol de rachar mamona... As aulas de religião da Igreja Protestante acabam de terminar e o jogo de bola já pode ter início. Uma semana inteira de chuva, trabalheira dos diabos, botamos pra jambrar e ainda assim gastamos toda a manhã pra deixar “o campo” — uma quadra de terra, com as laterais demarcadas por tijolos presos ao chão — prontinho para uso. Riscos de areia delimitam os lados do campo e as áreas. Traves novas, cortadas do bambuzal e areia extraída da pedreirinha, materiais retirados da pequena mata onde se situa a fábrica de lajes e a torrefação do Tião Fernande
 

Meus campinhos de pelada

Toda tarde saíamos "caçando beira", como se dizia. Onde éramos conhecidos, logo entrávamos no jogo. Em outros, onde os grandes jogavam, ficávamos esperando, esperando, até que alguém dizia as palavras tão aguardadas: — Entra aí, menino!

Bateu saudade, aí fui rever e fotografar meus campinhos de pelada.

Confira:

 


Trecho do bairro Vila Nova onde nasci e vivi até os meus 8 anos. À esquerda, a "Rua de Baixo", à direita, a "Rua de Cima" (Reprodução: GoogleMaps)




Meus primos Mingo, Chica e Cida, e nossos primos, filhos de Estela Bruno, bem na esquina da Rua do Meio com a Rua de Baixo.
Por esse tempo, se jogava com bola de meia recheada de panos velhos...


Veja também: A Vila Nova do meu tempo


Aqui, no bairro Vila Nova, próximo do antigo pontilhão, havia um chafariz e ao seu redor um campinho, onde jogávamos bola depois da aula: Eu, meus primos, o Ieié (da Dita do Oswaldo), o Sérgio (da Rosa Cruz) e outros meninos. (Reprodução: GoogleMaps)



O campinho da Igreja Protestante é o que descrevi linhas acima. Aqui, geralmente, jogavam:  Eu, os Costa: Xepinha, Lizeu, Toninho. Os irmãos “E” — Edísio, Edgar, Edílson. E mais Paulo, Mário e Alberto, filhos do Pastor Jézer Canelhas. 

 


O campinho da Capoeirinha ficava à margem da via férrea, em direção ao pontilhão,  
onde hoje é um depósito da Prefeitura.
A turma do Coleginho, eu incluso, comandada pelo Evandro Zaroni, jogava aqui contra os meninos da Volta do Ó e os da Parada Mello. 
Tínhamos um jogo de camisa verde musgo, com os número nas costas, pintados com tinta a óleo





O campinho da Cerâmica. O local onde se situava a antiga Cerâmica foi loteado e hoje é área residencial.


Tijolo fabricado na Cerâmica do grupo ABI

Lá jogavam os moradores do bairro Campinho e Vila Nova: Tatá, Tinz, Chá, Jaú, Delém, Guelinha, Virgilinho, Emerson, Robertinho e tantos outros.
Aqui era difícil arranjar uma "beira", pois só tinha "neguinho bom de bola"...





Próximo deste local, situava-se o campinho da Fábrica de Garrafas (terrreno da antiga fábrica), na Volta do Lago, onde hoje existe o Grupo Escolar e a quadra de esportes da Vila Brasil. Lá, eu, Xepinha e Celinho jogávamos contra Zé Paulo (engraxate), Ricardo, João (carroceiro), João Mariano, Sérgio Diniz e outros companheiros de bola. 

Uma aventura de meninos: — Certa feita, eu, Xepinha e Celinho, às escondidas, fomos, num domingo de manhã, com o time da Vila Brasil jogar em Olímpio Noronha.
Voltamos às duas horas da tarde e ficamos uma semana dando explicação em casa...



O campinho do Cassino ficava terreno ao lado do Cassino, onde há a escavação de para uma quadra de esportes que não foi concluída. Lá, primeiramente, eram escolhidos os mais velhos (Betinho do Cassino, Alencar "Mengálvio", Picolé, Gracilino Raça, Betão do Bemge, Sérgio Raimundi); e, se "sobrasse beira", entrávamos nós, os meninos.
Conforme dita famosa regra de peladas (Quem isola, busca), a gente toda hora mergulhava no lago para apanhar a bola.



A turma acima citada também batia suas peladas no campinho da Piscina do Parque Novo



Anos 1950: Eu e meu primo Beto, no campinho do Hotel América.



Nesse campinho improvisado, fazíamos tabela com o paredão, mas tínhamos de driblar o poste. Aqui se reuniam: Eu, Tista (meu primo), Zé Plínio dos Santos, Oswaldo Luiz, Marquinhos e Toninho do seu Camargo, Carlos Alberto e Ike, Zé Maria Plínio, Dimas, e, às vezes, a turma do Coleginho: Alexandre Bandeira, Zé Elias Simes e Luiz Henrique.



Campo do Coleginho, onde se davam os recreios com "jogo de bola", que descrevi acima.



Nos anos 1950, lá eram disputados também jogos de campeonatos internos. No fundo, pode-se ver o Coleginho. À frente, o time do Águas Virtuosas, entre eles, em pé: Hélio Fernandes, Chico Panu, Betinho Santoro. Agachados: Nenê Nascimento, Quinzinho, Crisóstomo, Maurício Sousa e Vavá Bacha
 

Regras do campinho de peladas
 
REGRAS DO FUTEBOL DE RUA DE ANTIGAMENTE!
  
*✅(1) Os dois melhores não podem estar no mesmo time. Logo, eles tiram par-impar e escolhem os times.*

*✅(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.*

*✅(3) Um time joga sem camisa e o outro com camisa.*

*✅(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de agarrar.*

*✅(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um agarra até sofrer um gol.*

*✅(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só para tentar pegar a cobrança.*

*✅(7) Os piores de cada lado* *ficam na zaga.*

*✅(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador.*

*✅(9) Não tem juiz.*

*✅(10) As faltas são marcadas no grito: se você foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirá a falta.*

*✅(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite " é nossa" e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica ao "escanteio").*

*✅(12) Lesões como arrancar a tampa do dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.*

*✅(13) Quem chuta a bola para longe tem que buscar.*

*✅(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, na pancada.*

*✅(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa, ou aquela vizinha que prende a bola que caiu na casa dela ou corta a bola.*

*✅(16) Mesmo que esteja 15 x 0, a partida acaba com "quem faz, ganha".*

*✅(17) rua de baixo contra rua de cima valendo Tubaina....*

*✅(18) se chover forte, certamente haverá futebol.*

*🔹Lembrou tua infância!!??*
*Então fostes uma criança* *normal...🔹*

*📍Velhos tempos que ñ voltam mais📍*

*✳Dessa forma foi minha infância ✳*

 
Fonte: Reprodução. Esse texto anônimo circula na Internet (Facebook, Whatsapp, blogs)
 
Referências
 
- GoogleMaps
- Texto que circula no Whatsapp
- Museu Américo Werneck - Lambari, MG
- Acervo do autor
- Menino-Serelepe. Antônio Lobo Guimarães. Belo Horizonte, Edição do Autor, 2009

O livro Menino-Serelepe 

O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem  é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
 
 O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.

 
Guimaguinhas
Enviado por Guimaguinhas em 07/05/2019
Alterado em 19/05/2019
Comentários

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