Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Meu Diário
17/04/2014 09h38
Vocabulário de Aguinhas (4) - Letra "D"

Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e

trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na

língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do

Sul de Minas Gerais.

(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)

 

Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,

é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.


(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)


Daninhar: Fazer travessuras (menino); Daninhação = diabruras, travessuras.
Dar as cartas: Estar por cima; comandar, mandar, dominar.
Dar o pira: Fugir, dar o fora, desaparecer rapidamente.
Dar pepé: Fazer com as mãos apoio para que alguém ponha os pés com o intuito de ganhar altura e saltar um muro, subir num móvel, etc.
De chifre cheio: Bêbado, encachaçado.
De mamando a caducando: De criança a homem velho.
De marca maior: Fora do comum; que excede os limites vulgares.
De entuviada: Depressa; desordenadamente.
De fasto: Andar de fasto: Andar para trás.
De sina: Estar de sina = estar com má sorte, azarado.
De supetão: Repentinamente, imprevistamente.
De veia: De humor característico, seja brincalhão, seja intratável, etc.
Deitar-se com as galinhas: Deitar-se logo ao anoitecer ou não muito depois.
Denário: Dinheiro [Italiano].
Desacoçoado: Descoroçoado: Diz-se de, ou indivíduo sem coragem, sem ânimo; desanimado, desalentado.
Desamainar: Amainar, abrandar, acalmar.
Desandar: Refere-se aos intestinos, quando ocorre a diarréia: intestino desandado.
Descochado: Desacochado = Perder a compostura altiva ou presunçosa. Ficar desorientado, envergonhado, desmoralizado.
Desdar: Desatar (nó, laçada, etc.).
Desensarada: Que se restabelece de doença grave.
Desgranida: Desgraçada, levada do diabo.
Deslambido: Sem graça, sem jeito; desenxabido, insulso, delambido.
Deslinguar-se: Falar muito.
Desmazelo: Falta de zêlo; descuido.
Desqueixolado: De queixo caído.
Despinguelar: Descer morro abaixo. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Despotismo: Exagero; abundância; grande quantidade.
Destampice: Coisa absurda, despropósito
Dever os cabelos da cabeça: Estar muito endividado.
Dia de saco: Dia de sábado. [Costume do interior: Dia de sair da venda com o saco de compras da semana.]
Discretear: Discorrer com discrição ou discernimento, calmamente.
Difruço: Corruptela de defluxo = coriza, mal estar da gripe.
Disgramado: Corruptela de desgramado = desgraçado [com eufemismo]: danado, levado do diabo, travesso.
Dispor: Desfazer-se (de alguma coisa). Vender.
Divertido: Alegre, bem-humorado, engraçado.
Divisar: Avistar, distinguir.
Dizedela: Dito ou sentença popular.
Do tempo do onça: Muito antigo, de antigamente.
Dor-de-fincada: Dor aguda e intensa.
Dormente: Travessa de madeira em que se assentam e fixam os trilhos das estradas de ferro.
Dormideira: Sensitiva, cujas folhas se murcham após uma batida.
Duma enfiada só: De uma vez.
Duma figa: Manifestação de pouco apreço ou de irritação.


(*) Fontes de consultas principais: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda - Aurélio Eletrônico, Século XXI - Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Beaurepaire-Roban - O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral -Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa - Novo Dicionário da Gíria Brasileira, Manuel Viotti.


  (**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.


Veja nos números anteriores desta série:

http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36347

http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37267

http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37892

 

 

 

Publicado por Guimaguinhas
em 17/04/2014 às 09h38
 
08/04/2014 11h45
Literatura de Aguinhas (17) - Biografia de Ayrton Senna nasceu em Lambari

SUMÁRIO


Ilustração de aberturaDoodle (versão modificada do logotipo do Google, que celebra datas e personalidades) criado para homenager os 54 anos de Ayrton Senna.


Introdução

Quem quiser superar Ayrton Senna terá de inventar uma maneira completamente nova de correr.

NIKI LAUDA


Neste ano de 2014, duas datas significativas tornam Ayrton Senna mais presente entre os seus milhões de fãs brasileiros:

  • No dia 21 de março, ele completaria 54 anos.
  • No dia 1o. de maio, serão completados 20 anos de seu falecimento.

Por essa razão, neste post vamos rememorar como uma das mais importantes biografias do piloto começou a surgir na cidade de Lambari (MG), pelas mãos do lambariense Ernesto Rodrigues.

  Ayrton — o herói revelado. (aqui)


Ernesto Rodrigues é filho de José Benedito Rodrigues e Edite Carneiro Rodrigues. Sobre as atividades literárias de seu pai e de seu irmão já escrevemos dois textos para o GUIMAGUINHAS (aqui) e (aqui). 

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Uma família especialista em Fórmula 1 e Ayrton Senna

No prefácio do livro acima, de 2004, Ernesto Rodrigues escreve:

Edite, minha mãe, fazia um esforço contagiante para me acompanhar diante da tevê naquelas manhãs de domingo, quando os grandes prêmios coincidiam com meus fins de semana de descanso na cidade em que nasci, Lambari, no Sul de Minas. Mas era dona Leda, mãe de André Gesualdi, um grande amigo de infância, quem entendia de Fórmula 1 e de Ayrton Senna. Ela, o filho e o marido Ismael, um médico que não largava de cigarros Hollywood, política, esporte e jornais, eram especialistas apaixonados.


Sobre Ismael Gesualdi veja esta crônica (aqui). André Gesualdi, que herdou da mãe o hábito de colecionar, foi meu companheiro de futebol no mirim do Águas Virtuosas, sendo então conhecido por Andrezinho (aqui); atualmente, é grande colaborador do GUIMAGUINHAS (aqui). 

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Como a biografia de Senna começou a ser escrita

Prossegue Rodrigues, no prefácio do livro Ayrton — o herói revelado:

Este livro começou a ser escrito quando atravessei a rua que separa a casa do meu pai da dos Gesualdi, e descobri que, além da paixão por Ayrton, dona Leda tinha guardado, ao longo de mais de 20 anos, na garagem em que eu e André jogávamos futebol de botão quando meninos, uma gigantesca preciosidade: dezenas de caixotes de papelão, com milhares de recortes de jornais e revistas cuidadosamente identificados. Tudo sobre Fórmula 1 e, em especial, Ayrton Senna. Era um tesouro. E o impulso definitivo para que eu, jornalista e apaixonado por automobilismo, mergulhasse de vez no antigo projeto de escrever o livro que nunca li sobre a vida de Senna.

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O documentário "Ayrton Senna do Brasil"

O documentário Ayrton Senna do Brasil, realizado a propósito dos 20 anos da morte de Senna, produzido e dirigido por Ernesto Rodrigues, traça a trajetória profissional e pessoal do grande ídolo da Fórmula 1 e mostra depoimentos de diversas personalidades sobre ele: pilotos e ex-pilotos, artistas, atletas, amigos (aqui). 

Esse documentário está sendo exibido pelo programa Esporte Espetacular, em quatro episódios. O primeiro episódio, exibido no último domingo (6 de abril), mostra flashes da cidade de Lambari e entrevistas com Leda Gesualdi, André Gesualdi e Geraldinho Brito Mayer, todos esses de Lambari e fãs de Senna — e grandes cultivadores de sua memória (aqui). 

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Publicado por Guimaguinhas
em 08/04/2014 às 11h45
 
26/03/2014 12h32
Aguinhas musical (3) - Cris Fernandes

  O lambariense Crisóstomo Fernandes foi um dos maiores jogadores de futebol de nossa terra, tendo atuado no Águas Virtuosas, no Vasquinho e na S.O.L. dos anos 1950/60.

Mas há um faceta pouco conhecida de Crisóstomo, qual seja a sua inclinação para a música.

De fato, nos anos 1960, ainda menino, me lembro de uma festa de agosto (dia da cidade) em que Altemar Dutra esteve em Lambari e fez um número em parceria com Crisóstomo. Nesse dia, estavam também presentes o Trio Soberanos e João Ribeiro (João Vital), esse companheiro de Crisóstomo em muitos eventos musicais e em serenatas que ficaram famosas na cidade.

Crisóstomo e João Ribeiro (João Vital), apresentando-se em Três Corações. Ao fundo, no violão, Vítor Cunha (*)


Eu sabia também da existência de um disco gravado por Crisóstomo, mas só recentemente consegui localizá-lo. Trata-se do compacto duplo que segue abaixo. E, entre os acompanhantes de Crisóstomo — "o homem da noite em Lambari", estão também o violão e o talento de João (Martins) Ribeiro. Eis o disco:

  • Ouça trecho de uma música, no Youtube: aqui

(*) Já falecido, o Auditor-Fiscal da Previdência, radialista, músico e grande botafoguense Vítor Cunha foi um tricordiano muito estimado pelos seus conterrôneos. Na praça principal da cidade, há hoje uma estátua em sua homenagem, justo tributo que que lhe foi prestado pela comunidade de Três Corações. 


Fontes: João Ribeiro; Museu Américo Werneck; brasilmetropole.com.br

 

 

 

 

 

 

Publicado por Guimaguinhas
em 26/03/2014 às 12h32
 
20/03/2014 07h33
Literatura de Aguinhas (16) - Os livros espíritas de Werneck

Centenas de fatos que pessoalmente observei em bons círculos de manifestações psíquicas me autorizam a proclamar com absoluta segurança a verdade contida nas lições de Kardec.

AMÉRICO WERNECK


SUMÁRIO


Introdução

No livro Um punhado de verdades, publicado em 1923 (1), fica-se sabendo que Américo Werneck começou a estudar a codificação de Allan Kardec em 1905, e que foi estudioso e experimentador dos fenômenos psíquicos. 

No Museu Américo Werneck, em Lambari, há um volume desse livro, uma doação do advogado José Sgarbi Astério àquela instituição.

Esse o tema deste post, que encerra a série AS OBRAS LITERÁRIAS DE AMÉRICO WERNECK.

Vamos lá.

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Werneck espírita

A obra espírita de Américo Werneck, intitulada O Espiritismo perante a Sciencia, foi escrita em 4 volumes:

  • Um punhado de verdades – aborda a questão sob o aspecto político, jurídico, social e religioso;
  • Através de Lombroso – trata-se de uma exposição sobre os estudos do psiquiatra italiano;
  • No campo das Hyphoteses – é uma análise das teorias de Sage e outros;
  • e no quarto, sem título, ele apresenta suas próprias experiências espíritas, realizadas com o médium José de Araujo. Ao que se sabe, o último volume não foi publicado.

Lista das obras espíritas de Américo Werneck. No ano de 1923, as duas últimas encontravam-se no prelo.

Vê-se, assim, que Werneck não era positivista, pois Um punhado de verdades encerra uma bela confissão de fé na doutrina codificada por Kardec e uma extraordinária defesa dos postulados espiritistas.[*] Nesse livro, Werneck anotou: Ao espiritismo, que... dizem ser obra do diabo, devo as maiores consolações da vida. (2)

[*] PORTUGAL, Henrique Furtado. Velho livro de Américo Werneck. O Triângulo, Uberlândia, MG, 19 nov. 1974.


....................................................... 

No artigo acima o autor comenta o livro Um punhado de verdades, que lhe fora emprestado por José Sgarbi Astério.

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Um Punhado de Verdades

Passei a vida pugnando pelos direitos individuais; e neste posto entregarei minha alma a Deus.

AMÉRICO WERNECK


Themístocles Linhares, em sua História Crítica do Romance Brasileiro (1728-1981)[3]informa em nota de rodapé que

Américo Werneck (...) escreveu vários livros e um dos últimos, publicado em 1924, foi Um punhado de verdades, obra de combate em que o autor procurava defender a doutrina espírita, de que se fez cultor e paladino. O livro abordava vários problemas, como o caso do japonês, em que o autor verberava o preconceito de raças, mostrando quão desumano e pouco sensato era pretender relegar ao isolamento a forte raça nipônica.

Nessa sua primeira obra sobre o Espiritismo — na verdade uma coletânea de artigos reunidos num livro de 194 páginas , Werneck expõe argumentos de defesa da doutrina sob os seguintes aspectos principais: — o doutrinário, no qual faz sua profissão de fé espírita, baseada em leituras, observações e provas experimentais; o jurídico, em que analisa os aspectos constitucionais e legais da livre consciência e da prática espírita da mediunidade e do receituário e curas espirituais; e o político-social, em que disserta sobre vários assuntos ligados à liberdade de consciência e à prática religiosa, e assim também sobre temas sociais como vacinação obrigatória, imigração, raça, civilização brasileira.

Quanto às pesquisas científicas e livros clássicos sobre o Espiritismo, Werneck mostra-se, então, atualizado com as obras de Crookes, Lombroso, Richet, Conan Doyle, Flammarion, Victor Hugo. Sobre os aspectos experimentais, ele diz:

Quando me resolvi a terçar armas em favor do espiritismo, mostrando a injustiça dos que o combatem, a minha primeira ideia foi apresentar uma série de estudos originais, orientados em rumo diverso do seguido até então. A dificuldade estava em descobrir um médium honesto, desinteressado e de faculdades excepcionais para essa espécie de fenômenos.

Desanimado de encontrá-lo, resolvi calcar os meus estudos sobre os trabalhos de alguns experimentadores notáveis, submetendo à crítica seus erros e inconsequências.

Já tinha escrito dois volumes quando inesperadamente encontrei em meu caminho o médium que procurava [José de Araújo], e com ele encetei uma série de experiências coroadas de êxito.

De outro lado, com respeito aos aspectos doutrinários do Espiritismo, mostra-se estudioso das obras de Kardec e defensor intransigente da Codificação Espírita. Com efeito, no Capítulo I.b - O ESPIRITISMO NÃO É UM RELIGIÃO, Werneck faz uma histórica defesa doutrinária da Doutrina Espírita em face das ideias de J. B. Roustaing; e em I.c - BREVE RESPOSTA AOS DETRATORES DO ESPIRITISMO, resume o capítulo do mesmo título que consta de Obras Póstumas, de Kardec.

Por fim, no Capítulo 12 - CONCLUSÃO, um septuagenário brasileiro de tantas lutas e valorosos ideais — republicano, abolicionista, nacionalista, espírito liberal —,  o outrora cético das religiões e filosofias, nos deixa uma página primorosa de fé em Deus e no futuro do do Brasil:

Ao despedir-me de uma vida fatigada que já não tem encantos, que já não tem auroras, que se estiola ao gélido sopro do inverno, eu me volto para Deus.

Que Ele se amerceie dos que ficam. Que Ele proteja a obra da civilização que aqui lhe aprouver criar e tão corrompida vai sendo.

Que à sombra de nossa bandeira se acolham todas as religiões, todas as seitas, todos os credos, todas as ciências. Eis a compreensão alevantada e justa que constitui o traço característico de nossa raça. É isso que é o Brasil.

Que todos se congreguem em torno de um único ideal de liberdade e amor.

......................

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Materialização de Judith

Antônio Eliézer Leal de Souza, escritor de destaque no parnasianismo do início do século XX, jornalista e crítico literário, foi diretor de A Careta e secretário de A Noite, do Diário de Notícias e de A Nota, todos do Rio de Janeiro.

 Capa de A Noite, de 7 de janeiro de 1924

Nos anos 1920, ele realizou inúmeras pesquisas sobre os fenômenos espíritas e práticas mediúnicas ocorridos nos centros espíritas e terreiros. Essas pesquisas resultaram em dois inquéritos históricos. O primeiro — uma série de reportagens no jornal A Noite (RJ), no início de 1924 — formou, posteriormente, o livro No mundo dos espíritos (4), publicado em 1925. O segundo, realizado no jornal Diário de Notícias (RJ), a partir de novembro de 1932, deu origem ao livro Espiritismo, Magia e as Sete Linhas de Umbanda, publicado em 1933. (5)

    Capa do livro O mundo dos espíritos, de Leal de Souza, 1a. edição de 1925.


Diário de Notícias (RJ), edição de 16 de novembro de 1932, estampou texto de Leal de Souza, relatando reunião mediúnica de que participara alguns anos antes, na qual ocorreu a materialização do espírito de Judith Lemos Werneck, a primeira esposa de Américo Werneck. Tal reunião foi presidida pelo próprio Werneck, que desde há alguns anos vinha realizando experimentações espíritas.

Eis alguns trechos desse relato de Leal de Souza:

O ilustre médico Dr. Oliveira Botelho, ministro da Fazenda, no último governo constitucional, viu operar-se diante de seus olhos a ressurreição transitória de uma de suas filhas, por ele conduzida ao cemitério, sendo também consagradas pelo êxito pleno, outras das experiências realizadas sob fiscalização rigorosa pelo sábio, engenheiro Dr. Américo Werneck, e algumas das quais assisti.

..........................

(...) ocorreu o fenômeno principal da noite.

Era, disseram-nos, a esposa do Dr. Werneck falecida aos 25 anos, e não deixava de ser emocionante a sua aparição, na plenitude da mocidade, ao lado do esposo septuagenário.

...........................

E, num circulo de luz espiritual, que a tornava plenamente visível, a ressurreta percorreu a ampla extensão do recinto, agitando em ondulações a brancura de suas vestes, e como eu era um dos presentes, que não assistira as suas materializações anteriores, acercou-se de mim.

— Veja. Será a mão de uma morta? E tocou-me na mão.

Era tépida. Louvei as rendas de seu vestuário, e ela, erguendo o braço, em curva graciosa, estendeu-as; a da manga, sobre as minhas mãos:

— Pode ver. São antigas.

Ousei insinuar:

— Como seriam as sandálias, no seu tempo…

— No meu tempo eram chinelas, respondeu, e caminhando até a mesa existente no fundo da sala, voltou com uma pequena bilha e um copo.

Ofereceu e serviu água a todos os assistentes, trocando frases com eles, e depois de cumprimentar-nos, avisando que se retirava, repôs a bilha e o copo na mesa, e começou a esbater-se, desfazendo-se até desaparecer.

Transcrito do jornal Diário de Notícias (RJ), de 16/11/1932, pág. 6, 2a. seção.


Fonte: Diário de Notícias (RJ), de 16/11/1932

  • No relato supracitado, consta que os membros da equipe espiritual responsável pelo fenômeno de materialização, os quais davam apoio espiritual às experiências de Américo Werneck, eram "enviados de João, o espírito que trabalhava com D. Anna Prado." É desse espírito materializado a foto acima, que ilustra a reportagem. Os trabalhos realizados pela médium Anna Prado foram divulgados por Nogueira de Faria, no livro O trabalho dos mortos.
  • A reportagem completa sobre a a materialização de Judith pode ser vista na edição de 16/11/1932 do Diário de Notícias (RJ), disponível na Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional, neste link: (aqui).
  • ​​​Leal de Souza, escritor e poeta e escreveu Bosque Sagrado, 1917; A Mulher na Poesia Brasileira, 1918; A Romaria da Saudade, 1919 e Canções Revolucionárias, 1923. No livro A mulher na poesia brasileira [Rio de Janeiro: Livraria Editora Leite Ribeiro & Maurilho, 1918], ele comentou poesias de Auta de Souzapós seu desencarne, ditou a Chico Xavier o poema Morte e Reencarnação, publicada no livro Antologia dos Imortais, de 1963. 
  • Leal de Souza também foi requisitado orador e uma famosa conferência sobre suas pesquisas espíritas, realizada na Federação Espírita Brasileira, pode ser vista no livro Transposição dos Umbrais, de 1924.

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Glossário

  • Espírito. Ser desencarnado, e vivo no plano espiritual. Também assim se pode expressar: - Homem vivo = homem encarnado. - Homem morto = homem desencarnado.
  • Espiritismo. Doutrina científica, filosófica e religiosa, codificada por Allan Kardec, baseada no animismo e na mediunidade. No animismo, estudam-se os fenômenos produzidos pelo próprio espírito do indivíduo; no mediunismo, os produzidos pelos espíritos desencarnados, através de um médium.
  • Fenômeno. Fato, aspecto ou ocorrência, que pode ser observado, ou, ainda, descrito e explicado cientificamente.
  • Fenômeno espírita. Fenômeno do Espiritismo, que ocorre na presença de um sensitivo, isto é, o indivíduo que possui faculdades extrassensoriais, podendo ser ou não médium.
  • Incorporação. 1. Tomada do corpo do médium por um guia ou Espírito; descida, transe mediúnico. 2. Ação e efeito de o médium receber em si entidade espiritual.
  • Materializar. 1. Dar corpo e forma a criações do espírito. 2. Tornar visível e palpável as emanações dos fluidos mediúnicos nas sessões espíritas. [Silveira Bueno].
  • Umbanda. 1. Culto espiritualista sincretizado por elementos afro-brasileiros, cristãos e do mediunismo. Difere do Espiritismo quanto à prática e doutrina. Os cultos umbandistas são baseados no animismo e na mediunidade, e praticados com finalidade construtiva de cura, de equilíbrio espiritual, de caridade evangélica, de orientação moral, etc

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Referências

  1. WERNECK, Américo.Um punhado de verdades. Rio de Janeiro : A. Gomes Pereira & C., Editores, 1923.
  2. GUIMARÃES, Antônio Lobo. Abigail [Mediunidade e redenção]. Belo Horizonte : Edição do Autor, 2009, pág. 
  3. LINHARES, Themístocles. História Crítica do Romance Brasileiro (1728-1981). Belo Horizonte : Itatiaia : Editora da USP, 1987, Vol. I, p. 256.
  4. LEAL DE SOUZA, Antônio Eliézer. No mundo dos espíritos. Rio de Janeiro : Editora Gráfica A Noite, 1925.
  5. LEAL DE SOUZA, Antônio Eliézer. O Espiritismo, Magia e as Sete Linhas de Umbanda. Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2a. edição.

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Demais posts desta série

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Publicado por Guimaguinhas
em 20/03/2014 às 07h33
 
19/03/2014 07h25
Literatura de Aguinhas (15) - Os ensaios e estudos de Américo Werneck

SUMÁRIO


Publicista é aquele que escreve por amor e interesse da causa pública e cuja íntima inspiração é política.

JOSÉ VERÍSSIMO


Werneck publicista

Diz Medeiros e Albuquerqueem crítica literária ao livro Marido e Amante, publicada em 11 de julho de 1917 e reproduzida no livro Páginas de Crítica (1)que Américo Werneck era um de nossos mais operosos polígrafos e que os esses - os polígrafos - podem ser acusados de superficilidade, em face da infinita complexidade dos conhecimentos modernos (isso para os anos 1910!). Mas, acrescenta o articulista, o bom polígrafo possui virtudes, como o raciocínio, a facilidade de explicar as coisas luminosamente, de separar o essencial do acessório, o obscuro do claro. E conclui o pensamento dizendo que

O Dr. Américo Werneck é um desses espíritos simplificadores e clarificadores de ideias. Há, porém, nele muito mais habilidade para a exposição de ideias abstratas do que para a exposição literária, a descrição, a análise psicológica. Isso provém muito naturalmente de que seus trabalhos literários têm sido a parte mais acessória da sua atividade intelectual.

É, pois, do pena do publicista Américo Werneck que saíram seus melhores livros, alguns dos quais importantes ainda hoje.

Dos livros ligados à sua atividade de publicista, podemos citar:

“O Brasil seu Presente e seu Futuro”; “Erros e Vícios da Organização Republicana”; “Problemas Fluminenses”; “Estudos Mineiros”; “Ecos da Multidão”; “Revisão Constitucional”; “Indústrias de Transportes”; “Reforma do Sistema Tributário”; “Reflexões sobre a Crise Financeira”; “Tarifas Aduaneiras”; “Política e Finanças”; “Interdito Possessório”; “Juízo Arbitral”; “Liberdade de Testar”; “Do Divórcio”. 

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Ideias e reflexões datadas, mas importantes ainda hoje

Para Quintino Bocaiúva, Américo Werneck era o maior pensador brasileiro. Semeador de idéias denominava-o Alcindo Guanabara. Afirmava Nilo Peçanha ser ele o espírito mais profundamente liberal de seu tempo. O Ministro Heitor de Souza, que o enfrentou em pleito célebre de Minas, conceituava-o como a inteligência mais fulgurante do Brasil.

AUGUSTO DE LIMA, Discurso feito na inauguração do retrato de Werneck no Asilo São Luiz, RJ  (*)


Em texto publicado em 1971, o articulista Edgar Carone frisou:

As obras de Antônio Felício dos Santos, Amaro Cavalcanti, Américo Werneck, Jorge Street, etc. são essenciais para o conhecimento da problemática industrial entre 1880 e 1930. Elas levantam questões cruciais do nascente industrialismo brasileiro, como as de mercado interno, tarifas, câmbio, imperialismo, etc. A maior parte desta contribuição limita-se, porém, à análise de reivindicações momentâneas, dentro de um caráter imediatista. Apesar de básicas, sua contribuição se limita ao tempo. (2)

Livros de Werneck versando sobre os temas acima mencionados são abundantemente citados, por exemplo, numa obra que é referência sobre a história da nascente indústria brasileira na República Velha (1880-1930). Trata-se do livro A luta pela industrialização do Brasil, de Nícia Vilela Luz (3).

A autora chega mesmo a pôr, em nota de rodapé (págs. 88/89), uma pequena biografia de Werneck, com a lista de suas principais obras, tal a importância desse autor contexto do livro de Nícia Luz:

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As obras de Werneck em trabalhos acadêmicos

De fato, no que se refere àquele período (1880/1930) e a temas tais como: industrialização, imigração, tarifas, câmbio, o nome e as obras de Werneck aparecem em artigos, estudos e monografias. Vejam-se estes exemplos:

- Joaquim Murtinho e Américo Werneck argumentavam que a indústria brasileira era artificial, apenas uma indústria montadora de produtos estrangeiros, não agregando valor ao país e gerando altos custos aos consumidores e exportadores (...) Werneck argumentava que o protecionismo fazia a indústria, mas não fazia a riqueza do país, pois encarecia os produtos para a sociedade brasileira. (4)

- (...) a existência de outra corrente (...): os nacionalistas agrários. Dentre estes, destacam-se, principalmente, no período que vai do final do Século XIX às primeiras décadas do Século XX: Américo Werneck, Eduardo Frieiro e Alberto Torres. (5)

- (...) uma outra corrente de protesto levantava-se contra o artificialismo do nosso desenvolvimento industrial. Protecionista, ela reclamava, entretanto, preferência para a produção agrícola, alegando descuido da República pela terra, pelo campo, cujos habitantes constituíam, entretanto, o cerne da nacionalidade brasileira. Américo Werneck, um dos mais típicos representantes dessa corrente, revoltava-se contra esse esquecimento do homem do campo que, a seu ver, era o fator de nossa grandeza e o esteio de nossa soberania.  (6)

- Por sua vez, Rui Barbosa e Américo Werneck criticavam duramente o caráter militarista dos primeiros anos da República, e, por conseguinte, os jacobinistas, que, para eles, deveriam servir à nação obedecendo-lhe, não promovendo sedições ou estimulando mudanças de governos. (7)

- A que atribuir este fenômeno generalizado [o jaguncismo], que de Norte a Sul, em zonas separadas por centenas de léguas, e só no meio de uma classe habitantes deflagra com o mesmo caráter violento? Por que motivo, sem entendimento prévio, e sem nenhuma ligação, a rebeldia sertaneja estoura em uma extensão de oitocentas léguas, e depois de escrever as páginas de Canudos, rebenta em Mato Grosso, aparece em Goiás, salta para o Contestado, pipoqueia em pontos distantes como irrupções locais de um fogo subterrâneo no subsolo da sociedade, e centralizando sua ação principal, devasta o Nordeste até as brenhas do Maranhão, em luta renascente e exaustiva, visando sempre os depositárias da autoridade? (8)

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  1. MEDEIROS E ALBUQUERQUE, José Joaquim de Campos da Costa de. Páginas de Crítica. Rio de Janeiro : Leite Ribeiro e Maurillo Editores, 1920, págs. 271/76
  2. CARONE, Edgard. Roberto C. Simonsen e sua Obra. [Artigo]. Rio de Janeiro : Revista Administração de Empresas, out/dez/1971, págs. 23/28.
  3. LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo : Editora Alfa Ômega, 1978.
  4. VIEIRA, Edson Trajano. Industrialização e Políticos de Desenvolvimento Regional : O Vale do Paraíba paulista, na segunda metade do Século XX. [Dissertação - Pós-graduação em história econômica] - Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 2009, p. 55 - Disponível (aqui) - Vistado em março/2014.
  5. FONSECA, Pedro Cezar Dutra. Gênese e precursores do desenvolvimentismo no Brasil. [Artigo técnico] Revista Pesquisa & Debate do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política - USP, São Paulo - Vol. 15, n. 2, págs. 225/56, 2004. Disponível em: http://www.ufrgs.br/decon/publionline/textosprofessores/fonseca/Origens_do_Desenvolvimentismo.pdf - Vistado em março/2014.
  6. CHASIN, J. A via colonial de entificação do capitalismo. Excerto do livro O Integralismo de Plínio Salgado - Forma de Regressividade no Capitalismo Hiper-tardio. São Paulo : Ad Hominem/UNA, 1999, 2a. edição.
  7. PEREIRA, Gabriel Terra. A consolidação da República. In A Diplomacia da Americanização de Salvador de Mendonça [1889-1898]. São Paulo : Unesp, 2009. Disponível em: http://books.scielo.org/id/gshz7/pdf/pereira-9788579830068-04.pdf
  8. WERNECK, Américo. Artigo publicado no Correio de Manhã, de 10/11/1021. Apud: VASCONCELOS, Sandra Guardini T. Homens provisórios. Coronelismo e Jagunçagem em Grande Sertão : Veredas. [Artigo] - Revista Scripta, Belo Horizonte, v. 5, n. 10, págs. 321/33, 1o. sem. 2002. Disponível (aqui) - Visitado em março/2014.

Ilustração de abertura: Inauguração do busto de Américo Werneck, na Praça da Liberdade, em Lambari, MG, nos anos 1940. Na foto, o orador do evento: o romancista, ensaísta e acadêmico Gustavo Barroso.


Demais posts desta série


(*) LIMA, Augusto de. Retrato de Werneck [Discurso proferido por ocasião da inauguração do retrato de Américo Werneck, no Asilo São Luiz para Velhice Desamparada, Rio de Janeiro] - Disponível em http://www.allnetmind.com.br.

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Publicado por Guimaguinhas
em 19/03/2014 às 07h25
Página 74 de 108

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