Ilustração: Foto extraída do site do Supremo Tribunal Federal (STF)
Edmundo Lins, renomado jurista brasileiro e Ministro do Supremo Tribunal Federal (1917-1937), tem seu nome ligado a Águas Virtuosas de Lambari especialmente por sua participação na Questão Minas X Werneck, da qual já falamos aqui.
Edmundo Lins foi frequentador de nossa estância, que o homenageou dando seu nome à praça fronteira ao Cassino da cidade.
Abaixo um pouco dessa história.
Fonte: Ruas de Lambari, J. Nicolau Mileo, 1970
Em 1935, publicou Estudos jurídicos, trabalho que lhe valeu a medalha Teixeira de Freitas do Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil. Além dessa obra, escreveu Miscelânea, publicada por seus filhos em 1938, e Reminiscências literárias, publicada em 1941, reunindo artigos que escrevera para o Jornal do Comércio.
Na página do Supremo Tribunal Federal há um resumo biográfico de Edmundo Lins (aqui)
Edmundo Lins e a Questão Minas X Werneck
Por ter votado contra o Estado na Questão Minas X Werneck, Edmundo Lins ganhou a inimizade de Teodomiro Santiago, cunhado de Wenceslau Braz, então Presidente da República. Em razão disso, foi preterido em três oportunidades no preenchimento de vaga para Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Confira:
Edmundo Lins como Ministro do STF
Em 1915 foi convidado pelo governo de Minas Gerais para arbitrar a questão Minas Gerais X Werneck, relativa às águas de Lambari. Concluindo que o estado não tinha razão, Edmundo Lins proferiu contra ele sua sentença. Devido a essa decisão, seu nome foi deixado de lado, embora sempre indicado, no preenchimento de três vagas sucessivas no Supremo Tribunal Federal durante o governo do mineiro Venceslau Brás (1914-1918). Em 1916, foi eleito diretor da Faculdade de Direito de Minas Gerais, onde era catedrático. Durante os anos em que lecionou na faculdade, publicou diversos trabalhos na Revista da Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais e na Revista Forense. Ao se abrir uma quarta vaga no STF, em 1917, diversas entidades representativas de advogados de Minas Gerais mobilizaram-se em favor de sua nomeação e, afinal, em agosto de 1917, Edmundo Lins foi nomeado ministro do STF, tomando posse no mês seguinte. (Fonte: CPDOC - Fundação Getúlio Vargas).
Interessante destacar a referência abaixo, feita por Heitor de Souza —advogado do Estado, no Juízo Arbitral, do que se tornaria a Questão Minas x Werneck— referindo-se ao profundo conhecimento dos Direitos Civil e Romano de Edmundo Lins:
Fonte: SOUZA, Heitor de. Arrendamento da estância hydro-mineral de Lambary. Belo Horizonte : Imprensa Oficial, 1915, p. 257
O centenário de nascimento de Edmundo Lins
Homenagem em Lambari, MG
Reprodução: Correio da Manhã, 7/fev/1964
Homenagem do jurista Arnold Wald
Reprodução: Correio da Manhã, 29/dez/1963
Fonte: Ruas de Lambari, J. Nicolau Mileo, 1970
Fonte: GoogleMaps
Edmundo Lins passou ao seu filho Ivan Lins, médico, jornalista, professor, pensador, ensaísta e conferencista, o amor pela estância de Águas Virtuosas.
Frequentador assíduo de Lambari e amigo de nosso povo, sobre Ivan Linse falaremos em post futuro. (Veja aqui meu encontro com o Dr. Ivan Lins.)
Ivan Lins escreveu este livro em homenagem a seu pai:
Livraria São José, Rio de Janeiro, 2a. edição, 1967
O acadêmico Ivan Lins (Fonte: site da ABL)
Ilustração: O Colégio Santa Terezinha, então chamado Ginásio de Lambari
Dentro da série AGUINHAS JÁ TEVE (aqui), já postamos a história de uma das mais tradicionais casas comerciais de Lambari: O Bar do Juca, inaugurado nos anos 1930 e mantido, por décadas, pela família Nascimento, na região central de nossa cidade. (aqui).
Pois bem, hoje vamos falar do Colégio (ou Instituto) Santa Terezinha, ou Coleginho, como ficou popularmente conhecido.
Vamos lá.
Há poucos registros e fotos do Instituto Santa Terezinha; assim, vamos utilizar o material que conseguimos encontrar.
No livro Menino-Serelepe* eu fiz este pequeno resumo sobre o Coleginho:
O Santa Terezinha, chamado de Coleginho, (...) foi famoso e tradicional no passado, aqui pelas bandas do Sul de Minas. Funcionou como internato durante muitos anos pra moças e rapazes. Mas na minha época [anos 1960] isso já havia acabado e ele já não era nem sombra do que fora. Quando deixou de operar, suas instalações tornaram à Prefeitura de Aguinhas, que lá funcionou por uns tempos até um terrível incêndio destruir completamente a antiga edificação e grande parte do acervo da administração municipal.
Não sabemos quando ele foi inaugurado, mas nos anos 1930, ali já funcionava um Ginásio, dirigido pelo Pe. Sebastião Atella, que foi pároco em Lambari no período de 1930 a 1935.
Reprodução: Revista O Cruzeiro - 17, out, 1931 (Fonte:bn.digital)
Pe. Sebastião Atella, pároco de Águas Virtuosas de Lambary (1930-1950), à frente da antiga Igreja Matriz, comandando uma procissão de N. S. da Saúde
Por essa épóca, o Pe. Atella dirigia o Instituto de Ensino, a Escola Normal e a Escola Technica de Artes e Ofícios de Lambari (Foto: reprodução. Fonte: Revista Vida Doméstica, ago/1934 - bn.digital)
Nos anos 1950, início dos anos 1960, o colégio esteve sob a direção da professora Maria José Bibiano, irmã do conhecido Padre Toíco (Antônio Bibiano de Siqueira). Por essa época, havia alunos internos e externos. Muitos desses últimos costumavam chegar de trem, e desciam na Parada Melo, pertinho das dependências do colégio.
O uniforme dos meninos era composto de bermuda (ou calça) e camisa cáqui; o das meninas, saias azuis e meias e camisas brancas.
Veja esta foto:
Alunas internas do Colégio Santa Terezinha a caminho da escola (Fonte: Revista Fon Fon n. 2432, de 1954 - bn.digital)
À história do Coleginho está sempre associada a figura de Dona Guilhermina Carvalho, severa e inesquecível auxiliar de disciplina. Confira este post aqui
Dona Guilhermina , organizando os alunos do Coleginho, num desfile de Sete de Setembro.
O Coleginho ficava na Rua Comendador José Breves, na entrada da Volta do Ó, vindo do Hotel Imperial. Na parte de baixo, entre o edifício do colégio e o Parque Novo, havia um campinho de futebol, do qual usufruiram alunos, peladeiros e jogadores de futebol amador.
Eu mesmo joguei muita bola por lá. No livro Menino-Serelepe, eu conto minha passagem pelo Coleginho, em 1965, na curso de Admissão ao ginásio (5a. série). Sobre esse campo, eu escrevi:
O meu grande lance desse ano de Coleginho [1965] foi, como quase sempre, a bola. E como lá havia um enorme campo, era uma correria na hora do recreio e outra depois da aula. Certa feita, por ocasião das festas juninas, a direção da escola estava organizando uma quadrilha e eu me apresentei para o ensaio, peguento de suor, com a roupa grudada ao corpo e marcada de terra e de grama, já que o jogo de bola do recreio havia sido muito disputado, com são-joão comendo pra todo lado e todomundo pegando tatu.
Vocabulário: São-joão (= bola que é chutada para o alto em jogo de pelada. ) — Todomundo (=todos) — Pegar tatu (Cair e sujar-se).
Anos 1940. Time de futebol. Internos do Instituto Santa Terezinha. Reprodução: Internet/Facebook
Ao fundo, a edificação do Instituto Santa Terezinha. Abaixo, o time do Águas Virtuosas que, nos anos 1950, disputou no campo do Coleginho um campeonato interno.
Na foto, entre outros: Hélio Fernandes, Chico Panu, Gidão, Nenê Nascimento, Quinzinho, Crisóstomo, Maurício de Souza e Vavá Bacha.
Nos anos 1980, as dependências do antigo Instituto Santa Terezinha tornaram ao Governo Municipal e para lá foram as instalações da Prefeitura de Lambari. Em 1987, o edifício foi completamente destruído por um incêndio.
Confira: aqui
Cena do incêncio na Prefeitura de Lambari, em 1987
Histórias do livro Menino-Serelepe
Quem, no Coleginho, não levou puxão de orelhas da dona Guilhermina ou rezou com a dona Edith?
Do poema: Da famosa aventura de ter sido criança em Aguinhas, extraído do livro Menino-Serelepe
(*) No livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem escrevi duas crônicas sobre minha passagem, em 1965, pelo Coleginho:
Autor: Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Ilustração: Reprodução - Calendário - Pintores com a boca e os pés (www.apbp.com.br)
Na série O TREM DE AGUINHAS já publicamos diversos posts sobre a via férrea que serviu Águas Virtuosas de Lambari por 70 anos, entre os 1894 e 1966 (aqui).
Pois bem, hoje voltamos ao tema para contar como foi a chegada do trem em Águas Virtuosas do Lambari, no final do Século XIX.
Vamos lá.
Como se chegava a Águas Virtuosas antes do trem
A descoberta das águas e a rota Campanha-Rio de Janeiro
Com a descoberta das fontes em 1780, as águas virtuosas (também chamadas águas santas) eram procuradas por moradores da comarca de Campanha e viajantes de tropa, atraídos por suas qualidades específicas. O acesso se dava, então, por meio de trilhas na mata fechada.
A partir da década de 1800, concorriam às fontes das águas virtuosas não só "famílias de toda a parte", como também "muitos e muitos eclesiásticos".
Em 1826, foi alterada a rota da estrada de Campanha para o Rio de Janeiro, fazendo-a passar próxima ao manancial das águas. Essa rota era frequentada por tropeiros, sertanistas, mineradores, boiadeiros e outros viajantes. [1] [2] [3]
Inauguração das temporadas de veraneio
Como já contamos (aqui), a partir de 1853, dezenas de famílias, entre elas a do Comendador José Breves, vieram de várias partes do país fazer uso das águas, consolidando o hábito da procura das águas virtuosas e inaugurando a temporada de veraneio.
Já vimos também (aqui) e (aqui) que em 1868 a Princesa Isabel e seu marido o Conde D'Eu vieram a Águas Virtuosas de Campanha, andando dezenas de quilômetros de liteira*.
Fonte: A história da Princesa Isabel: amor, liberdade e exílio , de Regina Echeverria (aqui).
(*) Liteira: veículo que consiste em uma espécie de cadeira fechada, suspensa por duas varas e carregada por dois homens ou atrelada a dois animais, um à frente e outro atrás. Dicionário Michaelis)
Liteira. Fonte: J. B. Debret (bn.digital)
Antes de 1894, podia-se chegar de trem até Contendas (Conceição do Rio Verde), e depois fazer o restante do trajeto até Águas Virtuosas por meio de cavalo, troles ou liteiras.
Fonte: Reprodução: A Província de São Paulo - 10/abril/1888
Trole - Reprodução - Fonte: www.saojoseonline.com.br
A chegada do trem em Águas Virtuosas
A construção do ramal para Campanha
Em 1889, foi autorizada a construção do ramal partindo do kilômetro 106 da Estrada de Ferro Minas a Rio até a cidade de Campanha, passando por Águas Virtuosas do Lambari e Cambuquira.
A Estrada de Ferro Muzambinho chegou a Jesuânia (então chamada Lambari) em 1894.
Em 1o. de março, essa estação (chamada então Bias Fortes) foi inaugurada.
O trem chega a Lambari (atual Jesuânia) em fevereiro de 1894
Reprodução: Revista Industrial 1894 (www.bn.digital)
O trem chega a Águas Virtuosas (atual Lambari) em fevereiro de 1894
No dia 24 do mesmo mês a estrada de ferro chegava às Águas Virtuosas. [4]
A primeira estação foi a Parada Melo, a estação ferroviária definitiva de Águas Virtuosas foi inaugurada alguns anos depois.
Reprodução: Revista Industrial 1894 (www.bn.digital)
Do Rio de Janeiro a Lambari de trem - em 1904
Em 1904, a Estrada de Ferro Minas e Rio fazia propaganda da viagem de trem partindo do Rio de Janeiro até onde se acham as fontes de águas medicinaes conhecidas por Águas Virtuosas de Lambary.
Eram quase 12 horas de viagem, divididas entre baldeações, almoço e jantar.
Estação Central, Rio de Janeiro, fins do Século XIX (Fonte: Wikipedia)
Saindo a Estação Central no Rio de Janeiro, a composição passava por
Reprodução: Almanaque Lambert, 1904 (bn.digital)
Trem restaurante com destino a Águas Virtuosas, numa parada em Passa Quatro (1906)
Trem misto chegando em Campanha, MG (Reprodução: Internet)
Ilustração: Reprodução do livro Douglas DC: 80 Glorious Years, de Geof Jones (Google Books)
- Propagandas de voos para Lambari
- Em 1960, os voos são encerrados
- O escritório da NAB em Lambari
Já falamos no GUIMAGUINHAS sobre o aeroporto de nossa cidade (aqui) e dos voos diretos para o Rio de Janeiro, nos anos 1950 (aqui).
Tais voos eram realizados pelas companhias NAB (Navegação Aérea Brasileira) e NTA (Nacional Transportes Aéreos).
A NAB chegou a ter um escritório em nossa cidade, nos anos 1950; os voos, no entanto, foram interrompidos no início dos anos 1960.
É o que vamos ver abaixo. Vamos lá.
Propagandas de voos para Lambari
Em 50 minutos chegava-se do Rio de Janeiro às estâncias do Sul de Minas.
Voos diretos e financiados em até 60 meses traziam turistas cariocas para Lambari, nos anos 1950.
Reprodução: Última Hora, 27/out/1958
Durante toda a década de 1950, vamos encontrar propagandas de voos diretos do Rio de Janeiro para as estâncias mineiras, Lambari entre elas, nos principais jornais e revistas da então Capital do Brasil:
Reprodução: O Cruzeiro, 1950
Reprodução: Diário de Notícias, 1951
Reprodução: Revista Fon Fon n. 2458, de 1954
Em 1960, os voos são encerrados
O jornal O Globo, de janeiro de 1960, trouxe a triste notícia:
Reprodução: O Globo, 18/jan/1960
O escritório da NAB em Lambari
Nos anos 1950, funcionava a agência da NAB (Navegação Aérea Brasileira) na Pça. Conselheiro João Lisboa.
Na foto abaixo, estão João Rely Martins (escrevendo) e, acima, sua mulher Zelina operando o rádio amador prefixo PPO2:
Veja no link abaixo, uma antiga passagem da Navegação Aérea Brasileira:
Reprodução: Selo postal comemorativo dos 167 anos da criação da Paróquia Nossa Senhora da Saúde (Águas Virtuosas de Lambary) - Diocese da Campanha
Neste 15 de agosto de 2017, feriado municipal e dia da Padroeira de Lambari, recordamos a criação, há 167 anos, da Paróquia dedicada a Nossa Senhora da Saúde, com sede na então Águas Virtuosas de Lambary.
Para comemoração desta data festiva, foi lançado este lindo selo postal:
Abaixo vão um pequeno histórico deste acontecimento e alguns documentos da época.
Confira.
A criação da Paróquia [*] de Águas Virtuosas
Tempos antes das descobertas das águas virtuosas, já crescia e prosperava um arraial situado nas margens da Estrada Geral, na Região do Rio Lambari – o arraial do Bom Jesus do Lambari (atual cidade de Jesuânia). [1] [2]
Nesse arraial, no ano de 1816, se estabelecera, em uma área de campo, Antônio Xavier Mariano, que, mais tarde, foi nomeado procurador para a construção da capela do Senhor Bom Jesus, patrono da povoação. Para tanto, em 1826, Mariano adquiriu uma porção de terras na fazenda de Santa Rita do Lambari, com o objetivo de formar o patrimônio da referida capela. Assim foi que Senhor Bom Jesus se tornou a primeira capela na Região do Lambari, sendo depois elevada a Paróquia pela lei mineira de 15 de julho de 1828 e a Paróquia de instituição canônica a 2 de janeiro de 1852. [3]
Reprodução: Almanach Sul-Mineiro, de 1874
Em 1850, a povoação de Águas Virtuosas foi elevada à condição de Paróquia (Lei n. 487, de 28/06/1850), recebendo, a partir dessa data, o nome oficial de Águas Virtuosas. Aqui dá-se a divisão da "velha região do Lambari" (que abrangia a atual Jesuânia e a atual Lambari) em duas freguesias [**] : a da Águas Virtuosas (recém-criada), e a do Lambari (atual Jesuânia). [4]
E-book: As Águas Virtuosas de Lambari e a devoção a Nossa Senhora da Saúde
Conforme noticiamos (aqui), está em fase final de produção o e-book abaixo, que será lançado texto eletrônico (e-book) e texto impresso (livreto).
Aguarde.
[*] Paróquia: Divisão territorial de uma diocese sobre a qual tem jurisdição ordinária um sacerdote, o pároco.
[**] Freguesia: Povoação, sob o aspecto eclesiástico.
[1] Cidades – IBGE – Jesuânia – Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/1S3D
[2] CARROZZO, João. Lambari (Outrora: Cidade de Águas Virtuosas da Campanha) - 3ª. edição, 1985, p. 21
[3] http://www.ograndematosinhos.com.br/isabel/outro_matosinhos_84.htm
[4] MILEO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970