Imagem de abertura: Foto da imagem de N. S. da Saúde existente na matriz. Escultura em madeira policromada, datada provavelmente da segunda metade do século XVIII. Para mais informações, clique aqui
[Minha mãe] me fez frequentar catecismo, confessar, fazer primeira
comunhão, levar flores para o Sagrado Coração e ajudar na
enfeitação das ruas, por ocasião das procissões de Corpus
Christi e, na Semana Santa, acompanhar a procissão do
Encontro e a do Senhor Morto. Na malhação do Judas,
não fica perto do foguetório, cuidava de recomendar.
No Natal, colhe lodo no jardim e me ajuda a montar o
presépio em cima do tager, ela dizia. E, toda tarde, era
só tocar a Ave-Maria no alto-falante da igreja de Nossa
Senhora da Saúde e lá vinha: “faça-a-prece-pra-padroeira,
meu filho, seis-horas”. (Só quem viveu no interior sabe,
com dorida saudade, o encanto de uma Ave-Maria tocada
numa igrejinha...)
(Do livro Menino-Serelepe) [*]
Diz uma lenda corrente em Águas Virtuosas que a devoção a Nossa Senhora da Saúde iniciou-se deste modo:
(...) por volta do ano de 1780, na cidade de Campanha, um africano de nome Antônio de Araújo Dantas revelou ao moço de nome Tancredo a existência de águas curativas, que existiam atrás da serra, numa nascente perto de um riacho. [**]
Tancredo era noivo da moça de nome Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, fazendeiro de Passos, que submetia a filha a longo tratamento médico, mas já sem esperança de curá-la.
Tancredo fala-lhe das águas, nas curas maravilhosas de que tinha notícia, e insiste com o futuro sogro para ir ao lugar e levar a filha. Trancoso já desanimado com o tratamento médico, resolve buscar a cura por meio das águas virtuosas.
Aqui ficou por algum tempo e sua filha com o uso das águas durante uns 20 dias apenas, nada mais sentia de seus antigos males.
Cecília radicou-se ao lugar por uma afeição de grande agradecimento e, devota que era de Virgem Maria, pediu a seu pai para construir uma capela, sob a evocação de Nossa Senhora da Saúde. Trancoso voltou a Campanha, obteve autorização do Eclesiástico local e construiu a igreja, na qual, após a bênção pelo Capelão da Campanha, se realizou o seu casamento com Trancredo. (1)
Isso reza a lenda; no entanto, a realidade histórica é outra. Com efeito, o Monsenhor José do Patrocínio Lefort escreveu:
Sem fundamento algum, a não ser a imaginação fantástica de um contista, é a lenda de Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, [que] teria feito uso da água e se curado de um mal grave. É estoria de Werneck para efeito de propaganda, pois não existia a família Trancoso nem em Passos nem no Sul de Minas. (2) [A sublinha é do original.]
A criação da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde
Em 25 de janeiro de 1827, a Câmara [de Campanha] oficia ao Vice-Presidente da Província Mineira relatando que fora certificado e avaliado o local conhecido como "ágoa virtuosa" e sugerindo a edificação de habitações e de uma pequena Ermida. (3)
Assim, em 1830, separa-se uma área patrimonial, dentro da qual, em 1832, foi escolhido um trecho para a construção de um templo dedicado a N. S. da Saúde, a padroeira. Mas a Ermida só aparece em 1837. Quatro anos depois, ela foi ampliada pelo vigário da Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos do Lambari (atual Jesuânia). (4) [Nota]
A área acima foi loteada, os terrenos vendidos e grande foi a afluência dos visitantes à procura de saúde. (5) Em 1850, a povoação de Águas Virtuosas foi elevada à condição de Paróquia (Lei Mineira n. 487, de 28 de junho de 1850). Assim, a partir dessa data, a povoação recebe o nome oficial de Águas Virtuosas e dá-se a divisão da "velha região do Lambari" (que abrangia a atual Jesuânia e a atual Lambari) em duas freguesias: a da Águas Virtuosas (recém criada), e a do Lambari (atual Jesuânia) [6]
Histórico da Praça Nossa Senhora da Saúde
Fonte: Ruas de Lambari, José Nicolau Mileo, 1970.
Primeira Igreja de N. S. da Saúde
A primitiva igrejinha dedicada a N. S. da Saúde, cuja construção iniciou-se em 1853
A antiga Matriz de N. S. da Saúde
Antiga matriz vista de frente
Antigo postal da igreja matriz
Vista da antiga matriz e dos jardins
Vista interna dos jardins da antiga matriz
A cidade parcialmente avistada da frente da antiga matriz (anos 1930). No fundo, vê-se o Hotel Melo
O Hotel Central e o Parque das Águas vistos da antiga matriz (anos 1940). No fundo, vê-se já o Hotel Imperial.
A antiga matriz, vista da Parada Melo (anos 1940)
Belíssimo altar de madeira da antiga matriz. Obra do imigrante José Raymundi
Saída de procissão, na porta da antiga matriz
Santas Missões: missa no pátio da antiga matriz (1947)
Veja mais fotos da antiga matriz, clicando aqui
Povoação: Os habitantes de um determinado lugar ou região
Freguesia: Povoação, sob o aspecto eclesiástico.
Paróquia: Divisão territorial de uma diocese sobre a qual tem jurisdição ordinária um sacerdote, o pároco.
Pároco: Sacerdote encarregado de uma paróquia; vigário.
Núncio: embaixador do Papa.
Nota: Recorde-se que Lambari surgiu de extensão de terras desmembrada do município de Campanha. Essa extensão chamou-se Águas Virtuosas de Campanha, e abrangia áreas correspondentes aos atuais municípios de Lambari, Jesuânia e Conceição do Rio Verde. Eis um resumo da história administrativa do município:
(1) MARTINS, Armindo. Lambari, a cidade das águas virtuosas. 1949, p. 25
(2) LEFORT, José do Patrocínio. A Diocese da Campanha. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de MG, 1993, p. 206.
(3) Id., ibid., págs. 206/207.
(4) id., ibid, p. 207.
(5) id., ibid, p. 207.
(6) MILEO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, p. 56.
Fonte das Fotos: Museu Américo Werneck; Família de Vicente Raimundi; André Gesualdi
Outras referências: http://www.paroquiasenhoradasaude.com.br/index.php e http://www.diocesedacampanha.org.br
Veja estes links:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38765
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38773
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=50394
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=39880
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4308974
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https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=52307
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=66507
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=66447
(*) Antônio de Araújo Dantas [Campanha, MG - 1741-1812] foi proprietário da fazenda em cuja área cresceu e se desenvolveu toda a cidade de Lambari. Descoberta a água mineral em terreno da sua fazenda, a Câmara Municipal de Campanha adquiriu uma área de 12 alqueires para formar o patrimônio público (entre 1830-1832). Em 1846, uma outra área de pouco mais de 30 alqueires foi comprada e anexada ao patrimônio público. Há uma rua Antônio de Araújo Dantas em nossa cidade.
[José Nicolau Mileo. Ruas de Lambari, 1970, págs. 36/37]
(**) Este trecho faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.