Ilustração: José Carlos Lisboa e sua irmão Henriqueta. Rio de Janeiro, 1932. Reprodução.UMA FAMÍLIA DE POETAS E ESCRITORES
O casal João de Almeida Lisboa e Maria Rita Vilhena Lisboa, que se uniu em Lambari na última década dos anos 1800, gerou uma família pródiga em escritores e poetas de qualidade: José Carlos, Alaíde, Henriqueta... E assim também, por influência, os da geração seguinte: Ana Elisa, Edmar...
Nesse post, contamos um pedaço dessa história.
Vamos lá.
A INFLUÊNCIA DA ESTÂNCIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS NA FORMAÇÃO DOS LISBOA
Diz Guy de Almeida:
Na origem de José Carlos Lisboa, na cidade em que nasceu, em suas circunstâncias familiares, estão a meu juízo fatores que estimularam o seu talento inato, a sua vocação para a vida intelectual. Lambari não era uma cidade comum, com rotina diária mais ou menos estática. Suas águas virtuosas atraíam, para temporadas anuais, personalidades destacadas das principais cidades do país, como até mesmo a família do presidente Getúlio Vargas. Elas traziam temas, reflexões e informações que lhe davam um certo ar metropolitano. A farmácia de João Lisboa, patriarca que exercia significativa liderança na região, era um espaço natural para o estabelecimento de relações que frequentemente se transferiram para o ambiente doméstico. [........]
[Todos os filhos do casal Lisboa, Maria Rita e João Lisboa]... realizaram em época de limitadas condições econômicas, cursos superiores que deram contorno a uma família de pedagogos, advogados, médico, alguns deles indo além para ganhar renome como escritores e políticos.
(No homem, o mestre. In José Carlos Lisboa, o mestre, o homem. Ed. UFMG, 2004)
Esses fatores, aliados certamente aos dons inatos e ao empenho individual —pois sabe-se dos esforços que fizeram para se formarem e crescerem intelectual e profissionalmente — explicaria essa família pródiga em escritores e poetas de qualidade: José Carlos, Alaíde, Henriqueta... E assim também, por influência, os da geração seguinte: Ana Elisa, Edmar...
Abaixo vamos destacar alguns passos das obras de três deles, que remetem a lembranças, pessoas e fatos — reais ou ficcionais — de nossa Lambari, e também lembrar as cadeiras que ocuparam nas academias de letras.
Família Lisboa: João de Almeida Lisboa e Maria Rita de Vilhena Lisboa ladeados pelos filhos: João, José Carlos, Alaíde, Henriqueta, Oswaldo e Pedro
Em Vicente e o outro há alusões romanceadas à cidade onde o autor nasceu e passou sua infância. Na Cumbucas romanceada, as cenas da vida na farmácia, do morro do Castelo, do laticínio, das armadilhas para passarinho são provavelmente frutos de lembranças de seus tempos de Lambari.
Veja-se, por exemplo, o seguinte trecho, em que o nome da cidade foi mudado para Cumbucas:
Nasci em casa modesta do interior, numa vila que devagar passou a cidade, muito mais pelas tramas políticas municipais do que pelo seu desenvolvimento natural, que eu mal percebia.
O prestígio de alguns coronéis plantadores de café, ou que tinham bois no pasto dos arredores e chefiavam agregados, dispondo de seus votos, esse prestígio sustentava as chapas oficiais do governo e recebia em paga ora a estradinha até a porteira de um sítio, ora um novo caminho para escoar o café e facilitar o curso das boiadas que iam à feira de Três Corações de Jesus, Maria e José do Rio Verde. Belo Horizonte, às vezes, dava a Cumbucas um pouco mais, quando a vitória nas eleições tinha sido apertada: um prédio para o Grupo Escolar, uma cadeia ou uma coletoria nova, até mesmo agência dos bancos do Estado. Depois da campanha civilista, Cumbucas subia à condição de cidade, com esse nome chocho e encurtado que mutilou seu velho batismo, tão mais bonito e sonoro, de Vila de Nossa Senhora das Cumbucas de Água Santa...
Em O Menino Poeta muitos poemas ou foram inspirados em fatos de sua infância ou aludem ao cotidiano da cidade. Além do poema que deu nome ao livro, podem ser citados, entre muitos outros: Tico-tico, Cavalinho de pau, Hortelão, Corrente de formiguinhas, Consciência, Tempestade.
De fato, de que serra fala a poeta neste trecho de Tempestade?
- Menino, vem para dentro,/ olha a chuva lá na serra,/ olha como vem o vento!/
- Ah! como a chuva é bonita/ e como o vento é valente!
- Não sejas doido, menino,/ esse vento te carrega, / essa chuva te derrete!
Em Entre a árvore e a estrela vamos encontrar referências romanceadas da infância da autora, passada em Lambari: O rio Mumbuca, o charreteiro, a pescaria, o Grupo Escolar.
Como nestes trechos:
A última casa de Ariana havia ficado na esquina, perto do Rio Mumbuca, do Parque Novo.
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Vão de charrete? - Na do João da Cruz, não demora ele chegará aqui.
José Carlos, Henriqueta e Alaíde
Esses, a seu tdempo foram membros da ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS.
Filho de Felício Bacha e de Maria de Jesus Lisboa Bacha, nasceu em Lambari (MG), no dia 14 de fevereiro de 1942. Iniciou seus estudos em sua cidade natal, tendo concluído os cursos ginasial e científico no Colégio Santo Antônio, em Belo Horizonte (MG).
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1960-1963), Bacha especializou-se em Economia no Centro de Aperfeiçoamento de Economistas da Fundação Getúlio Vargas (1964) e, depois disso, somou à sua formação acadêmica inicial os títulos de mestre (1964-1966) e doutor em Economia (1964-1968), pela Universidade de Yale (Estados Unidos). (Fonte: https://memoria.ibge.gov.br)
Em 3 de novembro de 2016, EDMAR BACHA foi eleito para a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL)
Veja também:
(1) Vicente e o outro. José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1985. O Menino Poeta. Secretaria da Educação de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1975. Entre a árvore e a estrada. Itatiaia, Belo Horizonte, 1985.
Todos os livros citados podem ser encontrados no Museu Américo Werneck.
(2) Na foto ilustrativa: José Carlos e Henriqueta, no Rio de Janeiro, em 1932.
(3) https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmar_Bacha
(4) http://www.academia.org.br/academicos/edmar-lisboa-bacha