Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Meu Diário
29/06/2013 07h57
Vocabulário de Aguinhas (3) - Letra "C"

Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e

trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na

língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do

Sul de Minas Gerais.

(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)

 

Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,

é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.


(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)

 

Ilustração de abertura: Cromo de antiga igreja de Aguinhas (Sec. XIX)


Cabeça-de-nêgo: Bombinha com alto poder de detonação.

Cacarecos: Velharias; trastes de pouco valor.

Cacunda: Dorso, costas.

Cacuruto: Cocoruto: elevação, morro.

Cadeira: Quadril. Dor nas cadeiras (ou dor nos quartos) = dor nos quadris.

Cagaço: Medo, susto.

Caidor: Lugar onde os animais entram ou caem na água.

Câimbra de sangue: Corruptela de câmaras ou cambras. Diarréia forte, com fluxo de gotas de sangue.

Cair na esparrela: Ser enganado. Deixar-se lograr.

Caixa-pregos: Lugar muito distante.

Cafundó do Judas: Lugar distante e de difícil acesso.

Calçar os peitos: Ingerir algum comestível.

Calhau: Papagaio improvisado de folha de caderno, sem varetas. [Gíria ocorrente em Aguinhas.] Em Aguinhas, não era comum o nome pipa, e sim papagaio. Esse havia nas seguintes espécies: tradicional (varetas cruzadas, circundadas por linha), flecha (varetas nesse formato, sem linhas nas laterais) e balão (papagaio grande e sem rabo).

Cambão: Peça de madeira para unir juntas de bois de carro. Coletivo: Grande quantidade: cambão de peixes, ou de gentes.

Cambota: Cambalhota

Camisa de onze varas: Dificuldade grande em que alguém se mete e da qual é difícil ou impossível sair.

Campear: Buscar, procurar.

Candonga: Intriga, mexerico.

Caninga: Má sorte; azar; uruca.Vidinha caningada = azarada.

Canhotar: Desarticular a espingarda para pôr ou extrair o cartucho. Descanhotar é fechar a arma. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]

Canto chorado: Da expressão “Trazer num canto chorado”, isto é, debaixo de rigorosa vigilância.

Capela: Nome por que os caboclos de Aguinhas costumam designar a cidade de Aparecida do Norte, SP.

Cão: Peça saliente da espingarda que percute a cápsula. Diz-se que a espingarda é mocha quando não possui cão.

Cara de beloni: Desapontado; emburrado. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]

Cara de bugia: Mulher muito feia.

Cara de poucos amigos: Cara amarrada, zangada.

Caraminguás: Móveis velhos. Diz-se, também, de dinheiro miúdo.

Carcamanos: Designação dada aos italianos imigrantes.

Carrasquento: Formação vegetal áspera, rasteira e sem valor.

Carreador: Trilho, picada.

Carro de praça: Táxi

Casinha: Banheiro.

Casquete: Boné; chapéu velho.

Caxerenga: Faca de caboclo.

Chá de marmeleiro: Surra de vara de marmelo, que são varas longas e flexíveis, bem jeitosas para se bater.

Chaleirar: Adular, bajular.

Chamar na chincha: Chincha é uma faixa de couro ou de qualquer tecido forte, que se usa, sempre bem justa, para segurar a sela. Chamar na chincha = Dar um aperto.

Chanças: Corruptela de chances.

Cheio de nove-horas: Gente presumida, complicada, enjoada.

Chernoviz: Refere-se ao dr. Chernoviz, médico autor de um antigo livro de receitas de remédios. Por extensão: vademecum.

Choça: Cabana feita de ramos.

Choferar: Guiar, dirigir, conduzir.

Chotão: Corruptela de choutão = Cavalo de marcha dura.

Chorar miséria: Pessoa apegada ao dinheiro que tudo lamenta sem necessidade.

Chué: Desapontado; sem graça.

Chupa-chupa: Suco de frutas congelado, vendido em saquinhos de plástico.

Chuva no roçado: Diz-se de negócio rentável, lucrativo, proveitoso.

Cobreiro: Espécie de dermatose produzida pelo contato com vegetação, ou roupa, sobre a qual se supõe passe um animal peçonhento.

Cobrinhos: Pouco dinheiro. Dinheiro miúdo ou em moedas

Cocorar: Acocar; acocorar = fazer mimos.

Colheita: Rapa; ato de apanhar as bolinhas de gude que estão em jogo, geralmente praticado por meninos maiores. Pronunciava-se: coieta.

Coque: Pancadinha na cabeça com o nó do dedo.

Coité: Cuia feita de coco ou de cabaça.

Colondria: Ajuntamento ou turma suspeita.

Com a vó atrás do toco: De mau-humor.

Com todos os efes e erres: Dentro da lei e das normas.

Comi: Auxiliar (aprendiz) de garçom.

Composição: O conjunto de carros de um trem, nas estradas de ferro.

Conga: Antigo sapato feito de lona e borracha; espécie de tênis.

Consumição: Inquietação, preocupação, apreensão.

Coruscar: Coriscar, flamejar; reluzir.

Corda e caçamba: Expressão que designa as pessoas que fazem tudo juntas. Refere-se à corda e à vasilha com que se tira água do poço.

Coresma: Corruptela de quaresma

Cortar talão: Pagar imposto na coletoria, onde o documento era selado. Por extensão: passar escritura.

Corrupio: Lufa-lufa; corre-corre; afã, lidar apressadamente. Pessoa esperta que faz tudo com rapidez.

Costaneira: Borrador, livro no qual se anotavam, em rascunho, as operações comerciais de um estabelecimento.

Couro atanado: Couro curtido com casca de angico, ou outros vegetais que possuem o tanino.

Crendospadre: Creio em Deus Padre.

Crioulo: Cigarro de palha feito de fumo de rolo.

Crescer nas vistas: Despertar cobiça.

Crochetar: fazer crochê.

Curriola: Corruptela de corriola = bando, grupo, corrilho.

Curso: Moléstia do gado bovino.

Cuspido e escarrado: Tal e qual. 


(*) Fontes de consultas principais: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda - Aurélio Eletrônico, Século XXI - Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Beaurepaire-Roban - O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral - Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa - Novo Dicionário da Gíria Brasileira, Manuel Viotti.


(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.

 

Veja nos números anteriores desta série:

http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36347

http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37267

Publicado por Guimaguinhas
em 29/06/2013 às 07h57

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