Ilustração: Mário de Castro, com a icônica camisa do Atlético Mineiro, único clube que defendeu
Ele foi o maior ídolo do Atlético, em todos os tempos. Numa época em que jogador de futebol era mal visto pela sociedade, ele se destacava como um "bom partido". Estudava medicina, tinha porte de galã de cinema e os domingos ele reservava para fazer os gols do Clube Atlético Mineiro.
(Do livro FUTEBOL NO EMBALO DA NOSTALGIA, de Plínio Barreto)
Histórias não faltam à vida deste jogador sensacional, mais do que um jogador, um personagem fantástico, que os atleticanos, que os mineiros, que os brasileiros amantes do futebol não podem jamais esquecer. Sua curta carreira e seus recordes são conhecidos, mas é certo que lhe devemos mais, como uma biografia ou um documentário para contar sua vida extraordinária e inscrevê-lo definitivamente entre os maiores artilheiros da nossa história.
Abaixo, vamos relembrar algumas de suas façanhas com a bola nos pés.
POR QUE ESTE CRAQUE GENIAL ABANDONOU O FUTEBOL PELA MEDICINA
A família de Dona Regina de Castro, mãe de Mário, passara por muitas dificuldades com a perda prematura de seu marido Linolfo de Castro. E dona Regina, viúva com 5 filhos para criar, entre eles Mário de Castro, então com 4 anos, sempre se preocupou muito com o futuro deles.
Esse um dos fatores por que ela queria que Mário se formasse e não se desviasse dos estudos para jogar futebol. E o jeito era, então, contar algumas mentiras para Dona Regina. Uma boa desculpa Mário conseguiu muitas vezes com a ajuda da imprensa, que, no noticiário sobre o Atlético, anotava que no domingo jogaria um tal de Orion. E Mário dizia pra mãe: Está vendo, colocaram outra pessoa em meu lugar. Só que Orion era o próprio Mário!
Mas a medicina acabou tomando ao futebol brasileiro o que poderia ter sido um de seus craques ainda mais geniais. E como ele próprio explica:
É que com a oficialização do profissionalismo no futebol recebi propostas tentadoras de clubes como Fluminense, Botafogo e até de um time de Portugal, que não me lembro o nome. Se eu aceitasse, seria o fim da minha carreira de médico. É lógico que eu teria um salário compensador, além do privilégio de ser o primeiro atleta profissional contratado do futebol brasileiro. Mas isso não era o mais importante na minha vida e, antes que eu me arrependesse, abandonei as quatro linhas dos gramados mineiros, que tantas glórias me proporcionaram.
Fonte: Jornal do Atlético, s/d
Mas Mário nunca se arrependeu da escolha que fez, tendo exercido a medicina por mais de 40 anos. Foi um médico dedicado, um cidadão consciente, um homem de real valor, que anos atrás deu o seguinte conselho aos jovens atletas e ainda perfeitamente válido em nossos dias:
O importante é a gente ser acima de tudo, gente. Gente com sentimentos, com valores, com respeito pelo outro. Gente que saiba lutar, que saiba ganhar, mas que além de tudo saiba perder e reconhecer que perdeu, saindo depressa para "uma outra". Gente que saiba entender o valor do estudo, do conhecimento mais profundo à respeito dos homens, da natureza, da vida. É esse meu conselho. Quem discorda de mim, me enriquece.
Fonte: Jornal do Atlético, s/d
E olha que comigo não tinha esse negócio de canhotinha não. Eu fazia gol era com os dois pés, de cabeça, de qualquer jeito.
(MÁRIO DE CASTRO)
Reportagem do ESTADO DE MINAS, do arquivo pessoal de Wander Mário Cavalcanti de Castro
Na página Futebol, Histórias & Curiosidades, no Facebook, encontramos este registro:
Acima, o Trio Maldito: Jairo, Said e Mário de Castro
Reprodução. Fonte: Facebook/Futebol, Histórias & Curiosidades
Aí eu entrei, fiz um sinal para que esperassem e comecei a fazer gols. Foram cinco, mas o juiz anulou um, falou que eu estava impedido.
(MÁRIO DE CASTRO)
Esta ótima história da carreira de Mário de Castro ocorreu em 20 de maio de 1931. Era um jogo da final do campeonato mineiro, no "Caldeirão do Bonfim" em Nova Lima e o Atlético precisava da vitória para ser campeão. Nesse dia, Mário fora arrancado da cama, depois de uma noite regada a bebida, e ficara no banco de reservas curando os efeitos da boêmia...
No primeiro tempo, o Vila fez 3 a 0, e a torcida do Vila, no intervalo, passou o tempo todo gritando: Cadê o Mário???... Cadê o Mário...???
Conta o ex-jogador Said [Said Paulo Arges], um dos componentes do "Trio Maldito", que, faltando 13 minutos para o final da partida, e tendo já o Mário espantado os efeitos da noitada, este lhe pediu: Toda a bola que você pegar, mande pra cima de mim!
E o habilidoso Said recuou um pouco e foi metendo as bolas para o Mário de Castro. Resultado: o artilheiro fez 5 gols, dos quais 4 foram validados. Final: Galo 4 x Vila 3 !!!
E Mário confessa:
Naquele dia, enrolei as meias, o calção e as chuteiras e disse:
— Não jogo mais futebol. Estava no 4o. ano de medicina.
Agradeço ao amigo Wander Mário Cavalcanti de Castro, com quem conversamos e que nos confiou seus preciosos recortes, lembranças de seu pai Mário de Castro, com esta recomendação:
— Caro Guima, "Muito cuidado", são as únicas lembranças que guardo do meu pai.
== Dr. Wander ==
Veja o número 1 desta série, clicando o link abaixo:
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