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Memórias familiares e de minha terra natal
Meu Diário
10/04/2015 07h45
MEMÓRIAS DE AGUINHAS - Werneck e o burro Zacarias

Ilustração: Maria Werneck, primogênita de Américo Werneck, e o burro Zacarias


Já publicamos aqui no GUIMAGUINHAS diversos posts sobre Américo Werneck, como se pode ver nesta Série (aqui).

E, como se sabe, coube a Werneck — o primeiro prefeito da cidade — a construção das obras fundadoras de Águas Virtuosas — cassino, lago, cascata do lago, farol, parque novo. (aqui)

E deve-se também a ele a demanda Werneck X Estado de Minas, que se deu em face da rescisão do contrato de arrendamento da estância, efetuado em 1912 entre ele e o Governo de Minas (aqui). Por causa desse litígio, Werneck se afastou de Lambari e diversos projetos que idealizara para a estância não se concretizaram.

Pois bem, à vista desses fatos históricos, neste post vamos registrar algumas críticas feitas a Werneck, e bem assim uma autocrítica que ele fez em razão do insucesso de seus planos para Águas Virtuosas. Vejamos.


Críticas

As supracitadas obras realizadas por Werneck em Águas Virtuosas tratava-se de um ambicioso plano de tornar a estância um centro balneário de reputação internacional, nos moldes de uma Vichy, ou Carlsbad, ou Aix-les-Bains — como disse Werneck na discurso de inaguração das obras (aqui) — sonho que, nem de longe, se concretizou.

Mas as obras grandiosas, e seu elevado custo, realizadas em poucos meses, entre 1909 e 1911, com equipamentos, matérias-primas e artigos de decoração importados da Europa e da Ásia, por um formidável contingente de artistas, mestres de obras, pedreiros, operários, geraram diversas criticas. Como a que vai abaixo, extraída do livro Memória dos Setenta, de Antônio Fonseca Pimentel, livro este que já comentamos em outra oportunidade (aqui).

Diz Fonseca Pimentel que a nomeação de seu pai — Antônio Pimentel Júnior [1] — para prefeito de Lambari se deu em razão

da decisão de Bueno Brandão de substituir, na prefeitura [de Águas Virtuosas]... a Américo Werneck, que, dentre numerosas outras obras, concluíra a construção do cassino de Lambari e o inaugurara em 1911.

Bueno Brandão, como chefe do executivo estadual, estivera presente às festas de inauguração, verdadeiramente de mil-e-uma noites, segundo a tradição conservada[2] E em sua conhecida simplicidade e austeridade, regressara a Belo Horizonte, segundo os íntimos, escandalizado com tamanha pompa e, de acordo com uma anedota, achando que, naquele andar, Américo Werneck quebraria não só Lambari, mas o próprio Estado de Minas, o que era evidentemente um exagero.

Meu pai era, assim, nomeado com a recomendação expressa de não gastar, ou gastar o menos possível, para compensar os gastos da administração anterior.

Era uma tarefa antipática e ingrata perante uma comunidade que esperava que Américo Werneck transformasse Lambari na Monte Carlo não só de Minas, mas do Brasil, o que não ocorreu nem sequer com o cassino de Quitandinha, construído trinta anos depois em Petrópolis, a algumas dezenas de quilômetros apenas do Rio de Janeiro.

(Obra citada, págs. 57/58)


  1. Sobre Antônio Pimentel Júnior, prefeito de Lambari entre 1912/1918, veja este post (aqui)
  2. Sobre a inauguração das obras realizadas por Werneck, veja este post (aqui)

E o cassino de Werneck, inacabado, por tantos anos fechado ou subutilizado, tornou-se alvo de cáusticos comentários, tornando-se um chiste para obras faraônicas, ou inacabadas, como este que se fazia em relação à construção de Brasília:

... obra do agoiro: "Não vai adiante. Outro presidente que vier fica por aqui mesmo. Gastar tanto dinheiro para nada! Essas obras não serão terminadas. E as que forem ficarão para os morcegos, como as do Cassino de Lambari"...

Osvaldo Orico. Brasil, capital Brasilia., pág.119


Uma suposta autocrítica

Na Fazenda Pinheiros, em Nova Baden, onde Werneck residiu no final dos anos 1800/início dos anos 1900, atualmente funciona a sede do Parque Estadual de Nova Baden.

Antiga foto da Fazenda Pinheiros, em Nova Baden, Lambari (MG)

E lá se encontra a foto abaixo, que retrata Maria, primogênita de Werneck, em companhia de um burro. Sobre essa alimária, "batizada por Zacarias", e depois "crismada por Werneck", teria dito o artífice de Águas Virtuosas: 

​Só existe um jerico mais obtuso que Zacarias: Eu, Werneck, que quis fazer de Águas Virtuosas uma grande fonte de renda para Minas Gerais.


 

Maria Werneck e Zacarias

Dizeres ao pé da foto acima


 

Publicado por Guimaguinhas
em 10/04/2015 às 07h45

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