Ilustração: Barragem e encontro das águas do Lago Guanabara com as do Rio Mumbuca.
Mumbuca, nos dicionários, significa uma
espécie de abelha preta. Palavra de origem tupi, mõ buca, que furta, que penetra. Var. mombuca. (1)
Para os lambarienses, é o riozinho que corta a cidade, e que já foi chamado de Ribeirão Lambarizinho. Em 1860, seu curso foi modificado, pois em épocas de cheia o leito invadia as fontes das águas minerais.
Rio Mumbuca, após obras de mudança do curso (1900)
O Mumbuca de minhas memórias
No livro Abigail [Mediunidade e redenção], eu imaginei como deveria ser o Mumbuca, nos idos de 1930:
A cidadezinha de Águas Virtuosas é vista como a mais bonita da região das estâncias hidrominerais do Sul de Minas. Situada no centro de um vale suntuoso, em forma de concha, é resguardada ao norte das fortes correntes de ar pela imponente e majestosa Serra das Águas, que se alteia a mais de mil e duzentos metros. Ao sopé da montanha, através do rio Mumbuca, que nessa serra tem sua cabeceira, águas cristalinas serpeiam e rolam ligeiras, borbulhando nas pequenas quedas e nos trechos mais sinuosos. (2)
No livro Menino-Serelepe, narrei as brincadeiras no rio Mumbuca, nos tempos da meninice:
Penetrávamos no Rio Mumbuca nos fundos do Posto Gregatti, subíamos o rio por sob o túnel e saíamos do outro lado, escalávamos o paredão de tijolos para acessar o antigo cinema do hotel e dali íamos “excursionando”, começando pelo próprio cinema, e depois pelos salões de jogos — que Aguinhas foi cidade onde a jogatina reinou até os anos 40 — pelos jardins, pelas quadras, pelo terreno da caldeira, pela piscina, pelos jardins internos. (...)
Nesse túnel do Rio Mumbuca a turma chegou a manter um esconderijo, feito de objetos duramente catados ao fundo do rio: restos de concreto, tijolos, pedras, que, acumulados, formaram uma elevação na qual durante muito tempo brincamos e pescamos mandis, cascudos e lambaris. Bons tempos aqueles, pois o rio Mumbuca não era ainda tão poluído quanto atualmente. (3)
Isso mesmo: nesse Mumbuca de doída memória — brincávamos, pescávamos, nadávamos...
E então suas águas eram limpas, havia peixes... Todas as tardes, pescadores se postavam na ponte do Parque Hotel, em frente ao balneário do Imperial, na entrada e na saída do túnel do Hotel Imperial, na ponte do Parque Novo, em frente às duchas...
Hoje, vendo o Mumbuca tão degradado, cheio de lixo, malcheiroso, poluído, assoreado, me pergunto:
— Devemos dar adeus ao Mumbuca?
Chuvas que não vêm, fontes que secam, rios que morrem — e não é somente por obra da Natureza que isso vem ocorrendo. Em tudo isso, há, como sabemos, a pesada mão da imprevidência, do descaso e da irreponsabilidade do ser humano.
Assim, é certo que depende de nós — somente de nós — salvar o gracioso riozinho!
Saída do túnel, em frente do Posto Gregatti, local por onde adentrávamos o rio em nossas brincadeiras
Entrada do túnel, em frente do balneário do Imperial, local por onde saíamos e escalávamos o paredão que dava acesso às dependências do Hotel Imperial
(1) BUENO, Silveira. Grande Dicionário Etimológico, Prosódico da Língua Portuguesa - Vol. 5 - L/M - São Paulo : Saraiva, 1968.
(2) Esse texto descreve a Aguinhas dos anos 1930 e faz parte do Capítulo 1 - Uma cidadezinha ao pé da serra, do livro ABIGAIL [Mediunidade e redenção], de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas), assina a coletânea HISTÓRIAS DE AGUINHAS. Veja o tópico Livros à venda.
(3) Essa narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960. O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.