Ilustração: Cópia da partitura original da polca A FONTE DO LAMBARY, composição de Ernesto Nazareth, de 1888
Ernesto Nazareth, o grande compositor e pianista brasileiro (1863-1934), compôs em 1888 uma polca intitulada A Fonte do Lambary dedicada à Empresa de Águas do Lambary, concessionária à época da exploração das águas minerais de Águas Virtuosas de Lambary.
Possivelmente essa peça musical foi encomendada como propaganda das águas de Lambary.
Essa dica foi dada ao GUIMAGUINHAS por Paulo Guerra, da Estação Mercado do Livro.
É a história que veremos a seguir, dentro da Série AGUINHAS MUSICAL (aqui).
(Fonte: Ernesto Nazareth: o músico e as marcas. Alexandre Dias e Luiz Antonio de Almeida)
O músico e a propaganda das Águas de Lambary
No texto Ernesto Nazareth: o músico e as marcas, disponível no site Ernesto Nazareth 150 Anos, e que pode ser visto aqui, conta-se que Ernesto Nazareth
revelou uma das mais significativas ligações autorais com a música de propaganda.
E que é em Nazareth que
possivelmente, vamos encontrar a melhor expressão da aproximação entre compositor de inequívoca qualidade musical e a música de propaganda, à qual dedicou seu talento.
Nesse gênero, Nazareth compôs cerca de 13 composições, sendo que sua primeira incursão em
composição musical cujo título da partitura está associado a marca comercial ocorreu em 1888, conforme informação localizada por Luiz Antonio de Almeida em jornal: trata-se de A Fonte do Lambary, polca para piano. Impressa na própria partitura consta a dedicatória: “Offerecida a Empresa das Aguas do Lambary”. Ainda que “offerecida” à empresa, não se pode descartar seu teor e potencial de exposição da marca.
Os autores do texto prosseguem dizendo que, com fundamento no comentário de Luiz de Almeida, pode-se especular
uma origem para essa composição a partir de possível vínculo entre Ernesto Nazareth e a empresa Águas Lambary, cujo elo seria o estabelecimento Viúva Filippone. Ernesto Nazareth teve, na década de 1880, algumas de suas composições (Você Bem Sabe, Cruz, Perigo!, Não Caio N’Outra!!!, Não Me Fujas Assim e Beija Flor) editadas pela Imperial Imprensa de Música de Viúva Filippone (Viúva Filippone) e pela firma sucessora Viúva Filippone & Filha, com loja à Rua do Ouvidor 93, Rio de Janeiro. Aloysio de Alencar Pinto, em artigo sobre Ernesto Nazareth, informa, “como nota pitoresca”, que ao lado do comércio de música, o estabelecimento (Viúva Filippone) “tinha um depósito de todas as águas minerais legítimas”, e era “correspondente direto da Companhia de Vichy” (PINTO, 1963). Em função do relacionamento entre Nazareth e o estabelecimento Viúva Filippone, e pelo fato de esse ser o “Único depósito das Aguas Virtuosas de Lambary e de todas as Aguas Mineraes estrangeiras, como sejam Vichy, Seltz, etc. etc.” (conforme rodapé do Catálogo Flores do Baile Collecção das Quadrilhas, Polkas e Valsas Mais em Voga, do Imperial Estabelecimento de Músicas e Aguas Mineraes Vva. Filippone & Filha), é plausível supor uma encomenda de A Fonte do Lambary por intermediação da Viúva Filippone, ou da Viúva Filippone a Nazareth, como forma de agradar seu fornecedor, ao mesmo tempo que seria distribuída entre os fregueses das águas minerais. Suposições.
Teria sido a música intencionalmente composta como propaganda da Água de Lambary? Tenha sido oferecida ou dedicada à empresa a exibição do nome da marca no título da composição era de fato uma forma de divulgação:
Para quem recebesse, ou mesmo adquirisse, uma partitura com o nome de um produto ou estabelecimento, pode-se presumir que o fato da partitura ser “oferecida, pelo compositor, à empresa tal” ou ser “oferecida, ao comprador, pela empresa tal” seria um aspecto menos relevante. O que teria relevância era o título da partitura: A Fonte do Lambary – nome a ser lembrado. O fato de os proprietários da Empresa das Águas do Lambary eventualmente terem utilizado a partitura de Ernesto Nazareth como um brinde para distribuição entre seus fregueses tornaria mais explícita e contundente sua função comercial. Caso a partitura não tenha sido utilizada como brinde, ainda assim, de modo involuntário e não proposital, houve exposição da marca através da partitura.
(Fonte: Ernesto Nazareth: o músico e as marcas. Alexandre Dias e Luiz Antonio de Almeida)
A partitura (melodia e cifra) pode ser vista nestes links:
Veja no Youtube A Fonte do Lambary executada em piano e flauta, e também por Ronaldo do Bandolim (conjunto de choro):
Gravação para conjunto de choro no excelente
disco do Ronaldo do Bandolim, lançado em 2008 - aqui