Ilustração: Capa do livro Frazes feitas, de João Ribeiro
Vocabulário de Aguinhas
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Como já dissemos nesta Série Vocabulário de Aguinhas, no Apêndice ao livro Menino-Serelepe (*) inserimos um pequeno vocabulário, com cerca de quinhentas palavras e expressões utilizadas na elaboração das narrativas das memórias de minha infância.
Os mais antigos hão de se lembrar de expressões como estas, por exemplos:
Confira aqui os significados
Abaixo vai uma pequena seleção de expressões típicas e curiosas que se falavam naqueles anos 1960 nesta região do Sul de Minas.
Vamos lá.
Vocabulário de Aguinhas - Seleção de expressões típicas do Sul de Minas
Num texto que publicamos aqui no GUIMAGUINHAS (Sentinelas da língua, aqui), falamos de João Ribeiro e seu livro Frases feitas, um clássico da fraseologia brasileira.
Reprodução: Internet
A modesta coletânea abaixo é uma pálida imagem dessa grande obra.
Veja agora uma amostra [das letras A a E] de expressões colhidas do nosso Vocabulário de Aguinhas:
A leite de pato: Jogar de brincadeira, sem valer nada.
À riviria: Corruptela de à revelia, com o sentido de grande quantidade, fartura, exagero, descontrole.
Às encobertas: Às escondidas.
Às gatas: A todo custo [à gata].
Água de barrela: Água em que se ferve cinza que é usada para branquear roupa.
Andar de bonde: Andar de braços dados. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Um casal e filha passeiam por Águas Virtuosas de Lambari, início dos anos 1900 (Acervo de João Gomes d'Almeida e João Gomes de Almeida Filho)
Andar de latinha: Caminhar sobre latinhas (geralmente de massa de tomate), nas quais se fez um furo e se passou um barbante para encaixar o dedão do pé e controlar os passos.
Reprodução:dicasdemaeparamae.blogspot.com
Bar copo-sujo: Botequim. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Beata de fita: Mulher muito rezadeira que usa fita de alguma congregação.
Boi da guia: Animal que, em um carro de bois, faz parte da dupla dianteira.
Câimbra de sangue: Corruptela de câmaras ou cambras. Diarréia forte, com fluxo de gotas de sangue.
Caixa-pregos: Lugar muito distante.
Cafundó do Judas: Lugar distante e de difícil acesso.
Camisa de onze varas: Dificuldade grande em que alguém se mete e da qual é difícil ou impossível sair.
Canto chorado: Da expressão “Trazer num canto chorado”, isto é, debaixo de rigorosa vigilância.
Chá de marmeleiro: Surra de vara de marmelo, que são varas longas e flexíveis, bem jeitosas para se bater.
Chamar na chincha: Chincha é uma faixa de couro ou de qualquer tecido forte, que se usa, sempre bem justa, para segurar a sela. Chamar na chincha = Dar um aperto.
Cheio de nove-horas: Gente presumida, complicada, enjoada.
Cortar talão: Pagar imposto na coletoria, onde o documento era selado. Por extensão: passar escritura.
Couro atanado: Couro curtido com casca de angico, ou outros vegetais que possuem o tanino.
Reprodução: Freeimages
Dar o pira: Fugir, dar o fora, desaparecer rapidamente.
Dar pepé: Fazer com as mãos apoio para que alguém ponha os pés com o intuito de ganhar altura e saltar um muro, subir num móvel, etc.
De chifre cheio: Bêbado, encachaçado.
De mamando a caducando: De criança a homem velho.
De entuviada: Depressa; desordenadamente.
Dever os cabelos da cabeça: Estar muito endividado.
Dia de saco: Dia de sábado. [Costume do interior: Dia de sair da venda com o saco de compras da semana.]
Antigo saco de estopa (Reprodução: Mercado Livre)
Duma figa: Manifestação de pouco apreço ou de irritação.
Escovar a garganta: Pigarrear antes de falar.
Esfola-caras: Barbeiro ruim, que não sabe fazer barbas.
Estar de enguiço: Estar com má sorte, com urucubaca, azarado.
Fontes de consultas principais:
Agradecemos a colaboração da sra. Luíza Silvestrini da Cruz, neta de João Gomes d'Almeida e sobrinha de João Gomes de Almeida Filho, pelas informações prestadas e cessão das fotos utilizadas neste post.
Menino-Serelepe (*)
(*) Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.