Ilustração: A Bitaca do Veiaco, local onde se reúnem ex-jogadores, ex-técnicos, ex-árbitros, ex-torcedores e cornetas ainda em atividade, para (re)contar histórias, causos e lendas do glorioso futebol lambariense.
Como se sabe, é na Bitaca do Veiaco que se contam as melhores histórias de futebol. A língua afiada do Veiaco não esconde as glórias e muito menos as mazelas do futebol aqui praticado desde os anos 1920.
Falar da BITACA DO VEIACO é falar do GUINHO GREGATTI — um dos seus mais ilustres frequentadores, e que nos deixou há poucas semanas.
Siga com Deus, meu amigo!
Sobre o GUINHO, veja este post:
A história que vem a seguir foi ouvida dias atrás na BITACA DO VEIACO. Como o "grande estabelecimento" está à procura de novo endereço, esta história foi a última que se ouviu no primitivo cafofo.
Que não demore muito o Veiaco em se reestabelecer, pois a turma está dispersa, triste, zaranzando à procura de um lugarzinho para cavaquear e contar mentiras.
Mas vamos à história.
No pé-de-ferro, o ponta-esquerda acerta a canela do técnico
Contou o Veiaco que pelos idos de 1968-69, para formação do time profissional, o Águas Virtuosas contratou o Sr. Jaime, técnico de futebol vindo de Belo Horizonte. Logo que chegou, ele passou a comandar também o time juvenil, dando treinamento físico, tático e de fundamentos de futebol.
Pois bem — continuou o Veiaco —, um conhecido ponta-esquerda (que às vezes atuava de goleiro) fazia parte do juvenil do Águas e participava dos treinamentos dados pelo Sr. Jaime: chutes, toque de bola, dribles, cruzamentos, etc.
Tudo correu bem até o dia que o técnico resolveu treinar bola dividida...
Sr. Jaime vinha conduzindo a bola e pedia que os jovens atletas fossem ao seu encontro e tentassem ganhar a bola numa dividida com a parte interna do pé. De forma viril, mas lealmente. — Tem de chegar firme e confiante pra não se machucar! — ele dizia.
Era o pé-de-ferro, como se diz na gíria do futebol.
E começou o treinamento pelos laterais, passou pelos zagueiros, chegou aos meias... E ele gritava: — Vem garoto, vem com tudo!
E tudo correu bem até que chegou a vez dos ponteiros esquerdos, e o Sr. Jaime veio conduzindo a bola com a perna canhota, para favorecer a dividida.
O primeiro ponta esquerda passou no teste, mas aí chegou a vez do nosso personagem, e ele fez cara feia, veio gingando, cheio de marra, pisando meio fora do centro, e meteu a canhota — meio de sola, meio de lado — na orelha da bola — e a velha chuteira, com travas de sola e pregos, escorregou por cima do capotão e atingiu a canela do Sr. Jaime, lanhando um palmo da tíbia do pobre homem.
Sr. Jaime deu um grito, sentou no chão, levantou a meia — e o sangue jorrando. Então, ele saiu gemendo, xingando e gritando: — É na bola, seu burro! Pra acertar a bola — e não na minha canela, desgraça! Ai! Ai! Ai!
E encerrou o treinamento — e o nosso preclaro ponta-esquerda tomou chá de sumiço por umas três semanas...
Se é vero? Claro que é, pergunte ao Veiaco!
Feita de couro curtido, o chamado capotão tinha câmara de ar de borracha. Reprodução. Fonte: Esportes R7