Ilustração: Recorte. Aplicação de vacina antivariólica no Instituto Vacinogênio de São Paulo. Reprodução. Fonte: Museu de Saúde Pública Emílio Ribas. Apud Teixeira & Almeida, 2004.
Informa José Nicolau Miléo [1] que
Pois bem, posto isso, vamos conhecer melhor o episódio.
Segundo a Wikipedia:
A vacina antivariólica foi a primeira vacina desenvolvida com sucesso, tendo sido introduzida por Edward Jenner em 1796. O desenvolvimento da técnica resultou da observação feita por Jenner que as mulheres que vendiam leite de vaca não eram atacadas pela varíola desde que tivessem sido anteriormente infectadas pela varíola bovina, o que mostrava que a a inoculação com varíola bovina, bem mais benigna, protegia contra a varíola. A palavra "vacina" é derivada de Variolae vaccinae, a varíola dos bovinos, o termo cunhado por Jenner para designar a varíola bovina e usado no título da sua obra An enquiry into the causes and effects of Variolae vaccinae, known by the name of cow pox.A vacina era inoculada com recurso a uma agulha bifurcada.
Administração da vacina antivariólica (note a utilização da agulha bifurcada). Reprodução. Wikipedia
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vacina_contra_a_var%C3%ADola
O INSTITUTO VACÍNICO DO IMPÉRIO
O site MAPA - Memória da Administração Pública Brasileira, traz as seguintes informações sobre o Instituto Vacínico do Império:
Criado pelo decreto n. 464, de 17 de agosto de 1846, o Instituto Vacínico do Império tinha por atribuição o estudo, a prática, o melhoramento e propagação da vacina.
A varíola constituiu-se uma das maiores preocupações sanitárias desde o período colonial, acometendo de forma endêmica e epidêmica diversas regiões do Brasil. Mas foi a partir da vinda da Corte para o país em 1808 que se verificou a adoção de medidas que procuraram melhorar o quadro sanitário da colônia, como a difusão da vacinação, até então feita por particulares. Em 1811 foi criada a Junta Vacínica da Corte sob a inspeção do físico-mor e do intendente-geral de Polícia da Corte, ficando responsável pela vacinação jenneriana na cidade do Rio de Janeiro e pelo fornecimento da linfa vacínica para as províncias.
A Independência brasileira promoveu um rearranjo político-institucional que teve início com a Constituição de 1824 e que alterou o papel das câmaras municipais. A lei de 30 de agosto de 1828 aboliu os lugares de físico-mor, cirurgião-mor e provedor-mor do Império, passando às câmaras e à justiça ordinária suas atribuições, determinação que foi complementada pela lei de 1º de outubro de 1828, mais conhecida como Regimento das Câmaras Municipais. Com isso as cidades e vilas ficavam responsáveis, dentre outras, pelas questões relativas à saúde pública, o que incluía a difusão da vacina (BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828, art. 69).
Fonte: Instituto Vacínico do Império - http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/366-instituto-vacinico-do-imperio
Diz o Decreto nº 464, de 17 de Agosto de 1846, que regulamentou o "Instituto Vaccinico do Imperio" e mandou executá-lo:
REGULAMENTO, A QUE SE REFERE O DECRETO DESTA DATA, REFORMANDO O INSTITUTO VACCINICO DA CORTE, E GENERALISANDO-O A TODO O IMPERIO
CAPITULO I
Do Instituto Vaccinico do Imperio
Art. 1º Haverá no Imperio hum Instituto Vaccinico, que será composto:
1º De hum Inspector Geral.
2º De huma Junta Vaccinica na Capital do Imperio, a qual será presidida pelo Inspector Geral, e terá quatro Vaccinadores effectivos, dous supranumerarios, e hum Secretario; havendo tambem hum Porteiro, que ao mesmo tempo servirá de Continuo.
3º De hum Commissario Vaccinador Provincial na Capital de cada Provincia.
4º De hum Commissario Vaccinador Municipal em cada Municipio.
5º De Commissarios Vaccinadores Parochiaes em todas as Povoações, onde haja pessoas com as necessarias habilitações, que se prestem a desempenhar esse Emprego.
Art. 2º O fim do Instituto Vaccinico do Imperio he o estudo, pratica, melhoramento, e propagação da Vaccina.
Art. 3º Os lugares de Inspector Geral, Membros da Junta Vaccinica da Côrte, e Commissarios Vaccinadores Provinciaes, só poderão ser exercidos por Medicos, ou Cirurgiões legalmente habilitados para curar, com Diplomas das Escolas de Medicina do Imperio, ou das antigas Academias Medico-Cirurgicas. Estes Empregados, bem como o Secretario da Junta Vaccinica da Côrte, serão nomeados por Decreto Imperial; o Porteiro sel-o-ha por Portaria do Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios do Imperio; e todos elles vencerão os ordenados constantes da Tabella annexa.
(Mantida a grafia da época)
A APLICAÇÃO DA VACINA EM ÁGUAS VIRTUOSAS
Em julho de 1872, Antônio Joaquim do Nascimento, Comissário Vacinador da Paróquia de Águas Virtuosas, recebeu do Comissário Vacinador Provincial, Dr. Domingos Eugênio Moreira, o regulamento das obrigações inerentes aos comissários vacinadores a fim de coadjuvar na sua parte ao importante trabalho muito em atraso na província (grafia atualizada).
Desse regulamento, constava, por exemplo, a seguinte instrução:
Instruções sobre a vacinação enviadas ao vacinador paroquial. Reprodução. Fonte: MILEO, 1970, p. 101
TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ACIMA Indicação para o uso das lâminas de vacina Para se inocular linfa vacínica, já dissecada, das lâminas de vidro, basta abri-la com uma faca, lançar sobre cada uma, uma tênue gota d'água a fim de dissolver com a mesma agulha de vacinar ou qualquer lanceta ou canivetinho que não tenha servido para qualquer operação cirúrgica, condição esta a que se deve muito atender a vacina seca, e proceder imediatamente a inoculação, levando para isso na ponta do instrumento suficiente quantidade do líquido obtido pela dissolução da vacina seca, e fazendo-a penetrar sob a pele sem que excite efusão de sangue. Se extrai a linfa vacínica no 7o. ou 8o. dia depois da vacinação de uma pessoa sã, essa linfa se apresenta como uma gota de lágrima na pústula do que se levantar película com a ponta da lanceta, guardando-se a linfa entre duas lâminas de vidro, quando porém ela aparecer como leitosa e grossa, já não serve, por se ter transformado em pus, o que acontece depois de oito dias. (Com grafia atualizada e pontuação original) |
Reprodução. Fonte: Os primórdios da vacina antivariólica em São Paulo: uma história pouco conhecida. Luiz Antonio Teixeira e Marta de Almeida
- [1] MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP, Graficávila, 1970, p. 99/100
-TEIXEIRA, Luiz Antonio; ALMEIDA, Marta de. Os primórdios da vacina antivariólica em São Paulo: uma história pouco conhecida, 2004. https://www.scielo.br/j/hcsm/a/63pwhBVBZMDRdwKX3SWrRYb/?lang=pt
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Vacina_contra_a_var%C3%ADola
- O Instituto Vacínico do Império - http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/366-instituto-vacinico-do-imperio
- Decreto nº 464, de 17 de Agosto de 1846 - Manda executar o Regulamento do Instituto Vaccinico do Imperio (sic) - aqui