Ilustração: Série paisagem. Benedito Calixto. Fonte: Wikimedia
Durante milhares de anos, as fontes das águas virtuosas minaram solitárias em meio à selva bruta.
A certo tempo, indígenas locais as conheceram...
Imagem: Copilot/Microsoft
Décadas à frente, as águas foram descobertas — e passariam a ser conhecidas por águas santas ou virtuosas!
O achado das águas foi um “acontecimento de vulto”, “uma célebre descoberta”, que chamou a “atenção popular”, trazendo benefício para a região. [1]
A partir daí, caminhos de acesso a elas vão sendo abertos...
Vamos conhecer esta história.
Abaixo, o 1a. parte.
[1] LEFORT, Mons. José do Patrocínio. A Diocese da Campanha, 1993, págs. 206 e 207
A região de Campanha do Rio Verde, descoberta pelos paulistas por volta de 1720, teve pouca divulgação até 1737, quando, em 2 de outubro, uma expedição militar sob o comando do ouvidor da Vila de São João Del Rei, Cipriano José da Rocha, veio com a incumbência de reconhecer a região, desbravar os sítios desconhecidos ao longo da bacia dos Rios Verde, Sapucaí e Palmela e tomar posse do território em nome do Rei. [2]
[2] FERREIRA DA SILVA, Edna Mara. Fronteiras ao Sul do Sertão das Minas:
Aspectos da formação da Vila da Campanha da Princesa.
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MAPA DE 1777 JÁ ASSINALA A REGIÃO DO LAMBARI
Em 1777, veio a lume o histórico Mappa da Capitania de Minas Geraes, de autoria de José Joaquim da Rocha, no qual aparecem já assinalados o Rio Lambari e a povoação de Lambari, que surgiu a margem da estrada aberta em 1737.
Esta povoação de Lambari começou a se formar a partir de 1747, muito antes da descoberta das águas virtuosas. Era composta de portugueses, baianos e paulistas, que se dedicavam ao cultivo de terras, mineração, comércio de animais, aluguel de pousos, etc. [3]
[3] LEFORT, José do Patrocínio. 8º. Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha. 1946
Mappa da Capitania de Minas Geraes. José Joaquim da Rocha. 1777. Reprodução. bn.digital.gov.br
[4] MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970. Pág. 12
[5] LEFORT, José do Patrocínio. 8º. Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha. 1946
[6] CARROZZO, João. História cronológica de Lambari. Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988
[7] MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970
MAPA EXTENSÃO CAMPANHA. Francisco Salles, 1800. Fonte: Cidade difusa. Cícero Ferraz Cruz, 2016
Aqui aparece o Rio Lambari, das nascentes até desembocar no Rio Verde
O CAMINHO DE CAMPANHA AO CAMINHO VELHO
Na expedição que comandou em 1737, o ouvidor Cipriano José da Rocha viera de São João Del Rey fazendo uso da Estrada Geral, que ligava a capital da província ao litoral fluminense, e era também conhecida por Caminho Velho.
E a estrada que Cipriano mandara abrir em 1737 fez a ligação entre esse Caminho Velho e o arraial de São Cipriano (nome primitivo de Campanha, MG), passando pela região do Lambari. [8]
[8] LEFORT, José do Patrocínio. 8º. Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha. 1946
Linha azul ► Provável caminho do ouvidor vindo de SJ Del Rey a Campanha
Linha vermelha ►Provável caminho ligando Campanha ao Caminho Velho (Estrada Real para São Paulo e Rio de Janeiro)
A DESCOBERTA DAS ÁGUAS VIRTUOSAS
Por volta dos anos 1780, transitando pela estrada de Campanha ao Caminho Velho, lenhadores, escravizados e tropeiros deram conta da existência das fontes de águas minerais e assim surgiu uma picada na densa mata.
Com o movimento de pessoas a busca das águas santas, logo se formaram trilhas e caminhos.
E assim 4 décadas se passaram...
Série paisagem. Benedito Calixto. Fonte: Wikimedia
A MUDANÇA DA ROTA PARA O RIO DE JANEIRO
Somente em 1826, após a divulgação da Memória sobre as águas escrita pelo médico M. da S. R. (Manoel da Silveira Rodrigues), que referiu os benefícios da água virtuosa, interna ou externamente, em certas afecções do sistema digestório e dermatoses, é que a Câmara da Vila de Campanha do Rio Verde passou a tomar providências quanto à formação do patrimônio público e medidas sanitárias para uso das águas. [9]
Uma das providências tomada pela Câmara de Campanha foi a alteração da rota da estrada para o Rio de Janeiro, fazendo-a passar próxima ao manancial das águas.
E, em 24 de janeiro de 1827, oficiou ao Visconde de Caeté (vice-presidente da Província Mineira) sugerindo diversas medidas administrativas, higiênicas e de urbanização, e fazendo um pedido para a construção de uma ermida no povoado. [10] [11]
[9] MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970
[10] CARROZZO, João. História Cronológica de Lambari - Nascida Águas Virtuosas da Campanha.
Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988, pág. 20
[11] LEFORT, Mons. José do Patrocínio. A Diocese da Campanha, 1993, págs. 206 e 207
RESUMO HISTÓRICO DA ÁGUAS VIRTUOSAS DE OUTRORA — ATUAL JESUÂNIA
Lambari (que já foi Águas Virtuosas da Campanha, Águas Virtuosas de Lambary) e Jesuânia (que já foi Lambari, Bom Jesus de Lambari, Bias Fortes, Lambarizinho) e suas históricas ligações:
Fonte: Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais.Waldemar De Almeida Barbosa,1971
FERREIRA DA SILVA, Edna Mara. Fronteiras ao Sul do Sertão das Minas: Aspectos da formação da Vila da Campanha da Princesa.
CRUZ, Cícero Ferraz. Cidade difusa: a construção do território na Vila de Campanha e seu termo, Séculos XVIII-XIX. São Paulo, 2016
CARROZZO, João. História cronológica de Lambari. Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988
MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970
CARROZZO, João. História Cronológica de Lambari - Nascida Águas Virtuosas da Campanha.
Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988, pág. 20
LEFORT, Mons. José do Patrocínio. A Diocese da Campanha, 1993, págs. 206 e 207