Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
RECORDAÇÕES DE AGUINHAS - Profissão: médico
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SUMÁRIO

     - Apresentação
     -
A amizade do dr. Ismael com meu pai e meu tio
     - Outros casos
     - A despedida do dr. Ismael
     - Voando até o hospital...      
     -
A homenagem da Sociedade Sul Mineiria de Cardiologia
     - Referências

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APRESENTAÇÃO

Como já contei aqui neste site, nos mudamos para o centro cidade por conta de meu pai - o Dé da Farmácia -, que passou a atender o plantão noturno da Farmácia Santo Antônio. E no livro Menino-Serelepe [*] deixei registrados alguns casos ocorridos durante os quase 20 vinte anos que durou esse plantão; dentre eles o seguinte, que se deu com o Dr. Ismael Gesualdi:

Mas, muitas vezes, eu acordava com as batidas, principalmente quando se  davam no vitrô do quarto onde ele dormia, que era bem próximo do meu. Certa noite acordei sobressaltado com as pancadas no vidro: Pá, pá, pá... E insistentemente: Pá, pá, pá... O Dé gritou  —  Calma, raio! tá pensando que eu durmo em pé e com a roupa no corpo! Lá fora, uma grande risada. 
 
Quando Dé abriu a aba do vitrô, era o doutor Ismael Gesualdi, seu grande amigo, se divertindo com a xingação do pai. E o bom médico disse: — Vamos logo, Dé, que tem gente precisando da nossa ajuda.
 
A AMIZADE DE DR. ISMAEL COM MEU PAI E MEU TIO

E já anotei também em outro post como os médicos de Lambari — Ismael, José Benedito e Wander — cuidaram atenciosamente de meu pai, quando da insidiosa doença que o levou muito cedo, aos 49 anos. (1).


Doutor Ismael conheceu e se tornou muito amigo do Dé e do tio João em razão do trabalho desses irmãos na Farmácia Santo Antônio. E também foram esses dois quem durante meses aplicaram injeções e se revezaram por muitas noites na assistência aos leitos enfermos de duas pessoas querídissmas de Ismael: Marcello, o seu irmão, e de Annunciato, o seu pai. Mas houve um pequeno incidente que estreitou mais a amizade de meu pai e Ismael, e do qual tomei conhecimento só muito recentemente, por intermédio de dona Leda Gesualdi. Vou me permitir contá-lo aqui, para ilustrar a amizade deles. Eis o resumo do caso: 

 
Certa manhã, Ismael e meu pai conversavam na porta do consultório, quando um caminhão, que fazia manobras de estacionamento junto ao passeio, bateu a carroceria alta, dessas de transportar gado, na marquise da casa do médico, ali na Rua Tiradentes. E, claro, ele reclamou.  Ei moço, cuidado com a marquise! E deu-se que o malcriado do motorista partiu para cima do Ismael, agressivo e falando palavrões. O Dé sempre foi um homem de paz, mas, como deixei registrado num conto de o Menino-Serelepe (2), "ele não tinha medo de arreganhos ... e muito menos de enfrentar injustiças e que costumava ser muito bravo quando era preciso". Pois outra não se deu: meu pai tomou as dores do Ismael, meteu o corpo na frente e enfrentou o valentão, dizendo:  Seu marmanjo! Não vê que 'ocê tá errado! Não tem vergonha de falar assim com o doutor, não! E o homem achou melhor não enfrentar aqueles dois, que não eram lá muito grandes nem fortes, mas estavam muito bravos e com a razão do seu lado...

Com o falecimento de meu pai, em agosto de 1980, devo confessar com orgulho, Ismael transferiu para mim e Celeste a amizade e o carinho que tinha pelo Dé. E foi ele também que realizou os partos dos meus filhos, e, a cada um deles, saía da sala de cirurgias rindo e brincando comigo - e com o Dé, que viu os três primeiros netos nascerem: - É um saco-roxo! É mais um saco-roxo!
 
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OUTROS CASOS

Há também uma passagem que se deu logo após o nascimento do meu segundo filho - o Carlo Emílio. Este puxou muito o lado da família da Celeste, que é de tez bem amorenada. Logo depois do parto, Celeste notou umas manchas arroxeadas na região lombar do menino, e, muito nervosa, correu ao Ismael, dizendo, na sua inexperiência de mãe ainda muito jovem: - Doutor Ismael, veja essas manchas! Meu filho se machucou durante o parto! E o bom "parteiro" (eu o chamava assim, de brincadeira) respondeu, dando uma risada: - Que é isso, menina! É só uma mancha, acúmulo de pigmentação! Isso logo vai desaparecer! E assim se deu pouco tempo depois.

 
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A DESPEDIDA DO DR. ISMAEL

Estava em Lambari de férias quando o doutor Ismael já não passava muito bem de saúde, e pude visitá-lo algumas vezes na improvisada enfermaria que fora montada em sua casa. Levei-lhe alguns livros de André Luiz, que também fora médico, e de que ele gostava muito, e conversamos sobre Nosso Lar e a vida no mundo espiritual. Foi nossa despedida.

Pouco tempo depois, Ismael se foi sereno, certo da imortalidade do Espírito, com o coração em paz, com a missão cumprida. Um homem inteiramente dedicado à profissão, cuja jornada terrena pode ser, grosso modo, resumida assim: do consultório ao hospital, do hospital ao consultório, do consultório à casa de um enfermo - no velho jeep, no fusca azul, nos antigos chevettes. E no meio desses trajetos, milhares de vezes repetidos, apenas o xadrez com os amigos, as idas a Cambuquira aos domingos, os jogos do Fluminense, as campanhas do Águas Virtuosas, que ele sempre acompanhava e especialmente a família - sua e de dona Leda, as quais tanto amou.

 
    
Sputnik, edição de 11/12/1960
 
Dr. Ismael não cuidou somente de meu pai, e me lembro bem de sua atenção para com toda a família - a minha e a de minha mulher, que ele também estimava muito Célio Krauss, o meu sogro. E me recordo claramente da expressão de uma parenta, quando soube do seu falecimento: - É, Guima, perdemos o nosso Anjo da guarda! E hoje em dia ela ainda fala, quando alguém adoece: - ... Ééé!... e agora não temos mais o doutor Ismael!

De fato, ele foi esse médico extraordinário para toda população de Lambari.

E, para encerrar, quero contar um último fato, que se deu com uma amiga, que havia passado por um problema de saúde e teve de fazer uma cirurgia muito delicada.
 
Guima — ela disse, sabedora da minha formação kardecista depois da cirurgia, na minha recuperação, sonhei muitas vezes com o doutor Ismael, que eu gostava muito dele e ele fora o médico de nossa família. Nos sonhos, me parecia novo, mais bonito, mas enérgico como sempre! Eu o via trajando um jaleco alvíssimo, e, acompanhado de um auxiliar, também de branco, que parecia um enfermeiro. Ele vinha, examinava o local da operação, mostrava para o assistente, e parecia que aplicava um remédio. Isso durante dias. É possível uma coisa dessas? Terá sido ele mesmo?

VOANDO ATÉ O HOSPITAL...

      

O jeep verde e depois o fusca azul, com que subia à toda as ladeiras do
hospital... voando baixinho!

 
                             
 
Na ilustração acima, a última receita que o Dr. Ismael Gesualdi me prescreveu. Ele estava, por essa época, com a saúde bastante precária, o que se refletia em sua letra; mas fez questão de me atender, examinar (o que ele fazia como poucos), fazer o eletro e recomendar um regime.

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HOMENAGEM DA SOCIEDADE SUL MINEIRA DE CARDIOLOGIA

 
Homenageado post mortem, o médico cardiologista Ismael Gesualdi, por intermédio de seus familiares, recebeu em 2018 esta placa da Sociedade Sul Mineira de Cardiologia.




Familiares de Ismael Gesualdi recebem a placa em sua homenagem

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REFERÊNCIAS

(1) Doutor "Zé Bindito" - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36383

(2) A vingança de Ben-Hur - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4179830


2735.jpg (*) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
 
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
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Enviado por Guimaguinhas em 26/06/2013
Alterado em 25/12/2019
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