Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
A flor do maracujá

Há poucos dias, recebi do meu colega Ikuó Matsumoto uma gravação que fez do poema A flor do maracujá, de Catullo da Paixão Cearense. Esse poema me é muito caro, pois, entre as manias de meu pai
 o Dé da Farmácia —, estava a de cantar e declamar modas caipiras. 

E A flor do maracujá, em especial, ele costumava recitar emocionado, como registrei no livro Menino-Serelepe**, numa passagem em que descrevo uma pescaria que fizemos juntos. Eis o texto:

 O menino Guima, fantasiado de "pescador"

(...) E [meu pai] abriu o bornal de matula, destampou o café, passou uma água nos copos, foi comendo, servindo e conversando comigo, explicando os perigos dos anzóis e peixes (esporada de mandi, espinhada de cará, dentada de tuburana, ensinando a queimar estrume para afastar pernilongo, contando causos do preto velho Marcilino, que essas histórias eu gostava muito, cantando modinhas, declamando Catullo da Paixão Cearense:

      Eis aqui seu moço / A estória que eu vou contá / A razão por que nasce branca e roxa / A frô do maracujá

 

A flor do maracujá
Catullo da Paixão Cearense, o grande poeta caipira, autor, entre outras, de Luar do Sertão (em parceria com João Pernambuco).

Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá? 

Ah, pois então eu lhi conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasci branca i roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui caridadi,
Mais brando do que o luá. 

Quando a frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argodão.
Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro. 

Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois-se a chorá di tristeza. 

Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava,
Nos gaio a laranjera,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pé de nosso sinhô. 

I o sangue de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé du maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão proque nasce branca i roxa,
A frô do maracujá

   Ikuó Matsumoto

Contador, Auditor-Fiscal da RFB (aposentado), professor da Escola Superior de Administração Fazendária - ESAF/Brasília e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), coautor (juntamente comigo, Artur Bernades de Oliveira, Walter de Almeida Ramos e Eugênio Celso Gonçalves) do 
treinamento Contabilidade Aplicada à Auditoria-Fiscal, em 12 módulos (Brasília, AEM, 1986).

- Ouça a declamação de Ikuó, aqui.

A Flor do Maracujá é também o título de uma conhecida poesia de Fagundes Varela.
Confira aqui

(**) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
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Enviado por Guimaguinhas em 01/02/2014
Alterado em 02/06/2014
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