- Apresentação
- O Ideal Hotel de Lambari
- Meus pais no Ideal Hotel
- Vó Cema no Ideal Hotel
- Meus tios no Ideal Hotel
- Vocabulário de Aguinhas
- Referências
- O livro Menino-Serelepe
Apresentação
No livro Menino-Serelepe, em diversas passagens eu faço referências ao Ideal Hotel, onde meus familiares* trabalharam por volta dos anos 1950, conforme transcrevo abaixo.
Pois bem, neste post conto um pouco dessa história
Vamos lá.
Por aquela época, trabalharam no Ideal Hotel:
- José Guimarães Filho, meu pai; Neli Gentil Lobo (Guimarães), minha mãe; Iracema Gentil Lobo (minha avó materna); João Guimarães, irmão de meu pai; Messias e Mário Gentil Lobo (irmãos de minha mãe).
O Ideal Hotel de Lambari
O Ideal Hotel foi obra de Vivaldi Leite Ribeiro, que também construiu o Hotel Imperial e o Grande Hotel, conforme já contamos aqui e aqui.
No início dos anos 1950, o empreendimento foi tocado por Felipe Bratz e Marta Bratz, de origem alemã, que foram, segundo meus pais, muito bons patrões. Marta era também professora de línguas e lecionava em Três Corações.
Meus pais no Ideal Hotel
Meus pais — José Guimarães Filho (Dé) e Neli Gentil Lobo (depois Guimarães) — começaram a namorar quando trabalhavam no Ideal Hotel, em 1951.
Veja o relato que fiz no Menino-Serelepe:
Dé e Neli se conheceram no Ideal Hotel, ele aprendiz de garçom, ela arrumadeira. Namoraram, se casaram e uns meses depois:
— A Neli tá grávida, a criança nasce em novembro.
— Vai ser menino ou menina?
— É mais certo que é menino, porque ela tá muito barriguda, a barriga meio que pontudinha e o bichinho não sossega, chuta o tempo todo. Nem nasceu e já parece um corisco!
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O pai, antes de se casar, tentou a sorte nas plantações de café no norte do Paraná, na cidade de Jacarezinho, mas se adoentou por lá e teve de voltar. Aí foi cortar pedras de calçamento na pedreira, mas era um trabalho duro demais. Depois foi ser comi no Hotel Ideal. Quando se casou, trabalhava de garçom; depois foi tocar bar; em seguida, virou pintor, ajudando os meus tios nas obras, até mesmo na cidade de Jesuânia, onde então morava o tio Rubens.
(Do livro Menino-Serelepe, págs. 25 e 43)
Meu pai trabalhou de fevereiro de 1951 a fevereiro de 1954 no Ideal Hotel
Meu pais, então noivos, no Hotel Ideal
Minha avó materna Iracema Gentil Lobo (Vó Cema) trabalhou no Ideal Hotel, no início dos anos 1950, como lavadeira, passadeira e arrumadeira. Registrei no Menino-Serelepe uma referência a esse ofício de minha avó:
(Vó Cema) Caprichosa com tudo, o talento de arrumadeira da vó Cema era reconhecido no Hotel Ideal onde trabalhou. E, assim, não suportava gente desmazelada ou coisas mal feitas, e dizia na sua linguagem espirituosa:
— Gente, ocês num me faiz as coisas malemá, que é muito feio! Arruma direito esse armário que tá uma barafunda só! Parece gaveta de sapateiro!
E continuou assim até o fim da vida, e mesmo quando sua visão já não ajudava, que essa se foi danando aos poucos em razão de insidiosa catarata. Eu enxergo os pontos no escuro, ela explicava. Mas era o treino e o tato, a gente sabia.
(Do livro Menino-Serelepe, p. 57)
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Vó Cema (avental azul) e colegas de trabalho, em foto colorizada
Vó Cema e colegas de trabalho. O jovem agachado é Antônio Alves de Melo (Antônio Comprido)
Vó Cema à direita, minha mãe ao centro: hora de folga do trabalho
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Meu tio João (irmão de meu pai) e os tios Messias e Mário (irmãos de minha mãe) também trabalharam no Hotel Ideal, nos idos de 1950.
Tio João, Antônio Comprido e Alcides, o cozinheiro do Hotel Ideal
Tio João foi garçom; tio Mário começou trabalhando na Chácara do Vivaldi, cultivando verduras e legumes; depois foi para o Hotel Ideal trabalhar como jardineiro.
Tio Mário (calça clara e camisa na cabeça) ao lado de colegas de trabalho.
Tio Messias foi uma espécie de faz-tudo no Hotel Ideal: pedreiro, bombeiro, carpinteiro, depois, deixou o hotel e abriu um bar, ali por perto, na casa que pertenceu ao sr. João Valério, onde hoje residem familiares de Wilson Krauss.
A porta do antigo bar corresponde hoje às duas janelas
Deixei também no Menino-Serelepe uma referência a esse bar de tio Messias:;
Vida difícil, de privações, todos pobres, quase todos pedreiros. Negócio meio bitaca meio bar copo-sujo, com fiado na base da caderneta, houve uns três: tio Messias teve o dele, o pai tocou dois (que eram do meu avô) e o tio Tião teve o único que durou: o Bar do Tião Vila Nova, que ficou famoso pelos tira-gostos e pelo jogo de truco.
(Do livro Menino-Serelepe, p. 30)
Vó Cema e netos, filhos de Messias Lobo (Domingos, Francisca, Aparecida e Graça), na porta do bar citado acima
Vocabulário de Aguinhas
Bitaca: Pequena venda; vendinha; botequim
Comi: Auxiliar (aprendiz) de garçom.
Gaveta de sapateiro: Coisa muito bagunçada.
Malemá: Corruptela de mal-e-mal = Pouco mais ou menos; sofrivelmente. Parcamente, escassamente; mal mal.
Referências
- Museu Américo Werneck - Lambari
- Google Maps
- Arquivo pessoal do autor
O livro Menino-Serelepe
(*) Estes trechos fazem parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.