Candido Portinari (Brodowski, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962) foi um artista plástico brasileiro, considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.
Com efeito, Portinari pintou mais de cinco mil obras, de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956.
Cinquenta e quatro anos depois, em dezembro de 2010, os painéis deixaram a sede da ONU e retornaram ao Brasil para serem restaurados no Palácio Gustavo Capanema, de fevereiro a maio de 2011, em ateliê aberto ao público.
Graças aos esforços do Projeto Portinari, do Governo Federal, através do Ministério da Cultura e do Itamaraty, de instituições internacionais e de empresas estatais e privadas, a obra foi exposta no Brasil e no exterior até agosto de 2013, enquanto a sede da ONU sofria uma grande reforma
Portinari veio a falecer em decorrência de envenenamento por chumbo, material que utilizava em sua pintura.
Guerra e Paz são dois painéis de aproximadamente 14 x 10 m cada um, produzidos por Candido Portinari, entre 1952 e 1956.
Os painéis foram encomendados pelo governo brasileiro para presentear a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, mas antes de partirem, em 1956, foram expostos numa cerimônia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que contou com a presença do então Presidente Juscelino Kubitschek.
A inauguração dos painéis Guerra e Pazse deu sem a presença do artista, que se recusou a ir, conforme narra Antonio Callado:
Há muitos anos haviam cessado quaisquer relações suas [de Portinari] com o Partido Comunista. Mas quando quis ir aos Estados Unidos inaugurar, na ONU, os painéis da Guerra e da Paz, e a condição para que obtivesse o visto era declarar que não mais pertencia ao Partido, recusou a barganha e deixou os quadros se inaugurarem sozinhos.
[Antonio Callado. Sem ilustrações. Introdução do livro Poemas de Portinari. Funarte, 2018]
— A mão, de Carlos Drummond de Andrade, na voz do próprio autor; e
— A Guerra e a Paz de Portinari, de Fernando Brant, na voz de Mílton Nascimento.
Veja a seguir a letra dos poemas.
Frame do vídeo acimaA MÃO
(Carlos Drummond de Andrade)
Entre o cafezal e o sonho
o garoto pinta uma estrela dourada
na parede da capela,
e nada mais resiste à mão pintora.
A mão cresce e pinta
o que não é para ser pintado mas sofrido.
Entre o sonho e o cafezal
entre guerra e paz
entre mártires, ofendidos,
músicos, jangadas, pandorgas,
entre os roceiros mecanizados de Israel,
a memória de Giotto e o aroma primeiro do Brasil
entre o amor e o ofício
eis que a mão decide:
Todos os meninos, ainda os mais desgraçados,
sejam vertiginosamente felizes
Agora há uma verdade sem angústia
mesmo no estar-angustiado.
O que era dor é flor, conhecimento
plástico do mundo.
E por assim haver disposto o essencial,
deixando o resto aos doutores de Bizâncio,
bruscamente se cala
e voa para nunca-mais
a mão infinita a
mão-de-olhos-azuis de Candido Portinari. Frame do vídeo acimaA GUERRA E A PAZ DE PORTINARI
(Fernando Brant)
A guerra é uma cavalgada
cruzando o azul da paisagem
cortejo de fome e de morte
ferindo o coração dos homens
A mulher velando o filho morto
a mulher e a criança chorando
a mãe e a filha em desespero
de cabeças rolando na grama
A guerra são os quatro cavalos
regendo a sinfonia de dores
são os braços erguidos em prece
pedindo o final dos horrores
A paz é um coro de meninos
é a voz eterna da infância
as mulheres dançando na roça
os meninos pulando carniça
É a noiva de branco sorrindo
na garupa de um cavalo branco
a mulher carrega um carneiro
crianças no espaço balançam
A paz está nos meninos
que brincam nos campos da infância
nos homens, nas mulheres cantando
a harmonia, a esperança.