Ilustração: Capa do livro O galo e a coruja cupinzeira, de Celeste Krauss
Nesta série RECANTO DOS NETOS estarão as histórias das únicas criaturas que são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos - os nossos netos.
Eu e Celeste tivemos quatro filhos — todos homens — e uma filha de criação. Eles nos deram quatro netos. Dois homens (Léo e Rafa) e duas mulheres (Maria Elisa e Isabela). Aqueles têm hoje 18 anos (são de julho) e as meninas entre 13 anos (são de julho e agosto).
[Nota: Em 2015, chegou o Paulo Emílio; em 2016, a Rafaela; em 2019, a Cecília; e em 2022, o Guga].
Em o Menino-Serelepe (1) fiz esta dedicatória para os meus netos:
E especialmente para os serelepes Léo e Rafa, e outros netos que virão, que, por um dos galhos, vão formando a terceira descendência dessa mistura de Lobo e Guimarães.
O livro A Guerra das espingardinhas
Em A Guerra das Espingardinhas (2), a vez das meninas:
Em A Guerra das espingardinhas, como disse, a heroína (e também a narradora da história) é Maria Bela, que em certo trecho do livro conta como se deu a escolha do seu nome:
Bem, a conclusão de como se chegou ao nome da heroína/narradora vocês vão ter de aguardar o livro ficar pronto para ficar sabendo... (**)
(*) O e-book O galo e a coruja cupinzeira pode ser lido ou baixado neste link:
O livro impresso pode ser aquirido na Editora UICLAP:
(**) O livro A Guerra das Espingardinhas já foi lançado.
(1) Informações sobre o livro Menino-Serelepe podem ser vistas aqui
(2) Informações sobre o livro A Guerra das Espingardinhas podem ser vistas aqui
Confira os posts já publicados:
Confira os áudios vinculados aos posts:
Voltar
Ilustração: Antiga imagem do Catupiry©. Reprodução. Artigo: Prateleira da memória. Revista Veja 12, fev, 2001
Como sabem os lambarienses, o Catupiry® é de Aguinhas!
O que é Aguinhas? Uma cidade mítica e fabulosa, perdida numa Província do Reino Dorminhoco, lá nas Terras-de-trás-os-ocos-do-mundo, invenção de meu avô, lugar onde situava os causos e histórias que contava. Esse nome — Aguinhas — ele buscara no modo de falar dos caboclos da roça, quando se referiam às fontes de águas minerais da cidade de Lambari, em Minas Gerais. Os tabaréus, para dizer que iam à cidade, pronunciavam: Pois bem, a partir daí, este autor (neto do Zé Batista) criou as Histórias de Aguinhas, que expôs numa série de livros (aqui) e neste site GUIMAGUINHAS. |
Isto é: o famoso requeijão, que de tão famoso deixou de ser marca para ser nome próprio (assim como Gillete e Brahma, por exemplos, são sinônimos de lâmina de barbear e cerveja), foi criado por Mário e Isaíra Silvestrini, em 1911, aqui em Águas Virtuosas, hoje Lambari, e para nós deste espaço eletrônico — simplesmente Aguinhas. (1) (2) (3)
Mário Silvestrini
Reprodução: site oficial da Catupiry© - aqui
O requeijão cremoso, criado em 1911, recebeu a marca Catupiry® em agosto de 1936, a qual foi registrada sob o número 47449.
Inscrição em antiga embalagem do Catupiry®
Em 1922, o Catupiry® ganhou seu primeiro prêmio: medalha de ouro na Exposição Internacional de Alimentos do Rio de Janeiro.
Reprodução: site oficial da Catupiry© - aqui
A industrialização do produto sob a marca Catupiry®, que havia começado em São Lourenço, Minas Gerais, a partir dos anos 1940, passou a ser feita em São Paulo, o que impulsionou definitivamente os negócios.
Em São Paulo, a empresa instalou-se na Rua Rudge, 218, bairro Bom Retiro.
Reprodução: site oficial da Catupiry© - aqui
Atualmente, lá funciona o Empório Catupiry:
Reprodução. GoogleMaps (by André Stefano)
Em 1948, a fiscalização sanitária elogiava as excelentes condições da fábrica em São Paulo. Reprodução. Diário da Noite, 24, abril, 1948
Antiga embalagem do Catupiry® em caixinha de madeira.
Reprodução: Site Mercado Livre - aqui
No Dicionário de Queijos Larousse
Em 1973, Catupiry© é nomeado pelo Dicionário Internacional de Queijos Les Fromages (Edições Larousse) como o "requeijão do Brasil".
Reprodução: site oficial da Catupiry© - aqui
Em 1999, a Catupiry© é reconhecida como Marca Notória pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Com isso, a marca ficou protegida em todas as categorias, não podendo ser reproduzida, imitada ou utilizada sem autorização.
Reprodução: site oficial da Catupiry© - aqui
A Catupiry® está entre as marcas antigas mais valorizadas do Brasil, diz o livro Marcas de valor no mercado brasileiro (Anna Accioly, Joaquim Marçal F. de Andrade, Lula Vieira e Rafael Cardoso. Editora Senac, RJ, 2000). Reprodução. Prateleira da memória. Veja 12, fev, 2001 (*)
Mas e o Cremelino?
O Cremelino© também foi criado pelos irmãos Silvestrini, da firma Irmãos Silvestrini & Torquati, em Águas Virtuosas de Lambary, nos idos de 1911. Mas a marca só foi registrada nos anos 1940. Isso já em São Lourenço, visto que, anos antes, eles haviam mudado sua indústria de Lambari para aquela cidade.
Reprodução. Correio da Manhã, 21, dez, 1946
A EMPRESA SILVESTRINI IRMÃOS & TORQUATI
No início dos anos 1900, os imigrantes italianos MÁRIO e ONÉSIMO SILVESTRINI fundam uma modesta fábrica de laticínios, na qual fabricavam pequena quantidade de queijos e manteiga. À medida que a manteiga foi sendo aceita no mercado, em razão de sua qualidade e sabor, à sociedade de MÁRIO e ONÉSIMO incorporou-se ÂNGELO TORQUATI, casado com LUIZA G. SILVESTRINI, e os três passaram a diversificar a produção de queijos, por meio da empresa Silvestrini Irmãos & Torquati.
Produtos Silvestrini em exposição no Rio de Janeiro, em 1925 (Revista Revista Doméstica, nov/1925) - Fonte da imagem: Museu Américo Werneck
Exposição Nacional de Leite e Derivados, ocorrida no Rio de Janeiro, em novembro de 1925. No centro da foto, Pedro Silvestrini - (Reprodução: Revista Vida Doméstica, novembro de 1925)
MEUS AVÓS E OS LATICÍNIOS SILVESTRINI EM PITANGUEIRAS (SP)
No livro Menino Serelepe (*) conto passagem da vida de meus avós maternos quando eles se mudaram de Aguinhas (Lambari) para Pitangueiras (SP), época em que meu avô Miguel Lobo trabalhava para os Silvestrini. Eis o trecho:
Vidinha mais ou menos boa vó Cema só teve quando vô Miguel foi ser gerente de laticínio em Pitangueiras, no Estado de São Paulo (uma foto do meu avô engravatado, posando com toda a família e a professora particular dos filhos, ilustra bem essa fase). Vô foi pra Pitangueiras levado pelo Mário Silvestrini, que o meu avô foi queijeiro dos bons e ensinou o ofício pros filhos homens mais velhos. [V. foto, abaixo.]
Fábrica da Catupiry©, em Pitangueiras (SP), onde meus avós trabalharam, atualmentre desativada. Reprodução. Fonte: Imobiliária Parceria
Noutro trecho, me refiro ao Catupiry©:
Mas a gente, vez por outra, comia coisas boas no passadio, porque o pai tinha o dom de saber “aplicar injeção sem dor”, povo dizia, e por conta disso ganhava presentes.
Do povo da roça: franguinho caipira, queijo de Minas, massinha de rapadura, goiabada cascão, ovos enrolados em palha de milho; do povo da cidade: requeijão Cremelino do Belloni, caixetas de doces da Tereza Viola, toletes de manteiga do Nélson Ximenes, pó-de-café do Jaca, caixinhas de Catupiry, que é invenção dos Silvestrini, aqui de Aguinhas, e quer dizer excelente em tupi-guarani. E mais vinhos do Sebastião Fernandes e cachaças do Amâncio Mandarano, que o pai sempre gostou moderadamente de um traguinho.
CREME NATÁLIA, DE ALFEU BELONI
Na passagem acima há, contudo, um equívoco, que quero corrigir aqui: Cremelino não era a marca do requeijão produzido pelo Belloni, e sim Natália. Vejam abaixo que propaganda da época faz referência ao Creme Natália — o requeijão produzido pelos Laticínios Glória, de Alfeu Belloni.
Fonte da imagem: Armindo Martins. Lambari, Cidade das Águas Virtuosas, 1949.
AS ANTIGAS INSTALAÇÕES DOS LATICÍNIOS SIVLESTRINI EM LAMBARI
As instalações dos Laticínios Silvestrini em Lambari situavam-se atrás do atual Posto Gregatti. Na foto, vê-se uma ponte sobre o Rio Mumbuca e ao fundo o Colégio Santa Terezinha (destruído por um incêndio em 1987 - aqui)
OS LATICÍNIOS SILVESTRINI MUDAM-SE PARA SÃO LOURENÇO
Nos anos 1930, à vista de problemas políticos locais, ausência de estímulos fiscais e dificuldades para o crescimento, os Silvestrini tomaram a decisão de mudar a empresa para São Lourenço.
Para essa mudança de domicílio, foram decisivos os incentivos que receberam: isenção de impostos por 10 anos e cessão de terreno ao lado da estação ferroviária, o que facilitaria o transporte de leite e creme, que era feito por via férrea.
Ao fundo, à direita, as instalações dos Laticínios Silvestrini, em São Lourenço, em 1934
O TESTEMUNHO DE RUBENS GENTIL LOBO
Rubens Gentil Lobo
Quem me confirma parte dessas histórias é Rubens Gentil Lobo, meu tio, hoje com 88 anos (*), que trabalhou no Laticínios Glória. Mas, segundo ele, o nome do requeijão produzido pelo Belloni era conhecido por Natalino — creme Natalino — e não por Natália.
Ele se recorda ainda que em Pitangueiras, isso nos anos 1930, preparava-se o creme com que se produzia o Catupiry, e que era enviado para uma fábrica existente em São Paulo, na Rua São Caetano. (4)
E nos anos 1940 ele também trabalhou num laticínio em Olímpio Noronha (MG), da família Carneiro, onde era preparado creme para manteiga, e as sobras do leite eram destinadas à extração de gazelina, que, segundo ele diz, tratava-se de material utilizado na produção de botões, cujas matérias-primas tradicionais - madrepérola, marfim, etc. —, estavam em falta em vista da Segunda Guerra Mundial. (5)
Pitangueiras (SP), anos 1930. Na foto: meus avós Miguel e Iracema, minha mãe Neli (no colo) e seus irmãos: Messias, Rubens, Mário, Sara e Maria José.
Nos fundos dos Laticínios Catupiry©, em Pitangueiras (SP), ficava a casa onde meu avô Miguel Lobo residiu com a família. Reprodução. Fonte: Imobiliária Parceria
(*) Rubens Gentil Lobo faleceu em 2016, aos 91 anos.
(1) Eis o site da Catupiry®
(2) A história do Catupiry pode ser vista nestes links:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-catupiry/historia-da-catupiry-3.php
https://portaldoqueijo.com.br/curiosidades_queijos/2017/04/26/catupiry-voce-conhece-sua-historia/
(3) Diz Chico Júnior que a receita do Catupiry é um segredo: Embora os ingredientes básicos sejam conhecidos - leite fresco selecionado, creme de leite, massa coalhada e sal - a técnica de fabricação é mantida em segredo desde 1911. O tempo de cozimento, a temperatura durante o processo de fabricação, a dosagem e a alta qualidade dos ingredientes utilizados também fazem parte da receita. Fonte:
(4) Imagens de antiga fábrica do Catupiry, em São Paulo, nos anos 1940, podem ser vistas neste link:
http://www.4shared.com/all-images/sQ0SLuqh/IMAGENS_ANTIGAS.html
(5) A não ser essa informação de Rubens Lobo, não consegui nenhuma outra relativamente ao termo gazelina.
(*) Prateleira da memória. Revista Veja 12, fev, 2001
- Jornal Correio da Manhã, 21, dez, 1946
- GoogleMaps
- www.imobiliariaparceria.com.br
- Entrevistas com Rubens Gentil Lobo
(*) Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, na Lambari dos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
GUIMAGUINHAS tem uma página no Facebook
Clique (aqui) para conhecer, e curta a Página para receber nossas atualizações.
Ilustração: logo das Indústrias Annunciato de Biaso e Irmãos S/A - ABI
ABI - A indústria e o time de futebol
SUMÁRIO
Este post sobre a ABI - A indústria e o time de futebol inicia a Série ABI, cujo índice vai ao pé desta página, neste link.
Já contei no Menino-Serelepe a fase de minha vida em que, trabalhando na Farmácia Santo Antônio, meu pai me pôs para aprender contabilidade. Eis o texto:
Mas em razão do grande receio que o pai tinha de que eu virasse farmaceiro, mistura de caixeiro e aprendiz de farmacêutico, ele me fez prometer que ia largar de mão de querer seguir aquele seu ofício. E aí, por conta disso, ele me fez aprender datilografia e tomar lições com a guarda-livros, a dona Zaínha, que escriturava os livros da contabilidade da farmácia, pois que era um futuro de diploma na mão que ele sonhava pra mim. E eu toda tarde ficava lá no escritório arquivando notas, manuseando os livros e martelando, aessedefegando e çelekajothando a bem cuidada Remington portátil que era o luxo da dona Zaínha. E assustado com a tal da contabilidade, pois quando dona Zaínha me explicou aquele aranhol todo, que me chocou os ouvidos e confundiu os miolos, não entendi patavina. Mas devagar fui tomando gosto pela arte e foi nessa profissão que me formei. E quando isso se deu, as costaneiras, os diversos a diveros, a letra bordada a caneta tinteiro, o mata-borrão aquelas antigalhas do tempo da dona Zainha, e até mesmo a calculadora Facit, uma engronga movida a manivelas, já haviam saído de moda, mas não as partidas dobradas — ou inversas — que essas são fundamentos do método contábil.
Pois bem, foi esse aprendizado que me levou a ser selecionado, em 1970, para trabalhar no escritório das Indústrias ABI. Esse foi meu primeiro contrato de trabalho - e o único na antiga CTPS. Depois, fui profissional liberal e servidor público. Hoje estou aposentado.
No ano seguinte, retornei à farmácia, pois queria jogar no time do Vasquinho que então se formara, e o trabalho no escritório da ABI não me permitia treinar com regularidade. Responsável pelo faturamento, que então era intenso, muitas vezes não tinha hora pra sair... E quem não treinava, não jogava...
Na Fábrica ABI, quem passou pelo faturamento — Eu, Edísio, Aluísio, Silvinho, Celinho Machado e outros mais, me parece que o Hélcio também - sabe bem quanto era duro aquele trabalho de datilografar na velha Remigton notas fiscais, em 6 vias, com papel carbono roxo dupla-face... E além disso, copiar a primeira via no livro de papel de seda, escriturar o livro de saídas, escriturar o registro de duplicas, atender telefone (na minha época, não havia telefonista, e o aparelho ficava ao lado da mesa do faturista). E, às seis da tarde, na hora de sair, quase todo dia vinha o Waldir Arantes, todo jeitoso, com a mão cheia de pedidos: — Guima, só mais esses, que os caminhões estão esperando as notas pra sair ainda hoje!... Grande Waldir, gente boa, Deus o tenha! |
Mas passei pouco tempo na farmácia, pois logo em seguida, exatamente no dia 26 de julho de 1971, comecei a trabalhar no escritório contábil de Fabiano Krauss e José de Lorenzo. Guardei a data, visto se tratar do aniversário desse último.
Nesse novo trabalho havia uma combinação importante para mim: estava liberado para participar dos treinos do Vasquinho, nas quartas e sextas-feiras.
Time do Vasquinho, 1971. Em pé: João Fubá, Zezé Gregatti, Édson, Vaca, Celinho, Bita (Fábio Gregatti), Cafezinho, Guima, Sérgio, Adão e Augusto (Presidente). Sentados: Roberto, Valmando, Véio, Picolé, Betinho, Pedro Guela, Xepinha e Tucci.
Em 1972, voltei à ABI, desta feita pela via do futebol. Com a extinção do Vasquinho, que participara do campeonato da Liga de Varginha, fundou-se o GRABI, para disputar o campeonato da Liga de Caxambu. E aí reencontrei diversos amigos dos tempos de ABI, entre eles: Chá, Delém, Tinz, Tatá.
Na foto abaixo, está o Celinho Machado, que por essa época também trabalhou no escritório da ABI. Ele - Celinho - mais Egídio Ieno, Waldir Arantes, Pingo Biaso e seu irmão Zé Aílton, cuidavam da parte administrativa do GRABI. O Antônio Henrique (Tonhão) e o Sílvio Cruz incentivaram a formação do time, e muitos funcionários da fábrica acompanhavam os jogos e apoiavam o time.
Time do GRABI, anos 1970. Em pé: Édson, Delém, Tinz, Vaca, Guima e Celinho. Agachados: Chiquinho Barletta, Xepinha, Sérgio, Tatá e Roberto.
(*) Há no Youtube um filme mostrando a fábrica da ABI dos anos 1970. Eis o link: ABI
Foto de latão estanhado produzido pela ABI, anos 1970.
Índice da Série ABI
ABI - Pequeno histórico do time do GRABI
ABI - Uma história de 100 anos
ABI - Eventos históricos
Algumas pessoas da história da ABI
(*) Esse trecho é parte da narrativa Aprendiz de farmaceiro, que faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
Mais alguns craques do nosso futebol e algumas de suas histórias:
Chá
Chá chegou em Lambari ainda jovem para jogar futebol, vindo de Itajubá. Atuou nos times do Vasquinho e do Águas, e ainda nos Veteranos do Águas. E também foi técnico de todos esses times.
Foi um grande lateral-esquerdo, muito bom tecnicamente, e um marcador implacável, que jogava limpo, na bola, e poucas faltas fazia.
Atuou também de zagueiro, e mesmo não possuindo uma estatura elevada tinha uma impulsão fantástica, e dificilmente perdia uma bola de cabeça. Mas havia um segredo, que ele acabou nos ensinando:
Na área, procure o melhor posicionamento, um olho na bola e o outro - o mais importante - no adversário.
E quando a bola vier, dê um, dois passos, para tomar impulso. Corra e salte o mais que puder, e, antes da bola chegar, jogue os ombros para baixo e lance a cabeça com toda a força para cima - assim você ganha uns centímetros a mais...
Foi também um grande pescador, e sobre isso deixei registrada no livro Menino-serelepe (*) a seguinte passagem:
Duas da tarde, hora de mais pescaria. Se de manhã deu lambari, depois do almoço nem isso. Pai olhou no relógio: cinco horas. E nadinha de peixe beliscar a isca. Subimos mais um pouco e pai encontrou o Chá Preto, na outra margem do rio. Pai gritou: — ‘Tá puxando aí, Chá? E Chá respondeu: — Uai, Dé, só debaixo da gaiada, na isca de fígado e no sangue. E levantou a fieira da água: um cambão de piabonas e curimbas. Quase caí duro, pois peixe bitelo assim só o tio Messias e tio Rubens é que sabiam pegar. Pai pediu e o Chá jogou um naco de fígado. Parti logo um pedacinho, isquei a varinha pegadeira e fui enfiando ela por sobre a linha do Chá, que era ali que as bichinhas ‘tavam puxando. Pai falou: — Guima, respeita o ponto de quem chegou primeiro. Chá riu e disse: — Deixa o menino, Dé. Pai falou: — Melhor aprender desde cedo, Chá.
Pessoa simples, alegre, que, além de jogar futebol, fez de tudo pelos times em que atuou: foi massagista, roupeiro, cuidava da grama e trabalhou de vigia noturno no Estádio do AVFC. Sofreu muito com os seus conhecidos "joanetes", e certamente foi um dos jogadores mais queridos da história do nosso futebol.
Alemão
Oriundo da Ilha do Governador, no Rio, Alemão atuou nos juvenis do Flamengo (RJ), e jogou profissionalmente em times do Rio Grande do Sul. Seu irmão Bob jogou anos pelo Botafogo de Garrincha e companhia, depois foi para o Grêmio, de Porto Alegre, onde se aposentou. (1)
No Sul de Minas, Alemão atuou pelo Fluminense de Caxambu, cidade em que chegou a possuir uma granja, mas se casou e se fixou em Lambari como comerciante. Aqui, jogou pelo Águas e Vasquinho, e pelo Veteranos do Águas. Cuidava-se muito fisicamente e conseguiu jogar bola até depois dos setenta anos.
Atuava no meio-campo e de meia-atacante, e era um jogador muito inteligente, que sabia aliar à técnica refinada a "malandragem do futebol". Foi excelente técnico e sabia "ler" o jogo como poucos.
Sobre essa sua "malandragem", conta-se uma boa história:
Num jogo pelo Fluminense de Caxambu, num disputadíssimo campeonato amador regional, um troncudo marcador adversário foi escalado para marcar o Alemão. E, assim, caçou-o durante todo o jogo: faltas, pancadas, cotoveladas, xingamentos, gozações - procurando provocar uma contusão ou sua expulsão - o que ocorresse primeiro... E o Alemão protegendo a bola e a si mesmo, e, espertamente, "retribuindo" as pancadas e as provocações que recebia. E tocando a bola e ditando o ritmo do jogo.
Há poucos minutos do final, correu pelo meio com a bola dominada e defrontou-se com o irritadiço marcador, que vinha a toda, despinguelado, como se diz por aqui na gíria da região, tentando matar a jogada. Alemão, então, estacou à frente do brutamontes e balançou o corpo pra lá, pra cá, e o botinudo abriu as pernas - e Alemão meteu-lhe a bola no vão das canetas. E, numa cena humilhante, o brucutu ficou lá sentado...
Alemão, pegou a bola do outro lado, deu uma paradinha, passou a mão na cabeça do pobre caneludo, que continuava sentado e perdido no lance - e disse:
- Futebol é uma merda, não é meu caro?
..................................................
(1) Bob, irmão do Alemão, no Botafogo de 1960.
Veja este post: Arati, Bob e Juvenal - aqui
(*) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
A seguir, uma pequena galeria de dois de nossos maiores craques, e alguns de seus feitos.
Confira.
E, de quebra, vi Pelé apoiar o pé no alambrado pra amarrar a chuteira – deu um nó simples, como se fora um sapato, técnica que um craque de Aguinhas — o Crisóstomo — já ensinava por aqui há tempos (a maioria dos boleiros costumava dar voltas e nós num longo cadarço, passando-o por baixo e por cima da chuteira, por trás e pela frente da canela).
O trecho acima, que consta da narrativa A Seleção em Aguinhas, do livro Menino-Serelepe (1), nos mostra uma faceta do grande jogador que foi Crisóstomo - que todos chamávamos de Mestre. Desde o Mirim do Águas (1967/69), me acostumei com sua presença e seus ensinamentos à beira do campo, fosse nos treinamentos, fosse nos jogos.
Incentivava e orientava todos os jovens jogadores da época - desde as coisas mais simples como pôr as ataduras ou calçar as meias até o posicionamento em campo, o impulso no cabeceio, a noção de cobertura, a proteção e o modo de bater na bola.
Mas possuía também outra característica: a crítica ácida contra a "burrice" e a "falta de visão" no futebol.
Certa feita, num treino no campo do Águas dos anos 1970, viu que um atleta, ao amarrar as chuteiras, dava voltas e voltas, nós e nós num cadarço de mais de metro, enlaçando a chuteira e a canela. Não pensou duas vezes, e foi lá, tirou-lhe as chuteiras, e disse:
- Meu filho, você não vai lutar telecatch! Do modo que 'tá fazendo, a bola vai bater nesse monte de nós e você perde a bola e jogada.
Depois, partiu ao meio o cadarço e fez um simples laço de sapato. E tanto ele tinha razão que hoje em dia já inventaram chuteiras sem cadarço - e sem nós...
Se diziam: - Fulano é muito bom, corre muito. Olha só que rapidez!
Ele respondia: - Se futebol fosse só velocidade ou corrida de cem metros rasos, tudo bem. Só que não é!
No início dos anos 1970 (ele dizia que em razão da semelhança física, dos cabelos pretos e lisos e da valentia), me apelidou de Paraguaio, numa alusão ao zagueiro Reyes, do Flamengo.
Eu ainda o vi atuar em times de veteranos: alto, elegante, jogando de cabeça erguida, orientando os demais jogadores todo o tempo, com uma categoria de quem de fato foi um mestre no futebol.
Ainda menino, frequentando os treinos e os jogos do Águas no campo novo, vi Zezé Gregatti jogar algumas vezes. Joguei com ele também diversos jogos no Vasquinho de 1971 e num campeonato que disputamos em Heliodora, também nos anos 1970.
Atacante alto, forte, rápido, chute potente com ambas as pernas, e o melhor cabeceador que vi atuar. Uma contusão no joelho, infelizmente, fez que encerrasse muito cedo sua carreira.
Foi meu técnico no time Juvenil em 1970 e também no time do Veteranos do AVFC, na campanha do título Sul Mineiro de 1982.
O gol mais extraordinário e emocionante do Águas Virtuosas
Para o Betinho Nascimento, outro craque do Vasquinho e do Águas, Zezé foi um dos maiores jogadores ele viu jogar. E Betinho lembra um dos gols mais extraordinários e emocionantes da história do Águas:
Ano 1967, Estádio do AVFC cheio. Águas e Flamengo de Varginha, finalzinho do jogo, 2 X 1 para o Flamengo. Jogo impotantíssimo, nervos à flor da pele, envolvendo dois grandes rivais da época.
Falta de meia distância a favor do Águas, no gol que dá para o Farol do Lago. 43 minutos do segundo tempo, a cinco metros da entrada da área, mais pelo lado esquerdo. Zezé ajeita carinhosamente a bola, posiciona o pé esquerdo ao lado dela, e recua alguns passos. Corre e bate forte de pé direito. Cobrança perfeita - a bola entra na gaveta esquerda do goleiro.
Apito! Confusão! Gritos! Xingamentos! Empurra-empurra! Vaias e vaias da grande torcida do Águas! O juiz anulara a cobrança, alegando que não autorizara!
Jogo interrompido! Xingamentos! Brigas! Confusão! Vaias! Vaias! Vaias! Pobre da mãe do Juiz! Ameça de invasão! Polícia!
Quase meia hora depois, é que a cobrança pôde ser repetida. Zezé segue exatamente o mesmo ritual da primeira cobrança: ajeita a pelota, posiciona o pé esquerdo ao lado da bola, e recua alguns passos. E respira fundo, mão na cintura, e espiando pelo lado da barreira o posicionamento do goleiro, aguarda a autorização.
Cobrança mais que perfeita! A bola entra exatamente no mesmo ângulo da primeira cobrança! Gol do Águas!!! Gol do Águas!!! O jogo termina, a torcida invade o campo. Todos carregam o Zezé às costas e dão com ele a volta olímpica.
(1) Veja o texto A Seleção em Aguinhas
A narrativa A Seleção em Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.