O galo, quando canta / a cobra bate chocaio;/ quero que 'ocê me ensine/ roubar carta no baraio.
(Trova popular mineira, oriunda de Peçanha (MG)
Deixei anotado no Menino-Serelepe* uma passagem sobre o jogo de truco:
E tio Pedrinho, que depois que deixou a roça também tocou um bar na Vila Nova, quando estava visgado na orelha da sota, jogando a leite de pato, encamaçando o baralho, gostava de bravatear: Truco, moço, que eu já vim do Mato Grosso, carça larga mão no borso, o parceiro é um colosso! Truco, moço!
Desde menino vi familiares jogando truco, especialmente aqueles que moravam na roça. Abaixo vai um pouco de lembranças de truco e truqueiros.
Sua origem é incerta, mas especula-se que o jogo de truco (ou truque, como popularmente é chamado) tenha surgido dos mouros, porém não há consenso a esse respeito. No Brasil foi popularizado, a partir do Século XIX, por imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, a princípio nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Difundido pelos tropeiros, era muito jogado nas fazendas do interior do pais, depois, rapidamente chegou aos centros urbanos. É um jogo divertido e barulhento, com gritos e brincadeiras, que quase nunca é jogado a dinheiro.
Na foto abaixo, do início dos anos 1900, obtida no Museu Américo Werneck, provavelmente a pose se deu durante uma partida de truco.
Jogadores de truco, Lambari (MG), início dos anos 1900
Douradinha, Dourada e Douradão (ou Douradona)
Tire a sorte. Dê vancê. / Serre o baraio, Tonico.
Dêxe pro pé. – Bamo vê? / Truco in riba desse bico!
(Trova caipira)
Foi meu pai quem me ensinou a jogar truco. Mas foi na casa do tio João Lobo (tio de minha mãe, irmão de meu avô Miguel Lobo), juntamente com meu primo Miguel, que aprendi a jogar a Douradinha (6 parceiros), a Dourada (8 parceiros) e o Douradão (10 parceiros). O jogo se dava nas tardes de domingo, no porão da casa do meu tio, regado a bolo, guaraná e café, gentilmente servidos pela tia Maria. Eu e Miguel éramos os mais jovens, e lá aprendemos a enfrentar um timaço, todos veteranos do jogo de truco: tio João Lobo, tio Pedrinho Avíncula, João Modesto, João Cabo, Candeia, Zé Vicente (das Congadas), Tião Venâncio, João Silvestre, entre outros.
Nesses jogos, o baralho utilizado era o comum, com 52 cartas, do qual eram retiradas as cartas 8, 9 e 10 de todos os naipes (restando 40 cartas). Pelas nossas regras, a manilha era presa e valiam as conhecidas (quatro de paus, sete de copas, ás de espada e sete de ouros). Acima dessas, na Douradinha, a dama de ouros; na Dourada, acima da dama de ouros, o rei de ouros, e no Douradão, acima do rei de ouros, o rei de paus.
Alfredo Volpi, Jogadores de truco (reprodução)
Jogo é jogado, lambari é pescado.
Em janeiro de 1961, o Sputinik já comentava sobre os papudos do truco de então: Zé do Janjão, Juca Lino e Alcino, entre outros:
Por essa época, outros truqueiros famosos, reuniam-se no Bar do Juca, entre eles: Zé Roberto Monti, Carabina, Nenê Nascimento, Alemão, Chico Panu.
No Bar do Tião Vilanova, o truco também era concorrido: Hélio Noronha, Zé Roberto, Boró, Celso, João Bode, Neguinho...
Lá pelos anos 70, jogava-se truco no Varandão, no Bar da Cascata, no Bar do Seu Pedro, e nas parceiradas, entre outros: Pedro Barbeiro, João Fubá, Mauro, Zé Braz, Jair do Salomão, Pica-fumo.
Nos anos 80/90, a moçada do futebol costumava se reunir nos finais de semana na casa da Dona Xandoca e nos fundos do Restaurante do Lúcio, entre eles: Décio, Kit, Magrelo, Véio, Betinho, Luizinho, Tucci, Misca, Ró, Guinho, Zé Amauri...
Atualmente, uma seleção de papudos e contadores de vantagens reúne-se aos domingos: Betinho Nascimento, João Bibiano, Lacy, Vicentinho, Sérgio Raimundi, Guinho, Misca... Quem ganha, quem perde, ninguém sabe, pois na segunda-feira todos se declaram vencedores!
Olha aí os truqueiros! Saudades dos que já partiram: João Bibiano, Betinho e Vicentino
Fonte: Reprodução. Facebook
E o Elia, de onze ainda perdia.
Histórias de truquêro, como as de pescador, são, geralmente, mentirosas, ou, no mínimo, exageradas. Mas, um dos truquêros citados acima contou-me o seguinte caso que teria ocorrido aqui em Aguinhas. Se é verdadeiro, não sei, mas vou contar.
"Mais vale um sinár farso do que carta"
Na nega de 7 queda, nóis 9 mio e eles 11, os hómi, bem de carta, mandaro. Um deles, o Elia, o que mandou o jogo, saiu de sete de copas e trêis, e seu parceiro tinha sete de oro e um doiszinho.
Do nosso lado, meu parceiro, que era o mão, não tinha nada, mas deu sinár farso de três. Eu saí de zap e trêis, mas dei sinár de espadia e escundi o trêis.
O adversário com o doiszinho e sete de oro era o pé, e meu parceiro, na mão, saiu de rei. Aí, o Elia cobriu de sete de copas, querendo garantir a primeira, pois viu meu sinal de espadia. Mas eu fechei a primeira com o meu zap escundido!
Na outra mão, pensei: Eles mandaram e deve de ter mais uma manilha. Então, lancei uma dama e recuei o meu trêis. E aí o que fora pé na vez anterior cobriu de sete de oro, cum medo do meu parceiro fechá o parceiro dele cum o trêis. Mas o sinár era farso, parceiro num tinha três nenhum, o três tava cumigo. Eles fizero a segunda, e na finár, o Elia, que tinha um três socô a mesa, gritando:
— Toma lá, pacuera! E jogou a carta na mesa. Mas eu tornei, mais árto:
— Engole esse aqui, papudo! E colei o meu trêis na testa! E ganhamo três armoço no Tião Vilanova!
Bico: s.m. carta de somenos valor no jogo do truque (os “dois” e os “três")
Dunga: o dois de paus, no jogo de douradinha.
Manilha: [Do francês manille]. S. f. 1.Denominação comum a algumas cartas de baralho, em certos jogos, que possuem maior valor. No truco, há a manilha presa, em que as de maior valor são: sete de ouros, ás de espadas, sete de copas e quatro de paus. Na manilha solta, vira-se uma carta, e as cartas acima tornam-se manilhas, sendo as maiores, pela ordem, as dos seguintes naipes: paus, copas, espada e ouros.
As manilhas recebem nomes curiosos: Zápite (zap, carreta, ferro, ); escopeta; espadilha; sete belo (douradinha, mata três).
Mão-de-onze: – Ocorre quando uma parceirada atinge 11 pontos na partida, e pode decidir se irá ou não jogar. Se não jogar, o adversário ganhará um ponto; se jogar, a mão valerá 3 pontos. Nessa mão, não se pode trucar.
Mão-de-ferro: – A mão-de-ferro se dá quando ambas parceiragens estão com 11 pontos na partida. Quem vencer a mão, ganha o jogo.
Negra (ou nega): [Gíria]. Em jogos de vários empates, a última partida, em que se define o vencedor.
Trucada: S. f. - uma vez, uma jogada ou mão de truque; o ato de trucar.
Truque, S. m. - jogo entre quatro parceiros, cada um dos quais dispõe de três cartas. É este o mais popular dos jogos de cartas, no interior de S. P. e de quase todo o Brasil. Em S. P. joga-se com as seguintes cartas, pela ordem dos valores: os dois, os três (bicos), o sete-oro (sete de ouros), a espadia (espadilha), o séte-cópa (sete de copas), o quatro-pau (quatro de paus), ou zápe. Faz parte da pragmática do jogo levá-lo sempre com pilhérias e bravatas, umas e outras geralmente acondicionadas em fórmulas estabelecidas.
Truquêro, S. m. - jogador de truque.
Trucar: Propor ao parceiro, no jogo de truco, a primeira parada.
Trucá(r), v. i. - o ato de provocar o adversário, no jogo do truque, antes de uma jogada. O que truca exclama, em regra: truco! O adversário manda, ou corre. Se manda, na dúvida de fazer a vaza, é geralmente com a frase - Bâmo vê, ou - Jogue. Se tem a certeza de ganhar, ou pretende amedrontar o outro, responde com ênfase, às vezes aos gritos: Toma seis! - Seis, papudo! - E diga porque não qué!" e outras bravatas por esse estilo.
Trucá de farso: trucar sem carta que assegure o lance, só para amedrontar o adversário; fig., fazer citação falsa, alegar fatos não verdadeiros.
Vaza: sf (castelhano baza). Cada uma das rodadas ou partidas de que se compõem o jogo.
Referências: O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral - Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa.
Veja causos contados por Rolando Boldrin, aqui
JOGO DE TRUCO - Rancheira - Música de Luizinho e letra de Ado Benatti. Gravação Odeon - 1959. Luizinho, Limeira e Zezinha mais os truqueiros: Ado Benatti, que aqui é chamado de Zé do Mato, e o Biguá reproduzindo em forma de música uma partida de truco. É a alegria, a criatividade e o talento do artista sertanejo de outros tempos.
No Youtube - (aqui)
A leite de pato(a): Jogar de brincadeira, sem valer nada.
Encamaçar: Preparar (um baralho de cartas) para enganar os parceiros.
Orelha da sota: Estar na orelha da sota = estar no jogo de cartas. [Sota = dama no jogo de baralho.]
Visgado: Preso, agarrado [derivado de visgo, resina com que se prende pássaros].
(**) Este trecho faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Referências: Museu Américo Werneck, Wikipedia, http://www.jogosdecartas.com.br/
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Domingos do Espírito Santo (Jesuânia, 31/05/1925 — Lambari, 19/08/1999) ingressou nas Indústrias ABI, muito jovem ainda, no dia 31 de julho de 1941 como aprendiz de soldador, logo passando à função de soldador e dessoldador com liga de chumbo. A partir de 1963, tornou-se encarregado da seção de decapagem (1) e depois instrutor dessa mesma seção; mais tarde, tornou-se encarregado e instrutor da seção de inoxidáveis.
Aposentou-se em 17 de outubro de 1972, mas continuou trabalhando, na própria ABI, até 1980. Depois, labutou ainda em pequena oficina montada nos fundos de sua casa.
Neste post, vamos recordar aspectos da vida profissional e pessoal dele, de quem fui colega de ABI, no início dos anos 1970 (aqui).
Vamos lá.
Assíduo, criativo e dedicado ao trabalho e aos colegas, Domingos teve seu esforço reconhecido por todos, seja pela sincero companheirismo e amizade que cultivou com pares e superiores, seja pelos prêmios que merecidamente recebeu em razão de sua atividade profissional.
De fato, ele inventou ferramentas (soldagem, estampação, gabaritos), renovou processos e instrumentos de trabalho (ganchos para estanhagem, nova solução química para decapagem de latões, processos de soldagem e esmerilhamento), tendo participado, também, da criação de produtos inovadores da ABI (equipamentos para laticínios) e de ferramentas para a IMASA [outra empresa do grupo], para a qual desenvolveu uma máquina de correção de palhetas de limpadores de para-brisas.
Ainda hoje, companheiros de trabalho de Domingos, com quem conversei, lembram-se dele com respeito e saudade.
Seu dinamismo também deixou marcas na vida comunitária de nossa cidade. Sócio-fundador do Círculo de Trabalhadores Cristãos de Lambari e membro da Congregação Sagrado Coração de Jesus, participou de atividades religiosas e cívicas com dedicação e empenho. Por essas ações, recebeu honrarias do Rotary Clube e das Indústrias ABI e a sociedade lambariense deu o seu nome a uma rua do bairro Matadouro.
Eu, de minha parte, ainda menino, trabalhando na Farmácia Santo Antônio, me lembro de seu Domingos passando por lá à busca de remédios — ou de uma prosa — com meu pai (Dé da Farmácia) ou meu tio João. Vinha sempre com sua velha bicicleta e um indefectível cigarrinho entre os dedos...
José cantuária , Jorge Muquem (irmão Domingos), Hélcio (filho de Domingos), Daniel Lemos, Kadimiel Canelhas. Agachados: Adilson Valeriano (sobrinho de Domingos), José Pacheco (compadre de Domingos) e Domingos do Espírito Santo, segurando uma peça da máquina batedeira de manteiga de aço inoxidável.
Domingos do Espírito Santo, José Pacheco, Tuioki Umesaki e Antônio Henrique da Cruz, examinando um estacionário inox para conservar leite.
Em abril de 1966, à vista
do cuidado exemplar na rotina de sua missão [e em razão] de saber inovar seus processos de trabalho, com melhor rendimento na produtividade e real economia para a indústria (2)
recebeu um prêmio em dinheiro, que lhe foi entregue pelo craque Alcindo (Grêmio de Porto Alegre), em evento realizado nas dependências das Indústrias ABI.
Alcindo entrega a Domingos Espírito Santo o prêmio a que fez juz.
No fundo, podem ser vistos os craques Bellini (braços cruzados) e o rosto de Tostão. Em 1966, como se recorda, a Seleção Brasileira fez preparativos para a Copa da Inglaterra em nossa cidade.
Em 1980, Domingos foi eleito Operário Padrão da ABI, e concorreu ao título estadual, em Belo Horizonte, com mais 64 trabalhadores. Nos documentos de sua indicação constou o seguinte:
Boletim da Fiemg (maio de 1980)
Fonte: Informativo da FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS, Maio de 1980.
Domingos casou-se com Benedita Ribeiro do Espírito Santo em 30 de outubro de 1946. O casal teve 3 filhos: Hélcio, Edna, Berenice, e uma filha de criação (Vicentina).
Domingos e Benedita, no aniversário de 50 anos de casamento.
(1) Decapagem: consistia na "queima" de peças de chapas de aço (latões, baldes, etc.) e posterior imersão desses vasilhames em solução de ácido sulfúrico (13 a 16%) para posterior estanhagem.
Decapar é fazer desaparecer a camada de óxido que reveste um metal. Estanhar é recobrir com estanho. Esse processo foi posteriormente abandonado, dando lugar a vasilhames de aço inoxidável e de plástico.
(2) Carta datada de 16/04/1966, assinada por Ferdinando L. Belandi, Diretor Presidente da ABI.
Agradecemos a Hélcio do Espírito Santo pelas informações e fotos utilizados neste post.
ABI - A indústria e o time de futebol
ABI - Pequeno histórico do time da GRABI
ABI - Uma história de 100 anos
Resultado de uma parceria entre o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, o Instituto Estadual de Florestas e a Editora Horizonte, o Guia de Parques Estaduais de Minas Gerais tem como objetivo
O projeto consiste
Para conhecer a descrição completa do projeto, clique aqui.
Neste post, vamos comentar os principais aspectos do Guia, destacando o Parque de Nova Baden, que nos interessa mais de perto.
Vamos lá.
O guia impresso será distribuído gratuitamente. Abaixo vão fotos do exemplar que conseguimos obter:
Visão do exemplar aberto, mostrando as capas (formato 21 x 11 cm)
Visão do mapa aberto (tamanho 60 x 75 cm)
O Guia possui um aplicativo para tablet, Ipad ou smartfone, que pode ser baixado gratuitamente. Com ele, o usuário terá interatividade, vídeos, fotos extras e links especiais. Para baixar, acesse:
O site Parques Estaduais de Minas Gerais descreve o projeto, disponibiliza mapas e informações básicas sobre os parques e sobre os biomas e biodiversidade neles existentes, e fornece dicas sobre como visitar as unidades de conservação.
O site pode acessado mediante este link (aqui).
O Parque Estadual de Nova Baden no Guia
Em 10 páginas (114/123), o Guia dá informações essenciais e mostra belas fotos do Parque Estadual de Nova Baden.
Descreve a origem do Parque (antiga Fazenda Pinheiros, de Américo Werneck), sua situação, clima e aspectos geográficos, a fauna (bugios, caxinguelês, macacos-prego, inúmeras espécies de pássaros, etc.), a flora (jequitibás, araucárias, cedros, lírio-do-brejo, etc.), as atrações (casarão, trilhas). E fornece também informações sobre os arredores do Parque (Cambuquira, Campanha e Lambari e seus passeios), formas de acesso e dicas sobre o melhor período para visitação.
Sobre o Nova Baden, veja também:
A. Werneck e a Fazenda Pinheiros: http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38644#grupo político
A criação da Colônia de Nova Baden: http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38809
O Parque Estadual de Nova Baden: http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=41353
Aeroporto de Aguinhas (em Nova Baden): http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=3917
Ilustração de abertura: João Luiz (de terno), como técnico do Águas Virtuosas, desfile de 7 setembro de 1949
Num post publicado aqui no GUIMAGUINHAS, fizemos este pequeno resumo biográfico de João Fernandes:
Natural de Lambari (16/08/1916), filho de Antônio Luiz Fernandes e Rita Luiza Gonçalves Fernandes, João Luiz é o caçula de onze irmãos (sete homens e quatro mulheres). Começou a trabalhar aos 10 anos como charreteiro, aos 17 foi para o Rio de Janeiro, onde exerceu diversos ofícios, o principal deles no ramo de cinemas. Retornou para Lambari em 1941, tendo aqui fundado o Bar Pinguím, que foi um importante espaço de encontro social em nossa cidade (aqui). Atuou também no ramo imobiliário e foi atleta (e técnico) do Águas Virtuosas. Em 1948, foi eleito vereador. No início dos anos 1950, casou-se um "jovenzinha fluminense" (Dona Othonira) e retornou ao Rio de Janeiro, radicando-se na Zona Oeste (Campo Grande). (aqui)
Pois bem, neste post vamos falar da carreira de João Luiz como jogador e técnico de futebol. Vamos lá.
Atividades esportivas na juventude
Na juventude, João Fernandes desenvolveu-se fisicamente praticando equitação, natação e futebol.
Jogador de futebol em Nova Iguaçu, RJ (anos 1930)
Tendo passado algum tempo no Rio de Janeiro, onde foi trabalhar, ainda muito jovem (17 anos), João Luiz confessa em suas memórias que:
Após cerca de dois anos, senti que faltava alguma coisa para minha completa alegria: o futebol! Conversei sobre isto com meu irmão e ele decidiu: Vai trabalhar no Cinema Verde, em Nova Iguaçu. Lá existem dois clubes de futebol. Não pensei duas vezes: um mês depois, já estava trabalhando no Cine Verde...
Logo fui aceito no Sport Clube Iguaçu, de futebol amador. Minha posição predileta era a de atacante, mas, como a vaga estava ocupada, deram-me a posição de zagueiro direito. (1)
Fotos
O centroavante quer fazer gols
Em Nova Iguaçu, João Fernandes continuou trabalhando no ramo de cinema e estudando, mas quanto ao futebol:
(...) Não fiquei satisfeito com a posição de zagueiro e acabei transferindo-me para o Filhos de Iguaçu F. C. (também amador). (...) Fui colocado no time reserva. O melhor goleador do time costumava fazer pelo um gol nos jogos. Eu fiz dois gols logo na primeira vez e passei a integrar o time principal. Daí em diante, minha carreira tornou-se um sucesso, chegava a fazer quatro, cinco gols por partida, meu nome e até minha foto figuravam frequentemente no jornal da cidade (A Crítica). Em 1940, conquistei medalha de ouro como "artilheiro-mor", no campeonato da A. I. E., com a marca de 32 gols. (2)
Fotos
Um convite do Fluminense FC
O flamenguista João Fernandes anotou também que
Recebi convite para ingressar como profissional no Fluminense, mas estava satisfeito como gerente do cinema [Cine Verde] e a reumuneração dos jogadores não era atraente como hoje. Preferi continuar como amador. Talvez, se fosse o Flamengo a tentação tivesse sido mais forte... (3)
Jogador de futebol em Lambari, MG (anos 1940)
Em 1942, João Fernandes retorna a Lambari, passando a desenvolver atividades empresariais e políticas, mas não deixou o futebol. De fato, como já registrado nestas páginas eletrônicas, João atuou longos anos como jogador e técnico do time do Águas Virtuosas. Confiram neste post (aqui).
Abaixo, alguns registros da passagem de João Fernandes pelo time do Águas:
Fotos
Jogador Veterano em Campo Grande, RJ (anos 1950/80)
Em 1950, João Fernandes casa-se com uma fluminense, de Niterói — D. Othonira Almeida. No ano seguinte, deixa Lambari e volta ao Rio de Janeiro, desta feita para Campo Grande, atuando, de sociedade com o sogro, no ramo de cinemas, e com extensa atividade social (Lions Clube, Campo Grande F. C.).
Mas a paixão pelo futebol corria nas veias. Sobre isso, D. Othonira (que terminou o registro das memórias de seu marido), registra:
Com funcionários do cinema e amigos comerciantes de origem portuguesa e libanesa, moradores em Campo Grande (lojas Magal, Tok e Luzes), João Luiz voltou a jogar futebol, esporadicamente, sem compromisso, apenas por lazer. Iria continuar a jogar futebol até os 72 anos de idade (1988), quando sentiu que não estava correspondendo mais ao seu nível de juventude. (4)
Fotos
(1) FERNANDES, João Luiz. Reminiscências de um Brasileiro do Século XX - Cidade das Águas Virtuosas. Lambari, MG : Gráfica Kirios, 2013, págs. 35/36 - (2) Id., ib., págs. 37/38 - (3) Id., ib., pág. 38 - (4) Id., ib., pág. 72.
Veja também histórias sobre dois outros craques de futebol da familia "Fernandes", de Lambari, que atuaram pelo pelo time do Águas Virtuosas:
Lendo O MENINO POETA fiquei sabendo que o português se presta, muito mais do que as línguas famosas, à poesia infantil. Tendes vós outros um idioma mais leve e mais terno também. Nem no inglês ou no francês, nem mesmo no castelhano, existe a ternura do vosso idioma, inefável favor que só com o italiano ele reparte.
(GABRIELA MISTRAL, poeta, escritora e educadora chilena, Prêmio Nobel de Literatura [1945], comentando a poesia infantil de Henriqueta Lisboa)
O Menino Poeta
O conjunto de poesias infantis enfeixado no livro O MENINO POETA, de Henriqueta Lisboa, publicado em 1943, constitui
(...) uma fina escuta das vozes da infância. Um mergulho nesse tempo que dissolve os tempos inquietantes da idade madura." (1).
E, complementando o pensamento acima, diz Alaíde Lisboa de Oliveira, na introdução metodológica do livro citado, que
"O Menino Poeta", enquanto forma e enquanto temas e motivos responde a todo tipo sensível de leitor. Cada um, criança ou adulto, vai tirar, desses poemas, harmonia e beleza, que respondam a suas próprias vivências.
Sarau familiar
Todo o lirismo do que vai acima pode ser resumido num costume antigo — infelizmente hoje abandonado — de contar histórias, ler livros, dizer poesias em família. Essa prática foi cultivada por longos anos no seio da família de Olavo Pereira Krauss e Maria do Carmo Pereira Krauss. D. Maria, que em solteira se assinava Maria do Carmo Lisboa Pereira, era prima de Henriqueta.
Com efeito, d. Maria do Carmo, professora primária, reunia filhos e netos, em saraus familiares, nos quais as crianças eram incentivadas a contar histórias e recitar poesias, especialmente poemas da lambariense Henriqueta Lisboa.
Maria do Carmo/Olavo Krauss, ao centro, ladeados de filhos, filhas, noras, genros e inúmeros netos
O poema "O Palhaço", de Henriqueta Lisboa, musicado
A recordação desse costume supracitado foi feita hoje por Mário Krauss, neto de Maria do Carmo e Olavo Krauss, quando postou a canção "O Palhaço", de Affonsinho Heliodoro, que musicou a primeira parte do poema O Palhaço do livro O MENINO POETA.
Vale a pena conferir no Youtube.
(1) A. PEREIRA DO AMARAL, Secretário-Adjunto da Educação, na apresentação do livro Menino Poeta. Imprensa Oficial, 1975.
Ilustração de abertura. Capa de O MENINO POETA, Henriqueta Lisboa. [Edição especial ampliada] .Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1975.