Ilustração de abertura: Carro de bois, de Eurico Aguiar, que também pintou o Cassino de Lambari, que abre o site GUIMAGUINHAS (aqui)
Nesta série PROFISSÕES DE AGUINHAS, vamos comentar algumas antigas profissões do povo de nossa terra.
Vamos começar pelos carreiros, carroceiros e charreteiros, profissões que ainda persistem entre nós.
Vamos lá.
Carreiros e Carroceiros em Aguinhas, em 1898
Da lista de eleitores de Águas Virtuosas, em 1898, constavam os seguintes carreiros e carroceiros:
Fonte: José Nicolau Mileo, Subsídios para a história de Lambari, 1970, p. 134.
Carroceiro, centro de Águas Virtuosas, início dos anos 1900
Carroceiro em frente loja comercial, Águas Virtuosas anos 1930
Seu Salvador Leite e sua carroça, anos 1970
Meu avô paterno - José Guimarães Silva, conhecido por Zé Batista e que os netos tratavam por Pai Véio, foi carreiro famoso em Lambari, e meu tio Joãozinho também trabalhou na profissão. Deixei anotado aqui no GUIMAGUINHAS algumas referências dessa profissão (aqui) e (aqui).
Carro de bois transportando água mineral, 1908.
Carro de bois, Lambari, 1947
Roberto Paiva, de 78 anos, é charreteiro em Lambari, desde o início dos anos 1960. Ele diz que quando começou, há 54 anos, havia 75 charreteiros na cidade, entre eles: João Atalívio, João Cândido, João da Cruz, Geraldo Vítor, Vicente Cândido, Mílton da Bem. Atualmente, há 5 ou seis charretes em atividade.
Naquela época, o transporte de pessoas era feito a cavalo, de bicicleta ou de charrete, poucos possuíam carros, e os táxis eram raros — e caros.
Lambari, anos 1940: carros e charretes dividem o espaço urbano
Roberto Paiva e sua charrete
Charretes em Lambari (2014)
Passeio por Águas Virtuosas, em antiga charrete. Jornal das Moças, maio/1915
No Menino-Serelepe* deixei anotada uma passagem, ocorrida num dia de muito calor, em que minha mãe queria me "arrastar" do centro da cidade para a Vila Nova, para ver minha Vó Cema:
— Tá muito calor, mãe, vamos de charrete. Que charrete?! Não temos dinheiro pra isso não. Pede carona pro seu Geraldo Vítor, então. Que besteira, menino. E aquilo nem é charrete, é carrocinha de leiteiro, não foi feita pra carregar gente, só leite. E eu vou lá ficar pedindo carona pros outros, seu tonto! Mas é o seu Geraldo Vítor, o pai conhece ele e ele num vai negar pra gente. Deixa disso e anda depressa que o calor passa!
Seu Geraldo Vítor, citado acima, foi charreteiro e construtor de charretes e carros de boi, durante muitos anos, na Vila Nova, em Lambari.
Tio Mário Lobo e eu (atrás, encoberto), indo de charrete para Jesuânia, visitar a família do tio Rubens Lobo (início anos 1960)
Charretes na literatura de Aguinhas
Conceição Jardim** narrou esta cena, no seu romance sobre Lambari:
Dentro em pouco, três charretes esperavam à porta do Imperial. / Numa entraram Cecilinha e Alice, na outra Celeste e Lucilia e na última Dr. Armando e D. Alzira. / Deram a volta da cidadezinha, resplandecente no ouro morno do sol de um dia de Maio. No céu nem uma nuvem. No horizonte uma porção de expectativas. Nos corações, as emoções das novidades, aquecidas pelo bem-estar que a gente desfruta num ótimo clima (...)
Em Entre a árvore e a estrela*** vamos encontrar cenas romanceadas da infância de Ana Elisa Gregori, passada em Lambari, entre elas uma referência a um charreteiro, muito conhecido: o seu João da Cruz. Eis o trecho:
Vão de charrete? - Na do João da Cruz, não demora ele chegará aqui.
Turistas passeando de charrete no Aeroporto de Lambari (anos 1950). Na primeira charrete, o menino Chiquinho Peão (Francisco Prado), a égua Cigana e os veranistas Sr. Paulo e esposa. Na segunda, o menino Benedito e os veranistas Sr. Rosivan e esposa.
Passeio de charrete ao Horto Florestal (1947).
(*) GUIMARÃES, Antônio Lobo. Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem. Belo Horizonte : Edição do Autor, 2009.
(**) JARDIM, Conceição [GARDEN, C.] Uma vilegiatura em Lambari: expressões da vida e de algumas vidas de 1943. Rio de Janeiro : A Noite, 1943.
(***) GREGORI, Ana Elisa. Entre a árvore e a estrela. Belo Horizonte : Itatiaia, 1985.
Arquivo Público Mineiro; Museu Américo Werneck; Revista Brasileira de Geografia (IBGE), out-dez/1947; Facebook/Lambari em fotos e textos