Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Ilustração de abertura: Cromo de antiga igreja de Aguinhas (Sec. XIX)
Cabeça-de-nêgo: Bombinha com alto poder de detonação.
Cacarecos: Velharias; trastes de pouco valor.
Cacunda: Dorso, costas.
Cacuruto: Cocoruto: elevação, morro.
Cadeira: Quadril. Dor nas cadeiras (ou dor nos quartos) = dor nos quadris.
Cagaço: Medo, susto.
Caidor: Lugar onde os animais entram ou caem na água.
Câimbra de sangue: Corruptela de câmaras ou cambras. Diarréia forte, com fluxo de gotas de sangue.
Cair na esparrela: Ser enganado. Deixar-se lograr.
Caixa-pregos: Lugar muito distante.
Cafundó do Judas: Lugar distante e de difícil acesso.
Calçar os peitos: Ingerir algum comestível.
Calhau: Papagaio improvisado de folha de caderno, sem varetas. [Gíria ocorrente em Aguinhas.] Em Aguinhas, não era comum o nome pipa, e sim papagaio. Esse havia nas seguintes espécies: tradicional (varetas cruzadas, circundadas por linha), flecha (varetas nesse formato, sem linhas nas laterais) e balão (papagaio grande e sem rabo).
Cambão: Peça de madeira para unir juntas de bois de carro. Coletivo: Grande quantidade: cambão de peixes, ou de gentes.
Cambota: Cambalhota
Camisa de onze varas: Dificuldade grande em que alguém se mete e da qual é difícil ou impossível sair.
Campear: Buscar, procurar.
Candonga: Intriga, mexerico.
Caninga: Má sorte; azar; uruca.Vidinha caningada = azarada.
Canhotar: Desarticular a espingarda para pôr ou extrair o cartucho. Descanhotar é fechar a arma. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Canto chorado: Da expressão “Trazer num canto chorado”, isto é, debaixo de rigorosa vigilância.
Capela: Nome por que os caboclos de Aguinhas costumam designar a cidade de Aparecida do Norte, SP.
Cão: Peça saliente da espingarda que percute a cápsula. Diz-se que a espingarda é mocha quando não possui cão.
Cara de beloni: Desapontado; emburrado. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Cara de bugia: Mulher muito feia.
Cara de poucos amigos: Cara amarrada, zangada.
Caraminguás: Móveis velhos. Diz-se, também, de dinheiro miúdo.
Carcamanos: Designação dada aos italianos imigrantes.
Carrasquento: Formação vegetal áspera, rasteira e sem valor.
Carreador: Trilho, picada.
Carro de praça: Táxi
Casinha: Banheiro.
Casquete: Boné; chapéu velho.
Caxerenga: Faca de caboclo.
Chá de marmeleiro: Surra de vara de marmelo, que são varas longas e flexíveis, bem jeitosas para se bater.
Chaleirar: Adular, bajular.
Chamar na chincha: Chincha é uma faixa de couro ou de qualquer tecido forte, que se usa, sempre bem justa, para segurar a sela. Chamar na chincha = Dar um aperto.
Chanças: Corruptela de chances.
Cheio de nove-horas: Gente presumida, complicada, enjoada.
Chernoviz: Refere-se ao dr. Chernoviz, médico autor de um antigo livro de receitas de remédios. Por extensão: vademecum.
Choça: Cabana feita de ramos.
Choferar: Guiar, dirigir, conduzir.
Chotão: Corruptela de choutão = Cavalo de marcha dura.
Chorar miséria: Pessoa apegada ao dinheiro que tudo lamenta sem necessidade.
Chué: Desapontado; sem graça.
Chupa-chupa: Suco de frutas congelado, vendido em saquinhos de plástico.
Chuva no roçado: Diz-se de negócio rentável, lucrativo, proveitoso.
Cobreiro: Espécie de dermatose produzida pelo contato com vegetação, ou roupa, sobre a qual se supõe passe um animal peçonhento.
Cobrinhos: Pouco dinheiro. Dinheiro miúdo ou em moedas
Cocorar: Acocar; acocorar = fazer mimos.
Colheita: Rapa; ato de apanhar as bolinhas de gude que estão em jogo, geralmente praticado por meninos maiores. Pronunciava-se: coieta.
Coque: Pancadinha na cabeça com o nó do dedo.
Coité: Cuia feita de coco ou de cabaça.
Colondria: Ajuntamento ou turma suspeita.
Com a vó atrás do toco: De mau-humor.
Com todos os efes e erres: Dentro da lei e das normas.
Comi: Auxiliar (aprendiz) de garçom.
Composição: O conjunto de carros de um trem, nas estradas de ferro.
Conga: Antigo sapato feito de lona e borracha; espécie de tênis.
Consumição: Inquietação, preocupação, apreensão.
Coruscar: Coriscar, flamejar; reluzir.
Corda e caçamba: Expressão que designa as pessoas que fazem tudo juntas. Refere-se à corda e à vasilha com que se tira água do poço.
Coresma: Corruptela de quaresma
Cortar talão: Pagar imposto na coletoria, onde o documento era selado. Por extensão: passar escritura.
Corrupio: Lufa-lufa; corre-corre; afã, lidar apressadamente. Pessoa esperta que faz tudo com rapidez.
Costaneira: Borrador, livro no qual se anotavam, em rascunho, as operações comerciais de um estabelecimento.
Couro atanado: Couro curtido com casca de angico, ou outros vegetais que possuem o tanino.
Crendospadre: Creio em Deus Padre.
Crioulo: Cigarro de palha feito de fumo de rolo.
Crescer nas vistas: Despertar cobiça.
Crochetar: fazer crochê.
Curriola: Corruptela de corriola = bando, grupo, corrilho.
Curso: Moléstia do gado bovino.
Cuspido e escarrado: Tal e qual.
(*) Fontes de consultas principais: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda - Aurélio Eletrônico, Século XXI - Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Beaurepaire-Roban - O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral - Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa - Novo Dicionário da Gíria Brasileira, Manuel Viotti.
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Veja nos números anteriores desta série:
Neste número 3 da série Futebol em Família, estão atletas das famílias Motta, Martins, Biaso, Mayer, Rambaldi e Costa.
E na foto de abertura homenageamos: Tonhão, Zé Boião, Chá e Cafu, valorosos companheiros com os quais me relacionei nos muitos anos em que joguei futebol em Lambari. Nas funções de massagistas e roupeiros, ou de ambas as coisas, essas pessoas prestativas, simples e amigas muito colaboraram com os times de nossa cidade.
Motta
Martins
Biaso
Mayer
Rambaldi
Costa
(1) Para ver os números 1, 2, 4, 5, 6, e 7 desta série, clique os links:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37821
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37849
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37873
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37891
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37967
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38004
(*) Se você, caro(a) visitante, tiver notícias, informações, casos e fotos dessa época, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Aguinhas de antigamente
Como já vimos noutro post (*), o Hotel Mello (preservamos a grafia da época, com "l" dobrado) foi fundado por Joaquim Manoel de Melo, que aqui havia se estabelecido, vindo de Campanha, em princípios de 1880. Mais tarde, em 1938, esse hotel foi adquirido por Vivaldi Leite Ribeiro e transformado no Hotel Imperial.
Em 1884, instala-se o Hotel Mello nas proximidades da rua que passa defronte ao Hotel Imperial e sobe em direção à saída de Campanha/Cambuquira. Essa rua é a atual Joaquim Manoel de Melo. Em 1894, chega a Estrada de Ferro Sul Mineira, passando à esquerda desse hotel e ali fazendo sua parada - surgia a Parada Melo (**), ainda existente, e que corresponde ao 3o. andar do prédio atual (Condomínio Imperial). [1]
Com a vinda da estrada de ferro aumentou o fluxo de veranistas e assim também o número de hotéis. Assim, a partir de 1895, surgiram diversos outros: Hotel Central [de Joaquim Cândido de Araújo], Hotel Bibiano e Hotel do Estado [de Bibiano José da Silva], Hotel Brasil [de Oscar Paes Pinheiro], Hotel União [de Domingos Pereira Pinto], Hotel Lambari [de Antônio Olinto Ribeiro], Hotel Mineiro [de Mateus Gomes da Silva], Hotel Muzambinho [de Lúcio Augusto Nogueira] e mais alguns outros. [2]
Pequena história fotográfica do Hotel Mello
Hotel Mello, na época descrita acima. No pé direito da foto, vê-se a estrada de ferro.
Foto constante de obra editada em 1918 (3)
Vista dos fundos do Hotel Mello, início dos anos 1900
Propaganda do Hotel Mello, em 1918 (3)
(*) Memórias de Aguinhas (2) - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37548
(**) Parada Melo - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4298000
(***) Um antigo hóspede do Hotel Melo - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37587
Referências
[1] CARROZO, João. História cronológica de Lambari. Piracicaba, SP : Shekinah Editora e Gráfica, 1998, p. 99.
[2] MILÉO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, p. 125.
[3] CAPRI, Roberto. Águas Virtuosas de Lambary., São Paulo : Pokai & Comp., 1918.
Fonte das fotos:
- Museu Américo Werneck; Acervo de André Gesualdi (a quem agradecemos pela gentileza)
Prosseguindo a série Futebol em família, seguem os álbuns das famílias: Fernandes, Santos, Gregatti, Coelho e Monte.
Por essa série, como já se disse noutros posts, podemos verificar como era grande a colaboração que as pessoas prestavam ao futebol de Lambari.
Ito Coelho, por exemplo, atuou como colaborador e árbitro; José Roberto Monte, como atleta (goleiro) e árbitro; João André, como colaborador e como atleta; Guinho, como atleta e como técnico.
Por isso, modesta, mas de muita justiça essa homenagem que vimos prestando a essas famílias, aqui neste espaço virtual.
Fernandes
Santos
Gregatti
Coelho
Monte
- Veja os números 1, 3, 4, 5, 6 e 7 desta série nestes links:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37821
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37862
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37873
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37891
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37967
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38004
(*) Se você, caro(a) visitante, tiver notícias, informações, casos e fotos dessa época, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Ilustração: O Grande Hotel Bibiano, nos anos 1900. Foto colorizada. Reprodução. Museu Américo Werneck
O Hotel Bibiano foi fundado em 1896 por Bibiano José da Silva, que
nasceu na cidade de Itaboraí (RJ) e faleceu nesta cidade em 1910. Depois de ter tido um hotel em Teresópolis, de 1870 a 1896, neste ano transferiu-se para Lambari, instalando o Hotel Bibiano, ainda existente, e o Hotel dos Estados, que funcionou durante muito tempo onde hoje se instala o Posto de Serviços dos irmãos Biaso. Desenvolveu grande ação na política local, figurando como vereador na constituição da primeira Câmara Municipal, instalada em janeiro de 1902. (1)
Já na edição de A Peleja, de 15/05/1898, o Hotel Bibiano divulgava esta propaganda.
A comida, genuínamente brazileira, preparada sob a immediata fiscalização de sua esposa, era referência no hotel...
E assim continuou sendo nas gerações seguintes, como se vê da propaganda acima, dos anos 1940
Bibiano Silva e Perciliana, proprietários do hotel
O vídeo abaixo, dos anos 1950, pode-se se ver [entre 07:00/08:00 min] um filme sobre a Fazenda Bibiano, de onde vinham os produtos diretos do produtor para o hotel.
VÍDEOS - Lambari - Ano de 1955
(*) Confira do vídeo abaixo, a partir de 7,11 minutos:
ANTIGOS HÓSPEDES DO HOTEL BIBIANO
Hóspedes do hotel
Hóspedes e membros da família Bibian
Turistas Hotel Bibiano
O HOTEL BIBIANO EM QUATRO TEMPOS
Hotel Bibiano - Início anos 1900
Hotel Bibiano - Primeiras décadas do Século XX
Hotel Bibiano - Anos 1940
Hotel Bibiano - Hoje
Reformado e remodelado, o antigo Hotel Bibiano transformou-se na Pousada do Duque (2)
(1) MILÉO, José N. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, p. 40.
(2) Pousada do Duque