Ilustração: Luiz Paulo & Eduardo - Os Mineirinhos - foto da dupla - Capa CD lançado em 2000
No final dos anos 1980, dois jovens, oriundos do Sul de Minas Gerais, afinaram a viola, soltaram a voz e puseram o pé na estrada, à busca de um lugar no cenário do sertanejo nacional.
Era o começo tão parecido de tantas duplas pelo Brasil afora..
E assim também foi o começo da história que escreveram dois moços de Lambari, MG.
Vamos lá.
Não se faz uma dupla boa sem um bom nome
Os irmãos José Laércio Ferreira e Valdecir Fernandes Ferreira pensaram num primeiro nome para a dupla, o nome natural: Laércio e Valdecir. Não soava bem, não ornava um com o outro, como se diz aqui pela região do Lambari. Isso não dá nome de dupla.
Então, buscaram inspiração numa dupla afinada — no nome e no talento: Leandro e Leonardo. Daí, associando os nomes de dois sobrinhos, é que surgiu: Luiz Paulo & Eduardo - nome afinado, ornado, como pede a tradição sertaneja.
Nome escolhido, talento e vontade não faltavam. Era preciso agora mostrar o valor no palco, pois é lá que uma dupla de fato mostra seu valor. E o palco era modesto: bares, festas, pequenos rodeios no Sul das Gerais.
Era preciso dar um passo à frente, e a dupla seguiu para São José dos Campos, onde o cenário era mais concorrido, claro, mas também mais promissor. E aí surgiram novas oportunidades nas casas de show, nas boites, nos rodeios, nas feiras, como a famosa FAPIJA, de Jacareí, onde chegaram a tocar.
Reprodução: Logo da FAPIJA - Feira Agropecuária e Industrial de Jacareí (www.fapija.com.br)
E a dupla rodava pelo Vale do Paraíba afora...Trabalho não faltava, faltava mesmo era gravar... e estourar!
E em 1993, enfim, o primeiro disco. O lançamento se deu na Danceteria Casa Blanca, São José dos Campos, com a participação da Banda Sol Maior, Valdir do Piston, e Rony (Dupla Tony e Rony).
No Youtube está um vídeo desse lançamento. Confira Youtube
Ouça uma música deste disco:
Em 2000, veio o CD e o apelido OS MINEIRINHOS
O primeiro CD veio em 2000, e foi lançado no Programa do Ratinho. E o apresentador quando os chamou disse:
— Vamos receber agora dois mineirinhos, que vêm hoje mostrar aqui no programa o CD que acabaram de lançar.
E, a partir daí, a dupla começou a ser chamada de OS MINEIRINHOS.
Abaixo, a capa do CD:
Ouça uma música desse CD:
O grande sucesso não veio, mas valeu a jornada
Meados da Era Collor, e os valentes Mineirinhos se preparavam para um salto na carreira. Patrocínios confirmados, música nova, ensaios, ansiedade...Eles iam aparecer semanas sucessivas na TV. A primeira apresentação seria no Programa do Bolinha.
E a bomba estoura! Vem o impechment! Inflação descontrolada. Era a crise. E a crise abortou o sonho dos Mineirinhos!
Vinte e cinco anos de luta, de pé na estrada, de shows e viagens cansativas. E resolveram dar um tempo. A longa jornada em busca do sucesso, para eles, chegara ao fim. Mas a viagem valera, e muito!
De volta ao Sul de Minas, continuaram se apresentando em show e rodeios.
Ainda hoje, Eduardo Mineirinho faz apresentações. Quem quiser contratá-lo, ele está no Facebook, veja aqui:
Ilustração: Cassino de Lambari, detalhes da fachada. Fonte: Site IEPHA/MG
Sobre o nosso Cassino já publicamos diversos posts, como estes:
Neste post vamos comentar a reforma por que vem passando o Cassino de Lambari e sua destinação para instalação do Museu das Águas.
Confira.
As “águas virtuosas” desabrocharam a povoação que se fez sobre as propriedades terapêuticas de suas fontes. A partir de 1909, iniciou-se uma nova fase para a antiga Águas Virtuosas.
A Lambari atual tem sua origem em 1909, fruto do sonho visionário de um homem, e do apoio do Estado, que viu na pequena estância hidromineral o potencial para se tornar o maior complexo de lazer do país, uma “Vichy” brasileira em nada inferior aos balneários europeus. O símbolo máximo deste sonho, o Cassino, imponente edifício que impressiona ainda hoje pela grandiosidade e beleza de suas linhas, domina a paisagem da pequena cidade. Este grandioso edifício, destinado a se tornar o maior templo da indústria de entretenimento do pais, símbolo da ousadia empreendedora do Dr. Américo Werneck, infelizmente não conheceu as glórias sonhadas. No entanto, resistindo ás intempéries políticas e contendas humanas, chegou até nossos dias ainda em sua arrogante magnitude merecendo do povo mineiro o seu reconhecimento como patrimônio cultural do Estado.
Carlos Henrique Rangel (Historiador)
Transformar a acanhada Vila de Águas Virtuosas numa estância hidromineral moderna, capaz de concorrer com as melhores da Europa — o sonho de Américo Werneck foi longamente visionado por mais de 20 anos.
De fato, desde que chegara a Águas Virtuosas de Lambary, em 1889, começou a devanear essa possibilidade. E nos anos seguintes, empregou todos os seus recursos — o gênio criador, a formação técnica, a atividade parlamentar, os contatos políticos, o trânsito no mundo das letras, o relacionamento com a imprensa — na realização da maior de suas fantasias.
O sonho começou a ser realizado quando, com o apoio político e financeiro do Governo de Minas, nas figuras de Wenceslau Braz e Bueno Brandão [presidentes do Estado em 1909/10 e em 1908/09 e /1910/14, respectivamente], contratou a empresa carioca Poley & Ferreira para projetar as edificações e melhorias, transformando a vila modesta, por cerca de 2 anos, num formidável canteiro de obras.
Parte desses projetos foram inaugurados em 24 de abril de 1911, e entre eles a joia do conjunto imaginado por Werneck - o Cassino.
Com linhas arquitetônicas de um gosto apurado, de estilo barroco e neoclássico, o prédio ocupa uma área de 2.800 m2 e situa-se defronte a um lago artificial, que era iluminado por um farol e oferecia aos turistas legítimas gôndolas de Veneza para passeios.
Cassino é palavra originária do italiano casinó, com o mesmo significado: Casa ou lugar de reunião para jogos de azar, geralmente com espetáculos de música e dança.
Frontão da fachada principal do Cassino de Lambari (Reprodução: estilonacional.com.br)
Era isso que se esperava fosse o nosso Cassino do Lago, a mais bela obra de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico pensado e construído por Américo Werneck.
Mas assim não se deu. Na verdade, no cassino de Lambari, os caça-níqueis, as roletas e as mesas de apostas só funcionaram na noite da inauguração, e assim mesmo de forma parcial, visto que havia equipamentos de jogos e diversões ainda incompletos e/ou não instalados, e problemas na iluminação do imóvel. E foi nesse estado que a obra foi inaugurada em 24 abril de 1911.
Pouco mais de um ano depois, isto é, em 16 de maio de 1912, quando Werneck arrendou ao Governo de Minas a estância de Águas Virtuosas, as obras e instalações do cassino ainda não tinham sido concluídas. E, a partir de 27 de junho de 1913, data em que teve início a discussão judicial do contrato de arrendamento citado, nada mais se fez nas décadas seguintes para completar o projeto original.
Retomado em 1922 pelo Governo do Estado, o prédio passou pelas mãos de órgãos estaduais e da municipalidade. Nesse tempo, sofreu diversas reformas, que descaracterizaram áreas internas, mas mantiveram a originalidade da fachada.
Atualmente, o prédio passa pela quinta reforma de sua história, uma reforma predial e restauração de seus interiores, e nele se pretende instalar o Museu das Águas. Confira:
Descrições do Cassino de Lambari
Veja algumas descrições do Cassino de Lambari:
Segundo o historiador Carlos Henrique Rangel [4], ao longo das décadas, o Cassino de Lambari passou por algumas reformas, a saber:
Mas permaneceu fechado até meados de 2024.
Transferência para a Prefeitura Municipal de Lambari
Como visto acima, após longa espera e demorada reforma, que atravessou dois governos, o Cassino de Lambari permaneceu fechado de 2019 a meados de 2024, sem que nenhuma finalidade apropriada lhe fosse dada.
Agora, junho de 2024, Cassino de Lambari foi oficialmente transferido à Prefeitura de Lambari.
Em junho de 2024, o Cassino foi oficialmente transferido para a Prefeitura de Lambari
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(*) Veja: O Cassino de Lambari e a homenagem ao sol - aqui
Diversos usos do Cassino de Lambari
Na sua longa vida de mais de 100 anos, o Cassino foi objeto de diversas ocupações e funções, a maioria fora do plano original, intercaladas por períodos de abandono e subutilização. Entre os usos dados a ele, podemos citar:
A todo esse descaso, deve-se juntar também um incêndio ocorrido em 2000, num dos cômodos do andar térreo, que consumiu inúmeros livros ali guardados. Felizmente, o incêndio foi contido e não houve maiores danos ao imóvel. (Veja aqui)
O conjunto arquitetônico e paisagístico do Cassino
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Cassino de Lambari compreende o Lago Guanabara, o Farol e o Parque Wenceslau Braz.
Atualmente o prédio do Cassino é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural pelo município (Decreto 1.059/2000) e pelo IEPHA-MG (Conselho Curador do IEPHA/MG em 14 de agosto de 2002).
Confira: Site do IEPHA-MG - Tombamento do Cassino - aqui
O Cassino no Guia de Bens Tombados do IEPHA/MG
O volume 2 do Guia de Bens Tombados, do IEPHA/MG, traz um belo texto de Ailton Santana sobre o nosso Cassino.
Confira nas págs. 129-32, neste link aqui
Reprodução: texto sobre o Cassino de Lambari, no Guia de Bens Tombado, vol. 2, do IEPHA/MG
Gustavo Barroso, professor, ensaísta e romancista, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais de 120 livros de história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaios, além de dicionário e poesia, frequentou Lambari durante décadas e aqui possuía o Retiro do Lago — sua casa de veraneio, a qual visitava 8 temporadas por ano.
Pois bem, em 1952, Barroso dirigiu carta ao então Governador de Minas, Juscelino Kubitschek, propondo a transformação do Cassino de Lambari em um Museu Folclórico, e oferecendo ajuda para tal desiderato.
Recorde-se que o conhecido museólogo possuía capacidade técnica e gerencial para auxiliar na concepção e execução do projeto, visto tanto seus estudos, ensaios, assessoria e prática na área de história, museologia e folclore, como sua experiência como fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. Veja aqui
Confira esta carta na íntegra:
Cópia datilografada - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Rascunho manuscrito - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Veja aqui o projeto do Museu das Águas, que deveria ter sido implantado no Cassino de Lambari, mas que não vingou, infelizmente.
Outros textos e referências sobre o Cassino de Lambari
Ilustração: Título da reportagem do jornal O Paiz, edição de 25 de abril de 1911 (Fonte: bn.digital)
Como vimos postando na Série Américo Werneck, nosso primeiro prefeito foi o (re)fundador da Estância Hidromineral de Lambari, à vista do conjunto urbanístico por ele criado, que se mantém até nossos dias. Ou, como disse Armindo Martins, ele foi "o artífice de Lambari".
O conjunto de obras que inaugurou em 24 de abril de 1911, com a presença dos Presidentes da República e do Estado de Minas, além de outras personalidades, constitui um dos principais fatos históricos de nossa cidade.
O evento foi coberto pelos principais órgãos de imprensa da época, e numa série de 2 posts estamos conhecendo a que foi feita pelo jornal O Paiz, do Rio de Janeiro.
Esta é a segunda parte. Vamos lá.
Lendo notícias de um jornal de 106 anos atrás...
Cara(o),
prepare-se para ler o jornal O PAIZ que circulou numa segunda-feira, dia 25 de abril de 1911.
Ele traz uma completa reportagem sobre a inauguração das obras de Américo Werneck em Águas Virtuosas dE Lambary. Trata-se de uma reportagem histórica sobre um dos fatos mais notáveis da história de nossa cidade.
Na primeira página, o título grandiloquente diz:
ÁGUAS VIRTUOSAS Uma obra considerável - Saneamento e embellezamento - Água e luz - O lago e o Casino - As festas de hontem |
Naqueles dias, Belleza se escrevia com 2 eles, Casino com 1 esse só e hontem com agá.
É uma viagem ao passado. Venha comigo.
Neste bloco, destacamos:
Fotos
Vista do Cassino, lago, cascata e pontes de ferro, no dia da inauguração
Postal: Vista do Cassino e Parque Novo, no dia da inauguração
Neste bloco o destaque é para o magnífico Cassino: sua geografia, posicionamento, divisões, decoração, etc. Esta é uma das mais completas descrições do nosso Cassino.
Confira:
Fotos
Vista aérea do monumental Cassino de Lambari (Reprodução: site Prefeitura Municipal de Lambari)
Cassino - fachada do lago. Reprodução internet
Fachada lateral do Cassino e plataforma futura Estação do trem (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Cassino - balaustrada fronteira. (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Cassino - Escadaria entrada e detalhes fachada principal (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Cassino - Salão nobre e sacadas (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Cassino - Vista das sacadas (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Continua aqui a descrição do interior do Cassino.
Confira:
Fotos
Quadros japoneses interior do Cassino
Cassino - Corredor interno (Reprodução.Fonte: Site IEPHA/MG)
Cassino - Antigo salão restaurante (Reprodução.Fonte: Site Fundação João Pinheiro)
Ainda o Cassino: mobiliário, decoração e toilletes.
Os objetos japoneses de decoração, verdadeiras obras de arte, foram encomendas diretamente no Japão e especificamente para o Cassino de Lambari.
Confira:
Fotos
Objetos do interior do Cassino
(1) Escarradeiras - (2) Caixa d'água inglesa de porcelana, painel da sala japonesa e caça níquel
Sofá, lustre e candelabro - (Reprodução.Fonte: Site Prefeitura Municipal de Lambari/Inventário Patrimônio Cultural de Lambari)
Aqui completa-se a descrição do terraço, e registra-se que essa descrição, feita em largos traços, está longe de mostrar a beleza dos detalhes da obra.
Confira:
Fotos
Vista do segundo pavimento - (Reprodução. Fonte: Site Fundação João Pinheiro)
Vista segundo pavimento e do jardim interno - (Reprodução. Fonte: Site Fundação João Pinheiro)
Fotos históricas da inauguração das obras de Werneck em Águas Virtuosas
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Ilustração: Celinho Zanata e Guima, recordando os tempos em que jogaram pelo Juvenil do Águas Virtuosas
Visitamos ontem o Célio Firmino, mais conhecido por Celinho Zanata, antigo companheiro de bola do Juvenil do Águas Virtuosas e do Vasquinho dos anos 1970.
Já com a saúde recuperada, em sua casa, ao lado da mulher, filhos e neto, Celinho conversou com o site GUIMAGUINHAS e lembrou amigos do futebol — como Roberto, Xepinha, Ieié, Celinho Machado, Pedro Guela, Chá, Tins, Delém, Tatá, Jaú, Zezé Gregatti — e jogos e lances de sua carreira.
Célio, hoje com 65 anos, diz que o apelido de Zanata nada tem a ver com o seu clube do coração, que é o Santos. Na verdade, foi o Guinho Gregatti que, nos meados dos anos 1970, quem passou a chamá-lo pelo apelido. Num treino, durante a evolução de boa jogada, ele gritou: Vai Zanata! Vai Zanata! Esse é o nosso Zanata!
E o apelido ficou. Guinho, vascaíno doente, havia conferido ao Celinho Firmino o nome do grande meio-campista que se destacou no Flamengo e no Vasco da Gama, nos anos 70 — Carlos Roberto Zanata Amato, o Zanata.
Zanata jogou pelo Vasco entre 1973 e 1978, foi campeão brasileiro em 1974 e campeão carioca em 1977. Nos anos 1980, foi técnico do Vasco.
Reproduçaõ - Fonte: osgigantesdacolina.blogspot.com.br
Ao final da conversa, Firmino assinou a histórica camisa do Águas Virtuosas, na qual o GUIMAGUINHAS vem coletando assinaturas de jogadores que atuaram pelo clube, e que pretende expor num futuro local que venha a guardar a memória do clube.
Confira:
Celinho Zanata segurando a camisa do Águas, rubricada por ele
Juvenil do Águas, 1970: Ieié, Vaca, Adão, Guima, Zanata e Celinho. Agachados: Roberto, Xepinha, Zé Paulo, Pedro e Dílson.
Celinho Zanata no Vasquinho dos anos 1970. Na foto: Zezé Gregatti, Toninho, Zanata, Cafezinho, Adão, Dito e Fábio. Agachados: Zé Paulo, Picolé, Aluísio, Nêgo e Paulo Coutinho
Time do Vila Nova. Em pé: Emerson (Gandaia), Jaime, Zé Paulo (Vaca), Cafezinho, Pedro Guela, Celinho Zanata e Tonho. Agachados: Adalmir, Joãozinho, Tinz, Roberto e Loro.
Celinho Zanata, ao lado do Vaca e Celinho Machado, time da Água Mineral, disputando campeonato interno nos anos 1980
Ilustração: Cópia da partitura original da polca A FONTE DO LAMBARY, composição de Ernesto Nazareth, de 1888
Ernesto Nazareth, o grande compositor e pianista brasileiro (1863-1934), compôs em 1888 uma polca intitulada A Fonte do Lambary dedicada à Empresa de Águas do Lambary, concessionária à época da exploração das águas minerais de Águas Virtuosas de Lambary.
Possivelmente essa peça musical foi encomendada como propaganda das águas de Lambary.
Essa dica foi dada ao GUIMAGUINHAS por Paulo Guerra, da Estação Mercado do Livro.
É a história que veremos a seguir, dentro da Série AGUINHAS MUSICAL (aqui).
(Fonte: Ernesto Nazareth: o músico e as marcas. Alexandre Dias e Luiz Antonio de Almeida)
O músico e a propaganda das Águas de Lambary
No texto Ernesto Nazareth: o músico e as marcas, disponível no site Ernesto Nazareth 150 Anos, e que pode ser visto aqui, conta-se que Ernesto Nazareth
revelou uma das mais significativas ligações autorais com a música de propaganda.
E que é em Nazareth que
possivelmente, vamos encontrar a melhor expressão da aproximação entre compositor de inequívoca qualidade musical e a música de propaganda, à qual dedicou seu talento.
Nesse gênero, Nazareth compôs cerca de 13 composições, sendo que sua primeira incursão em
composição musical cujo título da partitura está associado a marca comercial ocorreu em 1888, conforme informação localizada por Luiz Antonio de Almeida em jornal: trata-se de A Fonte do Lambary, polca para piano. Impressa na própria partitura consta a dedicatória: “Offerecida a Empresa das Aguas do Lambary”. Ainda que “offerecida” à empresa, não se pode descartar seu teor e potencial de exposição da marca.
Os autores do texto prosseguem dizendo que, com fundamento no comentário de Luiz de Almeida, pode-se especular
uma origem para essa composição a partir de possível vínculo entre Ernesto Nazareth e a empresa Águas Lambary, cujo elo seria o estabelecimento Viúva Filippone. Ernesto Nazareth teve, na década de 1880, algumas de suas composições (Você Bem Sabe, Cruz, Perigo!, Não Caio N’Outra!!!, Não Me Fujas Assim e Beija Flor) editadas pela Imperial Imprensa de Música de Viúva Filippone (Viúva Filippone) e pela firma sucessora Viúva Filippone & Filha, com loja à Rua do Ouvidor 93, Rio de Janeiro. Aloysio de Alencar Pinto, em artigo sobre Ernesto Nazareth, informa, “como nota pitoresca”, que ao lado do comércio de música, o estabelecimento (Viúva Filippone) “tinha um depósito de todas as águas minerais legítimas”, e era “correspondente direto da Companhia de Vichy” (PINTO, 1963). Em função do relacionamento entre Nazareth e o estabelecimento Viúva Filippone, e pelo fato de esse ser o “Único depósito das Aguas Virtuosas de Lambary e de todas as Aguas Mineraes estrangeiras, como sejam Vichy, Seltz, etc. etc.” (conforme rodapé do Catálogo Flores do Baile Collecção das Quadrilhas, Polkas e Valsas Mais em Voga, do Imperial Estabelecimento de Músicas e Aguas Mineraes Vva. Filippone & Filha), é plausível supor uma encomenda de A Fonte do Lambary por intermediação da Viúva Filippone, ou da Viúva Filippone a Nazareth, como forma de agradar seu fornecedor, ao mesmo tempo que seria distribuída entre os fregueses das águas minerais. Suposições.
Teria sido a música intencionalmente composta como propaganda da Água de Lambary? Tenha sido oferecida ou dedicada à empresa a exibição do nome da marca no título da composição era de fato uma forma de divulgação:
Para quem recebesse, ou mesmo adquirisse, uma partitura com o nome de um produto ou estabelecimento, pode-se presumir que o fato da partitura ser “oferecida, pelo compositor, à empresa tal” ou ser “oferecida, ao comprador, pela empresa tal” seria um aspecto menos relevante. O que teria relevância era o título da partitura: A Fonte do Lambary – nome a ser lembrado. O fato de os proprietários da Empresa das Águas do Lambary eventualmente terem utilizado a partitura de Ernesto Nazareth como um brinde para distribuição entre seus fregueses tornaria mais explícita e contundente sua função comercial. Caso a partitura não tenha sido utilizada como brinde, ainda assim, de modo involuntário e não proposital, houve exposição da marca através da partitura.
(Fonte: Ernesto Nazareth: o músico e as marcas. Alexandre Dias e Luiz Antonio de Almeida)
A partitura (melodia e cifra) pode ser vista nestes links:
Veja no Youtube A Fonte do Lambary executada em piano e flauta, e também por Ronaldo do Bandolim (conjunto de choro):
Gravação para conjunto de choro no excelente
disco do Ronaldo do Bandolim, lançado em 2008 - aqui