Apresentação
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Vocabulário de Aguinhas
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
À la Sion: À moda do Sion. Letra à moda do Sion: maneira elegante e caprichada de escrever ensinada às alunas dos colégios Sion.
A leite de pato(a): Jogar de brincadeira, sem valer nada.
À riviria: Corruptela de à revelia, com o sentido de grande quantidade, fartura, exagero,descontrole.
Às encobertas: Às escondidas.
Afinar: Desistir da briga, pedir penico. Não disputar bola dividida por medo de contusão.
Abusão: Superstição.
Afissurado: Ansioso, sôfrego, ávido. Apressado.
Às gatas: A todo custo [à gata].
Abatumado: Entristecido, preocupado, tristonho.
Açangalha: letra ruim, mal traçada.
Acanhoso: Envergonhado.
Acometer: Saltar. Adiantar-se impetuosamente. Lançar-se, abalançar-se, aventurar-se.
Água-de-batata: Café ralo, água-choca.
Água de barrela: Água em que se ferve cinza que é usada para branquear roupa.
Água-doce: Qualquer um; mal conhecedor das coisas.
Alcaide: Prefeito. Diz-se, também, de objeto velho, feio, fora de moda, desusado, imprestável. Ou de resto de mercadoria que não tem venda, encalhe.
Afincado: Pertinaz, teimoso, aferrado
Afundar chão: Caminhada a cavalo.
Amarrar (a caça): Estacada que o cão de caça dá quando avista uma presa, permanecendo imóvel até a chegada do caçador.
Andar de bonde: Andar de braços dados. [Gíria ocorrente em Aguinhas.]
Andar de latinha: Caminhar sobre latinhas (geralmente de massa de tomate), nas quais se fez um furo e se passou um barbante para encaixar o dedão do pé e controlar os passos.
Andejo: Que não para em casa, que anda de uma parte a outra.
Angulê: Polenta mole com carne moída e molho de tomate.
Aranzel: Arenga, lengalenga, discurso demorado e chato.
Arapuca: Casa velha, esburacada, caindo aos pedaços.
Arnela: toco de dente colado à gengiva.
Arreganho: Ameaça, intimidação.
Arrego: Ato de render-se, entregar-se. Ajuda: Sofreu, e não pediu arrego.
Arrimar: Encostar, apoiar, escorar.
Arrochado: Apertado, em dificuldade por falta de dinheiro.
Atacado dos ventos: Pessoa que tem problema de gases.
Atochado: Completamente cheio.
Atopetado: Muito cheio, abarrotado.
Aturar: Durar, resistir.
Azulego: Cavalo de pelo escuro, com pintas miudinhas, brancas e pretas.
(*) Fontes de consultas principais: Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda - Aurélio Eletrônico, Século XXI - Dicionário de Vocábulos Brasileiros, Beaurepaire-Roban - O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral - Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa - Novo Dicionário da Gíria Brasileira, Manuel Viotti.
(**) Este Vocabulário de Aguinhas faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Índice da Série Vocabulário de Aguinhas
Ilustração: foto de Américo Werneck constante do livro Judith (1912) de sua autoria
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Dados biográficos de Américo Werneck
Werneck amava Lambari, aqui viveu e participou ativamente de sua vida política. No ano de 1909 foi nomeado seu primeiro prefeito. O arrendamento que fez ao Estado de Minas Gerais, em 1912, para explorar a estância de Águas Virtuosas, durou até 1915, período em que realizou as obras do cassino, do lago, do farol, da cascata e muitas outras mais. A rescisão desse contrato resultou num litígio histórico, em razão dos brilhantes juristas que participaram da causa, entre eles, Rui Barbosa, J. X. de Carvalho Mendonça, Esmeraldino Bandeira, Heitor de Souza e Edmundo Lins, esses dois últimos membros do Supremo Tribunal Federal. Tal caso ficou conhecido como a Questão Minas x Werneck. [2]
No Museu Américo Werneck, em Lambari, há um volume do livro Um punhado de verdades, publicado por Werneck em 1923. Nesse livro, fica-se sabendo que ele começou a estudar a codificação de Alan Kardec em 1905, e que foi estudioso e experimentador dos fenômenos psíquicos. Sua obra nesse campo, intitulada O Espiritismo perante a Sciencia, foi escrita em 4 volumes; no primeiro – Um punhado de verdades – aborda a questão sob o aspecto político, jurídico, social e religioso; no segundo – Através de Lombroso – expôs os estudos do psiquiatra italiano; no terceiro – No campo das Hyphoteses – analisou as teorias de Sage e outros; e no quarto, sem título, apresentou suas próprias experiências realizadas com o médium José de Araujo. Ao que se sabe, o último volume não foi publicado.
Vê-se, assim, que Werneck não era positivista, pois Um punhado de verdades encerra uma bela confissão de fé na doutrina codificada por Kardec e uma extraordinária defesa dos postulados espiritistas. Nesse livro, Werneck anotou: “Ao espiritismo, que... dizem ser obra do diabo, devo as maiores consolações da vida.” [3]
[1] MILEO, José N. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Gráfica Vila,1970;
MARTINS, Armindo. Lambari - Cidade das Águas Virtuosas. Rio de Janeiro : Linográfica Rio, 1971;
CARROZZO, João. História Cronológica de Lambari. Piracicaba, SP : Shekinah Ediotra, 1998.
[2] BARBOSA, Rui. Questão Minas x Werneck. Obras Completas de Rui Barbosa. Volume XLV 1918 – Tomo IV e V. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.
[3] PORTUGAL, Henrique Furtado. Velho livro de Américo Werneck. O Triângulo, Uberlândia, MG, 19 nov. 1974.
E-book disponível gratuitamente aqui: https://rl.art.br/arquivos/7457112.pdf
O Cassino de Lambari foi construído pelo primeiro prefeito da cidade, Américo Werneck, num curto período de tempo: de junho de 1909 a maio de 1911. Inspirado em castelos europeus, ele constitui a obra prima do engenheiro, escritor e político Américo Werneck e fazia parte do projeto que visava a dar à cidade um ar de estância europeia e torná-la um grande centro de turismo. Projetado pela firma Poley & Ferreira, do Rio de Janeiro, com linhas arquitetônicas de um gosto apurado, de estilo barroco e neoclássico, o prédio ocupa uma área de 2.800 m2 e situa-se defronte a um lago artificial, que era iluminado por um farol e oferecia aos turistas legítimas gôndolas de Veneza para passeios. Num período de enormes dificuldades de transporte, o edifício foi construído com materiais importados que chegavam por meio da via férrea; assim, vieram: cimento e telhas, da França; ferragens, ladrilhos e peças de banheiro, da Inglaterra; pinho-de-riga, da Lituânia; pisos e forros, da Ásia. O Cassino é dotado de amplos salões para bailes, concertos, leituras, todos decorados de forma requintada e luxuosa: rico mobiliário, inclusive aqueles destinados aos jogos, imensos lustres de cristal, candelabros com volutas douradas e festivas, quadros japoneses emoldurados de motivos florais e ornitológicos. É de se destacar, ainda, o Salão Japonês, construído e decorado com maestria por artistas japoneses, cujo teto ostenta uma obra de arte na forma de um dragão, além de quadros de fundo de laca com gaviões de marfim e madrepérola e quadros orientais autênticos, de legítimo charão, representando as estações e os meses do ano.
Foi inaugurado em 24 de abril 1911 pelo então Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, estando também presente o Governador do Estado, Júlio Bueno Brandão. Como Cassino, funcionou uma única noite, visto que, logo a seguir, o projeto malogrou em face da rescisão do contrato de arrendamento que Américo Werneck fizera ao Estado de Minas Gerais para explorar a estância de Águas Virtuosas (atual Lambari). A rescisão desse contrato resultou num litígio histórico, em razão dos brilhantes juristas que participaram da causa, entre eles, Rui Barbosa, J. X. de Carvalho Mendonça, Esmeraldino Bandeira, Heitor de Souza e Edmundo Lins, esses dois últimos membros do Supremo Tribunal Federal. Tal caso ficou conhecido como a Questão Minas x Werneck (BARBOSA, Rui. Questão Minas x Werneck. Obras Completas de Rui Barbosa. Volume XLV 1918 – Tomo IV e V. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.) [1]
[1] Esses dois livros podem ser vistos no Museu Américo Werneck, em Lambari.
Veja no Google Books referências a essa obra de Rui Barbosa, clicando aqui: Questão Minas X Werneck
Sobre Américo Werneck, veja também:
- Rui Barbosa e a Questão Minas X Werneck - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4299669
- Dados biográficos de Américo Werneck - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36346
- Um artigo sobre Américo Werneck - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37329
- Resumo biográfico de Américo Werneck - Prefeitos de Belo Horizonte/Biografia