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08/05/2017 15h28
Memórias de Aguinhas - As versões de A LENDA DE ÁGUAS VIRTUOSAS

Ilustração: Painel histórico de Águas Virtuosas do Lambary, existente nos Supermercados BH em Lambari, MG


SUMÁRIO


Apresentação

Como se sabe, em A LENDA DE ÁGUAS VIRTUOSAS narra-se que uma jovem de nome Cecília adoeceu e, tendo feito uso da água virtuosa, curou-se de seus males. Em agradecimento, pediu, então, ao pai que erguesse uma capelinha em homenagem à Nossa Senhora da Saúde.

O fundo mítico-religioso dessa estória: a fé na Virgem Santíssima e os poderes curativos milagrosos atribuídos às águas virtuosas – em cima do qual se construiu a lenda – veio naturalmente da tradição oral que surgiu nas primeiras décadas do Século XIX, logo após a descoberta das águas.

Com efeito, com a descoberta das fontes, as virtudes miraculosas da água medicinal [1] passaram a ser apregoadas por todos, e elas começaram a ser designadas, já a partir de 1801, por águas santas. [8] A expressão águas virtuosas começa a ser utilizada a partir de 1805, e acabou por nomear toda a região detrás da serra da Campanha por aquele nome: Águas Virtuosas[8] E também a serra divisória entre Campanha e Lambari passou a ser conhecida, desde 1805, como Serra da Água Virtuosa ou Água Santa da Campanha. [1]

Desse modo, foi possivelmente a crença e a fé populares que associaram os efeitos medicinais e curadores da água aos milagres da Virgem Maria, como ficou assentado nos costumes devocionais católicos da Região das Águas Virtuosas. Aliás, a lenda bem apanhou esse aspecto: a cura de Cecília associa-se à devoção da Virgem Maria.

Segundo o monsenhor e historiador José Lefort [1], o criador da lenda teria sido Américo Werneck, que o fez para efeito de propaganda das águas minerais.

Mas há, também, derivadas daquela, as versões de Armindo Martins e João Carrozzo, memorialistas de Águas Virtuosas do Lambari.

É o que veremos a seguir.


Veja também

  • A expressão ÁGUAS VIRTUOSAS - aqui
  • Àguas Virtuosas do Lambary e Nossa Senhora da Saúde - aqui

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Versão atribuída a Américo Werneck

O primeiro texto escrito da lenda sobre os poderes curativos das águas de Lambari , de que se tem notícia, apareceu em O Lambary, de 18/12/1910, cujo autor adotou o pseudônimo de Gratz.

Se considerarmos os aspectos relativos à data — 1910 — e ao estilo literário [2], essa é a possível versão escrita por Américo Werneck, num esforço de propaganda das águas minerais [1], quando veio a residir em Águas Virtuosas do Lambary e trabalhou com o Dr. Garção Stockler, criador da estância de Águas Virtuosas e primeiro grande propagandista das águas de Lambari. (aqui)

Esta versão pode ser examinada aqui

Veado pastando junto às sete quedas, 1910. Fonte: Museu Américo Werneck – Lambari, MG


  • GRACIEMA - por Américo Werneck, TYPOGRAPHIA LEUZINGER, Rio, 1920

Que dizes? Não é bella e fantastica a lenda de nossa infancia?

(AMÉRICO WERNECK. Graciema)

          É de notar-se que numa passagem do romance Graciema (págs. 327/30), Werneck narra uma lenda, na qual vamos encontrar diversos elementos semelhantes à lenda de Águas Virtuosas, tais como: um casal apaixonado, mata virgem, cachoeira, um fato miraculoso e a aparição de Nossa Senhora.  

          De fato, ele narra que os personagens Juracy e Mário, que passeavam de barco por um rio cercado de matas, resolvem visitar uma cachoeira lá existente. E lá chegando, Juracy conta a Mário uma lenda acerca da infância de ambos: eles haviam sido achados, quando bebês, nesta cachoeira.

          Continua Werneck narrando que, primeiramente, Mário foi encontrado por sua mãe, Hemergarda. Tempos depois, a mãe de Juracy, que não conseguia se engravidar, e orava muito a Nossa Senhora, teve um sonho. Nesse sonho aparece um anjo, que a conduz por longa e dificultosa caminhada numa noite fria, levando-a até essa mesma cachoeira.

          E Werneck põe na boca da personagem Juracy as seguintes palavras:

        Pois bem; já mamãi desconsolada se dipunha a regressar á sua vivenda, quando em cima d'aquelle penhasco appareceu a figura esbelta de Nossa Senhora. Uma lindeza, Mario. Um halo deslumbrante irradiava-lhe da cabeça. Seu manto azul, salpicado de estrellas, era feito de um retalho do céo. Olhou para minha mãi e disse: — "Ouvi tua prece. Para dar-te uma filha digna de tua fé, moldei-a nos idéaes mais limpidos do paraiso, e animei-a com o meu proprio sorriso. Dá-lhe o nome de Juracy, que significa estrella dos labios; ella despertará sempre a alegria em todos e será no mundo o emblema da pureza" . 

(Mantida a grafia original do romance)

Reprodução. Ilustração do livro Graciema, p. 330.

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Versões de Armindo Martins

O livro de Armindo Martins – Lambari, cidade das Águas Virtuosas – teve duas edições: 1949 e 1971. Nessa última edição, o texto sobre A Lenda de Águas Virtuosas aparece ligeiramente alterado em relação à 1ª. edição.

Abaixo reproduzimos ambas as versões:

 

Versão da 1a. edição, 1949, p. 25.



     

Versão da 2a. edição, 1971, págs. 17 e 18.

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Versão de João Carrozzo

A versão de João Carrozzo, bastante elaborada, apareceu em 1964, na 1a. edição do seu livro Lambari (Outrora: Cidade de Águas Virtuosas da Campanha), que teve mais duas edições: 1977 e 1985.

Ela também foi reproduzida em 1988 neste seu outro livro: História cronológica de Lambari. 

 


 

A versão abaixo foi retirada do livro Lambari, 3a. edição, páginas 35 a 40:

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Fatos históricos e a lenda

Baseados em Francisco Lefort [1], vejamos os fatos históricos, alguns deles apropriados e deformados pela lenda:

  • Antônio de Araújo Dantas realmente existiu. Era um caboloco, nascido em Campanha e batizado a 21 de fevereiro de 1741. Filho de Francisco de Araújo Dantas e de Catarina Pedrosa de Almeida, vindos de Pitangui para Campanha, logo após o descobrimento de Cipriano J. da Rocha (fundador do Arraial de São Cipriano, em 1737, que deu origem a Campanha).
  • Foi nas terras de Antônio de Araújo Dantas, entre 1780 e 1790, que foram descobertas as minas das águas minerais.
  • No início dos anos 1800, o Poder Público de Campanha adquiriu de Antônio de Araújo Dantas 12 alqueires de terreno, para proteção das fontes.
  • No entorno das fontes, surgiu um povoado, depois vila, depois freguesia e, por fim, município — a atual cidade de Lambari.
  • Antônio de Araújo Dantas é nome de uma rua em Lambari.
  • Cecília, seu pai Antônio Trancoso, e seu noivo Tancredo são personagens fictícios. A família Trancoso teria vindo de Passos, mas não havia nenhuma família Trancoso em Passos nem no Sul de Minas.


Fonte: Ruas de Lambari, MILEO, 1970, págs. 36-37

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Referências

  1. LEFORT, José do Patrocínio. A Diocese da Campanha. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de MG, 1993, p. 206.
    1. Escreveu LEFORT:  "Sem fundamento algum, a não ser a imaginação fantástica de um contista, é a lenda de Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, [que] teria feito uso da água e se curado de um mal grave. É estoria de Werneck para efeito de propaganda, pois não existia a família Trancoso nem em Passos nem no Sul de Minas." [A sublinha é do original.] 
  2. O estilo e as obras literárias de Américo Werneck podem ser vistos no post  AS OBRAS LITERÁRIAS DE AMÉRICO WERNECK, publicado aqui
  3. MARTINS, Armindo. Lambari, cidade das Águas Virtuosas, 1949.
  4. MARTINS, Armindo. Lambari, cidade das Águas Virtuosas. Rio de Janeiro, Linográfica Rio Ltda., 1971.
  5. CARROZZO, João. Lambari (Outrora: Cidade de Águas Virtuosas da Campanha) - 3a. edição, 1985
  6. CARROZZO, João. História cronológica de Lambari - Piracicaba, SP,  Editora Shekinah, 1988
  7. MILEO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP, Graficávila, 1970.
  8. MILEO, José Nicolau. Subsidios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP, Graficávila, 1970.

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Publicado por Guimaguinhas
em 08/05/2017 às 15h28

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