Ilustração: Cassino de Lambari, detalhes da fachada. Fonte: Site IEPHA/MG
Sobre o nosso Cassino já publicamos diversos posts, como estes:
Neste post vamos comentar a reforma por que vem passando o Cassino de Lambari e sua destinação para instalação do Museu das Águas.
Confira.
As “águas virtuosas” desabrocharam a povoação que se fez sobre as propriedades terapêuticas de suas fontes. A partir de 1909, iniciou-se uma nova fase para a antiga Águas Virtuosas.
A Lambari atual tem sua origem em 1909, fruto do sonho visionário de um homem, e do apoio do Estado, que viu na pequena estância hidromineral o potencial para se tornar o maior complexo de lazer do país, uma “Vichy” brasileira em nada inferior aos balneários europeus. O símbolo máximo deste sonho, o Cassino, imponente edifício que impressiona ainda hoje pela grandiosidade e beleza de suas linhas, domina a paisagem da pequena cidade. Este grandioso edifício, destinado a se tornar o maior templo da indústria de entretenimento do pais, símbolo da ousadia empreendedora do Dr. Américo Werneck, infelizmente não conheceu as glórias sonhadas. No entanto, resistindo ás intempéries políticas e contendas humanas, chegou até nossos dias ainda em sua arrogante magnitude merecendo do povo mineiro o seu reconhecimento como patrimônio cultural do Estado.
Carlos Henrique Rangel (Historiador)
Transformar a acanhada Vila de Águas Virtuosas numa estância hidromineral moderna, capaz de concorrer com as melhores da Europa — o sonho de Américo Werneck foi longamente visionado por mais de 20 anos.
De fato, desde que chegara a Águas Virtuosas de Lambary, em 1889, começou a devanear essa possibilidade. E nos anos seguintes, empregou todos os seus recursos — o gênio criador, a formação técnica, a atividade parlamentar, os contatos políticos, o trânsito no mundo das letras, o relacionamento com a imprensa — na realização da maior de suas fantasias.
O sonho começou a ser realizado quando, com o apoio político e financeiro do Governo de Minas, nas figuras de Wenceslau Braz e Bueno Brandão [presidentes do Estado em 1909/10 e em 1908/09 e /1910/14, respectivamente], contratou a empresa carioca Poley & Ferreira para projetar as edificações e melhorias, transformando a vila modesta, por cerca de 2 anos, num formidável canteiro de obras.
Parte desses projetos foram inaugurados em 24 de abril de 1911, e entre eles a joia do conjunto imaginado por Werneck - o Cassino.
Com linhas arquitetônicas de um gosto apurado, de estilo barroco e neoclássico, o prédio ocupa uma área de 2.800 m2 e situa-se defronte a um lago artificial, que era iluminado por um farol e oferecia aos turistas legítimas gôndolas de Veneza para passeios.
Cassino é palavra originária do italiano casinó, com o mesmo significado: Casa ou lugar de reunião para jogos de azar, geralmente com espetáculos de música e dança.
Frontão da fachada principal do Cassino de Lambari (Reprodução: estilonacional.com.br)
Era isso que se esperava fosse o nosso Cassino do Lago, a mais bela obra de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico pensado e construído por Américo Werneck.
Mas assim não se deu. Na verdade, no cassino de Lambari, os caça-níqueis, as roletas e as mesas de apostas só funcionaram na noite da inauguração, e assim mesmo de forma parcial, visto que havia equipamentos de jogos e diversões ainda incompletos e/ou não instalados, e problemas na iluminação do imóvel. E foi nesse estado que a obra foi inaugurada em 24 abril de 1911.
Pouco mais de um ano depois, isto é, em 16 de maio de 1912, quando Werneck arrendou ao Governo de Minas a estância de Águas Virtuosas, as obras e instalações do cassino ainda não tinham sido concluídas. E, a partir de 27 de junho de 1913, data em que teve início a discussão judicial do contrato de arrendamento citado, nada mais se fez nas décadas seguintes para completar o projeto original.
Retomado em 1922 pelo Governo do Estado, o prédio passou pelas mãos de órgãos estaduais e da municipalidade. Nesse tempo, sofreu diversas reformas, que descaracterizaram áreas internas, mas mantiveram a originalidade da fachada.
Atualmente, o prédio passa pela quinta reforma de sua história, uma reforma predial e restauração de seus interiores, e nele se pretende instalar o Museu das Águas. Confira:
Descrições do Cassino de Lambari
Veja algumas descrições do Cassino de Lambari:
Segundo o historiador Carlos Henrique Rangel [4], ao longo das décadas, o Cassino de Lambari passou por algumas reformas, a saber:
Mas permaneceu fechado até meados de 2024.
Transferência para a Prefeitura Municipal de Lambari
Como visto acima, após longa espera e demorada reforma, que atravessou dois governos, o Cassino de Lambari permaneceu fechado de 2019 a meados de 2024, sem que nenhuma finalidade apropriada lhe fosse dada.
Agora, junho de 2024, Cassino de Lambari foi oficialmente transferido à Prefeitura de Lambari.
Em junho de 2024, o Cassino foi oficialmente transferido para a Prefeitura de Lambari
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(*) Veja: O Cassino de Lambari e a homenagem ao sol - aqui
Diversos usos do Cassino de Lambari
Na sua longa vida de mais de 100 anos, o Cassino foi objeto de diversas ocupações e funções, a maioria fora do plano original, intercaladas por períodos de abandono e subutilização. Entre os usos dados a ele, podemos citar:
A todo esse descaso, deve-se juntar também um incêndio ocorrido em 2000, num dos cômodos do andar térreo, que consumiu inúmeros livros ali guardados. Felizmente, o incêndio foi contido e não houve maiores danos ao imóvel. (Veja aqui)
O conjunto arquitetônico e paisagístico do Cassino
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Cassino de Lambari compreende o Lago Guanabara, o Farol e o Parque Wenceslau Braz.
Atualmente o prédio do Cassino é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural pelo município (Decreto 1.059/2000) e pelo IEPHA-MG (Conselho Curador do IEPHA/MG em 14 de agosto de 2002).
Confira: Site do IEPHA-MG - Tombamento do Cassino - aqui
O Cassino no Guia de Bens Tombados do IEPHA/MG
O volume 2 do Guia de Bens Tombados, do IEPHA/MG, traz um belo texto de Ailton Santana sobre o nosso Cassino.
Confira nas págs. 129-32, neste link aqui
Reprodução: texto sobre o Cassino de Lambari, no Guia de Bens Tombado, vol. 2, do IEPHA/MG
Gustavo Barroso, professor, ensaísta e romancista, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais de 120 livros de história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaios, além de dicionário e poesia, frequentou Lambari durante décadas e aqui possuía o Retiro do Lago — sua casa de veraneio, a qual visitava 8 temporadas por ano.
Pois bem, em 1952, Barroso dirigiu carta ao então Governador de Minas, Juscelino Kubitschek, propondo a transformação do Cassino de Lambari em um Museu Folclórico, e oferecendo ajuda para tal desiderato.
Recorde-se que o conhecido museólogo possuía capacidade técnica e gerencial para auxiliar na concepção e execução do projeto, visto tanto seus estudos, ensaios, assessoria e prática na área de história, museologia e folclore, como sua experiência como fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. Veja aqui
Confira esta carta na íntegra:
Cópia datilografada - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Rascunho manuscrito - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso
Veja aqui o projeto do Museu das Águas, que deveria ter sido implantado no Cassino de Lambari, mas que não vingou, infelizmente.
Outros textos e referências sobre o Cassino de Lambari