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17/12/2020 07h41
A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS (2) Uma disputa na Quadra da S.O.L

Ilustração: Capa do livro  A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS, a ser brevemente lançado. As figuras correspondem aos personagens Maria Bela, Serelepe e Espicula.

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APRESENTAÇÃO

No número 1 desta Série A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS, falamos sobre os bastidores e os cenários da história (AQUI).

Hoje apresentamos a capa do livro, a ser lançado no próximo ano, e um trechinho da história.

Vamos lá.

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CONTEXTO 

Como dissemos no post anterior desta série, a esquina da Tiradentes é o ponto de partida desta história, pois era lá

onde se reunia um grupo de meninos e meninas — a Turma da Tiradentes — que eram muito unidos, ativos e arteiros, e que, para se defender de um grupo rival agressivo e malvado, tiveram que fazer uma guerra — que ficou conhecida nas tradições de Aguinhas como A guerra das espingardinhas.

Pois bem, um dos encontros da nossa turma com elementos da Cupincharia dos Boys  o grupo rival — se deu na antiga Quadra da S.O.L., durante uma partida de futebol.


Anos 1960. Time de futebol de salão mirim. Quadra da S.O.L. Lambari, MG, com o prof. Carlinhos Castilho. Na foto, aparecem Xandi (primeiro em pé) Magrelo (quarto em pé) e Xepinha (último agachado), personagens da história

*S.OL. - Sociedade Olímpica Lambariense


 

Alexandre, Zé Elias e Guima, do time Juvenil do Águas Virtuosas, personagens da história


Time Mirim do Águas Virtuosas - 1966. Na foto: Andrezinho, Zé Maria, Xepinha, Rubinélson e Roberto (os nomes em negrito são de dois personagens da história)


Confira a narrativa deste encontro, feita pela personagem Maria Bela, "criadeira de caso, mandona e goleira do time":

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DISPUTA NA QUADRA DA S.O.L.

A partida estava quente:

o time adversário, formado pelos meninos

que não eram da rua, começou a achar que eles estavam

ridicularizando, dando dribles humilhantes a toda hora... 

(Lucília Junqueira de Almeida Prado.  Uma rua como aquela)


Numa bela tarde de verão, antes da aula de educação física, a turma se reuniu na Quadra da S.O.L. para conversar e bater bola – as meninas de mistura. Logo, dois times se formaram e a brincadeira se tornou mais disputada e divertida. Eu estava no gol do time do Serelepe; Nice, pegava no gol do time do Binelson.

Mas a alegria pouco durou, pois Formigão, Pele-e-osso, Voçoroca e Mola-Solta, assim chamado por causa do tique de estalar o pescoço e balançar a cabeça, acompanhado de mais três elementos da Cupincharia dos Boys, chegaram, tomaram a bola e puseram termo ao nosso jogo. E como precisavam ter um pé pra armar confusão, Formigão disse:

Se quisé a bola de novo, cêis têm que disputá ela  cunosso time. Se perdê, perde a bola, se ganhá, a gente devolve.

Então me adiantei, e, decidida como sempre, falei pro valentão:

– Olha aqui, Formigão, seu covarde de uma figa! Por que não enfrentam gente do seu tope, como a turma do Muque, em vez de atazanar nossa vida? Mas tudo bem, se for jogo de bola, sem canelada e roubalheira, nós enfrentamos vocês. Dois tempos de quinze minutos, vamos lá!

Eu mesma escalei nosso time: Eu, Maria Bela, no gol, Serelepe e Magrelo na zaga, Binelson e Xandi no meio e Xepinha na frente. Zé Elias e Careca aguardam na reserva, que vão entrar no segundo tempo. E o jogo começou.

Como era de se esperar, a turma do Formigão era só pancada, bicuda e jogo sujo. Técnica que é bom, eles não tinham. Formigão tentava toda hora dar caneta no Serelepe, mas não conseguia, que Serelepe era grande marcador. Mas tivemos de fazer duas trocas por contusão; numa o Formigão, com aquela testa de bater sola, cortou a fronte do Xandi; noutra, Pele-e-osso quase arrancou a unha do Binelson. Em compensação, o Magrelo deu uma travada no Voçoroca, que deixou ele por um bom tempo pulando numa perna só. Em jogo duro, não se pode afinar, isso a gente sabia.

E a disputa seguia. Gol cá na força e correria, gol lá na técnica e habilidade. Partida disputada, jogo parelho, escore apertado, mas era preciso vencer a partida, para recuperar nossa bola, pois Formigão, vendo que não ia ganhar a disputa, mudou a regra e gritou: – O empate é nosso, frangotes!

Finzinho da partida, jogo empatado, e eles vieram num contra-ataque fulminante, Formigão à frente, em desabalada carreira, atropelou o Careca, que entrara no lugar do Magrelo, que se machucara, e ao se aproximar do gol, armou a bicuda e gritou:

– Sai, língua-de-pimenta, que lá vai bomba!

E eu, que trazia debaixo da língua resposta pra tudo, retruquei na lata:

– Língua-de-pimenta é a mãe!

Isso mais aumentou a ira do Formigão, que fez cara feira, acelerou a passada e veio que veio feito uma bala. Dei, então, um passo à frente, abri os braços e esperei a pancada, gritando:

– Vem, frouxo, que aqui tem tutano!

Foi quando Serelepe, na cobertura (acho que vendo uma donzela em perigo...), deu um carrinho daqueles que só ele sabia dar: e jogou Formigão, bola e valentia por cima do mureta da quadra. E foi um bafafá: segura um, segura outro, Formigão e Mola-Solta querendo pegar o Serelepe.

Nossa salvação foi a chegada da dona Terezinha Machado, professora de educação física e mãe do Magrelo. Ela tomou tento da disputa, pegou a bola, marcou falta do Serelepe e deu um minuto pro jogo terminar. Formigão falou: – Tudo bem, falta, mas sem barreira! E carcou uma bicuda no ângulo! Eu voei na bola, nem espalmei, segurei a bichinha com as duas mãos, dei uma piscadinha pro Formigão, e entreguei a bola pro Serelepe, que abrira na lateral. Ele meteu de três dedos no Zé Elias, no outro lado da quadra, que balançou o corpo, e mesmo mancando, em razão da bicuda que levara na barriga da perna, cortou o Voçoroca e enfiou pro Xepinha.

Formigão desenfreou quadra abaixo, que nem mercedão na banguela, e partiu pra cima do nosso craque, que fez o que sabia fazer como ninguém: driblar. Pois Xepinha, ao receber a bola, deu uma bicudinha, a pelota levantou, e ele aplicou no brigão uma rouparia inteira de lençóis: da direita pra esquerda, da esquerda para direita, e desta novamente para a esquerda, e, antes que a bola caísse, fuzilou o gol.

Fim de jogo e Formigão, ainda tonto, olhando pra cima, vendo se achava a bola, babava e rosnava como cão raivoso, mas não pôde fazer nada. Dona Terezinha apanhou a bola e nos devolveu, passou uma bela carraspana no Formigão e sua turma e rematou: – Cêis levanta a mão pro céu de eu não contar nada pra diretora dessa vez, pois, com a ficha que cêis tem, era suspensão na certa!

Essa Dona Terezinha tinha um grande coração!

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REFERÊNCIAS

  • GUIMARÃES, Antônio Lobo [pseudônimo literário de Antônio Carlos Guimarães]. Edição do Autor, Lambari, MG, 2021
  • O mais triste dia da vida dos meninos botafoguenses. Site Guimaguinhas - aqui
  • Museu Américo Werneck

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Publicado por Guimaguinhas
em 17/12/2020 às 07h41

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