Ilustração: Reprodução. Capa do livro História antiga das Minas Gerais, de Diogo de Vasconcelos, com introdução de Basílio de Magalhães
Duvido haja no Brasil quem possua e guarde, mais carinhosamente do que eu, tantos elementos relativos à esta encantadora estância, quer no tocante ao seu mais remoto passado, quer no seu imerecido infortúnio presente.
BASÍLIO DE MAGALHÃES
Sobre BASÍLIO DE MAGALHÃES — famoso historiador, filósofo, lexicógrafo, político, escritor, jornalista, professor, poliglota (que falava também o tupi-guarani) — que durante muitos anos fez estações de águas em Lambari e depois passou a residir entre nós — já escrevemos toda uma série de posts (aqui).
BASÍLIO escolheu Lambari para viver, aqui quis ser enterrado (em 1957) e por diversas vezes declarou seu amor por nossa cidade, como neste trecho:
meu comprovado amor por esta aprazível estância (da qual me desvaneço de ser tido em conta de filho adotivo). [MAGALHÃES, 1948]
Daí porque ter dito também:
Duvido haja no Brasil quem possua e guarde, mais carinhosamente do que eu, tantos elementos relativos à esta encantadora estância, quer no tocante ao seu mais remoto passado, quer no seu imerecido infortúnio presente. [MAGALHÃES, 1950]
BASÍLIO DE MAGALHÃES E A HISTÓRIA DE LAMBARI
De fato, como historiador renomado e bibliófilo extraordinário — sua biblioteca chegou a ter mais de 30.000 volumes, dos quais cerca de 3.000 v0lumes foram doados à biblioteca municipal — infelizmente, esses últimos, quase todos perdidos — BASÍLIO também se interessou pela história de ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI e das ÁGUAS MINERAIS DE LAMBARI, mas, ao que sabemos, não chegou a escrever extensivamente sobre esses temas.
Em dois artigos do historiador que colhemos, há referências ao material que colecionou sobre nossas origens históricas, quais sejam:
1. Política de Lambari - A eleição municipal de 23 de novembro e a defesa da administração decenal (1936-46) do prefeito dr. João Lisboa Júnior. 1948
2. Lambari, cidade das Águas Virtuosas [Análise crítica do livro de Armindo Martins, editado em 1949]. 1950.
Nesses artigos, MAGALHÃES fez as seguintes referências à nossa história:
Vejo-me ainda forçado a fazer referência a outro documento, que chegou às minhas mãos em janeiro do ano recém-começado [1948], a que devo a gentileza do dr. Hélio Salles: a entrevista dada pelo novo prefeito de Lambari ao "Diário da Noite" e inserta neste a 23 de dezembro de 1947. Lamento que no conceituado jornal carioca hajam saído tantos erros graves, como os topônimos Baden-Baden e Royart, em vez de "Royat" e "Badnauheim", tendo eu oferecido à biblioteca da Prefeitura há cerca de dois anos, um opúsculo em alemão, lindamente ilustrado a cores, sobre a última das citadas estâncias européias.
(MAGALHÃES, 1948)
(...) mantendo ele [Armindo Martins] comigo antigas e cordiais de confraternidade jornalística, não lhe custava recorrer ao meu saber de experiências feitos e à minha bem provida biblio-hemeroteca, parte no Rio e parte aqui, no concernente à história, à geografia e às águas medicinais deste rincão sul-mineiro. Duvido haja no Brasil quem possua e guarde, mais carinhosamente do que eu, tantos elementos relativos à esta encantadora estância, quer no tocante ao seu mais remoto passado, quer no seu imerecido infortúnio presente.
Não só eu lhe teria fornecido cópia da melhor e mais recente análise das águas minerais daqui, trabalho a que procedeu gratuitamente um dos mais abalisados cientistas, o professor emérito ... o sr. Martins corrigindo suas páginas 18 e 19 o correto emprego deste adjetivo da Faculdade Nacional de Filosofia, o meu preclaro amigo Dr. Djalma Hasselmann, como lhe permitiria preencher algumas lacunas de sua "Bibiliografia" de página 133. Mais ainda: estou que obteria permissão do meu eminente consócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o Dr. Virgílio Corrêia Filho — cujo trabalho sobre Lambari saiu primeiramente no Jornal do Commercio de 2 de março de 1947, e, depois, acompanhado de copiosas ilustrações, às páginas 521-553 do n. 4 do ano IX. Outubro-Dezembro de 1947, da "Revista Brasileira de Geografia" — para que o Sr. Martins se utilizasse, transcrevendo-a em seu livro, do excelente mapa de página 522 (...)
Um dos documentos mais velhos que possuo (devo-o à gentileza de Júlio Pinto) é a cópia de um artigo intitulado "As Águas Virtuosas de Lambari" e assinado "S. B.", dado à estampa em 30 de agosto de 1861, no n. 9 do Ano II, de "O Sul de Minas", dirigido então na Campanha por João Pedro da Veiga Sobrinho. É um apelo sensato e patriótico dirigido ao governo provincial, em prol da capacitação das fontes medicinais e da urgente realização dos melhoramentos desta linda estância. Tenho ainda a fortuna de possuir o n. 4 do tomo XXVI dos "Anais Brasilienses de Medicina" de Setembro de 1874, e cujas páginas 150-160 são consagradas às "Águas Virtuosas da Campanha", isto é, de Lambari. Aí é que vem (começa à página 125) o "Relatório da análise qualitativa e quantitativa das águas minerais de Baependi e da Campanha, na Província de Minas Gerais", pela respectiva comissão. Compunha-se esta dos Drs. Ezequiel Correia dos Santos, Agostinho José de Souza Lima e José Borges Ribeiro da Costa.
(MAGALHÃES, 1950)
ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI — UMA HISTÓRIA TÃO RICA — E UMA MEMÓRIA TÃO POBRE!
Como referimos acima e já contamos no post LITERATURA DE AGUINHAS - A biblioteca de Basílio de Magalhães (aqui), quase todos os mais de 3.000 livros que Basílio doou à biblioteca municipal de Lambari se perderam, e entre eles — desviada, vendida, queimada — foi-se parte extraordinária da memória de nossa cidade.
E, como a tornar inesquecível tão inestimável perda, a nossa biblioteca pública leva o nome do seu benfeitor: Biblioteca Pública Municipal - Basílio de Magalhães.