Ilustração: Américo Werneck (1855-1927), na madureza dos anos
Américo Werneck nasceu no Distrito de Bemposta, em Paraíba do Sul (RJ) [atualmente Bemposta pertence ao município de Três Rios (RJ)], no dia 13 de março de 1855, filho de Inácio dos Santos Werneck e de Luísa Amélia de Oliveira, barões de Bemposta. Faleceu no Rio de Janeiro em 17 de setembro de 1927. Foi casado com Judith de Lemos Werneck e posteriormente com Regina de Andrade Werneck.
Homem de coração generoso, do que há pelo menos dois registros:
Pois bem, neste post vamos ver um retrato de Werneck por Augusto de Lima, na data em que o mencionado retrato de Werneck foi inaugurado no Asilo São Luiz para Velhice Desamparada, no Rio de Janeiro, do qual Werneck foi um benemérito.
Nesse dia coube ao mineiro Augusto de Lima fazer um discurso falando do homenageado.
O ASILO SÃO LUIZ PARA VELHICE DESAMPARADA
Em 04 de setembro de 1890 o Visconde Luiz Augusto Ferreira D`Almeida fundou o “Asylo São Luiz para a Velhice Desamparada”.
O objetivo era oferecer um lar para os funcionários de sua fábrica que estavam em idade avançada, abrigando-os na chácara comprada no bairro do Caju.
Atualmente, a instituição se preocupa com o bem-estar dos idosos e parte dos nossos residentes são atendidos de forma gratuita. Todos recebem o mesmo atendimento, são cuidados com amor e carinho por toda nossa equipe. Acreditamos que praticar o bem é um diferencial essencial para a sociedade, por isso nos preocupamos com o bom envelhecimento da população e buscamos ajudar da melhor forma possível. Contamos com a ajuda de parceiros e benfeitores para que nossa causa continue acontecendo.
Casa São Luiz é uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) sem fins lucrativos. Acolhemos idosos com carinho e respeito há 130 anos, e o nosso principal objetivo é o conforto dos nossos residentes. Possuímos uma equipe multidisciplinar altamente qualificada para atender as necessidades de cada um e estamos preparados para oferecer o melhor às pessoas 60+.
Fonte: https://casasaoluiz.org.br/
Antônio Augusto de Lima (Nova Lima, então Congonhas de Sabará, 5 de abril de 1859 — Rio de Janeiro, 22 de abril de 1934) foi um jornalista, poeta, magistrado, jurista, professor universitário e político brasileiro. Formou-se em 1882 na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde foi colega de seu irmão, Bernardino de Lima.
Como Governador de Minas Gerais (1891) decidiu a mudança da capital do estado de Ouro Preto para Belo Horizonte. Seu nome foi dado a uma das mais belas avenidas de Belo Horizonte.
Em 1903 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito seu presidente em 1928.
Em 1906, eleito deputado federal, mudou-se para Rio de Janeiro, onde se casou com Vera Monteiro de Barros de Suckow, neta do major Hans Wilhelm von Suckow. Continuou no cargo durante 20 anos (1909 - 1929), sendo responsável pela redação do projeto de declaração de guerra do Brasil à Alemanha na 1ª Guerra Mundial.
Durante a Revolução de 1930, dirige o jornal "A Noite", editado no Rio de Janeiro. Em 1934, foi eleito deputado à Constituinte Federal, mas faleceu poucos dias depois da eleição.
A poesia de Augusto de Lima mostra uma forte vertente panteísta, e faz questionamentos existenciais aliados a um ponto de vista ético e universalista. É um dos grandes poetas de índole filosófica na literatura brasileira.
(Wikipedia, ABL e mg.gov.br)
O DISCURSO - RETRATO DE WERNECK POR AUGUSTO DE LIMA
Fazemos espaço hoje à oração proferida pelo acadêmico Augusto de Lima, no Asilo São Luiz para Velhice Desamparada, o palácio dos velhos que se ergue no gracioso outeiro da Ponta do Caju.
Inaugurava-se o retrato de Américo Werneck, esse capítulo do nosso “De viris illustribus”, ao lado de outras figuras, tais como Mauá, Menezes, Vieira, Campos Salles, Rio Branco e tantos outros e que viveu uma das vidas mais complexas e multiformes do Brasil: chefe de indústria, empreendedor, administrador, educador, político, mas político de um molde que a veemência das atualidades que ora nos cercam, parece fazer-nos crer ter se perdido.
E, além de todas essas atividades ainda, lhe sobrou tempo para as atividades do coração que o levaram a dedicar-se com afã e esforço a uma fecunda e eficaz colaboração na obra santa do Asilo São Luiz.
Incumbido de dizer, minúcia todos os relevos desta grande individualidade, Augusto de Lima pôs nessa tarefa as qualidades de sua oratória, realizando com felicidade, em torno da grande figura, o biógrafo e o panegirista. Produziu assim, o ilustre acadêmico uma formosa oração que valeu pela inauguração de um novo retrato, o retrato moral, psicológico e intelectual de Américo Werneck, em torno do qual a sua prosa armou uma moldura magnífica. E ao lado da linda tela, devida ao pincel de Oswaldo Teixeira outra, surgiu luminosa e eloquente como uma bela lição de história contemporânea do Brasil que foi também, salutarmente, uma alta lição de moral e cívica.
Cedemos a palavra ao ilustre poeta mineiro:
“Senhores
— Se há um momento e um lugar em que o homem possa justificar o orgulho da sua espécie, é este momento e este lugar em que nos encontramos. O momento assinala a passagem de uma efeméride religiosa — a festa do santo patrono desta casa, a cuja interseção junto de Deus, se deve, com o benemérito trabalho dos homens, o curso tranqüilo e progressivo da sua vida cheio de benefícios para os que sofrem. O lugar é este mesmo em que nos é dado observar na sua irredutível grandeza, a solidariedade humana, no que ela tem de mais puro e desinteressado. A emoção aqui se impõe; ela nos vem de todos os lados. Um grande coração criou este instituto e outro coração do mesmo sangue entretém e engrandece. Tudo aqui fala deste amor, desde o santuário, em que, espontaneamente, vão os hóspedes robustecer a saúde da alma, até os mais insignificantes objetos em que se multiplica o zelo da gerência pelo sossego e conforto desses, que representam o crepúsculo da vida, para uns de glória, para outros de misérias, para todos porém, de desenganos, quando não alentados pela fé religiosa. Como me sinto feliz, senhores de participar da emoção deste espetáculo, tão diferente na sua finalidade de união, amparo e repouso, desses em que lá fora se agita a vida na competição de glórias e utilidades efemérides, abreviada na ambição de gozos precários e consumida no incêndio das discórdias!
Bem hajam quantos, ao lado do Dr. Carlos Ferreira de Almeida se empenham, esforçam pelo engrandecimento desta casa e bem hajam os que num gesto de liberalidade cristã destacam uma parte de seu patrimônio, para auxiliar esta obra bem-aventurada.
A este grupo de eleitos pertenceu o grande brasileiro de quem venho falar-vos, e a quem se dirigem as homenagens desta hora. A vida de Américo Werneck só é conhecida superficialmente. Pensador, sociólogo, publicista, administrador todos sabem que o foi superiormente. Homem de letras consagrado, autor de romances, memórias e dramas. Mas, há na vida deste austero brasileiro, fatos que precisam vir a lume para elucidar ou corrigir a história política e administrativa do Brasil
Faço-o de acordo com informes de quem os podia dar autênticos e verdadeiros, aliás confirmando o conceito que dele fizeram ilustres políticos e publicistas de seu convívio mais próximo. Para Quintino Bocaiúva, Américo Werneck era o maior pensador brasileiro. Semeador de idéias denominava-o Alcindo Guanabara. Afirmava Nilo Peçanha ser ele o espírito mais profundamente liberal de seu tempo. O Ministro Heitor de Souza, que o enfrentou em pleito célebre de Minas, conceituava-o como a inteligência mais fulgurante do Brasil.
São estes os seus traços biográficos: nasceu o preclaro fluminense no município de Petrópolis a 19 de março de 1856, e era filho do fazendeiro Ignácio Barbosa dos Santos Werneck e de sua esposa D. Luiza Amelia de Oliveira Werneck, titulados barão e baronesa de Bemposta. Fez os preparatórios no colégio Pedro II e em 1878 recebeu o grau de engenheiro civil na antiga Escola Central.
Américo Werneck não se limitou em seus estudos aos objetos de sua carreira profissional. Tornou-se desde cedo um estudioso das ciências morais e políticas.
Foi um erudito. Seduziu-o o ideal republicano e tornou-se um propagandista da República.Federativa. Na “Gazeta Sul Mineira” periódico que se publicava em São Gonçalo de Sapucaí, foi com Lucio de Mendonça e Frederico Bressame, um ardente pregador do novo credo. Isto pelo ano de 1883, em que o humilde orador que vos fala, fundava também em Ouro Preto um centro de propaganda presidido pelo desembargador Joaquim Caetano da Silva Guimarães, presidente da redação e de que faziam parte os Drs. Antonio Casimiro da Mota Pacheco, Leônidas Damásio, Joaquim de Oliveira Santos e coronel Henrique Edmundo Renault. Este clube foi de duração efêmera. Intensa foi sim a ação de Américo Werneck, não só pela imprensa como pela propaganda inteligente e arguta, junto dos elementos aproveitáveis para o êxito.
Estava então em Águas Virtuosas, quando ali foi fazer uma estação, em 1884, o professor da Escola Militar Benjamim Constant, “que até então diz memória, cujo assento me serve de base, só se preocupava com idéias pedagógicas.
Após conferências diárias durante perto de um mês, Américo Werneck conseguiu empolgar Benjamim Constant. Pela primeira vez, continua o documento que estou reproduzindo, o espírito de matemático e de filósofo penetrava no cenário político, observava seus atores, interessava-se pelo problema da revolução, tomava o rumo aos acontecimentos, impressionava-se com o advento do terceiro reinado, ouvia o libelo contra a monarquia, etc.
Quando Benjamim Constant se retirou de Águas levava o plano assentado de intervir na agitação social e conduzi-lo, se pudesse, ao desfecho determinado pela lógica de sua educação filosófica. Este o depoimento, de certo, preciosíssimo de um dos fatos inéditos a que me referi.
Benjamim Constant foi o verdadeiro chefe da revolução. A constituição o declara fundador da Republica. Mas quem lhe preparou o animo, quem lhe persuadiu a tendência, quem lhe afirmou a convicção e determinou a vontade mudando-lhe radicalmente os hábitos magistrais em iniciativa de combate, foi à vista dessa revelação, Américo Werneck, e fora, injustiça nega-lo.
Sobreviveu à República o professor filósofo e antigo ministro de Deodoro. Faltou-lhe lazer para escrever as suas memórias ou ao menos esta confissão se é que o amor próprio lhe não embaraçasse este gesto de homenagem à verdade. Para nós que conhecemos a alma austera e retilínea de Américo Werneck basta-nos o depoimento que ele deixou no seu livro, inédito - “Na Luta” - que deve ser divulgado para que na versão definitiva da História só atribua como é de justiça, “o seu ao seu dono”.
Feita a República, não lhe agradou o rumo que esta seguiu, o que o afastou dos centros de atividade.
Deixou-se ficar no interior de Minas. Comprou alguns quinhões da empresa de Lambari, adquiriu os direitos e privilégio que ele tinha sobre as fontes de Cambuquira, organizou outra empresa e mudou-se para aquele lugar. Foi seu primeiro cuidado salvar o bosque vizinho, tornado magnífico parque. Com a compra de outro terreno fixou a sua área. E no pântano onde brotavam as preciosas nascentes, fez todos os trabalhos precisos para a futura instalação. Desviou o curso do riacho e descobriu no seu antigo leito a fonte ferro-magnesiana, a única conhecida no Brasil, diz a memória, e mais duas outras, além de um grupo de férreo-gasosos.
Isto feito, captou com os recursos de que dispunha quatro das cinco nascentes superiores e como não tivesse encontrado um operário para esta operação delicada, fê-la ele mesmo descendo em mangas de camisa ao fundo das nascentes.
Quem se lembrará deste grande feito, que descobriu e tornou aproveitável esta fonte de riquezas para o Estado e de saúde para os enfermos?
Transferida esta propriedade voltou Américo para o Estado do Rio, onde fora eleito deputado à respectiva Assembléia Legislativa, fixando residência em Petrópolis. Foi intenso seu trabalho parlamentar: fez passar a Lei sobre o imposto territorial, novidade fiscal que surpreendeu os rotineiros do imposto de exportação, e muitas outras medidas fez adotar. Mas, não achou executores que lhe dessem vida, removendo as resistências do “statu quo”.
Terminado o mandato legislativo voltou de novo ao retiro de Águas Virtuosas, onde escreveu os seus melhores livros, e donde enviou ao “Jornal do Comércio” daqui, uma série notabilíssima de artigos sobre política, finanças e administração. Trouxe de novo à baila o Imposto Territorial, sucedâneo que devia ser do de exportação. Sabem todos o terror supersticioso, com que o povo, em geral, e os grandes latifundiários, em particular, receberam o que era reputado uma ameaça de confisco. Silviano Brandão, eleito presidente de Minas, tendo acompanhado essa memorável campanha de imprensa e conhecendo o alto valor do publicista convidou-o pare ser secretário de Agricultura.
Era o homem para a situação que assim se desenhava e que me reporto ao que disse em 25 de outubro de 1902 na sessão em memória a Silviano Brandão:
“A dívida flutuante ameaçando o crédito do Estado: a arrecadação não correspondendo à verba orçada; um compromisso (enorme naquele tempo) de 20.000 contos de dívida externa vencida e oito mil de dívida interna a satisfazer logo; diminuição progressiva e alarmante da produção e, por uma aberração da lei econômica, diminuição paralela no preço dos gêneros de oferta; impossibilidade de ate-lo ao capital pela escassez do dinheiro e miséria do crédito; impossibilidade de apelo ao contribuinte já exausto por numerosos tentáculos do polvo fiscal; a indústria abatida, os industriais falidos; a agricultura importando víveres a peso de ouro e exportando café a preço vil, que o transporte quase absorvia; desânimo geral, pobreza geral, bancarrota de todas as previsões econômicas; a própria máquina administrativa ameaçada de paralisia. Era este o panorama.
Como o defrontou Américo Werneck? Aconselhando o presidente e ajudando-o a executar as medidas de salvação do Estado. Foram extremas. Assim era preciso: a redução profunda nas despesas, a supressão de verbas extraordinárias, a suspensão de serviços, a extinção de cargos e comissões, tudo autorizado por lei, cujo projeto esboçara o grande secretário da Agricultura. Propôs também logo a criação do imposto territorial que, recebido com muita prevenção, teve que resignar-se a grandes mutilações que o deformaram.
Acompanhemos a memória. Américo Werneck organizou a prefeitura da Capital; fundou três colônias; resolveu a crise de transportes favorecendo a liquidação inevitável das companhias que se haviam arruinado no jogo da Bolsa; reduziu o déficit anual do ramal de Belo Horizonte, de 300 a 14 contos; obteve a aquisição dessa linha pelo governo federal por 3.000 contos para ser incorporada à rede da Estrada de Ferro Central; reduziu o déficit anual da Estrada de Ferro Bahia e Minas de 600 a 24 contos; reduziu os fretes de transporte nas estradas sujeitas à administração do Estado; obteve do governo Federal reduções análogas em suas linhas; conseguiu do Ministério da Fazenda alguns favores protecionistas na Alfândega; e graças a esses conjuntos de medidas desenvolveu e viticultura, a indústria de laticínios, a exportação em larga escala do minério de manganês, a cultura e exportação de milho, feijão, arroz e batatas, que pagava aos mercados estrangeiros. E o governo Silviano venceu.
O estado de Minas entrou em franca prosperidade, mas sendo incompleta e mutilada a obra que concebera a respeito da nova organização fiscal, Américo Werneck exonerou-se depois de dois anos e tanto de exaustivo trabalho que lhe predispôs o organismo para a moléstia quase mortal que o acometeu. Salviano Brandão, também alquebrado dos embates e das vigílias, sucumbiu depois.
Subindo a presidência do Estado do Rio o Dr. Nilo Peçanha, foram reclamados os serviços de Américo Werneck no cargo de consultor técnico das obras públicas, lugar criado especialmente para ele. Foi o ministro de todas as pastas e para muitos que conheceram a intimidade da administração fluminense e o extraordinário êxito do governo, deve o saudoso Nilo Peçanha em grande parte, à colaboração e aos conselhos preciosos de Américo Werneck.
A introdução na prática do imposto territorial, o desenvolvimento da policultura, a organização da exploração da energia hidroelétrica, em tudo imprimiu o cunho vivo da sua ação.
Eleito deputado Federal apresentou projetos de grande utilidade que a miopia dos diretores parlamentares não pode apreender as suas linhas e o seu valor.
Terminado o mandato legislativo e nomeado prefeito de Águas Virtuosas pelo então presidente de Minas Wenceslau Brás, remodelou aquela instância hidro-mineral.
Arrendando-a como particular, não pôde realizar o seu gigantesco plano, por circunstâncias que não dependiam dele. Divergindo do governo teve de, com ele, sustentar um pleito de que saiu vencedor.
Sob qualquer ponto de vista com que se encare esta longa fase depois que cessou ação de Américo Werneck, em Águas Virtuosas, ninguém há que lhe possa recusar os serviços relevantíssimos que prestou, àquela estância. As suas obras lá estão decuplicando de valor à espera que um sopro fecundo do governo de Minas, semelhante ao que foi infundido em Poços de Caldas, desperte a atividade e o esplendor com que sonhou Américo Werneck ao erguer o suntuoso palácio do Cassino, diante do esplêndido lago e cercado de um dos mais belos panoramas do Brasil.
Américo Werneck passou a viver puramente a vida de gabinete, da qual nunca se achou em ausência prolongada. Era ali que seu espírito de brilhantes faces se sentia bem porque produzia sem cessar obras de assuntos variados, ora como publicista — “O Brasil seu Presente e seu Futuro”; “Erros e Vícios da Organização Republicana”; “Problemas Fluminenses”; “Estados Mineiros”; “Ecos da Multidão”; “Revisão Constitucional”; “Indústrias de Transportes”; ora como administrador e economista: “Reforma do Sistema Tributário”; “Reflexões sobre a Crise Financeira”; “Tarifas Aduaneiras”; “Política e Finanças”; ora como sociólogo e jurista: “Interdito Possessório”; “Juízo Arbitral”; “Liberdade de Testar”; “Do Divórcio”.
Conhecedor do coração humano e psicólogo escreveu esta admirável “Arte de Educar os Filhos”, o mais belo livro no gênero que já se escreveu na nossa língua.
Como homem de letras, de pura ficção, deixou primorosos romances: — “Morena”; “Marido e Amante” e “Graciema”, que não era, este último só trabalho de imaginação, mas também uma admirável reconstrução dos costumes e tradições do nosso passado.
O seu drama heróico “Lucrecia”, revelou mais uma face da sua capacidade de esteta: — a do teatro.
“Judith” é uma memória formosíssima eternizando um idílio, páginas suaves de ternura e espiritualismo.
Do romancista de “Graciema”, não faltaram estudos que puseram em relevo o seu poder de observação, beleza de estilo e seleção moral dos caracteres de seus heróis. Aliás, a verdadeira crítica, aquela que se devia buscar na psicanálise, não se fez das obras de Américo Werneck, cuja personalidade forte sempre surge do cenário das ações e dramas que descreve. Ali vivem o seu caráter, a sua combatividade pelos princípios e ideais, a sua bondade enternecedora e todas aquelas virtudes que atraiam nele a nossa admiração e o nosso afeto.
Antes de conhecer-lhe as obras não as do jornalista e pensador, mas as literárias, eu conheci o homem num período atribulado da minha vida pública. Exercia ele então, em Belo Horizonte o alto cargo de Secretário de Estado, quando nos encontramos pela primeira vez.
Três frases de conforto e de apoio lhe ouvi; tão vigorosas foram as suas expressões de solidariedade com as minhas atitudes, em célebre pleito que eu sustentava; tantas provas públicas dele recebi reafirmando esta preciosa concordância; que, desde então em diante, embora materialmente afastados por destinos diferentes, alistei-me e permaneci entre os mais afetuosos amigos e os mais entusiásticos admiradores dessa peregrina figura;
Não foi uma exceção, na regra geral da sua vida, toda dedicada ao pensamento do belo e da verdade e à prática do Bem, o gesto generoso que ele teve para com este estabelecimento, fazendo-lhe, com suprema elegância, que peço vênia para denominar evangélica o importante donativo que muito balsamo tem valido para aliviar as dores dos pobres velhinhos.
Da tríplice auréola, que lhe coroa a memória, não seu qual fulge mais: se a do caráter, se a do gênio, se a do coração.
Aquelas duas realçaram-lhe as nobres posições que ocupou na política, na administração, na sociedade; - esta, porém, a do coração, foco de bondade que irradiou no amor da família pelo afeto de esposo, filho, pai e irmão, e no amor do próximo, pela caridade cristã, extreme de qualquer interesse, esta, a coroa do coração, pertence principalmente aos troféus que ele soube conquistar nas divinas batalhas do bem contra o mal, promovendo o agasalho contra o desabrigo, o bem estar e o conforto contra a miséria e a fome, a consolação contra o desespero, a vida contra a morte. Nas suas vigílias de pensador, a principal preocupação de seu espírito era a da organização de institutos humanitários em que fosse possível atender com alívio e socorro imediato ao maior número de sofredores. Aumentando o bem estar dos homens e estancando quantas possíveis, as fontes da dor, conseguiriam os dirigentes da sociedade alcançar a paz duradoura e melhor garantir a ordem. Desse plano altamente filantrópico e lidimamente cristão, não podia deixar de fazer parte um estabelecimento como este, em que os veteranos da sociedade, a quem faltam o conforto do lar, encontrassem aqui outra família não menos carinhosa que a do sangue.
Werneck já o encontrou fundado. Seria capaz de o fundar se já não existisse. Por isso mesmo o proclamamos benemérito ao lado de outros que também o foram. Melhor que nós outros, que apenas lhe louvamos e bendizemos as virtudes, Deus lh’as terá recompensado com o tesouro da sua infinita bondade.
Que os velhos desta casa e todos nós que os amamos, abençoemos a memória imortal de Américo Werneck.
AUGUSTO DE LIMA