Ilustração: Trem de ferro — a Maria Fumaça. Imagem gerada por IA/CoPilot/Microsoft
Como vimos na Parte 1 desta Série (aqui), a Região do Lambari — que abrangia boa parte do território Sul-mineiro — passou a ser assim designada a partir de 1737, com a expedição de Cipriano José da Rocha, ouvidor-geral da Comarca do Rio das Mortes na Capitania de Minas Gerais, em missão oficial de reconhecimento da região Sul de Minas.
Por essa época, Cipriano mandou construir uma estrada — na verdade uma picada — que ligava o Arraial de São Cipriano (nome primitivo de Campanha) à Região do Lambari, estrada essa que alcançaria, posteriormente, o Caminho Velho (Estrada Real que ligava as regiões produtoras de ouro a São Paulo e Rio de Janeiro).
Foi nas proximidades dessa estrada construída por Cipriano que se deu a descoberta das águas virtuosas nos anos 1780/90.
Mais à frente, em 1826, a Câmara de Campanha alterou a rota dessa estrada, fazendo que passasse perto do manancial das águas.
Pois bem, na Parte 2 desta Série sobre os Os caminhos e estradas para Águas Virtuosas de Lambary, vamos ver:
Vamos lá!
DAS PROVÍNCIAS DE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO EM BUSCA DAS ÁGUAS VIRTUOSAS
No transcorrer dos anos 1800, inúmeros visitantes oriundos das Províncias de São Paulo e Rio de Janeiro estiveram em Águas Virtuosas para fazer uso terapêutico das águas.
No tópico 8. VISITAS ILUSTRES A ÁGUAS VIRTUOSAS NO SÉCULO XIX , do e-book A FORMAÇÃO DA VILA DE ÁGUAS VIRTUOSAS (aqui), comentamos que, na década de 1850, 59 famílias com 208 pessoas, acompanhadas de 187 escravos vieram de distantes pontos do país.
Pessoas de prestígio na Corte vieram do Bananal (SP), de Barra Mansa (RJ), e também de Queluz, Areias, Silveiras (SP) e Resende, Vassouras, Valença e Piraí (RJ).
Vinham pela Estrada Real/Caminho Velho, depois pegavam a ligação Caminho Velho-Campanha e paravam na Vila de Águas Virtuosas.
Adentravam o território mineiro pela Garganta do Embaú, passagem utilizada pelos desbravadores paulistas séculos atrás.
Faziam a demorada viagem em carroças e no lombo de cavalos e mulas, com tropeiros e escravizados trazendo as tralhas da viagem.
Ilustração. Tropeiros e mulas pelos caminhos do sertão. Copilot/Microsoft
Confira no tópico 4 - O SERTÃO DO RIO VERDE - b - A Garganta do Embaú, no e-book HISTÓRIA PRIMITIVA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DELAMBARI, disponível aqui)
Garganta do Embaú. Reprodução. Fonte: https://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/embau/
A PRINCESA ISABEL E SUA LITEIRA
Como é corrente, o surgimento e evolução das estâncias hidrominerais, no final do século XIX, contou com a simpatia e “apadrinhamento” da família imperial – e da elite ligada ao Império – pelas águas minerais e termais.
Com efeito, D. Pedro II e a Imperatriz Thereza Cristina visitaram Poços de Caldas em 1861, e a Princesa Isabel, e seu consorte o Conde D’Eu, estiveram em Águas Virtuosas de Lambary (atual Lambari) e Águas Virtuosas de Baependy (atual Caxambu), de agosto a novembro de 1868. (MILEO, 1970, p. 95; SILVA, 2012, págs. 29 e 30)
Chegada da Princesa Isabel a Águas Virtuosas, então pertencente a Campanha. Fonte: O Constitucional, Ouro Preto, MG, 3, out, 1868
Pois bem, a viagem da Corte, no Rio de Janeiro, até o Sul de Minas, se fez parte por trem (até Resende, RJ) e o restante pela Estrada Real (Caminho Velho) e o caminho que ligava a Estrada Real a Campanha/Águas Virtuosas.
Esse último trecho – de Resende até o Sul de Minas – foi feito por estradas íngremes numa liteira.
A Princesa e o Conde D'Eu se hospedaram em Campanha, mas vinham a cavalo beber as águas virtuosas e tomar banhos em Lambari.
Reprodução. Fonte: A história da Princesa Isabel: amor, liberdade e exílio, Regina Echeverria, 2014
Liteira para viagem ao interior. Pintura de Debret. Fonte: Pinterest
DE CONTENDAS A LAMBARY, A CAVALO OU DE CARRUAGEM
Desde 1884, havia uma estação ferroviária em Contendas (entre Caxambu e Conceição do Rio Verde), ramal da via férrea Minas-Rio.
Por aquela época, os aquistas (como eram chamados os que buscavam tratamento por meio das águas minerais) vinham de trem até Contendas, depois percorriam "pouco mais de 5 léguas" até Águas Virtuosas, por meio de cavalos, liteiras, troles, carruagens...
Propagandas de hotéis daquela época ofereciam tais serviços de condução até Águas Virtuosas.
Imagem: carruagem estacionada em frente de antigo hotel. Fonte: Copilot/Microsoft
Esta foto de turistas visitando a Estação de Nova Baden dá ideia do transporte de Contendas a Águas Virtuosas, a cavalo ou nas liteiras, meio de transporte comum à época. Fonte: Reprodução. Revista Fon Fon n. 18, de 1913
A primeira propaganda menciona Garção Stockler, então diretor da "empresa das águas", a excelência do clima e a melhor época para as "temporadas".
Confira a seguir:
Reprodução. Fonte: jornal O Constitucional, 19/07/1885
Reprodução. Fonte: A Província de SP, 10/04/1888
Reprodução. Fonte: O Estado de S. Paulo, 10/3/1893
A FERROVIA VAI LIGAR LAMBARY ÀS PRINCIPAIS CAPITAIS DO IMPÉRIO
A Estrada de Ferro Muzambinho chegou a Jesuânia em 1894.
Em 1o. de março, essa estação (chamada então Bias Fortes) foi inaugurada.
No dia 24 do mesmo mês a estrada de ferro chegava às Águas Virtuosas.
Desse modo, desde o final do Século XIX, nossa cidade estava ligada por via férrea às principais cidades do País: Rio de Janeiro (então Capital da República), Belo Horizonte (Capital do Estado) e São Paulo (principal cidade do País).
Nossa primeira estação foi a Parada Melo, a estação ferroviária de Águas Virtuosas foi inaugurada alguns anos depois.
Estação de Águas Virtuosas. Reprodução. Cromo da Casa Levy
Trem da Rede Mineira Viação, trecho Lambari-Cambuquira-São Gonçalo. Crédito: Foto de Caia Junqueira
Parada Mello, antes da construção do Hotel Imperial. Reprodução. Foto Loja Nogueira