Ilustração: Conjunto de capas da Coletânea HISTÓRIAS DA CASA GORDA
Neste livro A CASA GORDA – RECANTO DOS NETOS, contamos histórias das únicas criaturas que
são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos — os nossos netos.
(Da SÉRIE RECANTO DOS NETOS. Site GUIMAGÜINHAS)
Aqui no SITE GUIMAGÜINHAS publicamos memórias familiares e de nossa terra natal, e contamos histórias e acontecidos dos nossos netos, dentro de uma série intitulada RECANTO DOS NETOS.
Iniciamos essa série em 2013 e, passados quase 11 anos, já colecionamos 25 posts.
Revisitando essa coletânea agora em março de 2024, notamos que ela forma um conjunto que ficaria bem no formato livro e/ou e-book.
E assim surgiu esta publicação intitulada HISTÓRIAS DA CASA GORDA - O RECANTO DOS NETOS — que leva o nome da nossa casa em Lambari, MG, conforme a apelidaram nossas crianças e onde se passa a maioria das histórias.
A Coletânea será publicada em 8 partes, quais sejam:
Trechos de conteúdos desses e-books serão divulgada em posts neste site GUIMAGÜINHAS.
A íntegra de alguns e-books será disponibilizada gratuitamente na aba E-BOOKS deste site.
Parte desses e-books será impressa e posta à venda na EDITORA UICLAP. (https://uiclap.bio/guimaguinhas)
A coletânea inteira será impressa num único volume — COLETÂNEA HISTÓRIAS DA CASA GORDA — e distribuída no âmbito familiar.
Logo da Coletânea HISTÓRIAS DA CASA GORDA
TOMO I - A CASA GORDA - RECANTO DOS NETOS
Neste tomo I – A CASA GORDA – RECANTO DOS NETOS procuramos contextualizar as histórias descrevendo a CASA GORDA – a casa dos netos, onde passam suas férias e se divertem –, o dia a dia da criançada e a comilança tão tradicional dos mineiros, especialmente quando se junta toda a família.
TOMO II - LER, CONTAR E ESCREVER HISTÓRIAS
Neste tomo II – LER, CONTAR E ESCREVER HISTÓRIAS narramos como divertimos os netos com desenhos, leituras e contação de histórias, seguindo o modelo de nossos avós, eles que foram grandes contadores de histórias.
TOMO III - FÉRIAS NA CASA GORDA
Este tomo III – FÉRIAS NA CASA GORDA relata o que nossos netos fazem nas férias que passam na CASA GORDA, quando reencontram os primos, tios e avós — suas atividades, brincadeiras, jogos, leituras, passeios — um mundo de coisas a que os miúdos têm direito
TOMO IV - MAIS FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo IV – MAIS FÉRIAS NA CASA GORDA, contamos um pouco mais do que nossos netos fazem nas férias que passam na CASA GORDA: armam barracas na sala, dançam com a vovó, fazem arte e “artes”, trolam o vovô! Ah, falamos também da Árvore do crescimento, da Cápsula do tempo e da cachorrada amiga.
TOMO V - PASSEIOS DE FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo V – PASSEIOS NAS FÉRIAS DA CASA GORDA, falamos dos passeios tradicionais que fazemos em Lambari: Parque das Águas, Parque Novo, Volta do Lago, Alto do Cruzeiro — ao tempo que vamos conversando com as crianças, respondendo suas perguntas e contando a história de nossa cidade
TOMO VI - MAIS PASSEIOS DE FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo VI – MAIS PASSEIOS NAS FÉRIAS DA CASA GORDA vamos comentar outros passeios típicos de nossa cidade: o Centro histórico, o Horto Florestal, e bem assim visitas ao Chalezinho do Serrote e pescarias que fazemos com os netos — ao tempo que vamos conversando com as crianças e comentando aspectos históricos de Lambari.
TOMO VII - DATAS FESTIVAS NA CASA GORDA
Neste tomo VII – DATAS FESTIVAS DA CASA GORDA falamos sobre datas especiais da Casa Gorda — Natal, Ano Novo, Aniversários — e também de outras festas que vamos inventando para alegrar os netos: Gritinho de Carnaval, Festa Junina, Halloween... Ah, em todas essas festas ocorre um evento imperdível que a Vó Celeste inventou: os fogos de artifícios que não produzem estampido — os quais as crianças chamam de bagulhos...
TOMO VIII - OUTRAS HISTÓRIAS DA CASA GORDA
Neste tomo VIII – OUTRAS HISTÓRIAS DA CASA GORDA registramos casos dos netos — modo de falar, histórias que inventaram, profissões que escolheram — sendo que um desses casos (Coitado do Lobo Mau!) inspirou a capa deste Tomo VIII. Juntamos também relatos de eventos ocorridos na Casa Gorda por ocasião dos tempos difíceis da Covid19
Ilustração: Capa do Almanaque Fontoura, 1944. Reprodução. Fonte: Site Mercado Livre
No dicionário Michaelis Eletrônico está esta definição de almanaque:
A seu turno o Dicionário Aulete Digital anota:
Ao longo da história surgiram diferentes tipos de almanaques, como o administrativo, o histórico, o literário e o almanaque de farmácia.
O tema deste post é o almanaque de farmácia.
Vamos lá!
Os almaques surgiram na Europa a partir dos anos 1450. Nos séculos XVI e XVII, passaram a circular por todo o Continente, trazendo calendário, informações de astrologia, utilidades e entretenimento. (Trizotti, 2008)
Diz TRIZOTTI (2008) que:
No Brasil, somente a partir de 1821 tivemos a imprensa livre e com ela a publicação de jornais e almanaques. Os primeiros almanaques cuidavam da vida administrativa das cidades (horários de trens, tabela de preços e produtos, tarifas de correio de transporte). Surgiram depois os almanaques literários e mais à frente os almanaques de farmácia. (Trizotti, 2008)
Nosso primeiro almanaque de farmácia foi O Pharol Medicinal (1887), trazendo táboa de cambios, kalendário, diversões e indicações uteis (sic).
Outros surgiram depois, como Saúde da Mulher, Bromil, Capivarol.
Contudo, o mais famoso foi o Biotônico Fontoura, que vamos comentar mais abaixo.
Sob patrocínio da Granado & Cia., em 1887 aparece no Brasil o primeiro almanaque de farmácia. Reprodução. Fonte: bn.digital.gov.br
Almanack Ilustrado Oliveira Júnior & C. 1902. Calendário, datas festivas, citações, propagandas dos produtos da empresa.Fonte: bn.digital.gov.br
Almanack Pharmacia Silva-Araujo. 1913. Calendário, horóscopo, citações, propagandas dos produtos da empresa. Fonte: bn.digital.gov.br
Outros almanaques de farmácia publicados no Brasil. Fonte: GOMES, Mário Luiz. 2005
Almanach Sul-Mineiro, 1874. Editado em Campanha. Trazia calendário, dados históricos e informações administrativas da Região do Sul de Minas, de Águas Virtuosas, inclusive. Fonte: bn.digital.gov.br
Almanach do Município da Campanha, 1900. Trazia calendário, dados históricos e informações administrativas da Campanha e seus distritos, inclusive Águas Virtuosas de Lambary. Fonte: bn.digital.gov.br
ALMANAQUES NA FARMÁCIA SANTO ANTÔNIO
No Brasil das décadas de 1920/80s, almanaques de farmácia eram famosos e disputadíssimos — e distribuídos gratuitamente à clientela.
No livro MENINO-SERELEPE, conto que dos meus 12 até 15 anos trabalhei na Farmácia Santo Antônio.
Pois bem, recordo que nesse período distribuí muitos desses almanaques.
Dentre eles, o Renascim, o Sadol, o Fontoura:
Fonte: https://catarinensepharma.com.br/institucional/almanaque-sadol/
O Almanaque Sadol 2000, distribuído pela Farmácia Santo Antônio, em 2000. Fonte: Facebook/Raimundo Carmo de Sousa
Uma das utilidades do Almanaque Fontoura: consulta às fases da lua.
Fonte: Menino-Serelepe, 2009
MONTEIRO LOBATO, URUPÊS E JECA TATU
Em 1914, Monteiro Lobato, que então explorava uma fazenda que herdara do avô, localizada no Vale do Paraíba, enviou correspondência para o jornal Estado de São Paulo reclamando dos sertanejos brasileiros e das queimadas que estes promoviam.
Os editores do jornal, percebendo a qualidade literária da missiva de Lobato, a publicaram em outro espaço do jornal, sob o título de Uma velha praga. Aqui surge o caboclo indolente e fatalista, o qual ele batiza de Jeca Tatu.
Foi tal o sucesso desse texto que Lobato escreve outro: Urupês, em que descreve o Jeca e seu modus vivendi.
Ref.: oficinafu.blogspot.com/urupês 100 anos.
Urupê: tipo de fungo parasitário chamado orelha-de-pau, que destroi a madeira (Wikipedia)
Os contos Uma velha praga, Urupês e outros mais é que deram origem ao primeiro livro de Lobato: Urupês, editado em 1918.
A partir deste livro, nasce o literato Monteiro Lobato, que vai criar, em 1925, sua própria editora: a Cia. Graphico-Editora Monteiro Lobato, uma editora moderna, com maquinários de última geração.
Essa capa original, de 1918, ilustrada por José Wasth Rodrigues, representa um mata-pau, parasita de árvores e tema de um dos contos
Uma conferência de Ruy Barbosa no Teatro Lírico do Rio de Janeiro durante sua campanha presidencial de 1919, em que citou o livro de Lobato, contribuiu para aumentar as vendas.
Essa conferência intitulou-se “A Questão Social e Política no Brasil” e começou com a frase:
Edição em separata do Jeca Tatu, ilustrada pela figura de Ruy Barbosa. Imprensa Carvalho, Bahia, 1919
É curiosa a carreira do personagem Jeca Tatu.
Em cartas datadas de 1912 e 1914, Lobato confessou ao amigo e tradutor Godofredo Rangel (mineiro de Três Corações) que pensava num personagem — "um caboclo da terra"... "genuinamente nacional" — que se comportava como "um piolho da terra, uma praga da terra”, fazendo, com sua ignorância, uma "obra de pilhagem e depredação" — caçando animais, queimando campos, derrubando árvores.
Pois bem, foi esse personagem — que vai se tornar o icônico Jeca Tatu — que Lobato leva, inicialmente, para um artigo de jornal (1914) e depois para seu livro Urupês (1918).
Mas em 1920, o próprio Monteiro Lobato vai promover a redenção do Jeca Tatu, recriando-o no personagem Jeca Tatuzinho — que aparece num almanaque por ele idealizado e confeccionado — e que foi dado à publicidade por seu amigo Cândido Fontoura, visando a promover produtos do laboratório Fontoura Serpe & Cia, em especial do Biotônico.
Essa tiragem foi de cinquenta mil exemplares.
A tiragem do Almanaque Fontoura (como se tornou conhecido) foi crescendo a ponto de entre as décadas de 1930 a 1970 terem sido distribuídos entre dois e meio a três milhões de almanaques.
Editado sucessivamente, esse almanaque chegaria a 100 milhões de exemplares no centenário de nascimento do escritor (1982). (Wikipedia)
Considerada a peça publicitária de maior sucesso na história da propaganda brasileira, inspiraria, naquele ano de 1982, a criação do Prêmio Jeca Tatu. Instituído pela agência CBBA - Castelo Branco e Associados, representou uma homenagem "à obra-prima da comunicação persuasiva de caráter educativo, plenamente enquadrada na missão social agregada ao marketing e à propaganda".
(Fonte:https://monteirolobato.com/miscelanea/jeca-tatuzinho/)
O fraco e desacorçoado Jeca transforma-se num homem ativo e operoso, após tomar ANKILOSTOMINA (vermífugo que combatia o amarelão) e BIOTÔNICO (suplemento mineral).
Em 1924, Jeca Tatuzinho, por meio de um livro do mesmo nome, vai ensinar noções de higiene e saneamento às crianças.
Numa linguagem fácil, por meio de ilustrações, Lobato logrou comunicar-se com crianças e adultos, passando orientações sanitárias e de saúde à população.
Em meio a uma campanha de combate à verminose, essa breve e divertida fábula sobre o progresso, a saga do homem do campo brasileiro vencendo os males da opilação [ancilostomíase ou amarelão], chamou a atenção e conquistou a simpatia de milhões de leitores. (GOMES, Mario Luiz, 2005)
Editado pela Cia. Graphico-Editora Monteiro Lobato. São Paulo, 1924, com ilustrações do alemão Kurt Wiese
Fonte: monteirolobato.com
Américo Werneck, após o embate judicial com o Governo de Minas (Minas x Werneck), se desligou de Águas Virtuosas de Lambary e passou a se dedicar aos seus escritos (veja aqui: As obras literárias de Américo Werneck).
Nessa fase de sua vida, Werneck escreveu livros e artigos para jornais e revistas, geralmente sobre questões nacionais — política, economia, finanças, saúde pública —, como também se interessou pela pesquisa dos fenômenos espíritas (Veja aqui: Os livros espíritas de Werneck).
Correio da Manhã, 10, nov, 1921
Pois bem, no livro Tarifas e Finanças, de 1919, Werneck faz alusão ao personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato em 1918, como visto acima.
Ele assim se refere a Lobato:"estudo individual de illustre escriptor", mostrando que se achava em dia também com questões literárias.
Esse texto de Werneck, escrito antes da "redenção do personagem" promovida por Lobato em 1920, defende o sertanejo atrazado, argumentando que os nossos matutos não eram figuras de desprezo, como a imprensa vinha generalizando.
Confira:
PARA SABER MAIS SOBRE ALMANAQUES
Ilustração: Chegada do asfalto a Lambari. 1966. Reprodução. Revista O Cruzeiro, n. 1, de 1966 (bn.digital.gov.br)
Comos vimos nas Partes n. 1, 2 e 3 desta Série Os caminhos e estradas para Águas Virtuosas de Lambary, o acesso à Vila de Águas Virtuosas se fez, ao longo do tempo, em caminhos rústicos e primitivos, no lombo de cavalos e carruagens, e só em 1884 chegou a ferrovia.
Depois, os caminhos viraram estradas de chão, como a de Contendas a Lambari, a estrada de Lambari a Nova Baden, as estradas que fizeram a ligação das Estâncias do Sul de Minas e a estrada Caxambu-Rio de Janeiro, tudo isso até os anos 1940.
Pois bem, nesta 4a. e última parte da Série, vamos ver a era do asfalto:
Vamos lá!
O SUL DE MINAS RECLAMA ESTRADAS ASFALTADAS (1954)
Em 1954, já o péssimo estado das estradas do Sul de Minas, então referida como Estrada das Águas, trazia prejuízo às estâncias do Sul de Minas. E políticos locais se movimentavam a busca do asfaltamento.
Confira:
Diário de Notícias, 11, mar, 1954
E O ASFALTO, QUANDO VIRÁ? (anos 1960)
Nos anos 1960, tem início a campanha para asfaltamento do trecho Lambari-Cambuquira-Caxambu, visto que essa última cidade e São Lourenço já haviam conseguido estradas asfaltadas.
Em 1961, fortes chuvas haviam praticamente isolado Lambari e Cambuquira, então servidas por estradas de terra.
Reprodução. Correio da Manhã. 20, fev, 1962
Em 1962, alguns máquinas começaram a trabalhar, mas foram paralisadas, trazendo grande preocupação às estâncias acima.
Confira notícias da época:
Correio da Manhã, 20, jul, 61 Correio da Manhã, 18, mai, 62 Correio da Manhã, 26, mai, 62
Em março de 1961, o Governo de Minas reafirma o compromisso de asfaltar a Rodovia Caxambu a Lambari.
Em agosto de 1961, o DER/MG publica edital para pavimentação do trecho Campanha-Cambuquira-Lambari (entrocamento da BR 32).
Confira:
11, mar, 1961
Edital publicado em agosto de 1961
Em 1962, as obras estavam em andamento.
Confira:
Reprodução. O Globo, 15, mar, 1962 (bn.digital.gov.br)
Em 1966, após longa e angustiante espera, o asfalto chegou a Lambari.
Confira:
Revista O Cruzeiro, n. 1, de 1966 (bn.digital.gov.br)
Revista O Cruzeiro, n. 1, de 1966 (bn.digital.gov.br)
ASFALTAMENTO TRECHO CARMO DE MINAS-JESUÂNIA-LAMBARI (1971)
Em 1971, o asfalto vai ligar Lambari a São Lourenço, em novo trajeto: Jesuânia-Carmo de Minas-São Lourenço.
Jornal do Comércio, 23, jan, 1971
RODOVIA RENATO NASCIMENTO - LAMBARI-HELIODORA-FERNÃO DIAS
A MG 456 liga Lambari à rodovia Fernão Dias em Careaçu (40 Km).
Pela Lei n. 9214/86, essa rodovia passou a ser denominada Rodovia Prefeito Renato Nascimento.
Trecho da Rodovia 456. Trevo Heliodora e Natércia Fonte: GoogleMaps
Ilustração: Capa da revista MOTOR AGE de junho de 1913. Reprodução. Fonte: babel.hathitrust.org
Comos vimos nas Partes n. 1 e 2 desta Série Os caminhos e estradas para Águas Virtuosas de Lambary, o acesso à Vila de Águas Virtuosas se fez, ao longo do tempo, por meio de picadas, trilhas, caminhos e as primeiras estradas abertas na mata virgem.
As viagens eram feitas a cavalo, carruagens ou liteiras. Só em 1884, chegou a ferrovia.
Nesta Parte n. 3, vamos examinar:
Vamos lá conferir!
O jornal A Actualidade, de Ouro Preto, edição de 5 de janeiro de 1880, publicou texto da Lei n. 2545, de 31/12/1879, que fixou a receita e despesa provincial para o exercício financeiro de 1880-1881.
Nela foi prevista verba para conserto da Estrada do Picu, mas sem prejuízo da parte compreendida entre Carmo (Silvestre Ferraz, depois Carmo de Minas) e Águas Virtuosas e Ramal do Caxambu.
O Picu fica na Serra da Mantiqueira, na região da divisa de Minas com Rio e São Paulo.
Reprodução. A Actualidade, de Ouro Preto, edição de 5 de janeiro de 1880
ESTRADA DE CONTENDAS A ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARY (1885)
Como vimos na Parte 2 desta série, desde 1884, havia uma estação ferroviária em Contendas (entre Caxambu e Conceição do Rio Verde), ramal da via férrea Minas-Rio.
Para chegar a Águas Virtuosas de Lambary, os "aquistas" desciam nessa estação de Contendas e faziam viagem até Lambari por meio de cavalos, liteiras, carruagens.
Pois bem, em 1885, este trecho da estrada Contendas x Lambari, com cerca de 6 léguas, estava em condições precárias, ocasionando prejuízos à Águas Virtuosas.
Em editorial, o Monitor Sul Mineiro, editado em Campanha (MG), reclamava ao Administrador da Província Manoel do Nascimento Machado Portella melhorias dessa estrada.
Confira abaixo este editorial, transcrito no jornal A Província de Minas, de Ouro Preto, no dia 17 de novembro de 1885:
A Província de Minas. Ouro Preto, 17, nov, 1885 (bn.digital.gov.br)
AS ESTRADAS DE ÁGUAS VIRTUOSAS NUM MAGAZINE AMERICANO (1913)
Em Junho de 1913, notícia publicada no magazine americano Revista MOTOR AGE — fundada em 1889 e editada até os dias de hoje — dava conta de que a empresa concessionária das águas de Lambari (Empresa de Águas Minerais Lambari-Cambuquira) estaria disposta a bancar parte dos custos de uma estrada rodoviária (o restante seria dividido entre os governos Federal, Estaduais e Municipais). Essa estrada permitiria o trânsito de automóveis.
Fotos. Reprodução. Família Egídio Mileo - Museu Américo Werneck
Reprodução. Foto de João Gomes D'Almeida
Por essa época (década de 1910) carros destes modelos é que circulavam por Águas Virtuosas
Veja que notícia curiosa:
Capa da Revista de 19, junho, 1913
A notícia, no canto direito inferior da página 40
Recorte da notícia
Tradução feita por Rafael e Leonardo Rafael e Leonardo Mileo Moreira Krauss Guimarães
Missão da empresa Motor Age. Fonte: Site da Motor Age
O site da revista
Edição da Revista ref. Abril de 2024
ESTUDOS PARA A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA CAXAMBU-CAMBUQUIRA-LAMBARI (1913)
Em 1913, já estavam concluídos estudos para a construção da estrada Caxambu-Cambuquira-Lambari.
Previa-se então a construção de 3 pontes: uma sobre o Rio Verde (trecho Contendas x Lambari-Cambuquira) e duas sobre o Rio Lambari.
Meses antes, os prefeitos de Cambuquira, Lambari e Caxambu, respectivamente, Thomé Dias Brandão, Antônio Pimentel Júnior e Camillos Soares, haviam estado no Palácio do Catete para pleitear junto ao Presidente da República a construção dessa estrada.
Confira:
Reprodução. A Tribuna. 8, out, 1913 (bn.digital.gov.br)
Reprodução. Jornal do Brasil, 7, mar, 1913 (bn.digital.gov.br)
ESTRADA PARA NOVA BADEN (1913)
Em dezembro de 1913, foi concluída a estrada de automóveis de Águas Virtuosas para Nova Baden.
Confira:
Reprodução. Jornal do Brasil, 7, dez, 1913
LIGAÇÃO DAS ESTÂNCIAS DO SUL DE MINAS (1928)
Em outubro de 1928, inaugurava-se estrada ligando as estâncias de Caxambu, Contendas, Águas Virtuosas e Cambuquira.
Na solenidade, com grande festa em Águas Virtuosas, estavam Wenceslau Braz (Ex-Presidente da República e de Minas Gerais) e Mello Vianna (então, Vice-Presidente da República), Ministros de Estado, congressistas da Capital Federal e convidados de várias cidades do Sul de Minas.
Apresentaram-se a Banda da Cavalaria do Exército (Três Corações) e a do Colégio Sion (Campanha). À noite, ocorreu um baile no Cassino, com a presença de duas jazz-bands.
Confira:
O Fluminense, 31, out, 1928 (bn.digital.gov.br)
19, out, 1928
ESTUDOS PARA A LIGAÇÃO RIO-SÃO PAULO AO SUL DE MINAS (1930)
Em 1930, jornais noticiavam que a Comissaõ de Estradas de Rodagem do Governo Federal estava concluindo estudos para a ligação Rio-São Paulo para o Sul de Minas.
Confira:
Reprodução. Fonte: Diário de Notícias, 27, set, 1930 (bn.digital.gov.br)
Da divisa de MG/SP/RJ para o Sul de Minas
De Caxambu a Lambari já havia uma estrada desde 1927
Ref. P. Isabel, quando esteve em Águas Virtuosas
Fonte: A Noite 4, ago, 1930 (bn.digital.gov.br)
INAUGURAÇÃO DA ESTRADA CAXAMBU-RIO DE JANEIRO (1939)
A inauguração, em 1939 da estrada ligando o Rio de Janeiro a Caxambu veio facilitar o acesso de turistas às estâncias hidrominerais do Sul de Minas, Lambari, dentre elas.
Confira:
Reprodução. Dário de Notícias, 15, abr, 1939 (bn.digital.gov.br)
Ilustração: Trem de ferro — a Maria Fumaça. Imagem gerada por IA/CoPilot/Microsoft
Como vimos na Parte 1 desta Série (aqui), a Região do Lambari — que abrangia boa parte do território Sul-mineiro — passou a ser assim designada a partir de 1737, com a expedição de Cipriano José da Rocha, ouvidor-geral da Comarca do Rio das Mortes na Capitania de Minas Gerais, em missão oficial de reconhecimento da região Sul de Minas.
Por essa época, Cipriano mandou construir uma estrada — na verdade uma picada — que ligava o Arraial de São Cipriano (nome primitivo de Campanha) à Região do Lambari, estrada essa que alcançaria, posteriormente, o Caminho Velho (Estrada Real que ligava as regiões produtoras de ouro a São Paulo e Rio de Janeiro).
Foi nas proximidades dessa estrada construída por Cipriano que se deu a descoberta das águas virtuosas nos anos 1780/90.
Mais à frente, em 1826, a Câmara de Campanha alterou a rota dessa estrada, fazendo que passasse perto do manancial das águas.
Pois bem, na Parte 2 desta Série sobre os Os caminhos e estradas para Águas Virtuosas de Lambary, vamos ver:
Vamos lá!
DAS PROVÍNCIAS DE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO EM BUSCA DAS ÁGUAS VIRTUOSAS
No transcorrer dos anos 1800, inúmeros visitantes oriundos das Províncias de São Paulo e Rio de Janeiro estiveram em Águas Virtuosas para fazer uso terapêutico das águas.
No tópico 8. VISITAS ILUSTRES A ÁGUAS VIRTUOSAS NO SÉCULO XIX , do e-book A FORMAÇÃO DA VILA DE ÁGUAS VIRTUOSAS (aqui), comentamos que, na década de 1850, 59 famílias com 208 pessoas, acompanhadas de 187 escravos vieram de distantes pontos do país.
Pessoas de prestígio na Corte vieram do Bananal (SP), de Barra Mansa (RJ), e também de Queluz, Areias, Silveiras (SP) e Resende, Vassouras, Valença e Piraí (RJ).
Vinham pela Estrada Real/Caminho Velho, depois pegavam a ligação Caminho Velho-Campanha e paravam na Vila de Águas Virtuosas.
Adentravam o território mineiro pela Garganta do Embaú, passagem utilizada pelos desbravadores paulistas séculos atrás.
Faziam a demorada viagem em carroças e no lombo de cavalos e mulas, com tropeiros e escravizados trazendo as tralhas da viagem.
Ilustração. Tropeiros e mulas pelos caminhos do sertão. Copilot/Microsoft
Confira no tópico 4 - O SERTÃO DO RIO VERDE - b - A Garganta do Embaú, no e-book HISTÓRIA PRIMITIVA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DELAMBARI, disponível aqui)
Garganta do Embaú. Reprodução. Fonte: https://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/embau/
A PRINCESA ISABEL E SUA LITEIRA
Como é corrente, o surgimento e evolução das estâncias hidrominerais, no final do século XIX, contou com a simpatia e “apadrinhamento” da família imperial – e da elite ligada ao Império – pelas águas minerais e termais.
Com efeito, D. Pedro II e a Imperatriz Thereza Cristina visitaram Poços de Caldas em 1861, e a Princesa Isabel, e seu consorte o Conde D’Eu, estiveram em Águas Virtuosas de Lambary (atual Lambari) e Águas Virtuosas de Baependy (atual Caxambu), de agosto a novembro de 1868. (MILEO, 1970, p. 95; SILVA, 2012, págs. 29 e 30)
Chegada da Princesa Isabel a Águas Virtuosas, então pertencente a Campanha. Fonte: O Constitucional, Ouro Preto, MG, 3, out, 1868
Pois bem, a viagem da Corte, no Rio de Janeiro, até o Sul de Minas, se fez parte por trem (até Resende, RJ) e o restante pela Estrada Real (Caminho Velho) e o caminho que ligava a Estrada Real a Campanha/Águas Virtuosas.
Esse último trecho – de Resende até o Sul de Minas – foi feito por estradas íngremes numa liteira.
A Princesa e o Conde D'Eu se hospedaram em Campanha, mas vinham a cavalo beber as águas virtuosas e tomar banhos em Lambari.
Reprodução. Fonte: A história da Princesa Isabel: amor, liberdade e exílio, Regina Echeverria, 2014
Liteira para viagem ao interior. Pintura de Debret. Fonte: Pinterest
DE CONTENDAS A LAMBARY, A CAVALO OU DE CARRUAGEM
Desde 1884, havia uma estação ferroviária em Contendas (entre Caxambu e Conceição do Rio Verde), ramal da via férrea Minas-Rio.
Por aquela época, os aquistas (como eram chamados os que buscavam tratamento por meio das águas minerais) vinham de trem até Contendas, depois percorriam "pouco mais de 5 léguas" até Águas Virtuosas, por meio de cavalos, liteiras, troles, carruagens...
Propagandas de hotéis daquela época ofereciam tais serviços de condução até Águas Virtuosas.
Imagem: carruagem estacionada em frente de antigo hotel. Fonte: Copilot/Microsoft
Esta foto de turistas visitando a Estação de Nova Baden dá ideia do transporte de Contendas a Águas Virtuosas, a cavalo ou nas liteiras, meio de transporte comum à época. Fonte: Reprodução. Revista Fon Fon n. 18, de 1913
A primeira propaganda menciona Garção Stockler, então diretor da "empresa das águas", a excelência do clima e a melhor época para as "temporadas".
Confira a seguir:
Reprodução. Fonte: jornal O Constitucional, 19/07/1885
Reprodução. Fonte: A Província de SP, 10/04/1888
Reprodução. Fonte: O Estado de S. Paulo, 10/3/1893
A FERROVIA VAI LIGAR LAMBARY ÀS PRINCIPAIS CAPITAIS DO IMPÉRIO
A Estrada de Ferro Muzambinho chegou a Jesuânia em 1894.
Em 1o. de março, essa estação (chamada então Bias Fortes) foi inaugurada.
No dia 24 do mesmo mês a estrada de ferro chegava às Águas Virtuosas.
Desse modo, desde o final do Século XIX, nossa cidade estava ligada por via férrea às principais cidades do País: Rio de Janeiro (então Capital da República), Belo Horizonte (Capital do Estado) e São Paulo (principal cidade do País).
Nossa primeira estação foi a Parada Melo, a estação ferroviária de Águas Virtuosas foi inaugurada alguns anos depois.
Estação de Águas Virtuosas. Reprodução. Cromo da Casa Levy
Trem da Rede Mineira Viação, trecho Lambari-Cambuquira-São Gonçalo. Crédito: Foto de Caia Junqueira
Parada Mello, antes da construção do Hotel Imperial. Reprodução. Foto Loja Nogueira