Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
Namoricos da infância

Na escola, quem não corou diante da bela da turma? 

(— Esse — bocó! — nunca namorou nos muros do Cassino, não mergulhou de cueca no cais, nem deu a volta ao lago de mãos dadas!)

Oh! e quem nunca viveu um flerte, um amor platônico com uma veranista qualquer ou não carregou solícito a mochila de uma colega? E quem não namorou escondido ao portão ou, na Praça da Fonte, meloso, não fez juras de amor pra casar? 

(— Um pobre diabo desses, certamente, se passou por Aguinhas, a vida que se vivia aqui não viveu!)

(Do poema  Da famosa aventura de ter sido criança em Aguinhas
que abre o livro Menino-Serelepe)

Já publiquei no GUIMAGUINHAS, duas crônicas extraídas do livro Menino-Serelepe* que tratam das namoradinhas da infância: 

     - A bela daminha (aqui) e
     - A lourinha do circo (aqui).


Pois bem, com uma crônica de Jandyra Adami, voltamos ao tema.

Confiram abaixo.

Paixão de grupo escolar...

Jandyra Adami, conhecida por Janda, é uma colega Auditora-Fiscal aposentada, como eu, que trabalhou na Coletoria Federal, em Lambari, nos anos 1950/60, e dela já falei algumas vezes no GUIMAGUINHAS, (aqui). Também poeta e escritora, já publiquei também um texto de sua autoria. (aqui)

Hoje abrimos espaço a Janda para divulgar uma crônica sobre um namoro de grupo escolar, visto muitos e muitos anos depois, pelos olhos sensíveis da cronistda "encanecida pelo tempo"...

E quem não teve a sua paixão de grupo escolar?

   
Janda, em seus tempos de Lambari

Meu primeiro namorado

Hoje acordei pensando no meu primeiro namorado. Não sei a razão desta lembrança pois há anos não nos vemos.

Se eu contar, ninguém vai acreditar: eu era uma menininha de 7 anose estava no primeiro ano primário...

Eu sempre tirava o primeiro lugar, todos os meses, todos os anos... Depois segundo e terceiro anos... com ele ao meu lado. 

Às vezes, empatando comigo, outras em segundo lugar.

Nossa sala de aula era aquela de antigamente onde o quadro negro ainda era preto (agora tem de toda cor, sendo verde o mais usado). Num canto, o Mapa Mundi, a mesa da professora, as carteiras com dois lugares.... Janelas enormes deixando o vento entrar, sem cerimônia, atrapalhando nossos cabelos, fazendo voar cartilhas, cadernos, enfim, o que estivesse em cima das carteiras.

O sol também entrava e fazia com que meus olhos verdes brilhassem e ficassem mais bonitos. Quando, timidamente, eu olhava para ele, via que também estava sendo olhada, com aqueles olhinhos de garoto esperto, inteligente, amigo, companheiro....

Como era bom este "namoro".... Bilhetinhos completavam nosso "idílio", balinhas, merenda trocada, enfim, era assim que a gente namorava...

As árvores da alameda presenciavam os namoricos pois nossos recreios eram em locais diferentes... (mentalidade de todos... de antigamente...)

Os papeis das balas, viravam lembranças,. Eram dobrados, dávamos um nó bem no meio, e o pedacinho de papel colorido se transformava em abraço"... Papéis do chocolate Diamante Negro ficavam dentro dos livros e cadernos, guardando consigo lembranças de momentos tão puros e de um amor platônico pois nem pensávamos em nada mais que aquilo.

Os anos se passaram...Eu me casei.... Ele se casou...Segui minha vida...Ele seguiu a dele.. Na nossa cabeça, a lembrança ficou guardada... Eu sei... Eu soube... Ele era um magnífico professor de Faculdade  e eu Auditora Fiscal da Receita Federal.. Ambos aposentados.
Soube notícias dele... Nada agradáveis. Peguei o telefone, liguei...

Ele atendeu mas eu não sabia. Não conhecia sua voz depois que ficou adulto.
Perguntei: — "Quem fala?" e ele disse: 
"
— Sou eu... Quem está falando?"

Eu, com a tranqüilidade que Deus me deu, extrovertida que sou,com o maior respeito possível respondi:

" – Aqui é a sua primeira namorada... Lembra-se de mim? "

Enquanto ele pensava, os segundos demoraram a passar e fiquei pensando: - Será que ele vai lembrar?

Mais de meio século passado... Cada um morando numa cidade. Sem notícias um do outro ou da família...

Sua resposta foi imediata: "
— Jandyra, você me ligando?

E eu, feliz pela lembrança, com meu jeito de ser respondi:

"
Ainda bem que você disse meu nome. Se falasse outro,mataria em minha lembrança de menina, a doce recordação do meu primeiro amor, do meu primeiro namorado."

Batemos um longo "papo" e contamos nossas vidas em alguns minutos de conversa. Contei minha doença e ele falou da dele... Ambas graves e que nos fizeram deixar o campo de batalha antes do tempo, ou seja : APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.

Perguntei o que fazia no dia a dia, ele me disse que gostava muito de ouvir Salmos, Discos religiosos.(Lembro que a família era espírita. Agora não sei.) Mandei pra ele a coleção de Salmos lidos pelo Cid Moreira... Ficou feliz, também fiquei...

Só que, lembrei, quando era pequena e ele me olhava, do cantinho da sala onde sentava, e via em meus olhos verdes todo carinho que eu lhe dedicava... Afinal...era o meu namorado...

Nosso namoro foi assim: olhares, bilhetinhos, nunca um aperto de mão... Só isto nos bastava pois era o jeito de duas crianças namorarem...

Agora que os anos se passaram, e as marcas do tempo estão presentes em meu rosto, meu cabelo...mesmo assim eu gostaria de ter o seu olhar em mim...Como amigo, é claro, pois somos e seremos eternamente.

Mas, este meu desejo jamais será realizado porque o meu primeiro amor, o meu primeiro namorado, perdeu a visão, sem saber como, e hoje vive na escuridão que lhe foi imposta. 

Valente...guerreiro, não se abate... É alegre, vive com a mulher e filhos. 

Acho que também já é vovô...

Eu gostaria que ele me visse, encanecida pelo tempo, mas, que pudesse VER e se lembrar da sua primeira namorada....

 
                                                    Jandyra Adami
                                            03 de Setembro de 2001

(*) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem  é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
 O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.

Guimaguinhas
Enviado por Guimaguinhas em 16/10/2014
Alterado em 16/10/2014
Comentários

Espaço Francisco de Paula Vítor (Padre Vítor)

 

Aprendizado Espírita Net

 

 

PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBAR... R$ 86,87
A FACE DESCONHECIDA DA MEDIUNIDADE - A sensib... R$ 29,78
A Guerra das Espingardinhas R$ 35,19
LIVROS/E-BOOKS DO AUTOR NA UICLAP E AMAZON/KI... R$ 1,00
As Águas Virtuosas de Lambari e a devoção a N... R$ 22,87
Os Curadores do Senhor R$ 36,40
Abigail [Mediunidade e redenção] R$ 33,55
Menino-Serelepe R$ 41,35
Site do Escritor criado por Recanto das Letras

Formas de interação com o site GUIMAGUINHAS

- Contato com o site - clique o link e envie sua mensagemhttp://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/contato.php

- Contato com o autor - envie mensagem para este e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com

- Postar comentários sobre textos do site - utilize esta ferramenta que está ao pé do textoComentar/Ver comentários 

- Enviar textos: utilize acima: