Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
Ilustração: Vista aérea do Pasto do Fubá - final dos anos 1960
MEMÓRIAS DA INFÂNCIA - NO "PASTO DO FUBÁ"
SUMÁRIO

     - Apresentação
     - No Pasto do Fubá
     - Um casal de amigos
     -
Vocabulário de Aguinhas
     - O livro MENINO-SERELEPE
     - Referências

APRESENTAÇÃO

No meu livro de memórias da infância — MENINO-SERELEPE — eu conto a mudança de meus pais da Vila Nova para uma casinha no Pasto do Fubá, localizado no Alto Boa Vista.

Isso se deu no início dos anos 1960, eu devia ter uns 9 ou 10 anos, e nunca me esqueci de um casal de amigos de meus avós — Dona Nêga e seu Geraldo — que nos ajudaram muito por aqueles anos difíceis.

Confira:

 
NO PASTO DO FUBÁ
 
A casinha velha no Pasto do Fubá:

Alto da Boa Vista, Pasto do Fubá, o novo e remoto endereço: uma casinha com porão, construída quase no centro de um morro, que ficava dentro de uma enorme área, na qual se fizera um loteamento, ainda completamente deserto, que possuía umas poucas casas, pingadas lá e acolá, ligadas por duas estradinhas de terra cortadas a enxadão e por trilhos formados pelos animais reiúnos que por lá pastavam soltos. 
...................



Tratava-se de uma casa muito antiga, cuja reforma malfeita não fora suficiente para esconder-lhe a decrepitude: paredes avelhentadas; nos quartos, forro de esteira caiada, mas pingando caruncho; telhas vãs nos outros cômodos; goteiras por todo o canto. Em cima, tábuas corridas cheias de furos tapados com sobras de caixotes de madeira, pedaços de uma passadeira meio deteriorada, tampas de latas de cera Parquetina; no porão, a cozinha de chão batido.

 

Antiga cera Parquetina. Reprodução. Pinterest

Do teto de esteira da sala, na ponta de um longo e antigo fio forrado de pano, pendia um bocal vazio, esperando uma lâmpada que nunca chegou. Nessa reforma, Pai Véio, que não punha o pé em ramo verde, acabou levando tomé de um rapa-tábuas, um sujeitinho tratante que fez um serviço de porco, tomou dinheiro adiantado e não terminou o combinado. Servicinho barato, remendo caro, Pai Véio então me ensinou.
 

Essa casa, bastante mudada e reformada ainda existe.

Confira esta foto de 2011, do GoogleMaps:

 

Reprodução. GoogleMaps. 2011

 
Da casinha isolada, tinha uma bela vista, como dizia o nome do lugar:
 
Da janela da frente se defrontava com a imponente Serra das Águas Virtuosas e se avistava bem todo o lado de baixo: a Estação Férrea, a linha do trem, o bairro Campinho e o loteamento Silvestrini, fundado por essa família pioneira do lugar. Da janela de cima, via-se na crista do morro o valo que assinalava a divisa com a Vila Nova à esquerda, com o Morro do Machado pelo centro e pela direita com o Alto da Bela Vista, esse uma larga gleba de terreno que fazia jus ao nome, pois que dava frente para o Lago Guanabara, o Cassino e o centro da cidade de Aguinhas.

UM CASAL DE AMIGOS

Por essa época, eu buscava água num caldeirão de alumínio na casa de dona Nêga e seu Geraldo, um casal de amigos de meus avós.

E foi assim:

 
O loteamento, localizado no centro de um antigo pasto, não possuía postes de iluminação e nem pena d’água havia, que a casa ficava muito no alto, e mãe dizia pro pai e pro vô que não ia morar lá de jeito nenhum, pois lá era morada de curiangos e de corujas. Mãe chorou muito, não queria mudar e foi difícil convencê-la a ficar sozinha com o menino dia inteiro e parte da noite num lugar isolado, nem um comercinho por perto, trilhos cercados de capim gordura e moitas de barba-de-bode, tudo inçado de carrapatos e rebuçando cobras beira-pastos, à luz de lamparina, com fossa sanitária no terreiro, banho de bacia, tanque sem água, pois que essa tinha que ser buscada em caldeirões na rua próxima da linha do trem, local até onde a caixa d’água da prefeitura conseguia bombear o líquido precioso.
 
Reprodução. Internet. Vazlon Brasil

O trabalho dos caldeirões era quase todo meu, que baldeava água três vezes ao dia da casa da dona Nêga e do seu Geraldo, um casal de amigos da família que cediam a água pra toda a vizinhança, sempre com um sorriso nos lábios.
 
E quando me perguntavam: — Onde você mora? — eu respondia inocente, sem dar conta da imagem — no pasto.
 



Seu Geraldo e dona Nêga, vizinhos e amigos inesquecíveis. Reprodução. Facebook

VOCABULÁRIO DE AGUINHAS

Barba-de-bode: espécie de capim, que prolifera em terrenos turfosos ou estéreis.
Cobras beira-pastos: espécies de cobras típicas de área de pastagem.
Levar tomé: ser enganado
Pai Véio: Maneira pela qual os netos chamávamos nosso avô Zé Batista Guimarães (aqui)
Passadeira: 
Espécie de tapete longo e estreito para a proteção do piso em escadas, corredores, entradas de edifício etc.
Pena d'água:  Medida usada em abastecimento de água, de diâmetro aproximado ao de uma pena de pato. Hidrômetro.
Rapa-tábuas: carpinteiro ruim de serviço
Reiúno:  Cavalo sem beleza e de qualidade inferior. 
Valo: Escavação no solo, de profundidade média, natural ou artificial, para escoamento da água. Utilizado antigamente para marcar divisas de terrenos.

MENINO-SERELEPE

 O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.

O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.

REFERÊNCIAS

- Museu Américo Werneck - Lambari, MG
- Facebook
- Pinterest
- Vazlon Brasil
- GoogleMaps
- Michaelis eletrônico

Guimaguinhas
Enviado por Guimaguinhas em 20/08/2020
Alterado em 20/08/2020
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