Ilustração: Jornais de dezembro de 1930 noticiam a mudança do nome de Águas Virtuosas para Lambari. Montagem. Fonte: (bn.digital.gov.br)
Em 1930, por meio do Decreto nº 9.804, de 28 de dezembro, o sugestivo, majestoso e centenário nome de nossa cidade foi alterado de ÁGUAS VIRTUOSAS para LAMBARI.
Neste post, vamos conhecer as razões históricas, políticas e legais dessa mudança.
Vamos lá.
As origens da Região do Lambari
No Século XVIII, uma expedição de baianos e paulistas penetrou rumo ao Oeste, cortando a Mantiqueira pela garganta do Embaú em direção ao Sertão do Rio Verde. Nessa caminhada, nomeiam Pouso Alto e chegam a um afluente do rio Verde, que denominam de Baependi. A notícia de ouro nas terras banhadas pelos rios Verde e Sapucaí chegou a São Paulo e rapidamente houve o deslocamento de homens para essa direção. [1] [19] [21]
Foi a picada feita por essa expedição que deu origem à Estrada Geral, em torno da qual surgiram as cidades de Campanha, Pouso Alto, Aiuruoca, São Gonçalo do Sapucaí, Itamonte e outras.
A Estrada Geral ligava a Corte (Rio de Janeiro) à cidade de Campanha (MG), passando por:
A partir de meados dos anos 1700, dois fatos contribuíram para colonização da região do Rio Lambari: em paralelo à Estrada Geral, e no trecho mais próximo ao Rio Lambari surgiram as primeiras casas e agrupamentos de moradores, que foram se estabelecendo com pequenas lavouras. Em 1749, aparece pela primeira vez o nome de um morador na região: Manuel Vieira. Em 1753 surge a distinção entre Lambari de Cima e Lambari de Baixo, prova de que iam aparecendo moradores em ambas as partes da estrada. E desde 1755 é conhecido o sítio do Lambari, de onde surgiu a povoação que deu origem ao atual município de Jesuânia. [2] [8] [19]
E nas fontes das águas minerais, surgiu a Paragem da Água Virtuosa. [2] [3] [19]
A região de Campanha do Rio Verde foi descoberta pelos paulistas por volta de 1720, tendo pouca divulgação até 1737, quando em 2 de outubro, uma expedição militar sob o comando do ouvidor da Vila de São João Del Rei, Cipriano José da Rocha, veio com a incumbência de reconhecer a região, desbravar os sítios desconhecidos ao longo da bacia dos Rios Verde, Sapucaí e Palmela e tomar posse do território em nome do Rei. [4] [19] [20]
Durante essa empreitada, Cipriano José da Rocha fundou um povoado, batizando-o com o nome de Arraial de São Cipriano. Esse povoado deu origem à cidade de Campanha.
E foi nessa oportunidade que Cipriano José da Rocha conheceu o Rio Lambari. De fato, diz ele no ofício então mandado a D. Martinho de Mendonça de Pina e Proença, governador da capitania mineira:
As terras destas Minas é (sic) uma dilatada Campanha do Rio Lambari para dentro. Exceto uma serra que tem seu princípio no mesmo rio e se dilata por espaço de uma légua, toda coberta de matos, por onde vem a estrada que mandei abrir e achei muito capaz. São os ares muito alegres, de maravilhosa vista e com melhor assento que as terras de São João d'El Rei. Tem o Lambari copiosa abundância de peixe grosso e miúdo, de admirável sabor e gosto, por ser todo de pedras o rio. E com redes que trouxe fiz uma grande pescaria, sem muito trabalho. (Grifei) [5]
Note-se que a força do nome LAMBARI para o rio da região vai se impor até mesmo no entorno das fontes de águas minerais, visto que o nome primitivo do nosso Rio Mumbuca era Lambari pequeno.
No início do século XIV, já acreditando nos valores medicinais das águas da antiga fazenda Trás da Serra, a Câmara de Campanha compra parte dessa terra que passou a ser conhecida como Ágoa Virtuosa.
Em decorrência dos valores medicinais dessas águas santas, criou-se o povoado que foi distrito de Campanha até 1901, quando é fundado o município, com o nome de Águas Virtuosas, mais tarde, Lambari. [18]
Mapas da região do Rio Lambari
Fonte: Atlas Chorograhico Municipal
Fonte: CARROZO, 1988, p. 34
Observações quanto ao mapas acima:
Fonte: A circulação entre o Rio de Janeiro e o Sul de Minas Gerais, c. 1800-1830 -
Cristiano Corte Restitutti
Estrada Real: mapas dos caminhos das Minas Gerais para o Atlântico (Fonte: Rede Graal)
Além da importância fundamental ao meio ambiente, as águas de fontes santas, milagrosas ou curativas possuem estreita correlação com a origem, história, tradição, saúde, religião, ciência e economia humana.
Fontes de águas “milagrosas” no Brasil - Fábio Tadeu Lazzerini e Daniel Marcos Bonotto
A expressão Águas Virtuosas designava as propriedades curativas e medicamentosas das águas minerais e sua ação terapêutica e preventiva em face de diversas doenças. Expressões como água santa, milagrosa ou curativa também foram usadas para nomear as águas minerais em diversas regiões do País. [6]
Em Minas Gerais, dois filões geológicos de águas virtuosas, constituindo cada um deles uma bacia subterrânea independente, brotam do Planalto da Mantiqueira: Lambari e Cambuquira — Caxambu e São Lourenço. [7]
Note-se que expressão águas virtuosas foi associada também às águas de Caxambu e Cambuquira, descobertas posteriormente às de Lambari. As Águas Virtuosas de Baependy (depois Caxambu) foram descobertas em 1814, e as Águas Virtuosas de Cambuquira, nos anos 1860.
Por sua vez, a descoberta das Águas Virtuosas de Lambary ocorreu anos antes, em 1780/90, sendo elas designadas inicialmente por Águas Virtuosas de Campanha do Rio Verde, Águas Santas da Campanha e Águas Virtuosas da Campanha. Quando foram descobertas, eram conhecidas em todo território nacional apenas duas fontes hidrominerais: a fonte do Cipó, na Bahia, descoberta em 1730, e a fonte de Caldas Novas, em Goiás, descoberta em 1737. [8]
Em torno dessas fontes, surgiu a povoação de Águas Virtuosas, a qual, em 1850, foi elevada à condição de Paróquia (Lei Mineira n. 487, de 28 de junho de 1850). E foi a partir dessa data que a povoação recebeu o nome oficial de Águas Virtuosas e que se deu a divisão da "velha região do Lambari" (que abrangia a atual Jesuânia e a atual Lambari) em duas freguesias: a da Águas Virtuosas (recém criada), e a do Lambari (atual Jesuânia), pertencentes, ainda, à cidade de Campanha. [8]
A Lei estadual n.° 319, de 16 de setembro de 1901, instituiu o município de Águas Virtuosas, com território desmembrado dos de Campanha e Baependi, ocorrendo a instalação a 2 de janeiro do ano seguinte.
Fonte: O Constitucional, Ouro Preto, MG, 3, out, 1868, anuncia a chegada da Princesa Isabel a Águas Virtuosas, então pertencente a Campanha.
Fonte: A Província de Minas, Ouro Preto, MG, de 3, out, 1885, faz referência às Águas Mineraes do Lambary
Fonte: O Baependyano, Baependy, MG, de 18, abr, 1885, faz propaganda de hotel em Águas Virtuosas do Lambary.
Fonte: Francisco de Assis Carvalho (Entre a palavra e chão: memória toponímica da Estrada Real)
Veja também:
A principal motivação para edição do decreto 9.804/1930, mencionada pelo então Presidente do Estado, Olegário Maciel, foi de que a mudança do nome da cidade era "desejo dos seus habitantes, manifestado em memorial que lhe dirigiram".
A elaboração desse memorial foi encabeçada pelo diretório político da cidade, do qual participavam, entre outros, o Coronel Serafim de Paiva, o Dr. Manoel Airosa, o Coronel Ovídio Albino e o Coronel Oliveira Lobo.
No documento, alegava-se, entre outras coisas:
Fonte: Jornal do Comércio, de 16, abr, 1893
Eis um resumo do memorial supracitado:
Fonte: Jornal A Noite, de 8,dez,1930
O Decreto nº 9.804, de 27 de dezembro de 1930
ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. O Brasil no Século XVIII/XIV e a formação territorial das Minas Gerais - A Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: ISTO É CAMPANHA Aqui nasceu o Sul de Minas: Patrícia Vargas Lopes de Araújo e a Vila da Campanha da Princesa (istoecampanha.blogspot.com)
Ilustração: Antigo latão para leite de 50 l, em aço estanhado, produzido pela ABI, de Lambari, MG
No tocante ao tema PROFISSÕES DE AGUINHAS, já elaboramos estes dois posts:
Hoje falaremos de algumas outras profissões e prestações de serviços, como aluguéis de carros de praça, engomadeiras, guarda-livros, funilarias.
Vamos lá.
Ex libris da Biblioteca Nacional do Brasil, feito porEliseu Visconti, em 1903, confeccionado em nanquim e guache sobre papel medindo 26 X 21 cm
Há inúmeras informações sobre Águas Virtuosas de Lambary em antigos jornais, almanaques e revistas, disponibilizados pela Biblioteca Nacional do Brasil, neste site:
http://memoria.bn.br/hdb/maisacessados.aspx
Entre aqueles documentos, destacamos o Almanak Laemmert, do qual estão disponíveis 38 volumes, relativos a anos entre 1891 e 1940.
Dessa coletânea é que extraímos as informações abaixo, sobre antigas profissões de Aguinhas.
Antigas profissões de Aguinhas
Carros antigos em Lambari (1928)
O dentista Olavo Krauss e sua mulher Dona Maria do Carmo
As Irmãs Silvestrini, de Águas Virtuosas, anunciam que se estabeleceram com serviços de lavanderia e engomadoria, no Rio de Janeiro, na Av. Mem de Sá (Lapa), em 1912
Famílias italianas pioneiras em Águas Virtuosas do Lambary — como Castilho, Biaso e Lorenzo — viram seus descendentes seguir as profissões de pais e avós.
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A família Biaso, pioneira na fabricação de utensílios e aparelhos para laticínios | A contabilidade da família Lorenzo |
Ilustração: Titulo reportagem do jornal A Noite (RJ), edição de 30 de janeiro de 1930
Dentro da Série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C., trazemos hoje uma histórica reportagem sobre o clube, realizada por Figueira de Almeida para o jornal A Noite, do Rio de Janeiro, publicada no dia 30 de janeiro de1930.
Vamos a ela.
A arquibancada de tijolos e a cerca de madeira
Na foto, vê-se a construção da arquibancada de tijolos e madeira de lei, que ficava alinhada à esquerda do campo. Esse, por sua vez, era circundado por uma cerca de madeira. Confira (aqui).
Tratava-se de um belo campo, de grandes dimensões (120m x 70m) e gramado perfeito.
Confira:
Em 1930, o AVFC bateu grandes adversários
A reportagem alinha expressivos resultados obtidos naquela época pelo time do Águas Virtuosas, com um elenco composto somente por jogadores do lugar:
A desde sempre apaixonada torcida do Águas Virtuosas
Em 1929, o Águas não havia perdido nenhuma partida realizada fora de Lambari, e dentro de casa estava invicto desde a sua fundação em 1926.
A torcida entusiasta, porém ordeira, ajudara o time em brilhantes "viradas" de placar:
Torcida do Águas, nos anos 1980/90
Além do futebol, o clube incentivava a prática de outros esportes, e na sua sede havia quadras de vôlei e de peteca.
Antiga planta da Praça de Esportes do A. V. F. C.
Propaganda de material esportivo dos anos 1930, existente nos arquivos do clube
Estatuto, finanças e diretoria
Os estatutos do clube foram baseados nos do Fluminense Futebol Clube, do Rio, à época considerados modelares. Seus associados, em número de uma centena, garantiam a boa situação financeira do clube.
A diretoria era composta, entre outros, pelos seguintes:
Águas Virtuosas F. C. — orgulho esportivo do Sul de Minas
Figueira de Almeida estava veraneando em Águas Virtuosas do Lambary quando elaborou a reportagem, e ele a encerra deixando dois grandes elogios ao clube:
No próximo mês de agosto, o Águas Virtuosas Futebol Clube completará 90 anos de fundação.
E a propósito disso, tomara que as palavras acima, de um antigo e distante colaborador do jornal A Noite, amante de Águas Virtuosas do Lambary e do clube que lhe levou o nome, que, não obstante tenham ecoado há tanto anos, continuam poderosas e comoventes, possam inspirar a nós lambarienses — quem sabe? — na recriação do time de futebol da cidade, orgulho de tantas gerações.
Posts já publicados
Continuidade da Série
A série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C. prosseguirá com os seguintes títulos:
Em preparo: Taça Guaraína - 1941- 2a. parte
Em preparo: Sócios
Em preparo: Diretorias
(*) Caro(a) visitante,
Nosso objetivo é compartilhar informações, histórias e fotos de nossa cidade, com vista à preservação de sua memória. Assim, se você tiver notícias, informações, fotos das pessoas ou famílias aqui mencionadas, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Já falamos em outro post sobre o primeiro fotógrafo de Aguinhas — João Gomes d'Almeida [1847-1907], que foi sucedido por seu João Gomes de Almeida Filho (1893 – 1961) (aqui).
Neste post veremos algumas técnicas utilizadas por esses importantes fotógrafos de nossa cidade.
Vamos lá.
Antigas técnicas de fotografias
João Gomes d'Almeida era um fotógrafo atualizado com as técnicas fotográficas do seu tempo. Com efeito, da propaganda de sua Photographia Fluminense se podia ver que ele tirava retratos "por todos os systemas até hoje conhecidos."
Para tanto, D'Almeida possuía um caderno de anotações e recortes sobre técnicas e novidades do ramo de fotografias, do qual extraímos estas interessantes informações:
Fórmulas químicas utilizadas na revelação de fotos
Técnica para escrever "recados secretos" num postal
Anúncio de drogas utilizadas na revelação de fotografias
Artigo sobre a fotografia das cores
Os Almeidas trabalharam também com a fotografia estereoscópica — uma técnica de fotografia em 3 dimensões —, tendo deixado uma pequena coletânea de fotos históricas de Águas Virtuosas de Lambari, elaboradas com essa técnica, como também um estereoscópio — equipamento utilizado para visualizar aquelas fotos.
Vejamos essa história.
A fotografia estereoscópica é formada por imagens iguais, que se repetem em dois quadros e quando as vemos, através do estereoscópio, elas se fundem e nos passam a impressão de uma imagem em 3 dimensões. (Fonte: https://artistajosemedina.wordpress.com)
Foi criada pelo inglês David Brewster (1781-1868), amigo do fotógrafo William Henry Fox Talbot (1800-1877), em 1849, a partir dos estudos de visão binocular desenvolvidos no passado pelos italianos Giovanni Battista della Porta (ca.1542-1597) e Leonardo da Vinci (1452-1519). (Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/)
Fotografia estereoscópica (Fonte Mercado Livre)
Fotografia estereoscópica (Finlândia) pertencente ao acervo de João Gomes de Almeida Filho
Perfecscope é o nome comercial de um estereoscópio inventado por Hawley C. White, patenteado em 15 de Outubro de 1895. Trata-se de um equipamento feito de alumínio, com uma haste inferior para o encaixe da mão, dotado de um visor de duas lentes e um suporte para fotografias estereoscópicas.
Perfecscope que pertenceu a João Gomes de Almeida Filho (1893 – 1961)
Perfecscope 1900 - AISO22 (Fonte: Youtube)
Antigas fotografias descobertas na França
No sótão de casa, Mathieu Stern, fotógrafo e blogueiro francês, encontrou uma "cápsula do tempo" com objetos de 120 anos, incluindo películas fotográficas.
Para revelar os negativos das fotos, Stern teve de recorrer a uma técnica datada de 1842.
Coletânea de fotografias estereoscópicas de Águas Virtuosas de Lambari (Acervo de João Gomes Filho)
Casario, centro de Águas Virtuosas (rua do Ginásio)
Turistas remando no Lago Guanabara. Ao fundo o Cassino, no qual aparece uma cobertura no terraço, que não existe mais
Vista do centro de Águas Virtuosas, antes da construção do Cassino
Nota: Agradecemos a colaboração da sra. Luíza Silvestrini da Cruz, neta de João Gomes d'Almeida e sobrinha de João Gomes de Almeida Filho, pelas informações prestadas e cessão das fotos utilizadas neste post.
Ilustração: Vista do interior do Cine Éden, anos 1930/40 (Fonte: Acervo de João Gomes de Almeida Filho)
Abaixo, um pouco da história do Clube Éden (também: Cassino Éden, Cine Éden), que pertenceu a sr. José Ieno, onde, nos anos 1930/40, chegaram a tocar renomados músicos brasileiros, entre eles Luciano Perrone e Radamés Gnatalli [1]
Naqueles anos, funcionou também ali o Cine Éden, de propriedade de Mello & Irmãos, ao tempo do cinema mudo.
Fonte: Almanak Laemmert, n. 71, de 1915
E, mais à frente, um sistema de alto-falantes que retransmitia o Repórter Esso, à época, o noticiário mais famoso do rádio, e dava notícias locais (notícias da cidade, notas sociais, previsão do tempo).
Confira a seguir.
Éden Clube, em Lambary, anos 1920/30 (o 3o. prédio, da esquerda para a direita. Atualmente, ali funciona uma sorveteria).
Noite elegante no Éden Clube, nos anos 1930
Daquela época de ouro em Lambari, a valsa Saudades de Lambary, de Luciano Perrone (aqui), reaparece, em 1953, em LP do maestro Leo Peracchi
[Reprodução do jornal Última Hora, de 14, out, 1953]
Abaixo, uma foto histórica do interior do Cine Éden, pertencente ao acervo de João Gomes de Almeida Filho, fotógrafo do qual já falamos (aqui)
Interior do Cine Éden, anos 1930/40.
D. Sílvia Grandinetti tocava piano no Cine Éden, à época do cinema mudo
(Fonte: Paulo Roberto Viola, Lambari, como eu gosto de você!)
(Fonte: Paulo Roberto Viola, Lambari, como eu gosto de você!)
[1]
(Reprodução: www.funarte.gov.br)
Em 1929, [Radamés] foi convidado pelo professor Fontainha a se apresentar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro tocando pela primeira vez com acompanhamento de orquestra no "Concerto em si bemol maior", de Tchaikovski, tendo recebido grandes elogios da crítica carioca. Por essa época, já radicado no Rio de Janeiro, encontrava-se em dificuldades financeiras quando recebeu o convite para atrabalhar no Cassino das Fontes, na cidade mineira de Lambari, substituindo o pianista Mário Martins. Nessa ocasião, conheceu o baterista Luciano Perrone, com quem construiria uma sólida amizade por toda a vida e que se tornaria um de seus músicos prediletos.
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB (aqui)
Conheci Luciano Perrone no ano de 1929 , mais de cinquenta anos, portanto, em Lambari, uma estação de águas. Fui contratado para tocar no Cassino das Fontes no lugar do Mário Martins; ele estava no Cassino Éden tocando bateria e em lua-de-mel ao mesmo tempo.
Do livro Radamés Gnatalli, de Aluísio Didier (Brasiliana Produções, 1996)
Os cassinos abriram campo profissional para Radamés, que passou uma temporada em Lambari, onde conheceu Luciano Perrone, o baterista que integraria todos seus conjuntos dali para frente.
Do livro A Casa da minha Infância, de Luiz Nassif (Editora Agir, 2008)
Na lua-de-mel em Lambari (MG), [Luciano Perrone ] conheceu o pianista Radamés Gnattali, que viria a ser seu maior parceiro instrumental. "Ele me convidou para acompanhá-lo no fox 'Gato no Telhado'", lembra. A amizade ficou tão forte que Radamés ensinou o baterista a tocar piano. "Foi por causa das aulas dele que eu pude tocar tímpano em um concerto sinfônico em 1932", diz. Aos 26 anos, Luciano atuou como percussionista na Rádio Clube do Brasil. Dois anos depois, participava do programa de inauguração da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. "Cheguei a gravar o tema 'Luar do Sertão' como jingle da Rádio Nacional", diz.
IstoÉGente (aqui)
(Reprodução: Clique Musical UOL)
[Luciano Perrone ] foi um dos primeiros bateristas de música popular a estudar teoria musical e tocava tanto em bailes quanto orquestras sinfônicas. Personagem fundamental para isso foi Radamés Gnattali, que ele conheceu em 1929, durante sua lua-de-mel em Lambari (MG). Diz a história que tocaram juntos o fox Gato no Telhado e, admiração mútua à primeira vista, nunca mais se separaram. Radamés chegou a dar-lhe aulas de piano, e Perrone funcionou como uma espécie de celeiro de ritmos para os inventivos arranjos de Radamés, inclusive a famosa orquestração para Aquarela do Brasil (Ary Barroso), que se destaca por seu quebrado e irresistível acento rítmico sincopado, desde a introdução.
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Foi compositor bissexto. Além de Ritmo de Samba na Cidade, tem em seu repertório choros para vibrafone, como Flutuando nas Nuvens, e valsas como Saudades de Lambari.
Clique Musical UOL (aqui)