Ilustração: Expedito Campos Guimarães (conhecido por Expedito-sem-braço), primo, amigo e companheiro de caçadas (e causos) do meu pai Dé da Farmácia
Como se sabe, AGUINHAS (pronuncia-se o U: Agüinhas) é o nome literário com que este autor nomeia a cidade de ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI nas suas memórias familiares e de sua terra natal.
Desse modo, esta série PERSONAGENS DE AGUINHAS destaca algumas personagens de nossa cidade, isto é
Pois bem, vamos começar esta série com o Expedito-sem-braço, como era conhecido meu saudoso primo Expedito Campos Guimarães.
Vamos lá.
Filho de Francisco Guimarães e Ana Campos Guimarães, Expedito nasceu aos 25 de outubro de 1933, em Lambari, MG, e aqui faleceu em 17 de junho de 2023.
Era primo de meu pai (José Guimarães Filho, o Dé da Farmácia), cujos pais (José Batista Guimarães e Francisco Guimarães) eram irmãos.
Expedito teve os seguintes irmãos: Geralda Campos Guimarães (Lalita), Ceres Campos Silva (Téte), José Campos Guimarães (Nem), Francisco Campos Guimarães (Digo), Maria Helia Campos Guimarães (Hélia) e Ana Campos Guimarães.
Irmãos do Expedito: Téte e Digo, esse no rancho em Caraguá, com meu pai Dé da Farmácia
Do segundo casamento de seu pai Francisco, nasceram: Joel Campos Guimarães, João Campos Guimarães; e Maria Aparecida Campos Guimarães.
Tio Chico, Dora (sua segunda esposa), Téte (e a criança Letícia), Ana irmã de Expedito (vestida de noiva), Bié e dona Olga, mãe do Bié.
Em 28 de setembro de 1974, Expedito se casou com Maria Anice Martins, que passou a assinar Maria Anice Guimarães.
Desse casamento nasceram: André Campos Guimarães; Denise Campos Guimarães; Lígia Campos Guimarães e Monica Campos Guimarães.
O casal teve os seguintes netos: Débora Ferreira Damas; Filipe Guimarães Nogueira de Moura; Andressa Ferreira Guimarães; Marcela Guimarães Nogueira de Moura; Gabriela Ferreira Guimarães; Maria Alice Guimarães; Carlos Rodrigues ; Maria Luiza Guimarães Fernandes e Matheus Guimarães Noronha Barletta.
A família reunida
Expedito quebrou o braço aos dez anos de idade, em razão uma queda, quando trepava nas árvores do Parque Novo.
Com medo, escondeu a arte dos pais, e o braço veio a gangrenar, tendo de ser amputado, na antiga Santa Casa.
Não obstante, cresceu com coragem e desenvoltura e aprendeu a nadar, caçar e dirigir.
Olha aí o menino Expedito aprontando uma das suas, numa brincadeira com a criançada da Rua dos Italianos:
Fonte: https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=51929#historia
Expedito tornou-se um "chofer doméstico", e sem habilitação dirigia nos limites da cidade. Com o passar do tempo, tirou sua CNH de motorista profissional e dirigia carros, caminhões, tratores com grande habilidade. [Rodrigues, 2005, p. 34]
Foi instrutor de direção e ensinou muita gente a dirigir.
Em certa época, foi motorista de uma linha de leite entre Lambari e Caxambu e tratorista rural.
Possuiu também um trenzinho com 3 carretas, que percorria pontos turísticos da cidade.
Exerceu ainda diversas outras atividades: corretor de imóveis; frentista (Posto Gregatti); Comissário de menor; chefia de alguns serviços da Prefeitura Municipal.
Expedito (com sua filha Denise no colo), Digo, seu irmão, e o Trenzinho da Alegria
No livro Pescados no Rio da Memória, o médico e memorialista José Benedito Rodrigues conta boas histórias do Expedito.
Confiram:
Fonte: Pescados no Rio da Memória. José Benedito Rodrigues. Editora O Lutador, BH, 2005
Antes da proibição da caça esportiva, meados dos anos 1960, em nossa região, meu pai e seus amigos — entre eles o primo Expedito-sem-braço — caçavam por toda a parte: Pedra Preta, Carquera, Pinhal, Alto da Serra.
Fora daqui, perambulavam atrás de macucos na Serra do Mar (Caraguatatuba e Paraty) e pela região Oeste do Paraná (proximidades de Foz do Iguaçu).
Ainda que com um só braço, Expedito andava com desembaraço pelas matas, piava a caça, carregava/descarregava a espingarda e atirava com grande proeza.
Em que pese a ter sido grande atirador, certa feita, dizem os mais chegados, acertou um um tiro no próprio pé... se non è vero, è ben trovato...
As fotos abaixo recordam um pouco das aventuras desse grupo de amigos na Serra do Mar, em Caraguatatuba:
Dorinho, Josué, Nenzinho. Dé, João André e Expedito
Caraguá, anos 1960: Na frente: Toninho. Ao centro: Expedito, seu Bié, Zé Vicente, João André, Josué. Ao fundo: Vicente, Miquéias e Dé.
Edílio, Baianinho, Dé, Seu Bié e Expedito
Essas são lembranças de um outro contexto histórico, de uma época em que a caça esportiva era legal, no País. Atualmente, encontra-se proibida.
Confira a Legislação de proteção à faúna. (aqui)
Com a extinção da caça e a conscientização ecológica, as últimas gerações de brasileiros já não praticaram a caça esportiva ou a apanha de espécies da fauna silvestre, passando a ter outra relação com aves e pássaros.
Veja este belo exemplo (aqui)
Ilustração: Recorte jornal Correio da Manhã, de 23 de maio de 1911 (Fonte: bn.digital.gov.br) - Foto de J. J. Seabra/Wikipedia
Como se sabe, as obras de Américo Werneck em Águas Virtuosas de Lambary foram inauguradas em 24 de abril de 1911, com a presença dos Presidentes da República e do Estado de Minas, além de outras personalidades.
Um mês depois, no dia 23 de maio de 1911, conforme noticiou o jornal Correio de Manhã, J. J. Seabra, então ministro da Viação e Obras Públicas (1910 - 1912) na presidência de Hermes da Fonseca, visitou Lambari a convite de Américo Werneck para inaugurar uma avenida que levaria o seu nome...
Vamos conhecer esta história, visto que não há em nossa cidade nenhuma via pública com o nome desse importante político e jurista brasileiro, que teria contribuído para a liberação das verbas de remodelação da estância, ao tempo de Werneck.
José Joaquim Seabra, conhecido como J. J. Seabra (1855 — 1942), foi um político e jurista brasileiro
J. J. Seabra – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Américo Werneck em Águas Virtuosas de Lambari
Frequentador/morador da antiga vila (1889-1908) - Primeiro prefeito nomeado (1909-1911) - Arrendatário da estância (1911-1912).
O DEPUTADO J. J. SEABRA EM LAMBARI
Segundo o Correio da Manhã de 24 de maio de 1911, dois anos antes dessa data, isto é, em 1909, J. J. Seabra viera a Lambary descansar dos trabalhos parlamentares. Nessa ocasião, conversara com Américo Werneck, então prefeito da cidade, como conseguir recursos, visando a reformar a estância.
Por aquela época, a viagem do Rio de Janeiro, então capital da República, a Águas Virtuosas de Lambari se fazia por trem, que saía da E. F. Central do Brasil até Cruzeiro (SP), onde se dava uma baldeação para o trem da Rede Sul-Mineira. (Aqui)
Neste trecho da reportagem, descreve-se a chegada de J. J. Seabra na Parada Mello e a instalação da comitiva no Hotel Mello.
Em seguida, registra-se a visita ao Parque das Águas, o almoço servido no hotel e respectivo menu.
Na oportunidade, discursou o deputado João de Almeida Lisboa, destacando os serviços prestados pelo ministro J. J. Seabra para a consecução das obras remodeladoras de Lambari.
Em resposta, J. J. Seabra agradeceu ao povo de Lambari a homenagem que receberia — inauguração da avenida que receberia o seu nome — e mencionou o apoio dado por Wenceslau Braz e Bueno Brandão às obras empreendidas por Werneck.
Por fim, J. J. Seabra redigiu um telegrama de agradecimento ao então Presidente do Estado Bueno Brandão, documento esse que foi assinado por ele e toda sua comitiva.
Há também uma referência à construção do Grande Hotel — uma sonhada obra de 200 apartamentos, que não saiu do papel... (aqui)
Este trecho da reportagem trata da inauguração da Avenida J. J. Seabra: com direito a banda de música, bandeiras, florões e escudos, presença da população e discursos.
Um dos discursos foi feito por Garção Stockler, que foi famoso orador, como já anotamos aqui.
VIAGEM DE VOLTA: ACIDENTE COM O TREM DE LASTRO
Na viagem de volta, na localidade de Palmeira, o comboio ministerial chocou-se com o trem de lastro, resultando em ferimentos leves em alguns passageiros e prejuízos materiais.
Ilustração: No dia 9 de dezembro de 1972, na Fonte Luminosa, no primeiro dia de namoro, eu disse a Celeste: Vou me casar com você! - Ilustração. Fonte: Copilot/Microsoft.
No e-book: Histórias da Casa Gorda - VI - Mais passeios nas férias da Casa Gorda, de Celeste Krauss/Antônio Carlos Guimarães (a ser publicado brevemente), falamos de um passeio à Praça da Fonte Luminosa com nossos netos.
No livro, contamos como se deu criação da praça.
Ah, e tem também uma outra história: a do banco da fonte no qual começou a história da nossa família! — que é narrada pelos netos!
Vamos lá, conhecer essas histórias!
Oh! e quem nunca viveu um flerte, um amor platônico com
uma veranista qualquer ou não carregou solícito a mochila de
uma colega? E quem não namorou escondido ao portão ou,
na Praça da Fonte, meloso, não fez juras de amor pra casar?
Do livro MENINO-SERELEPE
Fonte Luminosa - Área central de Lambari, MG
Certo dia, a noitinha, descemos com vovô e vovó pra vermos a Fonte Luminosa funcionando.
Como sempre, vovô nos contou a história do lugar:
— A Fonte Luminosa foi instalada no final dos anos 1940 pelo prefeito Hélio Salles, no centro da Praça João de Almeida Lisboa. Mas, popularmente, o lugar é conhecido por Praça da Fonte Luminosa.
Em seguida, acrescentou:
— A Fonte enfeitou a área central da cidade e foi ponto de encontro de muita gente. Antigamente, as mocinhas contornavam a praça por um lado e os rapazes por outro — no chamado footing — e desse modo se viam, paqueravam, iniciavam namoro...
— Mas foi ponto de atividade política também. Aqui foi inaugurado o busto de Juscelino Kubistchek. Ele próprio visitou Lambari, nos anos 1950, para a cerimônia. Aqui também está o busto de Américo Werneck, que foi inagurado em 1955, com discurso de Gustavo Barroso, escritor, membro da ABL e grande amigo de Lambari.
Vovô sempre se empolga com essas histórias! No entanto, ele deu um risinho, e ia prosseguir, quando a Rafa interveio:
— Quando vovô faz essa cara, vem coisa errada aí!
— Não, nada disso crianças, é só um caso engraçado — e falou de modo irônico:
— Conta-se, também, que no início dos anos 1950, numa disputa política entre os grupos ligados a Hélio Salles e João Lisboa, houve uma suposta ameaça de depredação à Fonte Luminosa. Por essa época, os oradores se sucediam nos alto-falantes, montados na Praça João de Almeida Lisboa, e a nossa memória política assinala que um deles proclamava vibrantemente: Não, não e não! A Fonte Luminosa não será destruída!
— E de fato nada ocorreu, senão os ânimos políticos exaltados das primeiras eleições diretas realizadas em nosso município...
— Bem, é isso crianças. Vamos agora tomar aquele sorvete delicioso?
Como começou a história da nossa família
No banco da Praça da Fonte Luminosa, em 9 de dezembro de 1972, começou nossa história...
— Ara, vovô, você esqueceu de falar uma coisa importante que aconteceu aqui na Fonte Luminosa! — lembrou Maria Elisa.
— Pois é, vovô! Vó Celeste contou pra gente que foi num banco da fonte que começou a história da nossa família! — acrescentou Bebela.
— Mas já contei essa história tantas vezes! Vocês não se cansam não?
— Não!!! Você não pode esquecer de escrever essa história, viu, vô Guimão!? — disse a mandona da Rafaela.
— Tá bem! Vou resumir o caso pra vocês.
— Quando comecei a namorar sua vó, em 9 de dezembro de 1972, no primeiro dia de namoro, nos sentamos num banco em frente à Fonte Luminosa. E neste dia eu disse que ia me casar com ela!
— E disse também que ia escrever um livro com histórias da parentalha...
— E o que ela falou? — perguntaram as meninas ao mesmo tempo!
— Ela??? Não respondeu nada!
— Mas eu tinha certeza de que íamos nos casar!
— E foi o que aconteceu, três anos depois nos casamos! E isso já faz quase 50 anos!
— Ah, escrevi o livro também! O Menino-Serelepe, como vocês sabem...
Rafa e Paulinho fizeram aquela cara malandra de quem vai trolar o vovô e...
— Vovô, Bisa Tal falou que você jantou na casa dela na primeira vez que levou vovó Celesta em casa? Verdade?
A pergunta travessa quem fez foi a Rafa, mas foi o Paulinho quem não guardou segredo!
— Gente, não falem isso! Isso é segredo da vovó! — Celeste atravessou a pergunta, mas já era tarde...
— Sim, é verdade, mas... — vovô nem pôde completar a frase, e a Rafinha emendou:
— E comeu arroz-couve-farinha, tudo misturado, vovô?
— Sim, sim!
— Não precisa ficar contando isso pra todo mundo, Rafa! — disse a vó Celeste, tentando consertar o estrago.
— E você não ficou com vergonha, vô Guimão? — disseram os dois malandrinhos a uma só voz.
Bem aí desisti, porque esses dois quanto se juntam sai da frente!
Mas não desistiram:
— E o prato era bonito assim, vovô?
— Que nada! Comi na frigideira mesmo!
O banco que mandei fazer pra Celeste, similar ao então existente na Praça da Fonte, para
recordar o dia do nosso primeiro encontro e a promessa que fiz a ela
Dedicatória inserida no livro Menino-Serelepe
Veja aqui: https://loja.uiclap.com/titulo/ua14191
Promessa cumprida em 31 de janeiro de 1976
Ilustração: Conjunto de capas da Coletânea HISTÓRIAS DA CASA GORDA
Neste livro A CASA GORDA – RECANTO DOS NETOS, contamos histórias das únicas criaturas que
são mais encantadoras do que nossos filhos: os filhos dos nossos filhos — os nossos netos.
(Da SÉRIE RECANTO DOS NETOS. Site GUIMAGÜINHAS)
Aqui no SITE GUIMAGÜINHAS publicamos memórias familiares e de nossa terra natal, e contamos histórias e acontecidos dos nossos netos, dentro de uma série intitulada RECANTO DOS NETOS.
Iniciamos essa série em 2013 e, passados quase 11 anos, já colecionamos 25 posts.
Revisitando essa coletânea agora em março de 2024, notamos que ela forma um conjunto que ficaria bem no formato livro e/ou e-book.
E assim surgiu esta publicação intitulada HISTÓRIAS DA CASA GORDA - O RECANTO DOS NETOS — que leva o nome da nossa casa em Lambari, MG, conforme a apelidaram nossas crianças e onde se passa a maioria das histórias.
A Coletânea será publicada em 8 partes, quais sejam:
Trechos de conteúdos desses e-books serão divulgada em posts neste site GUIMAGÜINHAS.
A íntegra de alguns e-books será disponibilizada gratuitamente na aba E-BOOKS deste site.
Parte desses e-books será impressa e posta à venda na EDITORA UICLAP. (https://uiclap.bio/guimaguinhas)
A coletânea inteira será impressa num único volume — COLETÂNEA HISTÓRIAS DA CASA GORDA — e distribuída no âmbito familiar.
Logo da Coletânea HISTÓRIAS DA CASA GORDA
TOMO I - A CASA GORDA - RECANTO DOS NETOS
Neste tomo I – A CASA GORDA – RECANTO DOS NETOS procuramos contextualizar as histórias descrevendo a CASA GORDA – a casa dos netos, onde passam suas férias e se divertem –, o dia a dia da criançada e a comilança tão tradicional dos mineiros, especialmente quando se junta toda a família.
TOMO II - LER, CONTAR E ESCREVER HISTÓRIAS
Neste tomo II – LER, CONTAR E ESCREVER HISTÓRIAS narramos como divertimos os netos com desenhos, leituras e contação de histórias, seguindo o modelo de nossos avós, eles que foram grandes contadores de histórias.
TOMO III - FÉRIAS NA CASA GORDA
Este tomo III – FÉRIAS NA CASA GORDA relata o que nossos netos fazem nas férias que passam na CASA GORDA, quando reencontram os primos, tios e avós — suas atividades, brincadeiras, jogos, leituras, passeios — um mundo de coisas a que os miúdos têm direito
TOMO IV - MAIS FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo IV – MAIS FÉRIAS NA CASA GORDA, contamos um pouco mais do que nossos netos fazem nas férias que passam na CASA GORDA: armam barracas na sala, dançam com a vovó, fazem arte e “artes”, trolam o vovô! Ah, falamos também da Árvore do crescimento, da Cápsula do tempo e da cachorrada amiga.
TOMO V - PASSEIOS DE FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo V – PASSEIOS NAS FÉRIAS DA CASA GORDA, falamos dos passeios tradicionais que fazemos em Lambari: Parque das Águas, Parque Novo, Volta do Lago, Alto do Cruzeiro — ao tempo que vamos conversando com as crianças, respondendo suas perguntas e contando a história de nossa cidade
TOMO VI - MAIS PASSEIOS DE FÉRIAS NA CASA GORDA
Neste tomo VI – MAIS PASSEIOS NAS FÉRIAS DA CASA GORDA vamos comentar outros passeios típicos de nossa cidade: o Centro histórico, o Horto Florestal, e bem assim visitas ao Chalezinho do Serrote e pescarias que fazemos com os netos — ao tempo que vamos conversando com as crianças e comentando aspectos históricos de Lambari.
TOMO VII - DATAS FESTIVAS NA CASA GORDA
Neste tomo VII – DATAS FESTIVAS DA CASA GORDA falamos sobre datas especiais da Casa Gorda — Natal, Ano Novo, Aniversários — e também de outras festas que vamos inventando para alegrar os netos: Gritinho de Carnaval, Festa Junina, Halloween... Ah, em todas essas festas ocorre um evento imperdível que a Vó Celeste inventou: os fogos de artifícios que não produzem estampido — os quais as crianças chamam de bagulhos...
TOMO VIII - OUTRAS HISTÓRIAS DA CASA GORDA
Neste tomo VIII – OUTRAS HISTÓRIAS DA CASA GORDA registramos casos dos netos — modo de falar, histórias que inventaram, profissões que escolheram — sendo que um desses casos (Coitado do Lobo Mau!) inspirou a capa deste Tomo VIII. Juntamos também relatos de eventos ocorridos na Casa Gorda por ocasião dos tempos difíceis da Covid19
Ilustração: Capa do Almanaque Fontoura, 1944. Reprodução. Fonte: Site Mercado Livre
No dicionário Michaelis Eletrônico está esta definição de almanaque:
A seu turno o Dicionário Aulete Digital anota:
Ao longo da história surgiram diferentes tipos de almanaques, como o administrativo, o histórico, o literário e o almanaque de farmácia.
O tema deste post é o almanaque de farmácia.
Vamos lá!
Os almaques surgiram na Europa a partir dos anos 1450. Nos séculos XVI e XVII, passaram a circular por todo o Continente, trazendo calendário, informações de astrologia, utilidades e entretenimento. (Trizotti, 2008)
Diz TRIZOTTI (2008) que:
No Brasil, somente a partir de 1821 tivemos a imprensa livre e com ela a publicação de jornais e almanaques. Os primeiros almanaques cuidavam da vida administrativa das cidades (horários de trens, tabela de preços e produtos, tarifas de correio de transporte). Surgiram depois os almanaques literários e mais à frente os almanaques de farmácia. (Trizotti, 2008)
Nosso primeiro almanaque de farmácia foi O Pharol Medicinal (1887), trazendo táboa de cambios, kalendário, diversões e indicações uteis (sic).
Outros surgiram depois, como Saúde da Mulher, Bromil, Capivarol.
Contudo, o mais famoso foi o Biotônico Fontoura, que vamos comentar mais abaixo.
Sob patrocínio da Granado & Cia., em 1887 aparece no Brasil o primeiro almanaque de farmácia. Reprodução. Fonte: bn.digital.gov.br
Almanack Ilustrado Oliveira Júnior & C. 1902. Calendário, datas festivas, citações, propagandas dos produtos da empresa.Fonte: bn.digital.gov.br
Almanack Pharmacia Silva-Araujo. 1913. Calendário, horóscopo, citações, propagandas dos produtos da empresa. Fonte: bn.digital.gov.br
Outros almanaques de farmácia publicados no Brasil. Fonte: GOMES, Mário Luiz. 2005
Almanach Sul-Mineiro, 1874. Editado em Campanha. Trazia calendário, dados históricos e informações administrativas da Região do Sul de Minas, de Águas Virtuosas, inclusive. Fonte: bn.digital.gov.br
Almanach do Município da Campanha, 1900. Trazia calendário, dados históricos e informações administrativas da Campanha e seus distritos, inclusive Águas Virtuosas de Lambary. Fonte: bn.digital.gov.br
ALMANAQUES NA FARMÁCIA SANTO ANTÔNIO
No Brasil das décadas de 1920/80s, almanaques de farmácia eram famosos e disputadíssimos — e distribuídos gratuitamente à clientela.
No livro MENINO-SERELEPE, conto que dos meus 12 até 15 anos trabalhei na Farmácia Santo Antônio.
Pois bem, recordo que nesse período distribuí muitos desses almanaques.
Dentre eles, o Renascim, o Sadol, o Fontoura:
Fonte: https://catarinensepharma.com.br/institucional/almanaque-sadol/
O Almanaque Sadol 2000, distribuído pela Farmácia Santo Antônio, em 2000. Fonte: Facebook/Raimundo Carmo de Sousa
Uma das utilidades do Almanaque Fontoura: consulta às fases da lua.
Fonte: Menino-Serelepe, 2009
MONTEIRO LOBATO, URUPÊS E JECA TATU
Em 1914, Monteiro Lobato, que então explorava uma fazenda que herdara do avô, localizada no Vale do Paraíba, enviou correspondência para o jornal Estado de São Paulo reclamando dos sertanejos brasileiros e das queimadas que estes promoviam.
Os editores do jornal, percebendo a qualidade literária da missiva de Lobato, a publicaram em outro espaço do jornal, sob o título de Uma velha praga. Aqui surge o caboclo indolente e fatalista, o qual ele batiza de Jeca Tatu.
Foi tal o sucesso desse texto que Lobato escreve outro: Urupês, em que descreve o Jeca e seu modus vivendi.
Ref.: oficinafu.blogspot.com/urupês 100 anos.
Urupê: tipo de fungo parasitário chamado orelha-de-pau, que destroi a madeira (Wikipedia)
Os contos Uma velha praga, Urupês e outros mais é que deram origem ao primeiro livro de Lobato: Urupês, editado em 1918.
A partir deste livro, nasce o literato Monteiro Lobato, que vai criar, em 1925, sua própria editora: a Cia. Graphico-Editora Monteiro Lobato, uma editora moderna, com maquinários de última geração.
Essa capa original, de 1918, ilustrada por José Wasth Rodrigues, representa um mata-pau, parasita de árvores e tema de um dos contos
Uma conferência de Ruy Barbosa no Teatro Lírico do Rio de Janeiro durante sua campanha presidencial de 1919, em que citou o livro de Lobato, contribuiu para aumentar as vendas.
Essa conferência intitulou-se “A Questão Social e Política no Brasil” e começou com a frase:
Edição em separata do Jeca Tatu, ilustrada pela figura de Ruy Barbosa. Imprensa Carvalho, Bahia, 1919
É curiosa a carreira do personagem Jeca Tatu.
Em cartas datadas de 1912 e 1914, Lobato confessou ao amigo e tradutor Godofredo Rangel (mineiro de Três Corações) que pensava num personagem — "um caboclo da terra"... "genuinamente nacional" — que se comportava como "um piolho da terra, uma praga da terra”, fazendo, com sua ignorância, uma "obra de pilhagem e depredação" — caçando animais, queimando campos, derrubando árvores.
Pois bem, foi esse personagem — que vai se tornar o icônico Jeca Tatu — que Lobato leva, inicialmente, para um artigo de jornal (1914) e depois para seu livro Urupês (1918).
Mas em 1920, o próprio Monteiro Lobato vai promover a redenção do Jeca Tatu, recriando-o no personagem Jeca Tatuzinho — que aparece num almanaque por ele idealizado e confeccionado — e que foi dado à publicidade por seu amigo Cândido Fontoura, visando a promover produtos do laboratório Fontoura Serpe & Cia, em especial do Biotônico.
Essa tiragem foi de cinquenta mil exemplares.
A tiragem do Almanaque Fontoura (como se tornou conhecido) foi crescendo a ponto de entre as décadas de 1930 a 1970 terem sido distribuídos entre dois e meio a três milhões de almanaques.
Editado sucessivamente, esse almanaque chegaria a 100 milhões de exemplares no centenário de nascimento do escritor (1982). (Wikipedia)
Considerada a peça publicitária de maior sucesso na história da propaganda brasileira, inspiraria, naquele ano de 1982, a criação do Prêmio Jeca Tatu. Instituído pela agência CBBA - Castelo Branco e Associados, representou uma homenagem "à obra-prima da comunicação persuasiva de caráter educativo, plenamente enquadrada na missão social agregada ao marketing e à propaganda".
(Fonte:https://monteirolobato.com/miscelanea/jeca-tatuzinho/)
O fraco e desacorçoado Jeca transforma-se num homem ativo e operoso, após tomar ANKILOSTOMINA (vermífugo que combatia o amarelão) e BIOTÔNICO (suplemento mineral).
Em 1924, Jeca Tatuzinho, por meio de um livro do mesmo nome, vai ensinar noções de higiene e saneamento às crianças.
Numa linguagem fácil, por meio de ilustrações, Lobato logrou comunicar-se com crianças e adultos, passando orientações sanitárias e de saúde à população.
Em meio a uma campanha de combate à verminose, essa breve e divertida fábula sobre o progresso, a saga do homem do campo brasileiro vencendo os males da opilação [ancilostomíase ou amarelão], chamou a atenção e conquistou a simpatia de milhões de leitores. (GOMES, Mario Luiz, 2005)
Editado pela Cia. Graphico-Editora Monteiro Lobato. São Paulo, 1924, com ilustrações do alemão Kurt Wiese
Fonte: monteirolobato.com
Américo Werneck, após o embate judicial com o Governo de Minas (Minas x Werneck), se desligou de Águas Virtuosas de Lambary e passou a se dedicar aos seus escritos (veja aqui: As obras literárias de Américo Werneck).
Nessa fase de sua vida, Werneck escreveu livros e artigos para jornais e revistas, geralmente sobre questões nacionais — política, economia, finanças, saúde pública —, como também se interessou pela pesquisa dos fenômenos espíritas (Veja aqui: Os livros espíritas de Werneck).
Correio da Manhã, 10, nov, 1921
Pois bem, no livro Tarifas e Finanças, de 1919, Werneck faz alusão ao personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato em 1918, como visto acima.
Ele assim se refere a Lobato:"estudo individual de illustre escriptor", mostrando que se achava em dia também com questões literárias.
Esse texto de Werneck, escrito antes da "redenção do personagem" promovida por Lobato em 1920, defende o sertanejo atrazado, argumentando que os nossos matutos não eram figuras de desprezo, como a imprensa vinha generalizando.
Confira:
PARA SABER MAIS SOBRE ALMANAQUES