Ilustração: Recorte capa do livro de poemas Exílio - o lago das incertezas, de Lucas Guimaraens, Relicário Edições, BH, 2018
LAMBARI, a cidade das Águas Virtuosas, viveu, no último sábado, dia 22 de setembro, uma belíssima tarde de poetas mineiros, poemas universais e amantes da poesia e do livro.
Com a presença do poeta Lucas Guimaraens, o evento ocorreu na Fundação Cultural Vagão 98 para a
Segundo o coletivo Polígono Sul-Mineiro do Livro - Sul de Minas (PSML), promotor do evento, com a instalação desse Clube de Leitura (CLÊ) - Lucas Guimaraens objetiva-se
reunir os clubes já existentes e dedicados a Lucas Guimaraens e aos Guimaraens em nossas localidades (cidades e distritos) sul-mineiros, outros leitores esparsos e demais interessados.
Uma iniciativa que ocorre em tempo e espaço privilegiados. Num momento de abertura da nossa tradicional e bissecular Primavera Poética Sul-Mineira; num ano em que estamos folheando os 100 Anos de Nascimento de Alphonsus de Guimaraens Filho, em mais uma edição do projeto de leitura CalendaAutor; nos organizando para mais uma edição de outro projeto de leitura, o CalendaObra, em 2019, com os 100 Anos da Visita de Mário de Andrade a Alphonsus de Guimaraens, ambos integrantes do programa de leitura denominado PontEscadas Sul-Mineiras de Leitura Literária. E ainda nos preparativos para uma sesquicentenária festa alphonsina, em 2020.
Pois bem, abaixo vai pequeno resumo desse encontro.
O programa possibilitou uma tarde agradável para os amantes do livro e da poesia da região sul mineira.
Conhecer a formação e a poesia de Lucas Guimaraens, bem como aspectos de sua vida profissional, cultural e literária — como também sua rica ascendência literária dos Guimaraens, de Portugal até as montanhas de Minas —, foi uma oportunidade ímpar para nós leitores do Circuito das Águas.
Parabéns aos responsáveis pela realização do evento.
A programação cobriu pontos essenciais da vida e da obra literária do homenageado, e aspectos importantes do leitor e das políticas e instrumentos de leituras na região sul do Estado.
Vozes nas Esquinas das nossas Serras e Rios: Mantiqueira/Grande, Canastra/Chico, Mar/Paraíba do Sul, Espinhaço/Doce - Vários Participantes
Maurílio Dias e Samuel Andrade, músicos e professores de música, de Campanha, interpretaram canções que remetiam à memória afetiva de Lucas Guimaraens — autores com quem trabalhou, parceiros de poesias e amigos artistas: Roberto Carlos, Fernando Brandt, Mílton Nascimento, entre outros.
Antes da abertura do evento, música de qualidade
"Seja Bem-Vindo Sul-Mineiro" a Lucas Guimarães - Equipe da Livraria Estação Mercado do Livro
Saudado pela equipe da Estação Mercado do Livro, Lucas Guimaraens agradeceu com humildade e emoção aos promotores e aos leitores que prestigiaram o evento.
Em sua fala, lembrou que Águas Virtuosas de Lambari, escolhida para sediar esse encontro e o Clube de Leitura (CLÊ) - Lucas Guimaraens - Sul de Minas, é uma cidade literária.
De fato,
A literária Lambari ... há cerca de dois séculos já registrava agenda cultural e literária, com as reuniões que ocorriam nas Sociedades Políticas e Literárias que proliferaram pela Província de Minas Gerais, durante as Regências, como é o caso da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, na localidade da Capela de Lambary da Vila da Campanha, com início das atividades em 1835, conforme documentos do Arquivo Público Mineiro, de acervos particulares e relatos orais dos descendentes dos participantes, hoje nossos ativos mobilizadores. Eram os clubes de leitura da época, tempos e espaços em que aconteciam as setecentistas práticas dos "saraus, tertúlias, convescotes", além das inovações oitocentistas, as concorridas "palestras".
(Fonte: PSML, citado acima.)
E, bem assim, Lambari é terra de poetas, escritores e intelectuais da Família Lisboa — Henriqueta, Alaíde, João Carlos, Maria Elisa e Edmar Bacha.
Lambari foi também a cidade que Basílio de Magalhães escolheu para passar os últimos anos de sua vida, cuja Biblioteca Pública Municipal leva o seu nome e à qual ele doou seu riquíssimo acervo de mais de 3.000 volumes.
Recorde-se que Henriqueta Lisboa e Basílio de Magalhães foram grandes divulgadores da obra de Alphonsus de Guimaraens e dos Guimaraens, entre nós sul-mineiros.
Basílio de Magalhães, aliás, fez em Lambari uma conferência sobre Alphonsus de Guimarães, como registra a obra abaixo, na pág. 31:
A.G.G. - Coleção Alphonsus de Guimarães Filho
Lucas mostrando o número especial do Suplemento Literário de Minas Gerais, que homenageia seu avô, o poeta Alphonsus de Guimaraens Filho.
Ao final, os presentes ganharam um exemplar dessa revista.
O Suplemento Literário de Minas Gerais foi organizado pelo escritor sul-mineiro Murilo Rubião, nascido em Carmo de Minas.
Descerramento da Miniplaca "Clube de Leitura (CLÊ) Lucas Guimaraens - Sul de Minas" - Lucas Guimaraens
Descerramento da miniplaca do CLÊ - Lucas Guimaraens. Na foto, em primeiro plano, o homenageado e Maria Helena Penteado, do PSML
DE PORTUGAL E ESPANHA ÀS MONTANHAS DE MINAS
Dos Afonsos e Alfonsos de Portugal e Espanha aos Afonsos e Alphonsus de Minas até Lucas Guimaraens - Cláudia Godinho
Cláudia Godinho, bibliotecária de São Lourenço e integrante do PSML, narra pequena história dos literários Guimaraens
O encontro das políticas públicas culturais (ProLer/PNLE/PNLL/PELLLB-MKG/PMLLELBs) e a mobilização sociocultural regional (Coletivo Polígono Sul-Mineiro do Livro) - Maria Helena Penteado
Maria Helena Penteado, de Guaxupé, representante do Polígono Sul-Mineiro do Livro, fala das políticas públicas culturais
A REDE SUL-MINEIRA DE CLUBES DE LEITURA
A Rede Sul-Mineira de Clubes de Leitura (CLÊ-Sul de Minas) e o Clube de Leitura (CLÊ) Lucas Guimaraens - Sul de Minas - Sandra Vidal
Sandra Vidal, de Caxambu, bibliotecária e integrante do PSML, explana o seu tema
PALESTRAS E CONVERSAS CAMPANHENSES
Da "Palestra Campanhense" à "Conversa Campanhense" até a "Conversa Macanuda": nosso patrimônio, modo de contação de histórias e estratégia de mediação de leituras no Sul de Minas - Priscila Moraes
A professora Priscila Moraes, de Guaxupé, integrante do PSML, explica o que é e como surgiu a Conversa Macanuda
CONVERSA MACANUDA: LUCAS GUIMARAES E SEUS LEITORES
Sessão de "Conversa Macanuda" entre Lucas Guimaraens e seus leitores sul-mineiros: o processo de criação, publicação, circulação e fruição - Vários participantes
Macanudo é termo do espanhol, com o sentido de grande, excelente. Na linguagem popular gaúcha, diz-se macanudo de pessoa poderosa, respeitável pela força, prestígio, inteligência etc. Em suma, é uma expressão que transmite aprovação, alegria, admiração.
Conversa macanuda é, pois, uma conversa franca, legal, bacana, como a que Lucas Guimaraens e seus leitores sul-mineiros exercitaram nesse passo do evento.
Sarau-do/com/sobre/para Lucas Guimaraens - "Dar Voz às Vozes": 'Onde' está a 'poeira, pixel, poesia' do 'Exílio' '33,333'?- Vários participantes
Poesias de Lucas Guimaraens, dos livros Exílio e 33,333, foram escolhidas e lidas por algumas pessoas presentes.
Entre os poemas estavam: Oftalmológico, O carnaval, Olhos e Claramente.
Encerramento - Sessão de Autógrafos
Após o encerramento, no espaço da livraria, Lucas Guimaraens, sempre dado e amável, autografou seus livros.
Lucas Guimaraens autografando seus livros
O autógrafo de Lucas Guimaraens para este autor
Sarau de Viola e Literatura - Vozes da Mantiqueira e Grande para Lucas Guimaraens - Rosmarie e Decio Zylberstajn - Duo de viola cabocla e voz 'Vereda Violeira'
Rosmarie e Decio Zylberstajn e as violas caboclas
Conheça quem é o poeta Lucas Guimaraens
Sobre o livro 33,333 - Conexões bilaterais, veja:
Pequena memória literária dos Guimaraens
Os Alphonsus de Guimaraens remontam aos Afonsos e Alfonsos de Portugal e Espanha, como dissertou Cláudia Godinho. No Brasil, têm parentesco com Bernardo Guimarães (1825-1884).
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) é sobrinho-neto de Bernardo Guimarães, pai do escritor João Alphonsus (1901-1944) e do poeta Alphonsus de Guimaraens Filho (1918-2008) e avô do poeta Afonso Henriques, Neto (1944).
Lucas Guimaraens (1979) é bisneto do primeiro, sobrinho-neto do segundo, neto do terceiro e sobrinho deste último.
Bernardo Guimarães e Alphonsus de Guimaraens
João Alphonsus e Alphonsus de Guimaraens Filho
Afonso Henriques, Neto e Lucas Guimaraens
Bernardo Guimarães foi poeta e romancista, destacando-se A escrava Isaura como sua obra mais importante. Por escolha de Raimundo Correia, ele é o patrono da cadeira n. 5 da Academia Brasileira de Letras. Sua produção poética conhecida foi reunida em Poesias completas de Bernardo Guimarães, organização, introdução, cronologia e notas de Alphonsus de Guimaraens Filho, edição do Ministério da Educação e Cultura/Instituto Nacional do Livro (1959).
O DESTINO DE ISAURA
Agora nos é indispensável abandonar por alguns instantes Isaura em sua penível situação diante de seu dissoluto e bárbaro senhor para informarmos o leitor sobre o que ocorrera no seio daquela pequena família, e em que ficaram os negócios da casa, depois que a notícia da morte do comendador, estalando como uma bomba no meio das intrigas domésticas, veio dar-lhes dolorosa diversão no momento em que elas, refervendo no mais alto grau de ebulição, reclamavam forçosamente um desenlace qualquer.
Aquela morte não podia senão prolongar tão melindrosa e deplorável situação, pondo nas mãos de Leôncio toda a fortuna paterna, e desatando as últimas peias que ainda o tolhiam na expansão de seus abomináveis instintos.
Leôncio e Malvina estiveram de nojo encerrados em casa por alguns dias, durante os quais parece que deram tréguas aos arrufos e despeitos recíprocos. Henrique, que queria absolutamente partir no dia seguinte, cedendo enfim aos rogos e instâncias de Malvina, consentiu em ficar-lhe fazendo companhia durante os dias de nojo.
A escrava Isaura, Cap. 8
Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henrique da Costa Guimarães) foi importante poeta simbolista brasileiro. Sua poesia é marcadamente mística e envolvida com religiosidade católica. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inadaptação ao mundo.
Suas obras: Setenário das Dores de Nossa Senhora, poesia (1899); Câmara Ardente, poesia (1899); Dona Mística, poesia (1899); Kyriale, poesia (1902); Mendigos, prosa (1920).
Obras póstumas: Pastoral aos crentes; Escada de Jacó; Pulvis; Salmos; Poesias; Jesus; Alphonsos.
Seu célebre poema Ismália está reproduzido na Estação Paraíso do Metrô, em São Paulo:
Reprodução. Fonte: https://deskgram.ne
Reprodução: Paulo Leminski, Vida, Cia. das Letras, 2013, p. 66
João Alphonsus (João Alphonsus de Guimaraens) era o terceiro filho do Alphonsus de Guimaraens. Foi um dos nomes importantes do Modernismo e contemporâneo de Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, Pedro Nava e outros que foram seus amigos no Diário de Minas.
Suas obras: 1931 - Galinha cega; 1934 - Totônio Pacheco; 1938 - Rola-Moça; 1942 - Pesca da Baleia; 1943 - Eis a noite!
GALINHA CEGA
Na manhã sadia, o homem de barbas poentas, entronado na carrocinha, aspirou forte. O ar passava lhe dobrando o bigode ríspido como a um milharal. Berrou arrastadamente o pregão molengo:
– Frangos BONS E BARATOS!
Com as cabeças de mártires obscuros enfiadas na tela de arame os bichos piavam num protesto. Não eram bons. Nem mesmo baratos. Queriam apenas que os soltassem. Que lhes devolvessem o direito de continuar ciscando no terreiro amplo e longe.
– Psiu!
Foi o cavalo que ouviu e estacou, enquanto o seu dono terminava o pregão. Um bruto homem de barbas brancas na porta de um barracão chamava o vendedor cavando o ar com o braço enorme.
Quanto? Tanto. Mas puseram-se a discutir exaustivamente os preços.
Não queriam por nada chegar a um acordo. O vendedor era macio. O comprador brusco.
– Olhe esta franguinha branca. Então não vale?
– Está gordota… E que bonitos olhos ela tem. Pretotes… Vá lá!
.................
Galinha cega - conto
Alphonsus de Guimarães Filho poeta e jornalista, cuja obra é situada pela crítica como integrante da terceira geração do Modernismo. Seu primeiro livro de poesias: Lume de estrelas, lançado em 1940, recebeu o Prêmio de Literatura da Fundação Graça Aranha e Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. O título do livro deu nome a uma rua da cidade do Rio de Janeiro, no Méier, em 1976.
O Irmão recebeu o Prêmio Manuel Bandeira, do Jornal de Letras, Rio de Janeiro. Absurda Fábula, o prêmio Luísa Cláudio de Souza, do Pen Clube do Brasil; Água do Tempo, o prêmio Literário Nacional; Nó, o prêmio Jabuti, da Câmra Brasileira do Livro; e O Mito e o Criador, o prêmio de poesia Cidade de Belo Horizonte, da prefeitura dessa Capital.
Pertenceu à Academia Mineira de Letras.
Belo Horizonte, 1944: Acima, Hélio Pellegrino,
Alphonsus de Guimaraens Filho, Otto Lara Resende e Alexandre Drummond.
Embaixo: Oscar Mendes, Mário de Andrade e João Etienne Filho.
(Reprodução: Arquivo Otto Lara Resende/Instituto Moreira Salles)
POEMA SONHADO - Para Hymirene
Se não for pela poesia, como crer na eternidade?
Os ossos da noite doem nos mortos.
A chuva molha cidades que não existem.
O silêncio punge em cada ser acordado pelos cães invisíveis do assombro.
Os ossos da noite doem nos vivos.
A escuridão lateja como um seio.
E uma voz (de onde vem?) repete incessante, incessantemente:
Se não for pela poesia, como crer na eternidade?
Segundo conta Afonso Henriques Neto, filho de Alphonsus de Guimaraens Filho, sua mãe Hymirene acordou um dia no meio da noite com o marido (Alphonsus Filho) sonhando em voz alta, balbuciando algo incompreensível, mas que ela entendeu ser um verso-indagação, que acabou anotando e mostrou a ele no dia seguinte.
Este era o verso: Se não for pela poesia, como crer na eternidade? A partir desse verso foi que Alphonsus escreveu o poema acima.
Suplemento Literário de Minas Gerais - Edição Especial - Maio 2018, p. 29
Afonso Henriques, Neto (Afonso Henriques de Guimaraens Neto) é poeta, advogado, formado pela UNB/Brasília (1976) e professor associado do Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense desde 1976. Obteve o título de Doutor em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1997.
Publicou: O misterioso ladrão de Tenerife (co-autoria com Eudoro Augusto), 1972; Restos & estrelas & fraturas, edição independente, 1975; Ossos do paraíso, 1981; Tudo nenhum, 1985); Avenida Eros, 1992; Piano mudo, 1992); Abismo com violinos, 1995); Eles devem ter visto o caos, 1998); Ser infinitas.palavras, 2001); Cidade vertigem, 2005.
TEXTO
Oh espina clavada em el hueso/Hasta que se oxiden los planetas!
(Federico García Lorca)
O texto, escura escama, pesadelo de eternidade,
Máscara densa do universo vomitando.
O texto, mas não a energia que o pensou,
Interrogando a simultaneidade absoluta.
Há uma esperança nas ruas, nas pedras, no acaso
de tudo,uma esperança, uma forma suspensa
entre o aparente e a essência, entre o que vemos
e a substância, uma esperança, uma certeza talvez
de que o rio não se dissolva no mar, de que
o ínfimo, o precário, a voz, a sombra,
o estalar das carnes na explosão
não se dispersem no todo, impensável medusa da inexistência.
Há uma luz qualquer sonhando integração, o suposto
destino dos ventos, das energias globais, a suposta
sabedoria com o que homem fecundou a crosta
envenenada do planeta, há uma luz qualquer
ensaiando águas pensadas no eterno esvair-se,
abstrato expansionário, há uns olhos além
da frágil realidade, da terrível matança, a
cruel carnificina entre seres pestilentos aquém
da fronteira do sonho, um texto além do texto,
uma esperança talvez, enquanto somo e nos cumprimos,
enquanto somos e nos oxidamos, enquanto
somos e prosseguimos.
(do livro O misterioso ladrão de Tenerife)
Autores lambarienses e sul-mineiros e obras sobre Águas Virtuosas
Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.
Leon Tolstói
Penso que clubes de leitura podem eleger obras quaisquer, literárias ou não, ou ter uma finalidade específica: um autor e sua obra, ou ainda temática determinada, desde que atenda interesse do grupo.
Como também podem focar, no caso deste recém-criado CLÊ, autores lambarienses e sul-mineiros e obras sobre Águas Virtuosas de Lambari ou sobre o Circuito das Águas, por exemplos.
No site GUIMAGUINHAS, na Seção Literatura de Aguinhas (aqui), estão posts sobre escritores e poetas nascidos e/ou ligados a Águas Virtuosas de Lambari, e assim também de autores/obras que se referem à cidade.
Entre eles estão os da família Lisboa: Henriqueta, Alaíde, José Carlos, Ana Elisa Gregori, Edmar Bacha.
E os da família Rodrigues: José Benedito, Luiz Oswaldo (LOR) e Ernesto.
E aqueles que escreveram sobre a cidade: José Nicolau Mileo, Armindo Martins, João Carrozzo, Paulo Roberto Viola.
Estão também poetas e autores como: José Machado Sobrinho, Sônia Gorgulho, Francisco Biaso, Jorge Lemos.
Recorde-se ainda alguns outros importantes escritores nascidos no Sul do Estado e/ou que escreveram sobre temática regional sul-mineira:
E, por fim, há por aqui no Sul das Gerais um grande número de autores novos ou pouco conhecidos que um projeto como o CLÊ pode descobrir e incluir na agenda de leitura.
Ilustração: Imagem de N. S. da Conceição, pertencente ao acervo da Família Campos, de Lambari, MG, que aqui aparece com a coroa encontrada junto da imagem
Registra a memória da Família Campos (Lambari, MG) que uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada em fins do Século XIX na fazenda dos Campos, e que, desde então, Nossa Senhora passou a ser objeto de devoção no seio daquela família.
Dessa tradição foi que surgiu a Capelinha e depois a Igrejinha de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na Vila Campos, em Lambari, MG.
Essa é a história que vamos narrar, em três etapas. Abaixo vai a primeira parte: A descoberta da imagem.
Vamos lá.
VEJA TAMBÉM:
A Vila Campos, em Lambari, MG, situa-se em parte de antiga gleba de terras que pertenceu à Família Campos, desde meados do Século XIX.
O núcleo dessa família era constituído por Antônio de Campos (Tonico), Joaquim de Campos e José de Oliveira Campos (Zeca).
Tonico de Campos era pai de Antônio de Oliveira Campos (Seu Toninho de Campos, que foi proprietário do Hotel Rezende - aqui).
Zeca Campos e Rita Agripina são pais de Ana e Francisca, duas irmãs que foram casadas com Francisco Guimarães (Chicão) e Alfredo Guimarães (Alfredinho), ambos irmãos de José Batista Guimarães, meu avô paterno (veja aqui).
Francisco Guimarães (Chicão) e seu filho Expedito
Alfredinho Guimarães (sentado) e seu irmão José Batista Guimarães
Nos fundos dessa propriedade da Família Campos, formara-se uma capoeira em aclive, na qual criava-se gado e plantava-se milho. Na divisa, que dava para a pedreira do bairro Vila Nova, havia um valo, e na borda deste alteava-se uma árvore de óleo copaíba.
Árvore de copaíba - Reprodução - www.sitiodamata.com.br
Narram as tradições da família Campos — confirmadas por descendentes próximos: Expedito Campos Guimarães (neto) e Bernadete Campos Guimarães (bisneta) —, que em finais dos anos 1800, após a colheita do milho, foram jogadas no mencionado valo as palhas e hastes secas. A seguir, fez-se uma queimada, visando à limpeza e nutrição do solo em que o milho fora plantado (essa prática, hoje proibida, era comum à época desses fatos).
Expedito Campos Guimarães, filho de Ana Campos e Francisco Guimarães
O fogo subiu ladeira acima e quando chegou ao valo os trabalhadores notaram que dentro dele, próximo da copaíba, estranhamente, havia um lugar que o fogo passava por cima mas não queimava as palhas e hastes secas do milharal abatido.
Montagem: Fogo no milharal e imagem de N. S. da Conceição - Imagem: Reprodução. Fonte: Depositphotos
Correram para verificar o acontecido e encontraram, num buraco cavado no barranco, uma caixa de madeira, contendo uma pequena cruz e um brasão de cobre, e uma coroa; e, ao lado da caixa, uma imagem de Nossa Senhora Conceição, sem a coroa característica da santa.
Mais deslumbrados ficaram ainda quando descobriram que a imagem fora talhada em madeira.
Objetos encontrados juntos à imagem da Virgem Santíssima
Nesta foto se pode ver que a imagem foi talhada em madeira
Nesta foto, a imagem aparece com uma nova coroa
A partir desse fato, N. S. da Conceição passou a ser objeto de culto doméstico no seio da Família Campos, que, diante da imagem com marcas de fuligem, realizavam rezas e terços no ambiente doméstico.
Assim foi que em face de estiagens mais demoradas, as mulheres da Família Campos providenciavam uma novena para pedir a intercessão de N. S. da Conceição.
Esse ato de fé católica não se dava somente na Família Campos, pois, com efeito, Expedito Campos Guimarães recorda que, ainda menino, sua avó Rita Agripina dizia:
— Expedito, leva a imagem da Santa para a comadre Alexandrina, que lá nas bandas do Serrote tá carecendo de chover.
E lá ia o Expedito, todo fagueiro, conduzindo a imagem de N. S. da Conceição para a fazenda da Dona Alexandrina.
Tempos depois, dona Rita Agripina gritava novamente:
— Expedito, busca a Santa, que a chuva por aqui tá demorando a cair!
Outra parte dessa história me contou o Serminho (Anselmo de Assis Pereira, neto de Dona Alexandrina). Diz ele que pelos idos de 1950, sua avó aprontava a charrete e dizia:
— Vamos Serminho, vamos à casa do compadre Toninho de Campos buscar a Santa, modo de fazer a novena das chuvas.
Como dito acima, esse Toninho de Campos era um dos irmãos Campos, que por essa época morava nas proximidades da antiga matriz de N. S. da Saúde, acima do então cemitério da cidade (o chamado Cemitério Velho).
E assim foi que a imagem de N. S. da Conceição salvada do fogo peregrinava pelos sítios e fazendas de Águas Virtuosas de Lambari, conduzida pela fé católica de famílias devotas.
(*) Alexandrina de Assis Pereira, casada com Anselmo de Assis Pereira, é avó de José de Assis Pereira (Zequinha) e Anselmo de Assis Pereira (Serminho). Esses dois são filhos de Luiz de Assis e Ana Catarina de Carvalho. A família Assis Pereira morava numa fazenda no morro Serrote, na divisa com o bairro rural de Nova Baden, que ainda hoje pertence aos descendentes de Dona Alexandrina.
Quanto à origem dessa imagem de N. S. da Conceição, a tradição narra três possíveis fontes:
A partir dos anos 1950, a imagem de N. S. da Conceição permaneceu sob a guarda das irmãs Maria e Geralda de Oliveira Campos.
As irmãs Geralda e Maria de Oliveira Campos
Foram essas duas que criaram, desde os três meses de idade, a sobrinha Bernadete Campos Guimarães, e, após a morte daquelas, nos anos 1980, a relíquia pertencente à Família Campos ficou sob a guarda de Bernadete. Aliás, de Bernadete e seu marido Marco Antônio de Oliveira.
Religiosos, o casal Bernadete e Marco Antônio ao lado da imagem peregrina de N. S. da Saúde
Na residência do casal Bernadete/Marco Antônio, a imagem está posta num oratório, que aparece iluminado
2. Mato ralo, constituído por vegetação de pequeno porte, que nasce em terrenos esgotados e abandonados depois da derrubada de mata primária. Terreno cujo mato foi roçado e/ou queimado para cultivo da terra ou para outras finalidades.
A segunda parte: A construção da Capelinha de N. S. Aparecida
Veja a segunda parte deste post: A construção da Capelinha de N. S. Aparecida - aqui
Aguarde.
Ilustração: O professor Francisco Venturato e alunos em apresentação de atividades físicas
O professor — e hoje advogado — Francisco Venturato, nos meus tempos de ginásio (meados dos anos 1960), todos o chamávamos de Chico Pirata, apelido carinhoso com o qual não se importava.
Pois bem, de Chico Venturato e Dona Lucinha Gama já falamos no post NOS TEMPOS DE GINÁSIO (1) - Dona Lucina e Chico Venturato, disponível aqui.
No referido post, escrevemos:
Quando o Professor Francisco chegou a Lambari, (...) logo, logo iniciou uma série de atividades de que gostava e fez que gostássemos também: a educação física, a quadra de terra que bolou e construiu juntamente com os alunos, as exposições de ciências, a banda de música, os desfiles... E quem não se lembra da banda de música?
E como eram animadas nossas festas cívicas e atividades de ginástica artística? Bandas, desfiles, carros alegóricos, apresentações de ginástica...
Assim, hoje, a propósito do Sete de Setembro, vamos recordar um pouco dessas atividades.
Em frente, marche!
Parada: Desfile civil, com atrações e carros alegóricos.
A famosa banda do Chico Pirata e Sílvio Barros
O professor Venturato e alunos em apresentação de atividades físicas
Acervo Francisco Venturato
Sete de Setembro, anos 1970
Desfile de Sete de Setembro - Jorge Albino Almeida (1973)
Silvinho Matias desfila com bandeira de Lambari, idealizada pelo professor Rafael Pinotti (anos 1970)
Chico Venturato e o pelotão verde, desfile dos anos 1980
Pelotão verde feminino (anos 1980).
Na foto: À frente, a prof. Terezinha Brigagão. Ao fundo, a banda do ginásio com o maestro Sílvio Barros. à Esquerda, João Rely Martins
Alunas do ginásio em uniforme de gala (anos 1980)
Alunos do ginásio em uniforme de gala (anos 1980). Ao centro, o menino André, filho de Lucinha Gama e Francisco Venturato
Formação da bandeira - Campo do Águas Virtuosas - Anos 1980
Formação da pirâmide - Sete de Setembro - Anos 1980
Reprodução Facebook/Memórias de Lambari
Festividades de Sete de Setembro - anos 1980
Desfile carro alegórico - anos 1980
Desfile ginástia artística - Prof. Venturato - 1982
Acervo do professor Francisco Venturato
Francisco Venturato possui um acervo precioso de fotos e filmes no formato Super 8 das atividades cívicas, de ginástica artística e da banda musical, do tempo em que foi professor do ginásio de Lambari.
Atualmente, circula no WhatsApp um vídeo com dezenas de fotos desse acervo. Vale a pena conhecer esse vídeo.
Quanto aos filmes Super 8, pensa-se em convertê-los em vídeos. Vamos aguardar.
Guima — o menino-serelepe — e sua bicicleta Patavium, num desfile de Sete de Setembro (início dos anos 1960) - aqui
Competição Escolar de Ginástica Aeróbica – 1987 – Praça de Esportes Branca Bessone (professor Márcio Krauss)
Ilustração: Pintura na parede lateral da Parada Mello, por José Mateus de Oliveira
Sobre a Parada Mello (ou Paradinha Mello, como é conhecida, ou Apeadeiro Mello, como foi chamada antigamente, já publicamos os seguintes posts:
Agora vamos falar de sua revitalização, que está sendo feita décadas depois de ter sido fechada (em julho de 1966, a linha férrea de Lambari foi desativada).
Vamos lá.
Segundo consta, o Hotel Mello (depois Hotel Imperial) era um dos raros hoteis de sua época que possuía uma estação de trem dando acesso ao estabelecimento.
De fato, Conceição Jardim, escritora de romances de viagem registra isso no livro acima. (*)
Confira:
- Temos de descer na "Parada Melo", adianta o Dr. Armando. O meu amigo Vivaldi explicou-me que a estação é um complemento do hotel. Da plataforma, entra-se imediatamente num dos salões
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Entram todos para um salão unido à plataforma — caso único na América do Sul — uma estação que faz parte de um hotel!
Reprodução: O Paiz, 27, ago, 1908 (bn.digital.gov.br)
Por iniciativa da AMEL Lambari, em concordância com a administração do Condomínio do Hotel Imperial, a antiga estaçãozinha está sendo revitalizada.
Reformada, pintada, deverá abrigar um memorial sobre sua história e do trem de ferro em nossa cidade.
Ponto de destaque é a pintura da velha Maria Fumaça, na fachada lateral da estação:
A bela pintura do artista José Mateus de Oliveira
Confira fotos da Parada Mello ontem e hoje:
A Parada Mello no início dos anos 1900
A Parada Mello nos anos 1940
A Parada Mello em 2015
A Parada Mello em reforma (2018)
A Parada Mello em reforma (2018)
A pintura do trem de ferro vista de frente (Reprodução/Fonte:Facebook)
1914: chegada de turistas na Parada Mello. O Hotel Mello pode ser visto ao fundo. Reprodução: Revista Fon Fon n. 17, de 1914 (bn.digital.gov.br)
1960: O trem da RMV partindo da Parada Mello
Ilustração: Recorte - Convite de relançamento do Cassino das Fontes - Lambari, 1941
Já falamos sobre o Cassino das Fontes e suas famosas noites dançantes e hoje vamos ver a reforma por que passou e o relançamento do clube na temporada de veraneio de 1941.
Vamos lá.
O relançamento do Cassino das Fontes
Situado na área central de Águas Virtuosas de Lambari, defronte ao Parque das Águas, o Cassino das Fontes foi palco do jogo, de shows de artistas e orquestras famosos, de desfiles de beleza e de espetaculares noites dançantes. Confira:
A jovem Marluce Santoro Krauss, ao lado de sua mãe Valdomira, coroada miss no Cassino das Fontes (anos 1950)
Jandira Adami e Toninho Ferreira, em noite dançante no Cassino das Fontes
Em 1941, o clube foi totalmente reformado e relançado para a temporada de veraneio de 1941 (veja o convite abaixo).
A festa de relançamento foi animada pelo conjunto musical Chiquinho e sua orquestra.
O maestro Chiquinho, o "maestra da simpatia) - Fonte: musicariabrasil.blogspot.com
Chiquinho e sua Orquestra, em Catalão, GO, anos 1940 - Fonte: nossocatalao.blogspot.com
Entre os cantores estavam:
Carmélia Alves - Fonte: cantorasdobrasil.com.br
Abaixo, o convite de relançamento do Cassino das Fontes:
O prédio do Cassino das Fontes
Adquirido por Maurício Barbosa (pai de Zelina Barbosa Martins, casada com João Rely Martins) o Cassino das Fontes foi totalmente reformado no início dos anos 1940.
O Cassino das Fontes antes da reforma (à esquerda)
O Cassino das Fontes anos 1940, já reformado (prédio da esquina)