Ilustração: Cassino de Lambari. Pintura de Willian Gorgulho
Sumário
Américo Werneck [Nota 1] veio para o Sul de Minas nas décadas finais dos anos 1800, passando por São Gonçalo do Sapucaí e Cambuquira, antes de chegar a Lambari, em 1889, onde se estabeleceu na Fazenda dos Pinheiros.
Engenheiro, político, escritor, defendeu ideias abolicionistas e republicanas. Em 1898, foi eleito deputado à Assembléia Fluminense, porém, não tomou posse desse cargo para assumir, a convite de Silviano Brandão, a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas de Minas Gerais. Nesse cargo, ocupou, simultaneamente, a Prefeitura de Belo Horizonte, por um curto período (1 mês e 14 dias), tendo integrado também a comissão construtura da nova capital do Estado. Assim, em 1909, na condição de primeiro prefeito da cidade,
Trazia da nova capital, Belo Horizonte, que ainda estava sendo construída (1894-1914), a inspiração necessária para (...) erigir um moderno complexo aquífero na estância de Lambary. (1)
E, então, no mesmo ano de 1909,
Werneck apresenta o seu projeto de modelação urbanística para o presidente do Estado, Dr. Wenceslau Braz. Suas ideias eram grandiosas, mas realizáveis, já que sabia qual o caminho mais econômico e lucrativo para alcançar seus objetivos, que por algum tempo foram também os do Governo de Minas Gerais. (1)
De fato, Werneck visitara o Circuito Europeu das Estâncias Hidrominerais e, com base naqueles modelos, pensou e (re)fundou a estância de Águas Virtuosas. Essa seria sua Vichy brasileira. Coube à firma Poley & Ferreira, do Rio de Janeiro, transformar em projetos as ideias de Werneck. (2) [Nota 2]
E, da Europa, trouxe Werneck não só modelos arquitetôncios e ideias estéticas, e sim também conceitos hidroterápícos e "preceitos de urbanização, higienismo e salubridade" (3). Do Velho Mundo viriam também diversos materiais a serem empregados nas obras, além de objetos de decoração, lustres, objetos e mesas de jogo, materias da parte elétrica, gôndolas, etc. [Nota 3]
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A urbanização e o embelezamento da estância
Na gestão de Werneck, foram realizadas as principais obras de Lambari. Com efeito, coube-lhe a execução do plano de saneamento, urbanização e remodelação da cidade: construção de prédios públicos e avenidas, instalação da rede de água, realização das obras grandiosas do cassino, do lago, do farol.
Diz José N. Mileo que
[Na administração de Werneck] foram realizados aterros, desaterros, retificações e aberturas de ruas, canalização de riachos e de córregos, instalação da rede geral de água potável, construção da rede parcial de esgotos e as grandes obras de embelezamento, como a construção do Cassino, do Farol, do Lago, da mata ao seu redor, do aumento do Parque das Águas e da instalação da rede geral de energia elétrica, inaugurada em 1911. Toda a obra realizada sob sua administração visava a fazer de Lambari, não apenas centro de tratamento e de cura, mas grande centro de vilegiatura e de turismo. (4)
O Cassino, o Lago e o Farol de Lambari
[Werneck, enfim, conseguira] apoio necessário para financiar sua ambiciosa empreitada de construir uma cidade planejada, com parques, mirantes, modernas edificações públicas, ruas largas, um enorme lago artificial, onde antes só haviam depressões irregulares Para coroar a majestosa obra, um magnífico palácio defronte o novo corpo d'agua. (5)
Em vinte meses, entre os anos de 1909 e 1911, centenas de operários realizaram obras de remodelação e embelezamento da estância. Num local chamado Alto da Fortaleza, adquirido em 1909, foi construído o Cassino de Lambari. Defronte a ele, o Lago Guanabara; a sua esquerda, o Farol.
Nota em O Paiz, edição de 04/02/1910
O Cassino, o Lago e o Farol de Lambari, além de outras obras, foram inaugurados em abril de 1911, evento que contou com a presença do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, convidado especial, e do Presidente de Minas Gerais, Julio Bueno Brandão, que o acompanhou. [Veja este artigo.]
Em 1912, Werneck realizou com o Estado de Minas um contrato de arrendamento da estância. Em 1913, no entanto, após uma série de desentendimentos com representantes do Governo Estadual, rompeu o contrato. Essa contenda durou anos, e ficou nacionalmente conhecida como Questão Minas X Werneck.
Com isso, durante anos, fechou-se o Cassino de Lambari, abandonou-se o Parque Wenceslau Braz, o mato cresceu nas ruas, paralisaram-se as obras contratadas (construção do Grande Hotel, exploração da Leiteria, renovação do estabelecimento hidroterápico, entre outras).
É certo que teriam sido melhores os caminhos de Águas Virtuosas se esse episódio não tivesse ocorrido.
Inauguração da "Vichy Brazileira"
Fotos históricas da inauguração das obras de Werneck em Águas Virtuosas
O Cassino em obras
Vista do local onde se construiria o Lago Guanabara
Vista do Lago, Barragem, Cassino, 1911
Vista do Farol e do Parque Novo (em formação)
Vista do Parque Novo, início (após 1911)
No Lago Guanabara, gôndolas trazidas por Werneck de Veneza
Vista do centro da cidade (1911): Cassino, Leiteria e Usina de Força (atual prédio da Prefeitura Municipal)
Aspecto de Lambari, início dos anos 1900. Podem ser vistos a Fábrica de Gelo, o Mercado de Flores, as largas avenidas, e todo um quarteirão, em frente ao Parque das Águas (atual Rua Tiradentes), ainda sem edificações.
Livro
MILEO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970b.
Monografia
SILVA, Francislei Lima da. Monumentos da água no Brasil: Pavilhões, fontes e chafarizes nas estâncias Sul Mineiras (1880-1925) [Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012.
Disponível em:
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2011/01/Francislei-Lima-da-Silva.pdf -
Consultado em 16, jun. 2013.
Artigo
CASTILHO, Fábio Francisco de Almeida. Américo Werneck: O Haussman de Águas Virtuosas. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300650112_ARQUIVO_TextoAmericowerneck.pdf -
Visitado em 16, jul, 2013.
Referências bibliográficas do texto acima
(1) SILVA, 2012, p. 63. (2) CASTILHO, 2011, p. 14. (3) SILVA, 2012, p. 46. (4) MILEO, 1970b, págs. 35/36. (5) CASTILHO, 2011, p. 15.
Bibliografia sobre Lambari
Para conhecer uma bibliografia sobre a cidade de Lambari, leia este texto:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37327
Documentação sobre a história de Lambari
Instituto Histórico e Geográfico de Campanha:
http://istoecampanha.blogspot.com.br/2011/06/instituto-historico-e-geografico-da.html
Museu Américo Werneck:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36378
Arquivo Público Mineiro:
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/
Nota 1 - Para saber mais sobre Américo Werneck, clique aqui.
Nota 2 - Veja este texto: O embelezamento da estância de Lambary
Nota 3 - "Em 1909, Werneck elabora os projetos e plantas destinados à construção da nova imagem da estância junto aos arquitetos da empresa carioca de arquitetura Poley e Ferreira. Trata-se de 63 projetos e plantas (...), que registram em suas linhas, parte da edificação em estilo eclético, do entusiasmo com a luz elétrica, com a ferrovia e com o ferro fundido; o contato com o mercado externo, o uso das novas formas de organização do espaço urbano." (SILVA, 2011, p. 90)
Fotos: Museu Américo Werneck
Outras referências: Blog do Iba Mendes. Ilustrações da abertura desta série: fotos de pinturas do Farol e do Cassino (autoria de William Gorgulho).
Para ver o número 1 desta série, clique aqui:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38644#resumo