Ilustração: Montagem com as capas dos livros: Manuelzão e Miguelin, Menino do Engenho, Meu pé de laranja lima, Menino no espelho, Uma vida em segredo e Por onde andou meu coração, superposta com capas dos livros Guia prático de criação literária, Os segredos da ficção, Uma poética do romance, cujos autores são mencionados no post, tendo ao centro a capa de Menino-Serelepe, deste autor.
A vida de um menino é bem a vida de todos os meninos...
Foi Rodrigo Octavio, advogado, membro da Academia Brasileira de Letras e depois Ministro do STF, quem deu ao seu livro de memórias o título de Minhas memórias dos outros:
Pois bem, tomamos emprestado a Rodrigo Otávio o título acima, adaptando-o para esta Série:
MINHAS RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA DOS OUTROS |
Nela, conto sobre o meu interesse por literatura, os passos na aprendizagem de redação de textos ficcionais, os livros que li e a biblioteca que formei, o processo de escritura do meu livro de memórias, e também comento passagens de livros de memórias de infância e juventude de vários autores, que me ajudaram a compor o MENINO-SERELEPE - Um antigo menino levado contando vantagem, meu livro de estreia. (Veja aqui)
Dou início à Série explicando como tive de muito ler e escrever, antes de aprender (solitariamente, por ensaio e erro) a contar.
Isso atende a pedidos de amigos e leitores que querem conhecer minha modesta experiência como autor, mas sobretudo está endereçado aos meus/minhas netos e netas, numa tentativa de retribuir a inspiração que recebi de José Batista Guimarães, meu avô paterno, contador de histórias.
Vamos lá.
Rodrigo Octavio foi advogado de Américo Werneck no conhecido caso Minas x Werneck, atuando contra o Estado de Minas e seu grande advogado Rui Barbosa.
Confira aqui
No livro acima, ele dedica belas páginas a Rui Barbosa e fala também
dos motivos de algumas zangas de Rui contra ele.
LER E ESCREVER PARA APRENDER A CONTAR
O livro MENINO-SERELEPE está ligado a um antigo desejo de narrar os modos e os causos da parentalha. Nesse livro, adotei um narrador menino, que, ao seu jeito, vê e expõe as coisas, fazendo confidências e contando histórias da infância. Fui um modo de resgatar o mundo em que nasci e no qual fui criado. A maneira que encontrei para registrar e fixar os costumes, a cultura, a fé religiosa e o modo de falar das pessoas com quem convivi.
ANTÔNIO CARLOS GUIMARÃES. Entrevista
Como anotei no início do livro Menino-Serelepe, escrever sobre os causos e modos da parentalha foi um sonho que acalentara desde a juventude. E conquanto não tivesse feito anteriormente nenhum registro dos casos que narro no meu livro de memórias, de outros acontecidos familiares e das histórias de meus avós, os fatos e narrativas mais significativos sempre estiveram na minha tela mental.
Mas vejamos em rápidas pinceladas como tive de ler e escrever, antes de aprender a contar.
Foi assim:
Antes de tomar a iniciativa de escrever as memórias, eu tentava compor uns tais Continhos de Aguinhas, pequenos episódios da terra natal e recontar histórias e causos do meu avô, e de minhas avós e tios.
Para isso, eu havia (re)estudado gramática, relido romances e adquirido livros de contos e narrativas de sabor antigo.
O que são as HISTÓRIAS DE AGUINHAS?
...afinal de contas, essa história de Aguinhas,
escrever causos, falar da família, tudo isso
é invenção dele mesmo [do meu avô].
(Menino-Serelepe. A última do Pai Véio)
As Histórias de Aguinhas são uma série de textos sobre a memória familiar e de minha cidade natal — Águas Virtuosas de Lambari —, que venho escrevendo nos últimos anos, inspirados em meu avô paterno — José Batista Guimarães — a quem chamávamos de Pai Véio (pai mais velho).
Muitos textos iniciais dessa série constituem ideias e ensaios ainda inéditos, que talvez um dia eu publique, como Prosório do Pai Véio, Os Fifosenses e Pai Véio, um contador de histórias.
Aliás, um trechinho desses ensaios eu transformei num capítulo do livro Menino-Serelepe.
E um dos continhos, foi reescrito para compor capítulo do meu livro Os Curadores do Senhor.
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Para entender a origem das Histórias de Aguinhas, veja:
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Depois, comecei a rabiscar umas historinhas, os supostos contos que um dia tomariam forma, eu pensava, ao tempo que lia novos romances, contos e narrativas sobre memórias de infância/juventude.
Foi nesse contexto que fui mentando o Menino-Serelepe. Fiz, então, uma linha do tempo com os eventos que tinha em mente e passei a conversar com familiares sobre a ideia do livro e comentar os causos e modos de que me recordava. E fui anotando nomes de pessoas (e das coisas), impressões, detalhes e expressões que o tempo em mim esmaecera, mas cuja memória estava viva nas pessoas mais velhas de minha família.
Aí foi preciso aprender a contar, isto é, aprender a escrever narrativas ficcionais. E, autodidata na espécie, fui à cata de livros técnicos de composição literária, leitura indispensável para compor textos daquela natureza.
Para complementar este tópico, veja os itens abaixo.
Entrevista do autor de Menino-Serelepe
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Antônio Lobo Guimarães é pseudônimo literário adotado por Antônio Carlos Guimarães, na composição de suas Histórias de Aguinhas.
O que levou você a criar um pseudônimo?
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LIVROS INSPIRADORES — E OUTROS ENCORAJADORES
Meu Deus! Que é isto? Que emoção a minha/ Quando estas coisas tão singelas narro?)
B. LOPES. No poema Berço.
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Daí (...) o título, alongado no adjetivo justo, que lhe vai como uma luva, na qualificação destas histórias...
HERBERTO SALES. Os mais belos contos da eterna infância. Antologia de Temas da Infância. Prefácio. Ediouro, RJ
A ideia de escrever as memórias da infância esteve comigo desde a juventude, como disse acima e havia prometido a Celeste Emília, minha mulher, "aos dezoito anos, no primeiro dia de namoro, no banco da Fonte."
E muitos livros me ajudaram nessa tarefa, especialmente os que refiro a seguir.
Entre os livros inspiradores que li, e outros que reli, que me puseram a sonhar com a feitura do meu, estavam:
A partir dessas leituras, pontuei os principais eventos da minha história numa linha do tempo e anotei alguns lembretes para desenvolver a redação.
E aí cheguei a um ponto chave no processo de escritura: a voz narrativa. Esse é um impasse comum ao autodidata, que não tem ideia de sua dificuldade e importância, e eu fiquei muito inseguro, e não conseguia dar os passos seguintes.
Então, fuçei aqui e ali, e fiz uma grande descoberta: O Ateneu, de Raul Pompéia, e Matéria e forma narrativa d'O Ateneu, de José Lópes Heredia. Como complemento, li também Falange Gloriosa, de Godofredo Rangel.
Esses últimos livros me levaram a manuais de iniciação, criação e redação literária, como os seguintes, que li com certo método:
E, claro, li também o inexcedível Retrato do artista quando jovem, de Joyce.
"Ninguém deve escrever sem ter lido Madame Bovary" Eu havia lido em algum lugar um autor cubano (acho que foi Reinaldo Arenas) dizer da importância de Madame Bovary para sua formação literária. Então, comprei o livro, passei os olhos, saltando as páginas, mas o deixei de lado, pois, sem formação literária, o vi como um romance qualquer. Ledo engano! — diriam os antigos. Mas quando caiu-me às mãos A orgia perpétua - Flaubert e Madamente Bovary, de Vargas Llosa, devorei o livro e li avidamente Madame Bovary, na tradução de Fúlvia Moretto, pela Nova Alexandria.
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Então, fui avançando na escritura do Menino-Serelepe, trabalhando o texto, inserindo pequenas particularidades, expressões, reescrevendo muito, até que montei uma boneca do livro, para ter uma amostra da obra pronta.
Foi aí que me embatuquei, novamente, com a tais vozes da narração!
O texto misturava vozes e estilos — ora narrava em primeira pessoa, ora descrevia em terceira, ora dialogava em meio à narrativa —, a marcação das conversas soava estranha, a redação parecia infantilizada, o português ressumava canhestro — mil defeitos saltavam aos olhos do autor-leitor inexperiente.
E nesse ponto, eu que não recebera nenhuma carta de Mário, fui salvo, não por suas magníficas orientações, mas pelos seus Contos Novos: a fala cotidiana, a singeleza da forma, a vivacidade de sua prosa — estava tudo ali, naquela aula prática de gramatiquinha da fala brasileira, o encorajamento de que precisava este autor implume e desajeitado.
Revi tudo que escrevera e com uma versão para (re)leitura/revisão pronta passei a minuta a parentes e amigos, para colher impressões, correções, sugestões. Mais revisões e ajustes, e o livro ficou pronto. Entreguei a última versão a um diagramador profissional e imprimi o livro à conta de autor.
Eis um resumo da aventura de solitariamente se escrever e editar um livro de memórias.
ESBOÇO LITERÁRIO DE O MENINO-SERELEPE
Vocês, criados em cidade grande, não se espantem com esse jeito de nossa infância do interior.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. No conto A salvação da alma.
Abaixo, vão traços dos principais aspectos da construção literária, do tema, da prosa e dos destinatários de O MENINO-SERELEPE.
Confira:
Prefácio do livro MENINO-SERELEPE
O primeiro texto resume a intenção do autor com o seu livro de memórias. O segundo, refere alguns artifícios da criação literária.
Confira:
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do Sul de Minas Gerais.
Do livro inédito: Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães
Como fiz uso de inúmeros ditos, expressões e palavras antigas na redação de o Menino-Serelepe, resolvi incluir no livro um vocabulário, que somou quase quinhentas entradas.
Veja:
Confira aqui
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DESTE POST
- Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem. Antônio Lobo Guimarães. Edição do Autor, 2009
- Os meninos crescem. Domingos Pellegrini. Busca Vida, 1987
- Minhas memórias dos outros. Rodrigo Octavio. Civilização Brasileira/MEC, 1979
- Retrato do artista quando jovem. James Joyce. Ediouro, s/d
LIVROS QUE SERÃO COMENTADOS NESTA SÉRIE
Abaixo vai uma lista de livros que vamos comentar nesta Série.
São livros que li, alguns com mais vagar, outros apressadamente, mas todos eles me ajudaram/ajudam a escrever e me encorajaram/encorajam a publicar.
Muitos trazem títulos sugestivos, como:
Confira a seguir.
Além dos livros mencionados acima, há estes outros muito interessantes para os que pretendem escrever memórias e ficção:
LIVROS TÉCNICOS SOBRE O FAZER LITERÁRIO
Alguns livros conhecidos e acessíveis sobre o fazer literário:
FORMAÇÃO DA BIBLIOTECA DE UM LEITOR-AUTOR APRENDIZ
Esse tópico vou desenvolver em post futuro.
Nele vou contar a experiência na formação de minha biblioteca — que tem de tudo um pouco, mas tem uma quantidade razoável de contos, romances e livros técnicos: clássicos brasileiros e estrangeiros, coletâneas de contos, livros infantis, manuais de literatura, crônicas literárias, entrevistas de autores/escritores, dicionários, etc.
Há um capítulo do livro Menino-Serelepe que pretendo transformar num livro juvenil. Trata-se de A Guerra das Espingardinhas, que transcrevo mais abaixo, uma narrativa romanceada de uma divertida brincadeira de minha infância.
Adotei como narradora uma menina: MARIA BELA CAMARINHO, nome esse inspirado em minhas netas Maria Elisa e Isabela.
Eis alguns livros que estão me servindo de inspiração para recriação dessa história:
Veja o rascunho da capa e da apresentação do livro A Guerra das Espingardinhas - Uma aventura de antigamente:
Capa provisória. Com ilustração feita pelo brasileiro Henrique Alvim Corrêa (1876-1910) para o livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, edição de 1906
Neste livro, o autor faz uso de um recurso narrativo à la Gertrude Stein, falando de si mesmo e de suas brincadeiras de criança por meio de uma narradora-menina, arteira como Pélica, geniosa como Emília, mordaz como Morley, que conta as aventuras na primeira pessoa, de forma alegre, dinâmica, numa linguagem cheia de sentenças terminantes, ditos curiosos e frases e expressões costuradas por hifens, muitos deles correntes na língua e outros criados por ela mesmo. Texto extraído da orelha do livro A GUERRA DAS ESPINGARDINHAS |
Veja também
Pequenos trechos do livro A guerra das espingardinhas podem ser vistos nestes links:
A Guerra das Espingardinhas
Hoje em dia, as crianças não brincam mais de armas de brinquedo, e está mesmo interditada a fabricação, importação circulação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.
Muitos pais e educadores, de outro lado, também têm orientado as crianças a não fazer uso de armas de brinquedo. Isso de fato constitui um avanço nos costumes e na formação das crianças, em face de um mundo violento e conturbado.
Mas no meu tempo de criança, nos anos 1960, a gente brincava. Mais do que isso: nós mesmos construíamos nossas "armas" e nos divertíamos a valer.
Confira a história abaixo, contada no livro Menino-Serelepe:
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE AGUINHAS.
Para saber mais sobre MENINO-SERELEPE e outros livros do autor, veja acima o tópico Livros à Venda.