Na Parada Mello, estação da Rede Mineira de Viação, os ilustres Visitantes foram recebidos por uma grande multidão com vivas e aplausos delirantes, tal era a emoção do povo ao receber as autoridades máximas da Nação e do Estado. Dessa forma vem demonstrada a gratidão dos Lambarienses que compreendendo o sacrifício daqueles que dirigem os destinos de uma Nação em atender as mais justas reivindicações em prol do progresso e do engrandecimento de uma cidade que, pela lei da Natureza, foi dotada deste grande líquido precioso que foi nos primitivos tempos conhecida por Águas Milagrosas, mas tarde por Águas Virtuosas e presentemente por Águas de Lambai, podendo assim ser colocada em condições de receber condignamente seus visitantes.
(ANTÔNIO CLARINDO FERREIRA, Artigo)
Iniciando esta série, vejamos o programa dos festejos e trechos do discurso de Américo Werneck, extraídos do Anuário de Minas Gerais de 1913.
Notem-se esses fatos importantes: o Anuário de Minas Gerais, que registrou esses acontecimentos, como já vimos, foi criado por Nelson de Senna (aqui). Senna esteve na inauguração das obras de Lambari, discursou e, assim, provavelmente redigiu e/ou selecionou os textos publicados em seu Anuário, que veremos a seguir.
Programa dos festejos de inauguração
Segundo o Anuário de 1913, estiveram presentes aos festejos de inauguração as seguintes personalidades:
De conformidade com o programa dos festejos, discursaram as seguintes autoridades:
O holofote: iluminação do Lago e ilhas para passeios noturnos de gôndola. De seu topo, podia-ver também o espelho do lago, o Parque Novo e outros pontos da cidade.
Lago e Cais
Cassino, Lago e Cais: embarcadouro e casa de guarda das gôndolas
Veja um artigo sobre a inauguração das obras em 1911; clique aqui.
Veja também os números 2, 3, 4, 5 e 6 desta série:
2 - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38842
3 - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38849
4- http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38851
5 - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38834
6 - http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38857
Foto: Museu Américo Werneck; cromo do autor.
Ilustração: Veado pastando junto às sete quedas, 1910. Fonte: Museu Américo Werneck – Lambari, MG
Como dissemos em post anterior (1), no Anuário de Minas Gerais de 1913, há o texto da lenda sobre os poderes curativos das águas de Lambari, escrito por alguém que se assinou Gratz, que foi publicado no O Lambary, de 18/12/1910, e que nos parece ser o texto original.
Esse texto sobre a lenda das águas de Lambari aparece resumido/reescrito em obras de dois memorialistas da cidade: Armindo Martins e João Carrozzo (2). E, também como já foi dito, o Monsenhor Lefort entende que essa lenda teria sido inventada por Américo Werneck para efeito de propaganda do poder curativo das águas. (3)
Abaixo, transcrevemos o texto que está no Anuário de Minas Gerais de 1913:
(1) http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38799
(2) MARTINS, Armindo. Lambari, a cidade das águas virtuosas. 1949, p. 25;
CARROZZO, João. Lambari: Outrora “cidade de águas virtuosas da Campanha” – Bragança Paulista/SP: Faculdades Franciscanas, 1977, págs. 21-25.
(3) LEFORT, José do Patrocínio. A Diocese da Campanha. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de MG, 1993, p. 206.
"Sem fundamento algum, a não ser a imaginação fantástica de um contista, é a lenda de Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, [que] teria feito uso da água e se curado de um mal grave. É estoria de Werneck para efeito de propaganda, pois não existia a família Trancoso nem em Passos nem no Sul de Minas." [A sublinha é do original.]
Está disponível no site do IBGE o número relativo a out/dez de 1947 da Revista Brasileira de Geografia, a qual traz um texto sobre Lambari, da lavra do engenheiro Virgílio Correia Filho, Chefe da Secção de Documentação do C.N.G.
O artigo faz uma resenha do histórico do município, uma descrição da geografia e dos recursos hídricos, das análises das águas minerais, da via-férrea, dos empreendimentos, da colônia de Nova Baden e da feição urbana em 1947, tudo isso ilustrado com fotos da época.
A referida revista pode ser acessada mediante este link:
ttp://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1947_v9_n4.pdf
Ilustração: Antiga estação ferroviária de Nova Baden, com turistas a cavalo visitando o antigo Horto Florestal. Reprodução. Colorizada. Recortada. Fonte: João Gomes D'Almeida. Publicada na Revista FonFon n. 18/1913. (bn.digital.gov.br)
Abaixo vão algumas informações sobre a criação da Colônia de Nova Baden, em Águas Virtuosas de Lambari, em 1900, pelo então Presidente do Estado Silviano Brandão. [1]
E, ao final, lista de posts sobre Nova Baden.
Vejamos.
O primeiro registro que encontramos sobre a Colônia de Nova Baden está em Júlio Bueno, memorialista de Campanha, MG, que anotou, no final do Século XIX:
Foi a Campanha incluída entre as localidades preferidas para o estabelecimento de um dos campos práticos de demonstração, em virtude do decreto número 960 de 22 de agosto de 1896.A aspirada instalação não se realizou até hoje.
O atual ministro da agricultura, Dr. Américo Werneck, trabalha neste momento para a fundação de um núcleo colonial neste município, para o qual já tem obtido vários terrenos entre esta cidade e Águas Virtuosas, nas proximidades da linha Muzambinho, ramal da Campanha. (1)
Como se sabe, Américo Werneck tornou-se, em 1898, Secretário de Agricultura de Minas Gerais, e, em sua administração, foi criada a Colônia de Nova Baden [2]
No Anuário de Minas Gerais, de 1906, vamos encontrar o seguinte registro:
A seguir, o mesmo Anuário informa sobre o número de imigrantes no Estado:
E no Anuário de 1913 está anotado:
Fonte: Revista Brasileira de Geografia - IBGE - out/dez/1947
[1] LAMBARI. [Artigo]. Virgílio Correa Filho. Revista IBGE, out/dez/1947, pág. 537
[2] BUENO, Júlio. Almanaque do município de Campanha. Ed. Monitor Sul Mineiro, 1900, p. 51.
O Guia dos Parques Estaduais de Minas Gerais e o Parque de Nova Baden (aqui)
Imigração para a Colônia de Nova Baden (aqui)
Aeroporto de Aguinhas (em Nova Baden) (aqui)
Veja também:
O Anuário de Minas Gerais trata-se de uma publicação fundada e dirigida pelo dr. Nelson de Senna, com estudos sobre história, geografia, literatura e estatística, cuja circulação iniciou-se em 1906.
Na Biblioteca Nacional Digital Brasil, da Fundação Biblioteca Nacional, encontra-se o Número V, relativo ao ano de 1913, desse anuário, em cujas páginas 237 a 251 há diversas informações sobre a então cidade de Águas Virtuosas.
Para acessar o Anuário, clique aqui
Eis o sumário dos temas tratados na publicação acima:
O município de Águas Virtuosas | |
Divisas deste município e outros dados estatísticos | 238 |
Os últimos melhoramentos de Águas Virtuosas | 239 |
O Parque, a leiteria, abastecimento de água | 241 |
A iluminação electrica, o Lago de Lambari | 242 |
O Casino de Águas Virtuosas | 243 |
Festas inaugurais desses melhoramentos | 244 |
Resenha das obras feitas pelo prefeito Américo Werneck | 245 |
Descripção da villa feita por um jornalista | 247 |
Origem legendária das fontes do Lambary | 248 |
Os textos trazem informações muito interessantes sobre a história de Lambari e descrições de como se deu o aterramento do centro da cidade, a instalação da rede elétrica, a construção do lago e da barragem.
Há também o texto da lenda sobre os poderes curativos das águas de Lambari, escrito por alguém que se assinou Gratz, que foi publicado no O Lambary, de 18/12/1910. Ao que parece, esse é o texto original, do qual há um extrato no livro de Armindo Martins [1]. Recorde-se que, segundo o Monsenhor José Lefort, esta lenda teria sido criada pelo próprio Werneck. [Veja aqui.]
Em próximos posts, vamos comentar e ilustrar os tópicos acima, especialmente os que tratam das obras de Américo Werneck.
Nelson de Senna - Resumo biográfico
Nelson Coelho de Senna nasceu na cidade do Serro, no dia 11 de outubro de 1876, e faleceu em Belo Horizonte, em 2 de junho de 1952. Foi parlamentar, publicista e professor universitário.
Durante o período de 1894 a 1896, publicou os seus primeiros livros Memória Histórica e Descritiva da Cidade e do Município do Serro, Discursos Acadêmicos e Paginas Tímidas, coletânea de contos e escritos literários.
Em 1906, deu início à publicação do Anuário de Minas Gerais, com estudos sobre história, geografia, literatura e estatística. Defendeu a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, fato que veio a ocorrer em 1907. Foi sócio-fundador, benemérito, correspondente honorário e membro efetivo de diversas instituições culturais do Brasil e do exterior.
Na condição de deputado, esteve em Lambari por ocasião da inauguração das obras de Américo Werneck, e fez o discurso na inauguração da Cascata do Lago.
Fonte: Arquivo Público Mineiro
(1) MARTINS, Armindo. Lambari, a cidade das Águas Virtuosas, 1949, p. 25