Ilustração: Gravura de camiseta da marca Minas Brasil.
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Topônimo, segundo os dicionários, significa:
(1) Nome próprio de lugar, ou de acidentes geográficos. (2) Nome próprio de um lugar como rio, cidade, povoação, país etc.; GEÔNIMO. (3) História, procedência de um nome geográfico.
Assim, na história de nossa cidade, destacam-se alguns topônimos, como Lambari, Jacu, Mumbuca, Serrote, por exemplos.
É isso que veremos a seguir.
Como se sabe, Lambari é corruptela de Arambari, por sua vez corruptela de Araberi, topônimo tupi que significa sardinha, peixinho (MILEO, 1968).
A cidade de Lambari (MG) surgiu de extensão de terras desmembrada do município de Campanha (MG). Inicialmente, essa extensão chamou-se Águas Virtuosas de Campanha, e abrangia áreas correspondentes aos atuais municípios de Lambari, Jesuânia e Conceição do Rio Verde (parte).
Em 1901, foi criado o município de Águas Virtuosas do Lambary, com dois distritos: Águas Virtuosas (sede) e Lambari (correspondente a Jesuânia).
Conceição do Rio Verde, com território desmembrado dos municípios de Lambari e Baependi, tornou-se município em 30 de agosto de 1911 (Lei Estadual nº 556).
Em 27 de dezembro de 1930, deu-se a mudança do nome da cidade, de Águas Virtuosas para Lambari, pela Lei Estadual nº 9.804. E em 27 de dezembro de 1948, Lambari perdeu o distrito de Jesuânia, emancipado pela Lei Estadual nº 336.
Assim, no mapa abaixo, "Lambari" correspondia à antiga "Lambari", que atualmente é a cidade de Jesuânia, e a Águas Virtuosas, indicada no mesmo mapa, se refere à atual Lambari.
Fonte: Álbum Chorográphico Municipal de MG (1927)
Bairros rurais e outras localidades de Lambari
A origem dos nomes de rios, acidentes geográficos, localidades, bairros, etc. reflete a história das pessoas que ali viveram ou ainda vivem, e, assim, sofre transformações com o passar do tempo. Decorre de alguma característica física ou cultural do lugar, podendo advir de um curso d'água, de um monte ou serra, de uma vegetação, de uma capela ou santo de devoção, de uma fazenda, de uma povoação, de uma família ou morador antigos, de um estabelecimento que lá existiu. Muitas vezes, o nome popularmente conhecido é diferente do nome oficial. O nome oficial é fixado por legislação administrativa do município.
Neste primeiro post, vamos examinar alguns nomes de bairros e localidades rurais de Lambari.
Vamos lá.
Cafundó: Lugar deserto e distante, de difícil acesso, geralmente entre montanhas.
O Dicionário Aurélio diz que se trata de palavra de possível origem africana, e dá esta definição: baixada estreita entre lombadas sensivelmente altas e íngremes.
Silveira Bueno diz que pode ter vindo de cabondó, do Tupi caa [= mato] e bo-ho [= ir pelo mato a dentro]
De cafundó há uma grande sinonímia: cafundó-do-judas, caixa-prego, fim do mundo, calcanhar-de-judas.
Capelinha do Embirizal: Embirizal designa o lugar que tem muitas embiras [do Tupi imbira].
Embira é a fibra que se extrai de certas plantas ou arbustos da fam. das timeleáceas, esp. as do gên. Daphnopsis.
De embira saíram expressões tais como: Chupar (ou lamber) embira --> [= passar fome, não ter o que comer]. Meter (ou amarrar) nas embiras --> [= recolher preso, ou amarrar]
Congonhal: Congonha é designação comum a numerosos arbustos de várias famílias, entre elas as aquifoliáceas, cujas folhas servem para chás ou tisanas. Assim, congonhal designa o lugar que tem muitas congonhas.
Folheta: O Dicionário Caldas Aulete dá os seguintes significados: (1) pequena folha ou lâmina de metal ou de madeira (2) Palheta, latão laminado, dourado ou prateado, com que se fazem obras de passamanaria*.
Já o Dicionário O Globo, anota esta outra acepção: lâmina de metal, que se põe por baixo das pedras preciosas engastadas.
Mandembo: [Entomologia] Certa abelha silvestre de Minas Gerais.
Nos Dicionário Houaiss e Aurélio, há o vocábulo Mandembe [Var. mandengo], com o significado, em MG e GO, de lugar de mato cerrado, de difícil acesso.
Mumbuca: s.f. Espécie de abelha preta. Origem tupi, mõ buca, que furta, que penetra. Var. mombuca.
Jacu: Segundo Silveira Bueno: Pássaro do Brasil, galináceo estimado pelo sabor da carne. Vem do Tupi yacu 'o que come grãos' --> [y = aquele] + [a = grão] + [cu = come].
Piripau: Não encontramos nenhum registro do significado da palavra piripau. O pouco que conseguimos foi isto:
Piri [ variações: piperi, pipiri, piripiri ] é o nome tupi de uma ou mais espécies de junco, que cresce nos alagadiços, utilizado na fabricação de esteiras. Do seu caule, fazem-se flautas de brinquedo.
Encontramos, também, o registro da palavra Pipiripau, de origem Tupi, como nome de alguns rios brasileiros, havendo mais de uma significação para a palavra. Por exemplos:
— rio raso e cheio de pedras no meio. Ou: — caminhos das ilhas dos juncos. E, ainda: — o que recebe.
Já em outras publicações, Piripau aparece como sendo um componente da jangada nordestina, isto é: — a parte arredondada do fundo da canoa, com uma abertura no centro, para firmar o mastro.
Serrote: Pequena montanha. Monte ou serra pequenos. Em Lambari, corresponde à pequena serra, ao pé da qual o Rio Mumbuca desce em direção à foz do Rio Lambari, para formar o Rio Itaici, que acabou por dar nome ao bairro rural.
E Mantiva, o que significa?
Não conseguimos nenhuma informação acerca do vocábulo MANTIVA, que nomeia um dos nossos bairros rurais.
Assim, se você, caro visitante, tiver alguma informação sobre a origem e/ou significado de MANTIVA, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Em 4 de agosto de 2019, recebemos e-mails de Franciele, que fez as seguintes observações quanto à origem do termo MANTIVA:
Fica registrada a participação da nossa leitora, a quem agradecemos pela informação.
[*] Manto - Segundo os dicionários, manto deriva do latim ibérico mantus, significando:
De mantus vem ainda:
O dicionário eletrônico Michaelis dá o seguintes significados para manto:
Em 28/9/2023, divulgamos este post Topônimos de Aguinhas em nosso Facebook, e recebemos a seguinte colaboração de Elton Siqueira, visando a esclarecer a origem do termo MANTIVA:
Como curiosidade, registre-se que há uma empresa chamada CASA MANTIVA, que produz azeite extravirgem e outros produtos a base de azeite, com sede na Fazenda Serra dos Rosas, localizada entre os municípios de Gonçalves, Paraisópolis e Consolação, no Sul de Minas.
https://www.facebook.com/pg/casamantiva/about/
NOTA
Outros topônimos da zona rural de Lambari:
(*) Há muita atividade religiosa católica nos bairros rurais de Lambari.
Mapa dos bairros rurais de Lambari
Pequena pesquisa sobre o topônimo LAMBARI
No livro A Diocese da Campanha, o Monsenhor José do Patrocínio Lefort informa que:
Ocorre na histório-geografia mineira, desde o século XVIII, o topônimo Lambari. É a designação de um rio — Lambari, também chamado Taici, que nasce no município de Cristina. Após percorrer 85 km, deságua no Rio Verde (1), no município de Três Corações. Também é o nome de um antigo distrito, o do Senhor Bom Jesus de Matozinhos do Lambari, atual Jesuânia, de onde foi desapropriado o topônimo.
De origem tupi: araberi ou arabarê, tem a tradução de: baratinha ou peixinho. (2) Outros tupinólogos, entre eles Martius e Taunay, apresentam os vocábulos aramberi ou araveri, mediante a corruptela do r brando e a dissimilação da líquida, donde o aparecimento de Lambari. Na linguagem nheengatu, segundo Azevedo Marques (3), traduz a expressão rio de peixe cor de prata. Esses peixinhos comuns nas águas doces têm o nome científico de chálceus nematurus.
O topônimo Lambari aparece na carta-ofício do ouvidor sanjoanense, Cipriano José da Rocha, em 1737. Depois, em documentos esparsos de habiatantes diversos que se foram fixando em terras de cultura, nas margens desse rio.
No Grande Dicionário Etimológico, Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, encontramos:
Lambari - s.m. Peixe pequeno d'água doce. A forma correta é arambari e com aferese rambari, dando-se ao r som brando. A forma consignada pelos dicionários lambari, alambari é já acomodação portuguesa do termo tupi, isto porque, nesta língua geral do Brasil, não existe l nem lh.
E do Pequeno Vocabulário Português-Tupi, de Antônio Lemos Barbosa extraímos:
Registro da palavra "lambari" no Pequeno Vocabulário Português-Tupi, de Antônio Lemos Barbosa.
Ilustração: Recorte do timbre do Jockey Club de Lambary (anos 1930)
Nos anos 1920/30, em nossa cidade, corridas de cavalo eram realizadas em pistas improvisadas, em dois trajetos. O primeiro, na Volta do Lago, no trecho que vai do Cassino até a entrada do Pinhão Roxo; o segundo, na Volta do Ó, da Barragem até o Colégio Santa Terezinha (antes do antigo Hotel América).
Alguns animais e jóqueis se notabilizaram nesses circuitos, como a égua Jandaia e o cavalo Paredão. Esse último, montado por Izolino Arantes, conquanto fosse um cavalo extraordinário, às vezes refugava o controle do jóquei, e chegou a provocar alguns incidentes. Num deles, venceu a corrida, mas não parou após a chegada, e seguiu galopando até a casa do Paulo Melo, do outro lado da cidade. Doutra feita, saiu da pista e derrubou o jóquei na entrada do Parque Novo, lançando-a contra um poste que ali havia.
Em tais corridas estão as origens do Jockey Club de Lambary.
Fundação do Jockey Club de Lambari
Em 1926, ano de sua fundação, o Águas Virtuosas havia adquirido um espaço de terra, para sediar a futura Praça de Jogos do A.V.F.C. (1) Esse terreno, situado à margem do Rio Mumbuca, tinha boa parte dele tomado por um brejo. Contratou-se à época o sr. Alberto Franco, que, com 12 carroças e um turma de trabalhadores, fez o aterramento do local.
E, em 1936, foi criado o Jockey Club de Lambary, que viria a funcionar consorciado com o Águas Virtuosas Foot-Ball Club. E no terreno mencionado acima, foi construída uma "pista própria para corridas de cavalo", que foi custeada por empréstimo tomado aos sócios fundadores do Águas Virtuosas, como se pode ver da ação abaixo, pertencente a José de Lorenzo:
Em 1940, já construído o hipódromo, fez-se um plano para edificação das arquibancadas, para o que foi elaborada a seguinte planta baixa da Praça de Jogos do A.V.F.C., que já incluía a pista de corridas:
Planta baixa, feita em 1940, da Praça de Jogos do Águas Virtuosas. A pista de corrida tinha 600 m de extensão, por 15 m de largura, em forma ovoide, com duas grandes retas, toda metrada e cercada de madeira.
Ao fundo, cercado de madeira em torno do antigo campo do Águas Virtuosas (anos 1940)
Com o Jockey Club de Lambary em funcionamento, muitos criadores passaram a selecionar animais, procurar reprodutores de linhagem e treinar jóqueis. Muitos desses criadores ou proprietários de cavalos podem ser citados, tais como: Paulo Melo, Alberto Franco, Orlando Ribeiro, Francisco Prado, Josequinha Pinto, João Bibiano. A esse último, pertenceu o cavalo Tango, considerado o melhor de toda a história do jóquei.
Com o desenvolvimento das corridas, criadores de fora, do Rio e São Paulo, e bem assim de cidades próximas, passaram a trazer cavalos puros-sangues para participar do hipismo em Lambari.
Lista de proprietários e jóqueis, anos 1930/40
Em 13 de junho de 1940, a diretoria do Águas Virtuosas F. C. enviou ofício a Joaquim P. Salgado Filho, então presidente do Jockey Club Brasileiro, com sede no Rio de Janeiro, ao qual foi anexado um longo memorial, com descrições, fotos, programas e plantas, pedindo colaboração para a construção de arquibancadas na Praça de Jogos do Águas Virtuosas.
Vejamos alguns documentos:
Ofício n. 15, de 3 de junho de 1940, assinado pelo presidente Dr. Manoel Airosa e demais diretores
Projeto da arquibancada
Planta baixa da arquibancada
Ofício do Jockey Club Brasileiro, assinado por Ademar de Faria, Secretário, comunicando o envio de Rs.500$000 (quinhentos mil réis) para disputa de um grande prêmio no hipódromo de Lambari e cobertura de parte das despesas de construção das arquibancadas.
O Jockey Club de Lambary mantinha contatos com a Diretoria dos Serviços de Remonta e Veterinaria do Exército, órgão do Ministério do Guerra, seja sobre a cobertura de animais, seja sobre as temporadas hípicas.
Vejam-se estes documentos:
Exemplar encaminhado ao Jockey Club de Lambary em 1940, com instruções sobre a cessão de reprodutores
A Temporada Hípica de 1940, organizada pela Diretoria dos Serviços de Remonta e Veterinaria do Exército, contemplava corrida e prêmio para o Jockey Club de Lambary.
(1) Trata-se do terreno do antigo campo do Águas Virtuosas, adquirido a Domingos Gonçalves de Faria, cuja entrada fica no início da atual Rua Francisco de Biaso (rua sem saída), como se vê abaixo:
Imagem Google Earth
O número 1 (Fundação do A.V.F.C.) desta série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS FUTEBOL CLUBE está aqui
E o número 2, aqui
(*) Caro(a) visitante,
Nosso objetivo é compartilhar informações, histórias e fotos de nossa cidade, com vista à preservação de sua memória. Assim, se você tiver notícias, informações, fotos das pessoas ou famílias aqui mencionadas, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Num trecho do meu livro de memórias (Menino-Serelepe*), trago à lembrança o Edson Bacha e seu projetor:
Nas férias, o Edson desencaixotava o projetor e mostrava antigos filmes da família e eventos de Aguinhas, como uma corrida de motonáutica no Lago Guanabara da qual nunca mais esqueci.
Pois bem, essa corrida de motonáutica trata-se da Grande Prova Motonáutica Cidade de Lambari, promovida pelo Clube da Imprensa Brasileira, do Rio de Janeiro, que ocorreu aqui num final de semana de 1957. Dessa prova, participaram os melhores motonautas cariocas, e, nos intervalos, houve também a exibição de esqui aquático, com atletas do Rio e São Paulo.
Na verdade, realizou-se um verdadeiro Show Esportivo, pois, além das atividades acima, houve ainda uma gincana automobilística, denominada Deputado Geraldo Starling Soares, uma partida de futebol entre o time do Águas Virtuosas e amadores do Flamengo (RJ), e um espetáculo de balé, realizado no Cassino do Lago.
Reprodução de O Globo, edição de 7 de maio de 1957
Dessa corrida de motonáutica, há esta foto no acervo do Museu Américo Werneck:
Referências
- Museu Américo Werneck: Jornal O Globo, edição de 7/mai/1957.
(*) Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem é um livro de memórias de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. na abertura do site o tópico Livros à Venda.
Ilustração: Etiqueta de antigo livro de atas do A.V.F.C.
Com a série ÁGUAS VIRTUOSAS FUTEBOL CLUBE, o site GUIMAGUINHAS vem publicando fotos, informações e histórias sobre a agremiação de futebol que leva o nome de nossa terra, bem como sobre outros times que representaram a cidade no passado (Vasquinho, G.R. ABI).
Série Águas Virtuosas Futebol Clube
Já esta série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C. é resultado de uma pesquisa em livros, atas, correspondências e outros documentos existentes nos arquivos do clube, que estamos compartilhando com os lambarienses interessados no passado de nossa cidade, a título de subsídio para que — quem sabe? — alguém um dia escreva a história do nosso querido Águas Virtuosas Futebol Clube, nos moldes do livro União Futebol Clube - Fotos & Fatos, de Márcio Rodrigues Teixeira, que divulgamos aqui no site, na série FUTEBOL EM MINAS.
FUTEBOL EM MINAS - O União F. C., de Martinho Campos (MG)
Fundação, reorganização e estatutos
O Águas Virtuosas Foot-Ball Clube foi fundado a 2 de agosto de 1926, com a finalidade de
promover entre os seus associados a cultura physica em todas as suas modalidades, podendo realizar reuniões e divertimentos de caracter social e esthetico.
Isso consta de ata de 12 de junho de 1927, referente à assembleia que discutiu e aprovou o estatuto do clube. Essa reunião foi presidida por João Lisboa Júnior, secretariado por José de Oliveira Leite (1o. Secretário) e Oswaldo Cruz Lisboa (2o. Secretário). Faziam parte também da diretoria: Jonas Honorato de Assis (Vice-presidente) e Egydio Mileo (Tesoureiro). [Veja abaixo o item Quem é quem - aqui]
Fundado em 1926, o clube foi reorganizado em 1o. maio de 1927, quando a diretoria anterior (Nicolau A. Navarro, presidente, e Renê Alves Ferreira, 1o. Secretário) foi substituída pelos diretores acima mencionados. Dessa assembleia participaram 42 sócios.
Da assembleia de 12 de junho de 1937, para discussão e aprovação dos estatutos, participaram 25 sócios, que representavam 52 cotas. Entre os sócios fundadores estão conhecidas famílias lambarienses: Lisboa, Leite, Gesualdi, Biaso, Fernandes, Bacha, Chagas, Viola, Ieno, Raimundi, Krauss, Mileo, Mota, Lorenzo, entre outras.
Confira o documento abaixo:
Finalização e assinatura dos sócios na ata de 12 de junho de 1927, que aprovou o estatuto do Águas Virtuosas Foot-Ball Clube:
Nota: Esta série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F.C. foi elaborada com base em livros, atas, correspondências e outros documentos existentes nos arquivos do clube.
A série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C. prosseguirá com os seguintes títulos:
O Jockey Club - aqui
Amistosos da Década de 1930/40 - aqui
A Taça Guaraína - 1941 - 1a. parte - aqui
Em preparo: Sócios
Em preparo: Diretorias
Em preparo: Campo do A.V.F.C.
Ilustração: Barragem e encontro das águas do Lago Guanabara com as do Rio Mumbuca.
Mumbuca, nos dicionários, significa uma
espécie de abelha preta. Palavra de origem tupi, mõ buca, que furta, que penetra. Var. mombuca. (1)
Para os lambarienses, é o riozinho que corta a cidade, e que já foi chamado de Ribeirão Lambarizinho. Em 1860, seu curso foi modificado, pois em épocas de cheia o leito invadia as fontes das águas minerais.
Rio Mumbuca, após obras de mudança do curso (1900)
O Mumbuca de minhas memórias
No livro Abigail [Mediunidade e redenção], eu imaginei como deveria ser o Mumbuca, nos idos de 1930:
A cidadezinha de Águas Virtuosas é vista como a mais bonita da região das estâncias hidrominerais do Sul de Minas. Situada no centro de um vale suntuoso, em forma de concha, é resguardada ao norte das fortes correntes de ar pela imponente e majestosa Serra das Águas, que se alteia a mais de mil e duzentos metros. Ao sopé da montanha, através do rio Mumbuca, que nessa serra tem sua cabeceira, águas cristalinas serpeiam e rolam ligeiras, borbulhando nas pequenas quedas e nos trechos mais sinuosos. (2)
No livro Menino-Serelepe, narrei as brincadeiras no rio Mumbuca, nos tempos da meninice:
Penetrávamos no Rio Mumbuca nos fundos do Posto Gregatti, subíamos o rio por sob o túnel e saíamos do outro lado, escalávamos o paredão de tijolos para acessar o antigo cinema do hotel e dali íamos “excursionando”, começando pelo próprio cinema, e depois pelos salões de jogos — que Aguinhas foi cidade onde a jogatina reinou até os anos 40 — pelos jardins, pelas quadras, pelo terreno da caldeira, pela piscina, pelos jardins internos. (...)
Nesse túnel do Rio Mumbuca a turma chegou a manter um esconderijo, feito de objetos duramente catados ao fundo do rio: restos de concreto, tijolos, pedras, que, acumulados, formaram uma elevação na qual durante muito tempo brincamos e pescamos mandis, cascudos e lambaris. Bons tempos aqueles, pois o rio Mumbuca não era ainda tão poluído quanto atualmente. (3)
Isso mesmo: nesse Mumbuca de doída memória — brincávamos, pescávamos, nadávamos...
E então suas águas eram limpas, havia peixes... Todas as tardes, pescadores se postavam na ponte do Parque Hotel, em frente ao balneário do Imperial, na entrada e na saída do túnel do Hotel Imperial, na ponte do Parque Novo, em frente às duchas...
Hoje, vendo o Mumbuca tão degradado, cheio de lixo, malcheiroso, poluído, assoreado, me pergunto:
— Devemos dar adeus ao Mumbuca?
Chuvas que não vêm, fontes que secam, rios que morrem — e não é somente por obra da Natureza que isso vem ocorrendo. Em tudo isso, há, como sabemos, a pesada mão da imprevidência, do descaso e da irreponsabilidade do ser humano.
Assim, é certo que depende de nós — somente de nós — salvar o gracioso riozinho!
Saída do túnel, em frente do Posto Gregatti, local por onde adentrávamos o rio em nossas brincadeiras
Entrada do túnel, em frente do balneário do Imperial, local por onde saíamos e escalávamos o paredão que dava acesso às dependências do Hotel Imperial
(1) BUENO, Silveira. Grande Dicionário Etimológico, Prosódico da Língua Portuguesa - Vol. 5 - L/M - São Paulo : Saraiva, 1968.
(2) Esse texto descreve a Aguinhas dos anos 1930 e faz parte do Capítulo 1 - Uma cidadezinha ao pé da serra, do livro ABIGAIL [Mediunidade e redenção], de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas), assina a coletânea HISTÓRIAS DE AGUINHAS. Veja o tópico Livros à venda.
(3) Essa narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960. O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.