Abaixo vai uma romântica descrição de Lambari, datada do início do Século XX, e bem assim algumas referências a nossa cidade, feitas por insignes autores.
Vamos lá.
Uma antiga descrição de Aguinhas
Um antigo narrador de Aguinhas assim a descreveu (com a ortografia da época):
Encantadora e pitoresca, engastada como fascinante esmeralda no largo seio de risonha bacia, poisa a Vila, toda emmoldurada de graciosas colinas, relvadas e planturosas, que se alteiam no Valle e descem por suaves curvas de nível a se abeberar nas águas frescas e maravilhosas do Mombuca, correndo-lhe ao norte, direcção oeste-leste, e do São Simão deslisando ao sul, direcção sud-oeste-léste.
A natureza ao formar-se ali andava certamente a brincar. É um raro e lindo pedaço de terra sob um lindíssimo pedaço de céu.
Abrigada pela Serra da Campanha que a protege das fortes correntes atmosphericas, em cujo dorso se attingem, com 40 minutos de cavallo, culmiancias de 200 a 1.300 metros, está collocado na altitude media de 930 metros acima do nível do mar.
As colinas do Sertãozinho, o Pico do Morro Sellado, e, ao longe, as montanhas de Conceição do Rio Verde lhe dão uma variedade de tons e de cores, formando, em uma harmonia deliciosa, um grande quadro deslumbrante e idealmente poético. É como uma linda marca mollemente reclinada em uma tape de flores, e que se espelha, sonhando, nas águas do Mombuca e no placido lago.
Sitio sub-alpestre florestado e aprazível, revestido de extensos pinheiraes, a atmosphera que o envolve é aseptica, ozonificada, tonica e vivificante. Sente-se o saneamento do pulmão e a vida neste pouso dá saúde e dá alegria: vive-se em um grande banho de luz, em um ambiente puro com um clima suave e acariciador. A grande altitude lhe dá o ar puro e ameno das montanhas, cuja topographia em comeros successivos permitte o rápido escoamento das águas pluviaes, na estação das chuvas. Devido á sua exposição ao sol, á intensa luminosidade, e prompto e quase immediato o dessecamento das terras, concorrendo com sua temperatura fresca para dotal-a de clima maravilhoso, merecidamente reputado como excepcional.
Com as primeiras chuvaradas de Setembro os campos recomeçam a reverdecer e então a payzagem se torna alegre e risonha. Neste clima se encontram todas as condições exigidas pelos mais notáveis hygienistas para a vivificação geral do liquido por excellencia vivo e nobre, que é o sangue, d’onde o levantamento das forças orgânicas e vitaes.
A exposição topographica permite franca e poderosa irradiação solar, quebrados todos os excessos de calor e suavisada a crueza da luz no revestimento florestal absorvente a extender-se de todos os lados, farfalhante, sonoroso e fresco. A temperatura média é de 19º. As noites calmas e frescas, sem barulho e sem mosquitos. Residência de verão das mais procuradas, casando o conforto d’um centro civilisado á salutar simplicidade campesina. É um centro escolhido por quantos querem respouso para o espírito e allivio aos seus soffrimentos.
(Extraído de CAPRI, Roberto. Águas Virtuosas de Lambary. São Paulo : Pokay & Comp., 1918.)
Palavras de Coelho Neto
O escritor Coelho Neto, ilustre frequentador de Minas Gerais e amante de suas águas, que se referira a Belo Horizonte como a “cidade vergel”, a Aguinhas não exaltou menos, e dela disse:
Falo como quem veio a gemer e sai deste ameno vale a cantar... Aqui bebe-se a cura aos copos – a paisagem, o céu, as flores, o ar e a gente dando alegria ao espírito dos infelizes que aqui chegam, como eu cheguei sem ânimo. Volto outro! Ora viva Deus!
(Extraido de MARTINS, Armindo. Lambari – cidade das águas virtuosas. Linográfica Rio Ltda, RJ - 2a. edição, 1971.)
Palavras do poeta Vargas Neto
E Vargas Neto, poeta e sobrinho de Getúlio Vargas, que aqui fazia suas estações de águas, de Aguinhas assim disse:
... é nessa cidadezinha de cromo suíço, pousado num seio de montanhas como num côncavo da mão, tendo na frente o grande lago onde se mira o cassino imponente, que o tempo, como nos grandes homens, tira a juventude mas deixa a majestade, é lá onde o meu espírito descansa e o meu fígado se refaz.
(Prefácio ao livro de C. Garden. Uma vilegiatura em Lambari. Empresa a Noite, RJ, s/d.)
Sua Alteza, o Conde D’Eu, quando viajou por estas bandas, em companhia da Princesa Isabel, anotou, no dia 10.10.1868, em carta ao seu pai:
...os arredores daqui são encantadores para excursões a cavalo; os dias são de deliciosa primavera e dificilmente se encontra recanto mais bonito.
E termina afirmando que a decantada Floresta Negra, com sua cadeia de montanhas que correm paralelas ao Reno, não é mais pitoresca do que o aprazível lugar em que se encontra.
(O último Conde D’Eu – Alberto Rangel – págs. 198 a 203. Apud José Nicolau Mileo. Subsídios para a história de Lambari .Graficávila, Guaratinguetá,SP, 1a. edição, 1970.)
Gastão de Orleans - O último Conde D'Eu - de Alberto Rangel
SUMÁRIO
Já comentamos nesta série Águas Virtuosas Futebol Clube sobre diversos jogadores que por aqui passaram e que atuaram profissionalmente no futebol. Aliás, entre 1967 e 1969 o AVFC, com times profissionais, disputou a divisão de acesso à 1a. Divisão do Futebol Mineiro. (aqui)
Recordamos, por exemplos, que Betinho Nascimento, Alemão e Joãozinho Fernandes foram jogadores profissisonais. E assim também Hélio Alves, Ita, Dickson, Jorginho e Adílson (aqui).
Mas hoje queremos focalizar a breve passagem pelo nosso Águas de Heriberto Longuinho da Cunha, que ficou conhecido no mundo do futebol como Heriberto. Vamos lá.
Mineiro de Santa Rita do Sapucaí
Natural de Santa Rita do Sapucaí, nascido no dia 7 de abril de 1960, Heriberto, como jogador, foi um habilidoso meia, que atuou pelo São Paulo, Santos, Cruzeiro, Atlético Paranaense, entre outros clubes. Mas atuou também na lateral esquerda, e quando se aposentou tornou-se técnico de futebol.
Em 1977, no Campeonato da Liga de Caxambu, o Águas Virtuosas ficou com o vice-campeonato, tendo perdido a final para o time do Itamonte. Naquele ano, alguns jogadores de Santa Rita do Sapucaí atuaram pelo Águas, entre eles: Aleluia, Luiz Carlos, Gato e Becão.
Pois foi na fase de classificação para os finais que o jovem Heriberto jogou algumas partidas pelo Águas Virtuosas. Não chegou a disputar a fase final, pois logo foi para os times de base do São Paulo Futebol Clube, onde acabou por se profissionalizar em 1979.
Fotos do Águas de 1977
Abaixo, foto do Águas de 1977, mas nela não aparece o Heriberto. Infelizmente, nem mesmo a ficha de inscrição do jogador na Liga de Caxambu conseguimos localizar.
Em pé: Luiz Carlos, Gato, Evaldo, Dimas, Tinz, Manezinho, Edson Becão e Edgar. Agachados: Bitihura, Aleluia, Décio, Tonho, Gabriel e Guima
Antônio de Campos, conhecido por Aleluia (segundo agachado na foto acima) atuou profissionalmente no Mogi Mirim, Juventus, Paulista de Jundiaí. E depois como técnico foi o descobridor de vários craques, entre eles, HERIBERTO. Confira aqui
A carreira profissional de Heriberto
Confira a carreira profissional de Heriberto Cunha, com passagens por diversos clubes brasileiros, como jogador e como técnico. (aqui)
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Boas recordações dos velhos e divertidos carnavais de Aguinhas...
Baile infantil a fantasia (Carnaval de 1928)
Desfile de fantasias, baile dos anos 1960
Senhoras e moças da sociedade lambariense, em baile de fantasias beneficente
Samba, anos 1960
Sambistas, no Cassino das Fontes, anos 1960
Crianças nas matinês
Crianças, de diferentes gerações, brincando o Carnaval
Moças e rapazes no Carnaval dos anos 1960
Carnaval anos 1960
A rapaziada se diverte, nos anos 1970
Carnaval dos anos 1970
Na foto de abertura, brincadeira de Carnaval nos anos 1980
O galo, quando canta / a cobra bate chocaio;/ quero que 'ocê me ensine/ roubar carta no baraio.
(Trova popular mineira, oriunda de Peçanha (MG)
Deixei anotado no Menino-Serelepe* uma passagem sobre o jogo de truco:
E tio Pedrinho, que depois que deixou a roça também tocou um bar na Vila Nova, quando estava visgado na orelha da sota, jogando a leite de pato, encamaçando o baralho, gostava de bravatear: Truco, moço, que eu já vim do Mato Grosso, carça larga mão no borso, o parceiro é um colosso! Truco, moço!
Desde menino vi familiares jogando truco, especialmente aqueles que moravam na roça. Abaixo vai um pouco de lembranças de truco e truqueiros.
Sua origem é incerta, mas especula-se que o jogo de truco (ou truque, como popularmente é chamado) tenha surgido dos mouros, porém não há consenso a esse respeito. No Brasil foi popularizado, a partir do Século XIX, por imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, a princípio nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Difundido pelos tropeiros, era muito jogado nas fazendas do interior do pais, depois, rapidamente chegou aos centros urbanos. É um jogo divertido e barulhento, com gritos e brincadeiras, que quase nunca é jogado a dinheiro.
Na foto abaixo, do início dos anos 1900, obtida no Museu Américo Werneck, provavelmente a pose se deu durante uma partida de truco.
Jogadores de truco, Lambari (MG), início dos anos 1900
Douradinha, Dourada e Douradão (ou Douradona)
Tire a sorte. Dê vancê. / Serre o baraio, Tonico.
Dêxe pro pé. – Bamo vê? / Truco in riba desse bico!
(Trova caipira)
Foi meu pai quem me ensinou a jogar truco. Mas foi na casa do tio João Lobo (tio de minha mãe, irmão de meu avô Miguel Lobo), juntamente com meu primo Miguel, que aprendi a jogar a Douradinha (6 parceiros), a Dourada (8 parceiros) e o Douradão (10 parceiros). O jogo se dava nas tardes de domingo, no porão da casa do meu tio, regado a bolo, guaraná e café, gentilmente servidos pela tia Maria. Eu e Miguel éramos os mais jovens, e lá aprendemos a enfrentar um timaço, todos veteranos do jogo de truco: tio João Lobo, tio Pedrinho Avíncula, João Modesto, João Cabo, Candeia, Zé Vicente (das Congadas), Tião Venâncio, João Silvestre, entre outros.
Nesses jogos, o baralho utilizado era o comum, com 52 cartas, do qual eram retiradas as cartas 8, 9 e 10 de todos os naipes (restando 40 cartas). Pelas nossas regras, a manilha era presa e valiam as conhecidas (quatro de paus, sete de copas, ás de espada e sete de ouros). Acima dessas, na Douradinha, a dama de ouros; na Dourada, acima da dama de ouros, o rei de ouros, e no Douradão, acima do rei de ouros, o rei de paus.
Alfredo Volpi, Jogadores de truco (reprodução)
Jogo é jogado, lambari é pescado.
Em janeiro de 1961, o Sputinik já comentava sobre os papudos do truco de então: Zé do Janjão, Juca Lino e Alcino, entre outros:
Por essa época, outros truqueiros famosos, reuniam-se no Bar do Juca, entre eles: Zé Roberto Monti, Carabina, Nenê Nascimento, Alemão, Chico Panu.
No Bar do Tião Vilanova, o truco também era concorrido: Hélio Noronha, Zé Roberto, Boró, Celso, João Bode, Neguinho...
Lá pelos anos 70, jogava-se truco no Varandão, no Bar da Cascata, no Bar do Seu Pedro, e nas parceiradas, entre outros: Pedro Barbeiro, João Fubá, Mauro, Zé Braz, Jair do Salomão, Pica-fumo.
Nos anos 80/90, a moçada do futebol costumava se reunir nos finais de semana na casa da Dona Xandoca e nos fundos do Restaurante do Lúcio, entre eles: Décio, Kit, Magrelo, Véio, Betinho, Luizinho, Tucci, Misca, Ró, Guinho, Zé Amauri...
Atualmente, uma seleção de papudos e contadores de vantagens reúne-se aos domingos: Betinho Nascimento, João Bibiano, Lacy, Vicentinho, Sérgio Raimundi, Guinho, Misca... Quem ganha, quem perde, ninguém sabe, pois na segunda-feira todos se declaram vencedores!
Olha aí os truqueiros! Saudades dos que já partiram: João Bibiano, Betinho e Vicentino
Fonte: Reprodução. Facebook
E o Elia, de onze ainda perdia.
Histórias de truquêro, como as de pescador, são, geralmente, mentirosas, ou, no mínimo, exageradas. Mas, um dos truquêros citados acima contou-me o seguinte caso que teria ocorrido aqui em Aguinhas. Se é verdadeiro, não sei, mas vou contar.
"Mais vale um sinár farso do que carta"
Na nega de 7 queda, nóis 9 mio e eles 11, os hómi, bem de carta, mandaro. Um deles, o Elia, o que mandou o jogo, saiu de sete de copas e trêis, e seu parceiro tinha sete de oro e um doiszinho.
Do nosso lado, meu parceiro, que era o mão, não tinha nada, mas deu sinár farso de três. Eu saí de zap e trêis, mas dei sinár de espadia e escundi o trêis.
O adversário com o doiszinho e sete de oro era o pé, e meu parceiro, na mão, saiu de rei. Aí, o Elia cobriu de sete de copas, querendo garantir a primeira, pois viu meu sinal de espadia. Mas eu fechei a primeira com o meu zap escundido!
Na outra mão, pensei: Eles mandaram e deve de ter mais uma manilha. Então, lancei uma dama e recuei o meu trêis. E aí o que fora pé na vez anterior cobriu de sete de oro, cum medo do meu parceiro fechá o parceiro dele cum o trêis. Mas o sinár era farso, parceiro num tinha três nenhum, o três tava cumigo. Eles fizero a segunda, e na finár, o Elia, que tinha um três socô a mesa, gritando:
— Toma lá, pacuera! E jogou a carta na mesa. Mas eu tornei, mais árto:
— Engole esse aqui, papudo! E colei o meu trêis na testa! E ganhamo três armoço no Tião Vilanova!
Bico: s.m. carta de somenos valor no jogo do truque (os “dois” e os “três")
Dunga: o dois de paus, no jogo de douradinha.
Manilha: [Do francês manille]. S. f. 1.Denominação comum a algumas cartas de baralho, em certos jogos, que possuem maior valor. No truco, há a manilha presa, em que as de maior valor são: sete de ouros, ás de espadas, sete de copas e quatro de paus. Na manilha solta, vira-se uma carta, e as cartas acima tornam-se manilhas, sendo as maiores, pela ordem, as dos seguintes naipes: paus, copas, espada e ouros.
As manilhas recebem nomes curiosos: Zápite (zap, carreta, ferro, ); escopeta; espadilha; sete belo (douradinha, mata três).
Mão-de-onze: – Ocorre quando uma parceirada atinge 11 pontos na partida, e pode decidir se irá ou não jogar. Se não jogar, o adversário ganhará um ponto; se jogar, a mão valerá 3 pontos. Nessa mão, não se pode trucar.
Mão-de-ferro: – A mão-de-ferro se dá quando ambas parceiragens estão com 11 pontos na partida. Quem vencer a mão, ganha o jogo.
Negra (ou nega): [Gíria]. Em jogos de vários empates, a última partida, em que se define o vencedor.
Trucada: S. f. - uma vez, uma jogada ou mão de truque; o ato de trucar.
Truque, S. m. - jogo entre quatro parceiros, cada um dos quais dispõe de três cartas. É este o mais popular dos jogos de cartas, no interior de S. P. e de quase todo o Brasil. Em S. P. joga-se com as seguintes cartas, pela ordem dos valores: os dois, os três (bicos), o sete-oro (sete de ouros), a espadia (espadilha), o séte-cópa (sete de copas), o quatro-pau (quatro de paus), ou zápe. Faz parte da pragmática do jogo levá-lo sempre com pilhérias e bravatas, umas e outras geralmente acondicionadas em fórmulas estabelecidas.
Truquêro, S. m. - jogador de truque.
Trucar: Propor ao parceiro, no jogo de truco, a primeira parada.
Trucá(r), v. i. - o ato de provocar o adversário, no jogo do truque, antes de uma jogada. O que truca exclama, em regra: truco! O adversário manda, ou corre. Se manda, na dúvida de fazer a vaza, é geralmente com a frase - Bâmo vê, ou - Jogue. Se tem a certeza de ganhar, ou pretende amedrontar o outro, responde com ênfase, às vezes aos gritos: Toma seis! - Seis, papudo! - E diga porque não qué!" e outras bravatas por esse estilo.
Trucá de farso: trucar sem carta que assegure o lance, só para amedrontar o adversário; fig., fazer citação falsa, alegar fatos não verdadeiros.
Vaza: sf (castelhano baza). Cada uma das rodadas ou partidas de que se compõem o jogo.
Referências: O Dialeto Caipira, Amadeu Amaral - Dicionário Sertanejo, Cornélio Pires - Dicionário da Terra e da Gente de Minas, Waldemar de Almeida Barbosa.
Veja causos contados por Rolando Boldrin, aqui
JOGO DE TRUCO - Rancheira - Música de Luizinho e letra de Ado Benatti. Gravação Odeon - 1959. Luizinho, Limeira e Zezinha mais os truqueiros: Ado Benatti, que aqui é chamado de Zé do Mato, e o Biguá reproduzindo em forma de música uma partida de truco. É a alegria, a criatividade e o talento do artista sertanejo de outros tempos.
No Youtube - (aqui)
A leite de pato(a): Jogar de brincadeira, sem valer nada.
Encamaçar: Preparar (um baralho de cartas) para enganar os parceiros.
Orelha da sota: Estar na orelha da sota = estar no jogo de cartas. [Sota = dama no jogo de baralho.]
Visgado: Preso, agarrado [derivado de visgo, resina com que se prende pássaros].
(**) Este trecho faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS. V. o tópico Livros à Venda.
Referências: Museu Américo Werneck, Wikipedia, http://www.jogosdecartas.com.br/
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Domingos do Espírito Santo (Jesuânia, 31/05/1925 — Lambari, 19/08/1999) ingressou nas Indústrias ABI, muito jovem ainda, no dia 31 de julho de 1941 como aprendiz de soldador, logo passando à função de soldador e dessoldador com liga de chumbo. A partir de 1963, tornou-se encarregado da seção de decapagem (1) e depois instrutor dessa mesma seção; mais tarde, tornou-se encarregado e instrutor da seção de inoxidáveis.
Aposentou-se em 17 de outubro de 1972, mas continuou trabalhando, na própria ABI, até 1980. Depois, labutou ainda em pequena oficina montada nos fundos de sua casa.
Neste post, vamos recordar aspectos da vida profissional e pessoal dele, de quem fui colega de ABI, no início dos anos 1970 (aqui).
Vamos lá.
Assíduo, criativo e dedicado ao trabalho e aos colegas, Domingos teve seu esforço reconhecido por todos, seja pela sincero companheirismo e amizade que cultivou com pares e superiores, seja pelos prêmios que merecidamente recebeu em razão de sua atividade profissional.
De fato, ele inventou ferramentas (soldagem, estampação, gabaritos), renovou processos e instrumentos de trabalho (ganchos para estanhagem, nova solução química para decapagem de latões, processos de soldagem e esmerilhamento), tendo participado, também, da criação de produtos inovadores da ABI (equipamentos para laticínios) e de ferramentas para a IMASA [outra empresa do grupo], para a qual desenvolveu uma máquina de correção de palhetas de limpadores de para-brisas.
Ainda hoje, companheiros de trabalho de Domingos, com quem conversei, lembram-se dele com respeito e saudade.
Seu dinamismo também deixou marcas na vida comunitária de nossa cidade. Sócio-fundador do Círculo de Trabalhadores Cristãos de Lambari e membro da Congregação Sagrado Coração de Jesus, participou de atividades religiosas e cívicas com dedicação e empenho. Por essas ações, recebeu honrarias do Rotary Clube e das Indústrias ABI e a sociedade lambariense deu o seu nome a uma rua do bairro Matadouro.
Eu, de minha parte, ainda menino, trabalhando na Farmácia Santo Antônio, me lembro de seu Domingos passando por lá à busca de remédios — ou de uma prosa — com meu pai (Dé da Farmácia) ou meu tio João. Vinha sempre com sua velha bicicleta e um indefectível cigarrinho entre os dedos...
José cantuária , Jorge Muquem (irmão Domingos), Hélcio (filho de Domingos), Daniel Lemos, Kadimiel Canelhas. Agachados: Adilson Valeriano (sobrinho de Domingos), José Pacheco (compadre de Domingos) e Domingos do Espírito Santo, segurando uma peça da máquina batedeira de manteiga de aço inoxidável.
Domingos do Espírito Santo, José Pacheco, Tuioki Umesaki e Antônio Henrique da Cruz, examinando um estacionário inox para conservar leite.
Em abril de 1966, à vista
do cuidado exemplar na rotina de sua missão [e em razão] de saber inovar seus processos de trabalho, com melhor rendimento na produtividade e real economia para a indústria (2)
recebeu um prêmio em dinheiro, que lhe foi entregue pelo craque Alcindo (Grêmio de Porto Alegre), em evento realizado nas dependências das Indústrias ABI.
Alcindo entrega a Domingos Espírito Santo o prêmio a que fez juz.
No fundo, podem ser vistos os craques Bellini (braços cruzados) e o rosto de Tostão. Em 1966, como se recorda, a Seleção Brasileira fez preparativos para a Copa da Inglaterra em nossa cidade.
Em 1980, Domingos foi eleito Operário Padrão da ABI, e concorreu ao título estadual, em Belo Horizonte, com mais 64 trabalhadores. Nos documentos de sua indicação constou o seguinte:
Boletim da Fiemg (maio de 1980)
Fonte: Informativo da FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS, Maio de 1980.
Domingos casou-se com Benedita Ribeiro do Espírito Santo em 30 de outubro de 1946. O casal teve 3 filhos: Hélcio, Edna, Berenice, e uma filha de criação (Vicentina).
Domingos e Benedita, no aniversário de 50 anos de casamento.
(1) Decapagem: consistia na "queima" de peças de chapas de aço (latões, baldes, etc.) e posterior imersão desses vasilhames em solução de ácido sulfúrico (13 a 16%) para posterior estanhagem.
Decapar é fazer desaparecer a camada de óxido que reveste um metal. Estanhar é recobrir com estanho. Esse processo foi posteriormente abandonado, dando lugar a vasilhames de aço inoxidável e de plástico.
(2) Carta datada de 16/04/1966, assinada por Ferdinando L. Belandi, Diretor Presidente da ABI.
Agradecemos a Hélcio do Espírito Santo pelas informações e fotos utilizados neste post.
ABI - A indústria e o time de futebol
ABI - Pequeno histórico do time da GRABI
ABI - Uma história de 100 anos