Imagem de abertura: Foto da imagem de N. S. da Saúde existente na matriz. Escultura em madeira policromada, datada provavelmente da segunda metade do século XVIII. Para mais informações, clique aqui
[Minha mãe] me fez frequentar catecismo, confessar, fazer primeira
comunhão, levar flores para o Sagrado Coração e ajudar na
enfeitação das ruas, por ocasião das procissões de Corpus
Christi e, na Semana Santa, acompanhar a procissão do
Encontro e a do Senhor Morto. Na malhação do Judas,
não fica perto do foguetório, cuidava de recomendar.
No Natal, colhe lodo no jardim e me ajuda a montar o
presépio em cima do tager, ela dizia. E, toda tarde, era
só tocar a Ave-Maria no alto-falante da igreja de Nossa
Senhora da Saúde e lá vinha: “faça-a-prece-pra-padroeira,
meu filho, seis-horas”. (Só quem viveu no interior sabe,
com dorida saudade, o encanto de uma Ave-Maria tocada
numa igrejinha...)
(Do livro Menino-Serelepe) [*]
Diz uma lenda corrente em Águas Virtuosas que a devoção a Nossa Senhora da Saúde iniciou-se deste modo:
(...) por volta do ano de 1780, na cidade de Campanha, um africano de nome Antônio de Araújo Dantas revelou ao moço de nome Tancredo a existência de águas curativas, que existiam atrás da serra, numa nascente perto de um riacho. [**]
Tancredo era noivo da moça de nome Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, fazendeiro de Passos, que submetia a filha a longo tratamento médico, mas já sem esperança de curá-la.
Tancredo fala-lhe das águas, nas curas maravilhosas de que tinha notícia, e insiste com o futuro sogro para ir ao lugar e levar a filha. Trancoso já desanimado com o tratamento médico, resolve buscar a cura por meio das águas virtuosas.
Aqui ficou por algum tempo e sua filha com o uso das águas durante uns 20 dias apenas, nada mais sentia de seus antigos males.
Cecília radicou-se ao lugar por uma afeição de grande agradecimento e, devota que era de Virgem Maria, pediu a seu pai para construir uma capela, sob a evocação de Nossa Senhora da Saúde. Trancoso voltou a Campanha, obteve autorização do Eclesiástico local e construiu a igreja, na qual, após a bênção pelo Capelão da Campanha, se realizou o seu casamento com Trancredo. (1)
Isso reza a lenda; no entanto, a realidade histórica é outra. Com efeito, o Monsenhor José do Patrocínio Lefort escreveu:
Sem fundamento algum, a não ser a imaginação fantástica de um contista, é a lenda de Cecília, filha de Antônio Alves Trancoso, [que] teria feito uso da água e se curado de um mal grave. É estoria de Werneck para efeito de propaganda, pois não existia a família Trancoso nem em Passos nem no Sul de Minas. (2) [A sublinha é do original.]
A criação da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde
Em 25 de janeiro de 1827, a Câmara [de Campanha] oficia ao Vice-Presidente da Província Mineira relatando que fora certificado e avaliado o local conhecido como "ágoa virtuosa" e sugerindo a edificação de habitações e de uma pequena Ermida. (3)
Assim, em 1830, separa-se uma área patrimonial, dentro da qual, em 1832, foi escolhido um trecho para a construção de um templo dedicado a N. S. da Saúde, a padroeira. Mas a Ermida só aparece em 1837. Quatro anos depois, ela foi ampliada pelo vigário da Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos do Lambari (atual Jesuânia). (4) [Nota]
A área acima foi loteada, os terrenos vendidos e grande foi a afluência dos visitantes à procura de saúde. (5) Em 1850, a povoação de Águas Virtuosas foi elevada à condição de Paróquia (Lei Mineira n. 487, de 28 de junho de 1850). Assim, a partir dessa data, a povoação recebe o nome oficial de Águas Virtuosas e dá-se a divisão da "velha região do Lambari" (que abrangia a atual Jesuânia e a atual Lambari) em duas freguesias: a da Águas Virtuosas (recém criada), e a do Lambari (atual Jesuânia) [6]
Histórico da Praça Nossa Senhora da Saúde
Fonte: Ruas de Lambari, José Nicolau Mileo, 1970.
Primeira Igreja de N. S. da Saúde
A primitiva igrejinha dedicada a N. S. da Saúde, cuja construção iniciou-se em 1853
A antiga Matriz de N. S. da Saúde
Antiga matriz vista de frente
Antigo postal da igreja matriz
Vista da antiga matriz e dos jardins
Vista interna dos jardins da antiga matriz
A cidade parcialmente avistada da frente da antiga matriz (anos 1930). No fundo, vê-se o Hotel Melo
O Hotel Central e o Parque das Águas vistos da antiga matriz (anos 1940). No fundo, vê-se já o Hotel Imperial.
A antiga matriz, vista da Parada Melo (anos 1940)
Belíssimo altar de madeira da antiga matriz. Obra do imigrante José Raymundi
Saída de procissão, na porta da antiga matriz
Santas Missões: missa no pátio da antiga matriz (1947)
Veja mais fotos da antiga matriz, clicando aqui
Povoação: Os habitantes de um determinado lugar ou região
Freguesia: Povoação, sob o aspecto eclesiástico.
Paróquia: Divisão territorial de uma diocese sobre a qual tem jurisdição ordinária um sacerdote, o pároco.
Pároco: Sacerdote encarregado de uma paróquia; vigário.
Núncio: embaixador do Papa.
Nota: Recorde-se que Lambari surgiu de extensão de terras desmembrada do município de Campanha. Essa extensão chamou-se Águas Virtuosas de Campanha, e abrangia áreas correspondentes aos atuais municípios de Lambari, Jesuânia e Conceição do Rio Verde. Eis um resumo da história administrativa do município:
(1) MARTINS, Armindo. Lambari, a cidade das águas virtuosas. 1949, p. 25
(2) LEFORT, José do Patrocínio. A Diocese da Campanha. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de MG, 1993, p. 206.
(3) Id., ibid., págs. 206/207.
(4) id., ibid, p. 207.
(5) id., ibid, p. 207.
(6) MILEO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, p. 56.
Fonte das Fotos: Museu Américo Werneck; Família de Vicente Raimundi; André Gesualdi
Outras referências: http://www.paroquiasenhoradasaude.com.br/index.php e http://www.diocesedacampanha.org.br
Veja estes links:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38765
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38773
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=50394
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=39880
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=4308974
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=50544
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=51009
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38316
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=50466
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=44745
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=52307
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=66507
https://guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=66447
(*) Antônio de Araújo Dantas [Campanha, MG - 1741-1812] foi proprietário da fazenda em cuja área cresceu e se desenvolveu toda a cidade de Lambari. Descoberta a água mineral em terreno da sua fazenda, a Câmara Municipal de Campanha adquiriu uma área de 12 alqueires para formar o patrimônio público (entre 1830-1832). Em 1846, uma outra área de pouco mais de 30 alqueires foi comprada e anexada ao patrimônio público. Há uma rua Antônio de Araújo Dantas em nossa cidade.
[José Nicolau Mileo. Ruas de Lambari, 1970, págs. 36/37]
(**) Este trecho faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
Mais fotos do Águas, Vasquinho e GRABI.
Acima, placa de aviso do treino do Águas (anos 1950).
Águas anos 1960. Em pé: Motinha, Folhão, Damião, Zezé Gregatti, Evaldo, [?], Ademir e Sérgio. Agachados: [?], Chá, Cabritinho, Delém, Walmando, Chanchinha, Betinho e Jaime.
Águas (1976): Chicão, Tinz, Gabriel, Hélio Alves, Tucci e Sérgio. Agachados: Zé Paulo, Joãozinho, Xepinha, Jorginho e Guima.
Vasquinho (anos 1960): Motinha, Chá, Jaime, Gil, Alencar, Zé Carlos, Guinho e Zé Roberto (Juiz). Agachados: Cabritinho, Zezé Gregatti, Alemão, Pé-de-ferro e Sérgio.
GRABI x Botafogo Baependi (1973). Edson, Tinz, Vaca, Guima Celinho e Delém. Agachados: Roberto, Xepinha, Chiquinho Barletta, Tatá e Sérgio.
GRABI X Ubiratan (Carmo de Minas), 1974. Edson, Vaca, Tinz, Tucci, Guima e Delém. Agachados: Roberto, Xepinha, Tatá, Chiquinho Barletta e Sérgio.
Gol do GRABI, jogo contra o Ubiratan, de Carmo de Minas, em 1974. Chiquinho Barletta, Xepinha, Roberto, Sérgio e Tucci comemoram.
Fotos de outros times de Lambari:
Time juvenil - anos 1960, no Estádio do AVFC - Entre outros, em pé: Paulo César, Daniel, Jorge Torino, Nonô, Joel e João da Baia. Agachados: Sérgio Buruti, João Catraca, Lúcio, Vicente e Misca.
Santa Quitéria - Campeão em Heliodora - anos 1980 - Entre outros, na foto, em pé: Edson, Tinz, Sérgio. Agachados: Tucci, Dílson, Zé Vitinho, Chiquinho.
Futebol de Salão - anos 1980 - Sérgio, Rolinha, Zé Machado, Ieié e Misca.
Campeonato Amador - antigo campo do Águas - anos 1960. Entre outros, em pé: Chanchinha, Guelinha, Pé-de-ferro, Jaime, Valdemar e Guinho. Agachados: Gil, Chá, Zezé Gregatti e Sérgio.
Ilustração: Cassino de Lambari. Pintura de Willian Gorgulho
Sumário
Américo Werneck [Nota 1] veio para o Sul de Minas nas décadas finais dos anos 1800, passando por São Gonçalo do Sapucaí e Cambuquira, antes de chegar a Lambari, em 1889, onde se estabeleceu na Fazenda dos Pinheiros.
Engenheiro, político, escritor, defendeu ideias abolicionistas e republicanas. Em 1898, foi eleito deputado à Assembléia Fluminense, porém, não tomou posse desse cargo para assumir, a convite de Silviano Brandão, a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas de Minas Gerais. Nesse cargo, ocupou, simultaneamente, a Prefeitura de Belo Horizonte, por um curto período (1 mês e 14 dias), tendo integrado também a comissão construtura da nova capital do Estado. Assim, em 1909, na condição de primeiro prefeito da cidade,
Trazia da nova capital, Belo Horizonte, que ainda estava sendo construída (1894-1914), a inspiração necessária para (...) erigir um moderno complexo aquífero na estância de Lambary. (1)
E, então, no mesmo ano de 1909,
Werneck apresenta o seu projeto de modelação urbanística para o presidente do Estado, Dr. Wenceslau Braz. Suas ideias eram grandiosas, mas realizáveis, já que sabia qual o caminho mais econômico e lucrativo para alcançar seus objetivos, que por algum tempo foram também os do Governo de Minas Gerais. (1)
De fato, Werneck visitara o Circuito Europeu das Estâncias Hidrominerais e, com base naqueles modelos, pensou e (re)fundou a estância de Águas Virtuosas. Essa seria sua Vichy brasileira. Coube à firma Poley & Ferreira, do Rio de Janeiro, transformar em projetos as ideias de Werneck. (2) [Nota 2]
E, da Europa, trouxe Werneck não só modelos arquitetôncios e ideias estéticas, e sim também conceitos hidroterápícos e "preceitos de urbanização, higienismo e salubridade" (3). Do Velho Mundo viriam também diversos materiais a serem empregados nas obras, além de objetos de decoração, lustres, objetos e mesas de jogo, materias da parte elétrica, gôndolas, etc. [Nota 3]
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A urbanização e o embelezamento da estância
Na gestão de Werneck, foram realizadas as principais obras de Lambari. Com efeito, coube-lhe a execução do plano de saneamento, urbanização e remodelação da cidade: construção de prédios públicos e avenidas, instalação da rede de água, realização das obras grandiosas do cassino, do lago, do farol.
Diz José N. Mileo que
[Na administração de Werneck] foram realizados aterros, desaterros, retificações e aberturas de ruas, canalização de riachos e de córregos, instalação da rede geral de água potável, construção da rede parcial de esgotos e as grandes obras de embelezamento, como a construção do Cassino, do Farol, do Lago, da mata ao seu redor, do aumento do Parque das Águas e da instalação da rede geral de energia elétrica, inaugurada em 1911. Toda a obra realizada sob sua administração visava a fazer de Lambari, não apenas centro de tratamento e de cura, mas grande centro de vilegiatura e de turismo. (4)
O Cassino, o Lago e o Farol de Lambari
[Werneck, enfim, conseguira] apoio necessário para financiar sua ambiciosa empreitada de construir uma cidade planejada, com parques, mirantes, modernas edificações públicas, ruas largas, um enorme lago artificial, onde antes só haviam depressões irregulares Para coroar a majestosa obra, um magnífico palácio defronte o novo corpo d'agua. (5)
Em vinte meses, entre os anos de 1909 e 1911, centenas de operários realizaram obras de remodelação e embelezamento da estância. Num local chamado Alto da Fortaleza, adquirido em 1909, foi construído o Cassino de Lambari. Defronte a ele, o Lago Guanabara; a sua esquerda, o Farol.
Nota em O Paiz, edição de 04/02/1910
O Cassino, o Lago e o Farol de Lambari, além de outras obras, foram inaugurados em abril de 1911, evento que contou com a presença do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, convidado especial, e do Presidente de Minas Gerais, Julio Bueno Brandão, que o acompanhou. [Veja este artigo.]
Em 1912, Werneck realizou com o Estado de Minas um contrato de arrendamento da estância. Em 1913, no entanto, após uma série de desentendimentos com representantes do Governo Estadual, rompeu o contrato. Essa contenda durou anos, e ficou nacionalmente conhecida como Questão Minas X Werneck.
Com isso, durante anos, fechou-se o Cassino de Lambari, abandonou-se o Parque Wenceslau Braz, o mato cresceu nas ruas, paralisaram-se as obras contratadas (construção do Grande Hotel, exploração da Leiteria, renovação do estabelecimento hidroterápico, entre outras).
É certo que teriam sido melhores os caminhos de Águas Virtuosas se esse episódio não tivesse ocorrido.
Inauguração da "Vichy Brazileira"
Fotos históricas da inauguração das obras de Werneck em Águas Virtuosas
O Cassino em obras
Vista do local onde se construiria o Lago Guanabara
Vista do Lago, Barragem, Cassino, 1911
Vista do Farol e do Parque Novo (em formação)
Vista do Parque Novo, início (após 1911)
No Lago Guanabara, gôndolas trazidas por Werneck de Veneza
Vista do centro da cidade (1911): Cassino, Leiteria e Usina de Força (atual prédio da Prefeitura Municipal)
Aspecto de Lambari, início dos anos 1900. Podem ser vistos a Fábrica de Gelo, o Mercado de Flores, as largas avenidas, e todo um quarteirão, em frente ao Parque das Águas (atual Rua Tiradentes), ainda sem edificações.
Livro
MILEO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970b.
Monografia
SILVA, Francislei Lima da. Monumentos da água no Brasil: Pavilhões, fontes e chafarizes nas estâncias Sul Mineiras (1880-1925) [Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012.
Disponível em:
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2011/01/Francislei-Lima-da-Silva.pdf -
Consultado em 16, jun. 2013.
Artigo
CASTILHO, Fábio Francisco de Almeida. Américo Werneck: O Haussman de Águas Virtuosas. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300650112_ARQUIVO_TextoAmericowerneck.pdf -
Visitado em 16, jul, 2013.
Referências bibliográficas do texto acima
(1) SILVA, 2012, p. 63. (2) CASTILHO, 2011, p. 14. (3) SILVA, 2012, p. 46. (4) MILEO, 1970b, págs. 35/36. (5) CASTILHO, 2011, p. 15.
Bibliografia sobre Lambari
Para conhecer uma bibliografia sobre a cidade de Lambari, leia este texto:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37327
Documentação sobre a história de Lambari
Instituto Histórico e Geográfico de Campanha:
http://istoecampanha.blogspot.com.br/2011/06/instituto-historico-e-geografico-da.html
Museu Américo Werneck:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36378
Arquivo Público Mineiro:
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/
Nota 1 - Para saber mais sobre Américo Werneck, clique aqui.
Nota 2 - Veja este texto: O embelezamento da estância de Lambary
Nota 3 - "Em 1909, Werneck elabora os projetos e plantas destinados à construção da nova imagem da estância junto aos arquitetos da empresa carioca de arquitetura Poley e Ferreira. Trata-se de 63 projetos e plantas (...), que registram em suas linhas, parte da edificação em estilo eclético, do entusiasmo com a luz elétrica, com a ferrovia e com o ferro fundido; o contato com o mercado externo, o uso das novas formas de organização do espaço urbano." (SILVA, 2011, p. 90)
Fotos: Museu Américo Werneck
Outras referências: Blog do Iba Mendes. Ilustrações da abertura desta série: fotos de pinturas do Farol e do Cassino (autoria de William Gorgulho).
Para ver o número 1 desta série, clique aqui:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=38644#resumo
Ilustração: O farol de Lambari, que iluminava o Lago Guanabara. Desenho de William Gorgulho
RESUMO HISTÓRICO ATÉ O INÍCIO DOS ANOS 1900
Sumário
Neste texto, mais longo do que os habituais, faremos um resumo histórico da formação da estância hidromineral de Lambari — criação, urbanização, embelezamento, as grandes obras (cassino, lago, farol).
Como convém a um post, procuramos resumir os pontos focalizados, ilustrá-los, tanto quanto possível, e citar obras e textos de referência em que os temas aparecem mais desenvolvidos.
Nesta primeira parte, vamos examinar os tópicos constantes do Sumário acima.
A descoberta das fontes, a formação do povoado e os primeiros estudos da água virtuosa
No texto abaixo, disponível no site da Prefeitura Municipal de Lambari, o leitor vai encontrar um resumo de pontos tais como: a descoberta das águas, o surgimento e evolução da vila, as primeiras obras de saneamento e canalização das fontes e as pesquisas iniciais sobre as propriedades curativas das águas.
Resumo histórico-administrativo
A atual cidade de Lambari, de povoação foi elevada à categoria de Freguesia pela Lei-Provincial nº 487, de 28/06/1850, e a Distrito de Paz pela Lei nº 998, de 27/06/1859. Depois, tornou-se Distrito (Lei-Estadual nº 2, de 14/09/1891), e a seguir Município (Lei-Estadual nº 319, de 16/09/1901), o qual foi instalado em 2 de janeiro de 1902. Denominava-se, então, Águas Virtuosas da Campanha, e, a partir do Decreto nº 9.804, de 27/12/1930, passou a se chamar Lambari.
Cronologia do município de Lambari
PRESIDENTE: João Lisboa - VICE-PRESIDENTE: Gabriel Romão Carneiro - SECRETÁRIO: Oscar Paes Pinheiro - VEREADORES Joaquim Manoel de Melo, Bibiano José da Silva, Martinho Vaz Tostes, Egydio de Lorenzo - VEREADOR ESPECIAL DE CONCEIÇÃO DO RIO VERDE: Deusdedith Vieira - VEREADOR DE LAMBARI: Francisco Antônio Correa
A visita da Princesa Isabel e Conde D'Eu
Fator dos mais relevantes, que levou ao surgimento e evolução das estâncias hidrominerais, no final do século XIX, foi a simpatia da família real - e da elite ligada ao Império - pelas águas minerais e termais. De fato, D. Pedro II e a Imperatriz Thereza Cristina estiveram em Poços de Caldas em 1861. E em 1868, a Princesa Isabel e o Conde D'Eu fazem estação em Águas Virtuosas de Lambary (atual Lambari) e Águas Virtuosas de Baependy (atual Caxambu). (1)
Veja também A Princesa Isabel em Aguinhas
Família Imperial fotografada por Otto Hees. Da esquerda para direita, Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, D. Antônio, D. Isabel, D. Pedro II, D. Pedro Augusto de Saxe-Coburgo, Conde d'Eu, e os príncipes Luís e Pedro de Alcântara na Casa da Princesa Isabel e do Conde D'Eu (1888). (Fonte: Wikipedia)
Gastão de Orleans - O último Conde D'Eu - de Alberto Rangel
Sua Alteza, o Conde D’Eu, quando viajou por estas bandas, em companhia da Princesa Isabel, anotou, no dia 10.10.1868, em carta ao seu pai:
Então, aqui, nós também tomamos as águas. É uma parada higiênica em nossas viagens através do Brasil que nos prende cada vez mais. (...) A estada dos viajantes é uma distração ardentemente desejada [...] os arredores daqui são encantadores para excursões a cavalo; os dias são de deliciosa primavera e dificilmente se encontra recanto mais bonito.
E terminou afirmando que a decantada Floresta Negra, com sua cadeia de montanhas que correm paralelas ao Reno, não é mais pitoresca do que o aprazível lugar em que se encontra. (2)
Garção Stockler e o desenvolvimento do lugarejo
Como vimos em post anterior, no tópico As fontes das águas de Lambari, a vinda de Garção Stockler para residir no município, as obras que realizou, o trabalho político que empreendeu e a divulgação que fez das águas minerais foram pontos fundamentais para o desenvolvimento do vilarejo. Daí porque Stockler é considerado como o criador da estância hidromineral, como centro de vilegiatura e de tratamento. (3)
Coube também a ele obter a aprovação de um plano de saneamento e embelezamento da vargem - extensa área de terreno pantanoso e aladiço, situado em ponto central da povoação. Essa área correspondia a onde hoje estão construídos o Grupo João Bráulio, o Estádio do Águas Virtuosas, os prédios do Grande Hotel, Hotel Glória e demais circunvizinhos. (4)
A Estrada de Ferro Muzambinho chegou a Jesuânia em 1894. Em 1o. de março, essa estação (chamada então Bias Fortes) foi inaugurada. No dia 24 do mesmo mês a estrada de ferro chegava às Águas Virtuosas. (5) A primeira estação foi a Parada Melo, a estação ferroviária de Águas Virtuosas foi inaugurada alguns anos depois.
Antes de 1894, podia-se chegar de trem até Contendas (Conceição do Rio Verde), e depois fazer o restante do trajeto até Águas Virtuosas por meio de cavalo, troles ou liteiras. Veja-se o anúncio acima.
Fonte: CARROZO, 1988, p. 34
Observações quanto ao mapa acima:
Veja no mapa abaixo a antiga malha ferroviária de nossa região, que passava por Lambari, Cambuquira e Campanha até o final da linha, em São Gonçalo do Sapucaí.
Mapa Ramal de Campanha, 1956 - Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br
Grupo político responsável pelo desenvolvimento da estância
Garção Stockler fundou também um agrupamento político a que pertenceram os Drs. João Bráulio Júnior, Américo Werneck e o sr. João de Almeida Lisboa.
De fato,
[...] Américo Werneck se fixou em Águas Virtuosas e encontrou ali um grupo há tempos estruturado, que pugnava pelo desenvolvimento do lugarejo, apostando no empreendedorismo da exploração das águas minerais e construção de uma estância balneária confortável e atraente aos visitantes. Esse grupo local agregou considerável capital político ao longo da década de 1890... (6)
Em Lambari, em 1889, Werneck se estabeleceu na Fazenda dos Pinheiros, e passou também a defender os interesses da estância balneária. (7)
Em 1898, então como Secretário da Agricultura do Estado, formou em Lambari a colônia agrícola de Nova Baden, concedendo áreas de 4 a 6 alqueires de terra a colonos austríacos, alemães e italianos. (8)
Em 1901, foi inaugurada a estação ferroviária de Nova Baden, visando a contribuir para o desenvolvimento da colônia agrícola. [V. Nota 1 abaixo]. A gleba de terra retalhada em lotes, entregues àquelas famílias, contudo, não conseguiu fixar os beneficiários. Pouco depois lá permanecia reduzido número dos primeiros colonos. (9)
Após isso, Werneck criou o Horto Florestal, mais tarde transformado no
Posto de Seleção de Sementes, mantido pelo Governo, vasta área coberta de pinheiros e eucaliptos, densa mata virgem, veios d'água tributários do Ribeirão Mumbuca formam cerca de sete quedas, cada qual mais bonita. (10)
Esse empreendimento é atualmente uma reserva biológica, chamada Parque Estadual de Nova Baden. [V. Nota 2 abaixo].
Criação da Prefeitura de Águas Virtuosas e o primeiro prefeito
O grupo político de Garção Stockler
desempenhou aguda empreitada pelo desenvolvimento da localidade. Batalhou incansavelmente pelo reconhecimento da singularidade de suas águas e passou a pleitear junto do governo estadual investimentos para a construção de uma estância balneária nos moldes europeus. (11)
E coube a Francisco Sales, no governo de Minas, dar às estâncias do Estado um impulso decisivo, com a criação das prefeituras e uma legislação específica para custeio das obras de melhoramento das estâncias balneárias. (12)
Com isso, a partir de 1905, Caldas, Cambuquira e Caxambu se beneficiaram da nova legislação. Mas, em 1909, Águas Virtuosas passou a figurar nesse seleto grupo. Assim foi que em 12 de maio de 1909, pelo Decreto Estadual nº 2.528, foi criada a Prefeitura de Águas Virtuosas, Américo Werneck nomeado prefeito e uma grande soma de capital foi posta para desenvolvimento da cidade e realização de obras. (13)
Aspectos da cidade - Final do Século XIX - Início Século XX
Centro antigo de Lambari - antes da ampliação do Parque das Águas
Vista de Lambari, em 1896
Rio Mumbuca, obras de mudança do curso, próximo dos anos 1900
Vista parcial de Lambari, em 1900
Aspecto da várzea (próximo dos anos 1900)
Cidade vista da várzea (próximo dos anos 1900)
Uma vista antiga do Parque das Águas e da Praça da Liberdade
Fontes das Águas, início anos 1900
Vista da cidade, em 1911
Livros
CARROZZO, João. História cronológica de Lambari. Piracicaba, SP : Shekinah Editora e Gráfica, 1988.
MARTINS, Armindo. Lambari - A cidade das Águas Virtuosas. 1a. edição, 1949;
MILEO, José Nicolau. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970a;
MILEO, José Nicolau. Ruas de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1a. edição, 1970b.
VIOLA, Paulo Roberto Viola. Lambari, como eu gosto de você. Rio de Janeiro : Ed. Navona, 2002.
Monografias
CASTILHO, Fábio Francisco de Almeida. A Construção da Estância Balneária de Águas Virtuosas. In Como Esaú e Jacó: as oligarquias sul-mineiras no final do Império e Primeira República. Tese (Doutorado em História). Universidade Estadua Paulista, 2012, págs.123/153. -
Disponível em
http://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/FABIO.pdf -
Visitado em 16, jun, 2013.
SILVA, Francislei Lima da. Monumentos da água no Brasil: Pavilhões, fontes e chafarizes nas estâncias Sul Mineiras (1880-1925) [Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012.
Disponível em:
http://www.ufjf.br/ppghistoria/files/2011/01/Francislei-Lima-da-Silva.pdf -
Consultado em 16, jun. 2013.
Referências bibliográficas do texto acima
(1) SILVA, 2012, págs. 29/30.
(2) SILVA, 2012, p. 30; MILEO, 1970a, págs. 95/96.
(3) MILEO, 1970b, p. 50.
(4) MILEO, 1970a, págs. 121 e 130.
(5) VIOLA, 2002, p. 117.
(6) CASTILHO, 2012, p. 124.
(7) CASTILHO, 2012, p. 130.
(8) MILEO, 1970b, p. 35.
(9) CARROZO, 1988, p. 136.
(10) MARTINS, 1949, p. 109.
(11) CASTILHO, 2012, p. 131.
(12) CASTILHO, 2012, p. 133.
(13) CARROZO, 1988, p. 121; CASTILHO, 2012, p. 134.
Bibliografia sobre Lambari
Para conhecer uma bibliografia sobre a cidade de Lambari, leia este texto:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=37327
Documentação sobre a história de Lambari
Instituto Histórico e Geográfico de Campanha:
http://istoecampanha.blogspot.com.br/2011/06/instituto-historico-e-geografico-da.html
Museu Américo Werneck:
http://www.guimaguinhas.prosaeverso.net/blog.php?idb=36378
Arquivo Público Mineiro:
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/
Nota 1 - Colônia Agrícola Américo Werneck em Belo Horizonte
Também em Belo Horizonte, em 6 de agosto de 1898,
surgiram (...) os núcleos "Carlos Prates" e "Córrego da Matta". [Este] foi posteriormente denominado "Américo Werneck" ["designação feita em homenagem ao engenheiro e ex-secretário de Agricultura e Diretor do Departamento de Terras e Colonização que integrava a comissão construtora da capital"]
(...) Tinha superfície de 144 hectares, dividida em 75 lotes, e sua população era constituída, em 1907, de 180 indivíduos entre brasileiros, italianos, portugueses e espanhóis, que cultivavam batatas, milho e hortaliças.
Fonte: http://www.oriundi.net/site/oriundi.php?menu=categdet&id=5482
Nota 2 - No texto sobre Américo Werneck publicado no site do IEF há dois equívocos. De fato, diz o texto que
O nome do Parque é uma referência ao alemão Américo Werneck, da cidade de Baden-Baden que, no século 19, instalou-se na região.
No entanto, Werneck era brasileiro, natural de Bemposta, no Rio de Janeiro. O nome Nova Baden trata-se de uma referência à região de Baden-Baden, na Alemanha, que lhe teria servido de inspiração.
Fotos e ilustrações: Museu Américo Werneck e obras/locais já citados.
Para ver o número 2 desta série
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