Publicista é aquele que escreve por amor e interesse da causa pública e cuja íntima inspiração é política.
JOSÉ VERÍSSIMO
Diz Medeiros e Albuquerque, em crítica literária ao livro Marido e Amante, publicada em 11 de julho de 1917 e reproduzida no livro Páginas de Crítica (1), que Américo Werneck era um de nossos mais operosos polígrafos e que os esses - os polígrafos - podem ser acusados de superficilidade, em face da infinita complexidade dos conhecimentos modernos (isso para os anos 1910!). Mas, acrescenta o articulista, o bom polígrafo possui virtudes, como o raciocínio, a facilidade de explicar as coisas luminosamente, de separar o essencial do acessório, o obscuro do claro. E conclui o pensamento dizendo que
O Dr. Américo Werneck é um desses espíritos simplificadores e clarificadores de ideias. Há, porém, nele muito mais habilidade para a exposição de ideias abstratas do que para a exposição literária, a descrição, a análise psicológica. Isso provém muito naturalmente de que seus trabalhos literários têm sido a parte mais acessória da sua atividade intelectual.
É, pois, do pena do publicista Américo Werneck que saíram seus melhores livros, alguns dos quais importantes ainda hoje.
Dos livros ligados à sua atividade de publicista, podemos citar:
“O Brasil seu Presente e seu Futuro”; “Erros e Vícios da Organização Republicana”; “Problemas Fluminenses”; “Estudos Mineiros”; “Ecos da Multidão”; “Revisão Constitucional”; “Indústrias de Transportes”; “Reforma do Sistema Tributário”; “Reflexões sobre a Crise Financeira”; “Tarifas Aduaneiras”; “Política e Finanças”; “Interdito Possessório”; “Juízo Arbitral”; “Liberdade de Testar”; “Do Divórcio”.
Ideias e reflexões datadas, mas importantes ainda hoje
Para Quintino Bocaiúva, Américo Werneck era o maior pensador brasileiro. Semeador de idéias denominava-o Alcindo Guanabara. Afirmava Nilo Peçanha ser ele o espírito mais profundamente liberal de seu tempo. O Ministro Heitor de Souza, que o enfrentou em pleito célebre de Minas, conceituava-o como a inteligência mais fulgurante do Brasil.
AUGUSTO DE LIMA, Discurso feito na inauguração do retrato de Werneck no Asilo São Luiz, RJ (*)
Em texto publicado em 1971, o articulista Edgar Carone frisou:
As obras de Antônio Felício dos Santos, Amaro Cavalcanti, Américo Werneck, Jorge Street, etc. são essenciais para o conhecimento da problemática industrial entre 1880 e 1930. Elas levantam questões cruciais do nascente industrialismo brasileiro, como as de mercado interno, tarifas, câmbio, imperialismo, etc. A maior parte desta contribuição limita-se, porém, à análise de reivindicações momentâneas, dentro de um caráter imediatista. Apesar de básicas, sua contribuição se limita ao tempo. (2)
Livros de Werneck versando sobre os temas acima mencionados são abundantemente citados, por exemplo, numa obra que é referência sobre a história da nascente indústria brasileira na República Velha (1880-1930). Trata-se do livro A luta pela industrialização do Brasil, de Nícia Vilela Luz (3).
A autora chega mesmo a pôr, em nota de rodapé (págs. 88/89), uma pequena biografia de Werneck, com a lista de suas principais obras, tal a importância desse autor contexto do livro de Nícia Luz:
As obras de Werneck em trabalhos acadêmicos
De fato, no que se refere àquele período (1880/1930) e a temas tais como: industrialização, imigração, tarifas, câmbio, o nome e as obras de Werneck aparecem em artigos, estudos e monografias. Vejam-se estes exemplos:
- Joaquim Murtinho e Américo Werneck argumentavam que a indústria brasileira era artificial, apenas uma indústria montadora de produtos estrangeiros, não agregando valor ao país e gerando altos custos aos consumidores e exportadores (...) Werneck argumentava que o protecionismo fazia a indústria, mas não fazia a riqueza do país, pois encarecia os produtos para a sociedade brasileira. (4)
- (...) a existência de outra corrente (...): os nacionalistas agrários. Dentre estes, destacam-se, principalmente, no período que vai do final do Século XIX às primeiras décadas do Século XX: Américo Werneck, Eduardo Frieiro e Alberto Torres. (5)
- (...) uma outra corrente de protesto levantava-se contra o artificialismo do nosso desenvolvimento industrial. Protecionista, ela reclamava, entretanto, preferência para a produção agrícola, alegando descuido da República pela terra, pelo campo, cujos habitantes constituíam, entretanto, o cerne da nacionalidade brasileira. Américo Werneck, um dos mais típicos representantes dessa corrente, revoltava-se contra esse esquecimento do homem do campo que, a seu ver, era o fator de nossa grandeza e o esteio de nossa soberania. (6)
- Por sua vez, Rui Barbosa e Américo Werneck criticavam duramente o caráter militarista dos primeiros anos da República, e, por conseguinte, os jacobinistas, que, para eles, deveriam servir à nação obedecendo-lhe, não promovendo sedições ou estimulando mudanças de governos. (7)
- A que atribuir este fenômeno generalizado [o jaguncismo], que de Norte a Sul, em zonas separadas por centenas de léguas, e só no meio de uma classe habitantes deflagra com o mesmo caráter violento? Por que motivo, sem entendimento prévio, e sem nenhuma ligação, a rebeldia sertaneja estoura em uma extensão de oitocentas léguas, e depois de escrever as páginas de Canudos, rebenta em Mato Grosso, aparece em Goiás, salta para o Contestado, pipoqueia em pontos distantes como irrupções locais de um fogo subterrâneo no subsolo da sociedade, e centralizando sua ação principal, devasta o Nordeste até as brenhas do Maranhão, em luta renascente e exaustiva, visando sempre os depositárias da autoridade? (8)
Ilustração de abertura: Inauguração do busto de Américo Werneck, na Praça da Liberdade, em Lambari, MG, nos anos 1940. Na foto, o orador do evento: o romancista, ensaísta e acadêmico Gustavo Barroso.
(*) LIMA, Augusto de. Retrato de Werneck [Discurso proferido por ocasião da inauguração do retrato de Américo Werneck, no Asilo São Luiz para Velhice Desamparada, Rio de Janeiro] - Disponível em http://www.allnetmind.com.br.