Ilustração: Alfeu Belloni, sempre elegante, e também famoso pé-de-valsa (aqui)
Lambari já teve... Já teve isso, já teve aquilo... Isso não vingou, aquiloutro se acabou...
Entre desalentadas e saudosas, gerações de lambarienses ouviram — e ouvem — frases como essas.
Para recordar um pouco disso, criamos a Série AGUINHAS JÁ TEVE, iniciada com o seguinte post:
E já comentamos também sobre o seguinte:
E hoje vamos recordar um dos mais tradicionais estabelecimentos de nossa cidade, destacado pela excelência de seus produtos: o Laticínios Glória, de Alfeu Belloni.
Entre eles, como já anotamos aqui, a
especial manteiga da família Beloni, de sabor incomparável, com clientes do Rio de Janeiro — entre eles Gustavo Barroso — que a encomendavam e recebiam pelo serviço de entregas da rede ferroviária
Vamos lá!
Como já contei aqui, meu avô materno e dois irmãos de minha mãe trabalharam no Laticínios Silvestrini, sendo que meus tios (Rubens e Messias Lobo), anos mais tarde, trabalharam também no Laticínios Glória também.
Aliás, deixei registrado no livro MENINO-SERELEPE uma lembrança daquela época, tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945):
Tio Messias trazia do laticínio do seu Alfeu Belloni, onde trabalhava, os jornais e os lia para a família, compondo quadros de horrores, devastação, fome, morte, um pavor sem conta (...)
ONDE FICAVA O LATICÍNIOS GLÓRIA
Situado próximo do Grupo João Bráulio, em alguns dias da semana, era comum ver uma pequena fila de alunos, na saída das aulas, passando pelos fundos do Laticínios Glória para receberem uma "raspadinha" do Creme Natália (o especial requeijão do Belloni).
Os funcionários levavam os tachos com a sobra do requeijão e, com uma colher, depositavam uma raspadinha na mão das crianças...
Neste prédio na Rua Garção Stockler ficava a entrada do Laticínios Glória. Reprodução. GoogleMaps
Esta entrada, na Rua Francisco de Castro Filho, dava acesso aos fundos do Laticínios Glória, onde eram servidas as "raspadinhas" de requeijão. Reprodução. GoogleMaps
Interior do Laticínios Glória (anos 1950)
Cliente à porta do Laticínios Glória (anos 1950)
Alfeu Belloni, com casais de amigos: Manuela Gama/Ângelo Astério; Dulce Faria/José Astério e a filha
Marília Maria, filha de Alfeu Belloni (formatura)
Os meninos e meninas dos anos 1950/60 hão de se lembrar de ter comprado manteiga a granel no Laticínios Glória, e do "jeitão" do seu Belloni, que nos parecia sempre "brabo", falando alto naquele italianado típico...
Esse fato fez nascer em nossa cidade a expressão cara de beloni, com este significado:
Coisas da linguagem, que é viva e está sempre se renovando...
Seu Toninho de Campos, que era muito amigo de Alfeu Belloni, foi quem me contou essa história da origem da expressão, isso nos anos 1970, ao tempo em que fui seu contador (aqui).
De fato, seu Toninho fez os primeiros registros escritos dessa gíria por ocasião das eleições presidenciais de 1960, no jornalzinho Sputinik, que editou nos anos 1950/60 (aqui).
Confira:
Reprodução. Sputnik n° 37, de 21 de agosto de 1960
Reprodução. Sputnik n° 44, de 9 de outubro de 1960
E nós também fizemos uso da expressão no livro Menino-Serelepe.
Confira este trecho, retirado do capítulo XXVIII – Furtação de frutas:
(...) E eu caí, meio que me esborrachando pelo chão, mas rodopiei pelo passeio afora, me pus de pé, espanei a sujeira da roupa, mostrei a língua pro Cuím que ficou lá tiririca, afuazado e com cara de beloni. Eu rachei fora com o bolso carregado de pasta de goiaba, que goiaba inteira num sobrou unzinha nem pra remédio. (pág. 154)
[O destaque não é do original.]
(*) Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem trata-se de uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, na Lambari dos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.