Ilustração: Guima, com 16 anos, no time Juvenil do Águas Virtuosas
Conforme já contei em posts anteriores, em 1968-69, alguns atletas do Juvenil do Águas Virtuosas passaram a treinar entre os profissionais.
Entre eles, estavam eu (Guima), Dimas Nascimento e Zé Helvécio conforme está no número 1 desta série:
Neste post referido acima, contei duas histórias:
Pois bem, hoje vou contar mais uma.
Vamos lá!
EM 1969, EU QUASE ESTREEI NO TIME PROFISSIONAL DO ÁGUAS
A história a seguir vai estar no meu livro de memórias da juventude (sequência de o MENINO-SERELEPE), conforme já anotei em (Algumas histórias).
Desde os meus 12 anos, ajudei meu pai na Farmácia Santo Antônio, como já contei (Aprendiz de "farmaceiro").
Guima, aos 12 anos, na Farmácia Santo Antônio
Quando se formou o time profissional do Águas, sob o comando do Sr. Jaime, técnico de Belo Horizonte, ele passou também a treinar o time Juvenil do Águas, no qual eu jogava.
A diretoria do clube abrira uma conta na Farmácia, e, desse modo, o técnico do Águas ficou amigo do meu pai (Dé da Farmácia) e sempre passava por lá para comprar alguma coisa.
Numa dessas idas, ele me viu lá trabalhando e comentou com meu pai que estava gostando de mim como jogador. Ele disse: — Dé, meu amigo, pode incentivar seu menino no futebol. Ele é forte, rápido e aplicado. Chuta das duas pernas e tem um grande senso de marcação. Tem futuro se continuar assim!
Meu pai, que era "desligado" de futebol, ficou todo "inchado" ao saber que o seu único filho podia vir a ser uma "promessa" no futebol. E começou a frequentar o campo, às escondidas, para ver o desempenho do filho...
Sr. Jaime me prepara durante a semana
Sr. Jaime, técnico do Águas profissional (1968-69)
Na época em que Sr. Jaime levou a mim, Dimas Nascimento e, mais tarde o Zé Helvécio, para integrar o segundo time do Águas Profissional, nós treinávamos ora na zaga, ora nas laterais, conforme a necessidade do treinamento do time principal.
Tucinho, Dimas, Xepinha e Guima, no time do Águas de 1975
Me lembro bem que num dos últimos jogos do Águas em 1969, o lateral-esquerdo Paraguaio estava suspenso e o seu reserva imediato era o Rubinho Dantas, irmão do Tinz e Delém. Rubinho trabalhava fora e só aparecia na sexta-feira para treinar.
Paraguaio, lateral-esquerdo do Águas (1968-69)
Por essa razão, durante a semana Sr. Jaime conversou reservadamente comigo e disse que me esforçasse nos treinos, pois poderia vir a precisar de mim, na lateral esquerda, no jogo decisivo do final de semana. A situação do Paraguaio dependia de um recurso do Águas a ser julgado na FMF, e o Rubinho, seu reserva, talvez não pudesse vir naquele final de semana, em razão do trabalho (ele trabalhava com eletrificação rural e ficava a semana toda fora de casa).
Eu levei um susto, deu um frio na espinha, e guaguejei: — Sim, Sr. Jaime... como o senhor quiser...
Guardei segredo e mesmo nervoso com a possibilidade de vir a jogar, me apliquei nos exercícios e treinamentos, mas a cabeça estava a mil: — Primeira vez, time profissional, à noite, adversário forte, jogo decisivo... Mas não comentei nada com ninguém e fui mentalmente combatendo o medo e a insegurança.
No sábado, o Rubinho chega e vai em meu lugar
Na sexta-feira, Paraguaio treinou no time principal, pois não se sabia o resultado do recurso do Águas. Mas o Rubinho não chegou para treinar.
Sr. Jaime me chamou e disse: — Fica preparado. Se o Rubinho não aparecer, você é que vai, pois o Paraguaio talvez não possa jogar.
Então, treinei na lateral-esquerda do time reserva, e o Sr. Jaime interrompeu o treino diversas vezes para me orientar. — Chega junto, não dá espaço! Dá o fundo pro ponta, não deixa ele cortar pro meio! Abre pra receber! Levanta a cabeça! Olha o meia, toca e corre pra receber na frente! Vai no fundo e cruza com a esquerda! Corta com a esquerda e cruza com a direita!
De sexta para sábado, ansioso ao extremo, não dormi direito, pensando no susto dos meus pais, nos amigos que não iam me perdoar por não lhes ter contado nada antes, na viagem, nos prováveis lances do jogo...
Rubinho Dantas, no Águas de 1966
Mas, no sábado, o Rubinho apareceu.
De algum modo, senti um alívio. Sorte ou azar? Não sei dizer... Mas essa foi minha primeira e última chance no time profissional do Águas Virtuosas
De fato, como já contei aqui no Guimaguinhas:
Em Três Corações, jogando pelo empate, o Águas perdeu a vaga numa final histórica contra o Atlético Clube daquela cidade. Placar de 1 X 0, gol contra do extraordinário zagueiro Pulga, em um lance de infelicidade: uma bola cruzada, um cabeceio dentro da área e a bola bateu-lhe na nuca e entrou. Em 1970, endividado e desmotivado, o Águas Virtuosas terminou com o futebol profissional e também com o amador. |
Em 1970 e 1971, o juvenil do Águas passou a ser treinado pelo Zezé Gregatti.
Em 1971, parte do juvenil foi jogar no Vasquinho, que disputaria o Sul Mineiro Amador. A partir de 1972 e até 1974, fomos para o GR.ABI.
O time do Águas Virtuosas ressurgiria em 1975, para disputar o Campeonato Amador da Liga de Caxambu.
O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.