Ilustração: Pavilhão das Fontes - Lambari (MG), início dos anos 1900.
Conforme já narramos na Série Parque das Águas, foi o engenheiro Benjamin Jacob o responsável pela captação de nossas águas minerais (aqui).
Benjamin Jacob, no primeiro plano, examinando a captação das águas de Lambari
A captação das águas se deu em 1905, mas já antes dessa data Benjamin Jacob exercia o cargo de Engenheiro Fiscal das Aguas Mineraes do Estado, e foi nessa qualidade que produziu, em 1904, um relatório sobre o Parque das Águas de Águas Virtuosas, documento esse que foi apresentado pelo Secretario de Estado dos Negócios das Finanças, Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, ao sr. Dr. Antônio Francisco de Salles, então Governador de Minas Gerais.
Tal relatório, que vai abaixo reproduzido, conservando a ortografia daquela época, fornece uma descrição da precária situação do parque das águas e de nossas fontes, no início dos anos 1900.
Acima pode-se ver o Parque das Águas e parte das edificações descritas no relatório abaixo, tais como: o antigo cassino (existente no interior do parque), o balneário, as fontes e o gradil de ferro que circundava o parque.
SECÇÃO DE LAMBARY
Esta estancia está situada na Villa de Aguas Virtuosas, distante 6 kilometros da povoação de Lambary. A altitude acima do nivel do mar é de 900 metros.
As fontes mineraes são em numero de quatro, sendo 2 gazosas e 2 férreo gazosas: uma destas ultimas, a fonte Maria ou Ferreira Netto, é considerada sulfurosa, porém nada justifica essa crença do povo.
Turistas, no Parque das Águas, em 1905
A fonte mais importante é a chamada do Parque: pertence ao grupo «las gazosas" e tem uma vasão do 48.000 litros em 24 horas.
Esta fonte cujos primeiros trabalhos de beneficiamento foram executados pelo engenheiro Gerber [1], vae ser agora captada em maio próximo por ordem do governo, dando assim cumprimento a clausula 6a. do contracto de 5 de outubro de 1900.
A fonte do Parque é abrigada por um vasto chalet de madeira com duas paredes de venezianas, forrados de mozaico o solo e as paredes até uma certa altura; a bocca do poço que tem 0,80 do diâmetro é também forrada de mozaico. Ha um empregado encarregado de apanhar agua para os aquáticos: para esse fim ele serve-se de um copo de prata suspenso a uma corrente do mesmo metal, de modo que as mãos não ficam em contacto com agua.
Ao lado dessa fonte fora do chalet que a protege, existe uma espécie de chafariz ao qual a agua da fonte do Parque devia chegar por meio de uma bomba aspirante. Segundo fui informado, semelhante combinação nunca deu resultado, provavelmente devido a grande quantidade de gaz carbónico que é também aspirada pela bomba.
Chalet que abrigava as fontes de águas minerais
A outra fonte gazosa acha-se em frente à precedente, abrigada por uma casinha de tijolo coberta de telhas chamada casa da bomba.
Ahi está installada uma bomba que leva a agua para o estabelecimento balneário: esta fonte não está captada e a sua agua é exclusivamente utilisada para usos externos; no logar existe um poço de 2,35 de altura ocupando a agua 73 centimetros no fundo.
As duas fontes ferreo-gazosas são conhecidas pelos nomes de Paulina e Maria ou Ferreira Netto; a primeira contém uma agua límpida, transparente, incolor, inodora, de sabor picante e ligeiramente estiptico; a agua da segunda é também limpida, transparente, incolor de sabor picante e levemente hepático de cheiro muito pouco pronunciado de acido sulphydrico; com o tempo deixa depositar flocos avermelhados de oxydo de ferro.
Cada uma destas fontes está abrigada per um elegante chalet octogonal com columnas de ferro fundido. Estão ambas mal captadas e situadas num pequeno jardim de 1.260 metros quadrados de superfície, fronteiro ao parque, cercado de gradil de ferro sobre sapata de alvenaria nos dous lados que dão para as ruas e de muro de tijolo, do 1, 50 m de altura nos outros lados: parte de um desses muros está ameaçando ruina. Este jardim está bem tratado, contendo flores em profusão, e pertence, ao Estado, em virtude da clausula 2ª. do contracto em vigor.
As fontes números 5 e 6, conhecidas por Fontes Paulina e Maria
O parque propriamente dito, de dimensões muito exiguas, apenas 5.500 metros quadrados, é cercado por três lados de ruas publicas e casas particulares; nelle estão as duas fontes gazosas, o estabelecimento hydro-therapico, e o cassino.
O seu cerco compõe se de gradil de ferro sobre sapata de alvenaria na maior parte do perimetro e de gradil de madeira sobre sapata, de alvenaria na parte restante. Existem cinco portões de entrada, 3 principaes e 2 de menor importância ; os portões principaes, de 2 metros de largura, estão collocados um ao lado do chalet da fonte do Parque, entre elle a casa da bomba: o segundo em frente ao primeiro e ao lado do cassino; o terceiro, em frente ao estabelecimento balneário.
Os dous outros portões abrem-se, um em frente ao chafariz da fonte do Parque, o outro em frente ao engarrafamento.
Vista do muro do parque, cercado de gradil de ferro, início dos anos 1900
O parque do Lambary foi convenientemente arborizado e ajardinado; mas hoje está muito mal conservado: as suas ruas muito estreitas, estão muito baixas, em nivel muito inferior ao das ruas que circumdam o parque, de modo que quando chove ficam alagadas, impedindo qualquer passeio dos aquáticos.
É necessário fazer -se um grande aterro no parque, numa altura de 0,50 m na media e ajardinal-o novamente.
No parque ha um caramanchão descoberto produzindo má impressão: seria melhor que fosse desmanchado.
A faixa do parque que liga os dous portões fronteiros e que é cimentada está muito gasta e cheia de buracos.
O estabelecimento hidroterápico
O estabelecimento hydro-therapico é de construcção antiga; as suas paredes são de enchimento: mede 30 m de frente por 12 do fundo e tem na frente uma varanda cimentada de 3,90 de largura com grade de madeira: é simétrico em relação à sala de duchas que está no centro do edifício: consta de dous pavimentos: no inferior estão a sala hydrotherapica, salas de espera, gabinete do medico, escriptorio da gerência, vestiarios, banheiras e rouparias; no pavimento superior estão a sala de electretherapia, o observatório meteorológico e uma vasta sala que não é aproveitada: acima estão as duas caixas de agua gazosa, quente e fria para as duchas; essas caixas têm respectivamente uma capacidade de 3.500 e 5.800 litros.
Estabelecimento hidroterápico. Anos 1890. Reprodução. Fonte: ALMEIDA, 1896
A agua commum é elevada por uma bomba a vapor, sendo o motor aproveitado para accionar a machina eléctrica: por esse motivo é essa a unica machina electricca que funciona regularmente de todas as estancias de aguas do Estado, e a única que tem dado alguma renda; essa agua commum é canalizada e captada a cerca de 150 metros do distancia, em terrenos do Estado.
As banheiras são todas de 1ª. classe, feitas de ferro esmaltado; a sala de duchas é muito acanhada e os apparelhos não são completos: é commum a homens e senhoras. A sala de espera do lado dos homens está ocupada com a gerência.
O estado de conservação desse edificio é a peor possivel; muitas das paredes apresentam enormes rachas de lado a lado, indicando abatimento: o soalho está todo desnivellado; ha cerca de cinco anos o pavimento superior precisou ser sustentado por fortes columnas de madeira de lei: as paredes do banheiro n. 5 estão rachadas e completamente fora do prumo. O soalho e as paredes da sala de duchas estão muito estragados: foi preciso ultimamente fazer a substituição de parte dessa parede, que tinha ruido. Os encanamentos condutores de agua para o estabelecimento estavam muito estragados, mas foram substituídos por novos em fins do mez de fevereiro ultimo.
Como ainda não me chegou às mãos o relatório desta secção, não posso indicar qual foi a renda do estabelecimento hydrotherapico durante o anno findo; devo, entretanto, declarar que examinando a escripturação fiquei agradavelmente impressionado com a renda da secção de electrotherapia, que foi de cerca de 1:000$000.
O edifício do engarrafamento que pertence ao Estado em virtude da clausula 2ª. já citada, tem 28 metros de frente por 20,30 m de fundo; repousa sobre fundações de alvenaria e as suas paredes são de taboas collocadas verticalmente; é dividido em três partes sendo duas antigas e a terceira do lado ribeirão, recente; aquellas duas partes são assoalhadas, esta não o é.
É coberto do zinco, o telhado é dividido em três aguas, sendo a do centro mais alta do que as lateraes. Ligando a fonte do parque ao edifício do engarrafamento, existe uma linha de bondes de 90 de bitola e 100 metros de extensão.
Vista do Parque das Águas. Primeira década de 1900
A lavagem das garrafas é feita no próprio edifício do engarrafamento em grandes tinas de madeira, sendo a agua para esse fim fornecida por uma caixa metallica circular, montada na parte central do edifício.
De accordo com a clausula 21ª. do contracto, a agua é esportada como sáe da fonte.
Durante o anno passado a exportação foi nulla.
Existe nesta estancia de aguas um cassino, que é o antigo estabelecimento balneareo construído pelo engenheiro Gerber. Está collocado dentro do parque, atraz do actual estabelecimento hydrotherapico.
Actualmente está o cassino arrendado ao operoso sr. Affonso de Vilhena [2], que não tem poupado esforços para transformal-o em ponto preferido de reunião dos aquáticos. Este edifício está bem conservado, contrastando o seu aspecto com o do seu vizinho; tem sala de leitura, de musica, de bilhar e outros jogos, latrinas e buffet. Seria para desejar que todas as nossas estancias do aguas tivessem o seu cassino.
As observações meteorológicas foram muito incompletas, e os motivos são os mesmos apontados na secção de Cambuquira: alguns instrumentos desarranjaram se e foram remettidos para o Rio, para serem concertados e de lá não foram ainda devolvidos.
É medico e gerente da empresa nesta secção o sr. Dr. João Braulio Moinhos de Vilhena [3], o qual não tem cessado, conforme tive ensejo de verificar, de reclamar da directoria da empresa os meios necessarios para introduzir na estação de aguas sob sua administração os melhoramentos de que precisa.
Caxambu, 15 de Março de 1905.
Benjamin Jacob.— Engenheiro Fiscal das Aguas Mineraes.
Notas
[1] Henrique Gerber: foi o engenheiro que na década de 1860, mandado pelo Governo da Província, realizou obras de saneamento e urbanização para melhor aproveitamento de nossas águas minerais. Construiu também o Estabelecimento Balneário, que, inaugurado em 1872, foi demolido em 1922, quando do aumento do parque.
[2] Afonso de Vilhena Paiva: nascido em Campanha (MG) estabeleceu-se em Águas Virtuosas em 1890 como comerciante e desenvolveu aqui intensa atividade política, ao lado de João Bráulio Júnior, seu cunhado. Elegeu-se vereador por diversas legislaturas.
[3] João Bráulio de Moinhos Vilhena Júnior: médico e político de grande prestígio no Sul de Minas, nascido em Campanha (MG), em 23 de julho de 1.860, e que se estabeleceu em Lambari em 1890. Foi eleito deputado por diversas legislaturas. No Governo João Pinheiro ocupou o cargo de Secretário de Finanças de Minas Gerais. Faleceu em um acidente automobilistico em Paris, em 1908.
Fonte: Relatorio apresentado ao Exmº. Sr. Dr. Francisco Antonio de Salles, Presidente do Estado de Minas Geraes, pelo Secretario de Estado dos Negocios das Finanças, Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.
Referências: ALMEIDA, Dr. Pires de. Lambary e Cambuquira - Hydro-estações ao Sul do Estado de Minas Gerais - Brazil. Typ. Leuzinger, Rio de Janeiro, 1896
Sobre o Parque das Águas, veja também: (aqui)
Ilustração: Retrato de Garção Stockler. Reprodução. Recorte. Fonte: http://www.novomilenio.inf.br
Eustáquio Garção Stockler [Campanha, MG (?) — Soledade de Minas (1927)], médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, escritor, propagandista do movimento republicano, é figura das mais importantes da memória política de nossa cidade.
Se Lambari deve a Américo Werneck a construção de suas obras fundadoras (cassino, lago, farol, parque novo), como já dissemos aqui, deve antes a Garção Stockler a criação da estância hidromineral de Águas Virtuosas.
De fato, a vinda de Garção Stockler para residir no município, as obras que realizou, o trabalho político que empreendeu e a divulgação que fez das águas minerais foram pontos fundamentais para o desenvolvimento do vilarejo. Daí porque Stockler é considerado o criador da estância hidromineral de Águas Virtuosas de Lambary, como centro de vilegiatura e de tratamento. (1)
Coube também a ele obter a aprovação de um plano de saneamento e embelezamento da vargem — extensa área de terreno pantanoso e alagadiço, situado em ponto central da povoação e o alinhamento das principais vias de acesso ao Parque das Águas, obras essas concretizadas por Werneck, entre 1909-1911. (2) (3)
O memorialista campanhense Júlio Bueno narra como se encontrava a vila de Águas Virtuosas no final da década de 1870:
Em 1879, quando visitamos pela primeira vez a localidade de Águas Virtuosas, lá vimos os edifícios dos poços abandonados, em ruína, arruinados também os melhores prédios (...) Vimos poucos hotéis, silenciosos, cheios de uma vaga tristeza, com os velhos papéis das paredes desbotados, com suas alcovas cheirando a mofo.
Depois, conta como Garção Stockler encantou-se com a vila:
Um dia um moço campanhense, filho de uma antiga e fidalga família, de volta de sua longa e afanosa carreira científica, ao passar por aquela fonte, que ficava à beira da estrada do Rio, apeou-se pra libar o precioso líquido. Nesse momento atravessa no seu espírito um raio de luz, e um sorriso de satisfação assoma-lhe aos lábios: estava traçado o seu itinerário, até aquele instante indeciso; estava decretado o reflorescimento de Águas Virtuosas de Lambari. Esse campanhense ilustre é o Dr. Stockler. Vinha ele de concluir a sua carreira médica, que lhe custou longas horas de esforço inaudito, de vigílias desalentadoras, pois para manter-se fora obrigado a roubar ao estudo muito tempo, empregando-o em explicações de preparatórios...
(Fonte: Almanaque Julio Bueno, p. 96)
Após fixar residência em Lambari (1882), e em paralelo às suas atividades médicas, políticas e científicas, ainda realizou Garção Stockler em Águas Virtuosas:
(*) A denominação Parque das Águas passou a indicar as fontes das águas minerais e seu entorno, após as obras empreendidas por Garção Stockler, nos anos 1880/90: aumento da área em torno das fontes, reforma do balneário, ajardinamento, cercamento com grades de ferro, etc. (4)
O contrato de exploração das águas virtuosas
Fonte: Jornal A União (Ouro Preto) - 6/7/1887
Nomeação como médico do balneário
Nomeação de G. Stockler como médico do estabelecimento hidroterápico. Fonte: O Farol (Juiz de Fora) - 9/11/1900
Propaganda da estância e de suas águas
Propaganda das águas virtuosas - jornal O Constitucional, 19-07-1885.
Referência ao "médico Garção Stockler", que poderia cuidar da saúde de "hóspedes enfermos" em visita à Águas Virtuosas. (Propaganda em A Peleja)
Em 1892, as águas de Lambari já são vendidas em São Paulo.
Fonte: SANT'ANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das Águas - usos de rios, córregos, bicas e chafarizes em São Paulo (1822-1901). São Paulo : Editora Senac, 2007.
Atividades políticas de Garção Stockler
Garção Stockler formou em Águas Virtuosas um agrupamento político do qual fizeram parte João Bráulio Júnior e João de Almeida Lisboa. Interesses políticos mútuos levaram Américo Werneck para tal grupo, que, a partir de 1899, passou a residir em Águas Virtuosas, na Fazenda Pinheiros, de propriedade de Garção Stockler. Esse grupo batalhou pelo reconhecimento das águas minerais no tratamento de doenças e pela formação de uma estância hidromineral modelar, tendo participação decisiva no desenvolvimento de Águas Virtuosas, no final dos anos 1890 e início dos 1900. (5)
Stockler exerceu diversas funções públicas e cargos políticos, sempre atuando em favor dos interesses de nossa cidade:
Fonte: Ioneide Piffano Brion de Souza - Disponível em: http://goo.gl/Q5vx7t
G. Stockler foi redator da folha política A Peleja, publicada em Águas Virtuosas, no final dos anos 1900. Acima, frontispício da edição de 15 de maio de 1898.
(O grupo político de Garção Stockler) fundou, no transcurso da segunda metade da década de 1890, o semanário A PELEJA que, pelo valor dos colaboradores, se tornou o mais importante arauto político noticioso e literário da época, em todo o sul de Minas. Américo Werneck, Ferreira Brandão, João Brandão, João Luiz Alves, grandes figuras do jornalismo mineiro, mantiveram suas colunas na A PELEJA, no jornal dirigido por Dr. Eustáquio Garção Stockler, dando-lhe realce e concorrendo para manter a brilhante posição política e social que a povoação de Águas Virtuosas conquistara naquele final do século 19, por mercê de seus homens públicos que, mais do que simples chefes políticos de um Distrito de Paz, eram autênticos líderes em toda região sul-mineira campanhense.
MILÉO, José Nicolau. Subsídios para a historia de Lambari. Guaratinguetá, SP : Editora Graficávila, 1970, págs. 119/20.
Alguns registros históricos nos mostram Garção Stockler como um notável orador. Vejam-se estes tópicos:
Na festa da Proclamação da República, em Campanha (18-11-1889)
Depois de tomarem assento os vereadores, o presidente, Dr. Eustáquio G. Stockler, fez um resumo dos acontecimentos que originaram a Proclamação da República no Rio de Janeiro e proclamou-a por sua vez, após o assentimento unânime dos vereadores. (...) Como ninguém mais pedisse a palavra o Dr. Stockler, presidente, encerrou a magna sessão com um discurso grandioso na forma, sublime pela profundeza dos conceitos. A cada instante o orador era interrompido por salvas de palmas frenéticas, prolongadas. Ao terminar foi abraçado com efusão por todos os circunstantes que o vitoriaram.
Na inaguração da água potável, em Campanha
Obteve então a palavra o ilustrado facultativo, Dr. Eustáquio Garção Stockler, que produziu um discurso que a todos comoveu e arrebatou: a moral, a caridade, a gratidão, a ilustração e a memória dos antepassados que baixaram à tumba, legando à posteridade um nome e o produto de tanta justiça, abnegação e patriotismo, foram ali apreciados pelo distinto orador por alguns momentos admirável e surpreendente. Terminada a brilhante oração de tão profundo observador, vibrante analista e eminente escritor, o povo de novo pôs-se em marcha
(Fonte: Almanaque Julio Bueno, págs. 38, 60)
Nos redutos acadêmicos
Extraído da revista Atheneu Acadêmico, RJ, n. 2, de agosto de 1877.
Discursos em Águas Virtuosas
Por aqui, Garção Stockler discursou, por exemplo, a 9 de janeiro de 1902, quando tomou posse como Agente Executivo Municipal. Da ata dessa sessão solene, publicada por João Carrozzo no livro História Cronológica de Lambari, págs. 116 a 118, consta o seguinte:
"... O Dr. Eustquio Garção Stockler que em brilhante e conceituado discurso, hypotecou as suas forças à causa do engrandecimento do novo município à cuja frente foi colocado por generosidade de seus amigos e correlegionários e convidou para unir-se no ideal de sua felicidade syntetizada na prosperidade do novo Município..." (sic)
Stockler voltou a discursar em agosto de 1909, por ocasião da lançamento da pedra fundamental das obras do cassino:
Fonte: Anuário Minas Gerais 1913
E, claro, tornou a discursar novamente, em abril de 1911, quando da inauguração das obras fundadoras de Águas Virtuosas, conforme já anotamos em post anterior. Confira (aqui)
Abaixo vai uma romântica descrição de Lambari, datada do início do Século XX, e bem assim algumas referências a nossa cidade, feitas por insignes autores.
Vamos lá.
Uma antiga descrição de Aguinhas
Um antigo narrador de Aguinhas assim a descreveu (com a ortografia da época):
Encantadora e pitoresca, engastada como fascinante esmeralda no largo seio de risonha bacia, poisa a Vila, toda emmoldurada de graciosas colinas, relvadas e planturosas, que se alteiam no Valle e descem por suaves curvas de nível a se abeberar nas águas frescas e maravilhosas do Mombuca, correndo-lhe ao norte, direcção oeste-leste, e do São Simão deslisando ao sul, direcção sud-oeste-léste.
A natureza ao formar-se ali andava certamente a brincar. É um raro e lindo pedaço de terra sob um lindíssimo pedaço de céu.
Abrigada pela Serra da Campanha que a protege das fortes correntes atmosphericas, em cujo dorso se attingem, com 40 minutos de cavallo, culmiancias de 200 a 1.300 metros, está collocado na altitude media de 930 metros acima do nível do mar.
As colinas do Sertãozinho, o Pico do Morro Sellado, e, ao longe, as montanhas de Conceição do Rio Verde lhe dão uma variedade de tons e de cores, formando, em uma harmonia deliciosa, um grande quadro deslumbrante e idealmente poético. É como uma linda marca mollemente reclinada em uma tape de flores, e que se espelha, sonhando, nas águas do Mombuca e no placido lago.
Sitio sub-alpestre florestado e aprazível, revestido de extensos pinheiraes, a atmosphera que o envolve é aseptica, ozonificada, tonica e vivificante. Sente-se o saneamento do pulmão e a vida neste pouso dá saúde e dá alegria: vive-se em um grande banho de luz, em um ambiente puro com um clima suave e acariciador. A grande altitude lhe dá o ar puro e ameno das montanhas, cuja topographia em comeros successivos permitte o rápido escoamento das águas pluviaes, na estação das chuvas. Devido á sua exposição ao sol, á intensa luminosidade, e prompto e quase immediato o dessecamento das terras, concorrendo com sua temperatura fresca para dotal-a de clima maravilhoso, merecidamente reputado como excepcional.
Com as primeiras chuvaradas de Setembro os campos recomeçam a reverdecer e então a payzagem se torna alegre e risonha. Neste clima se encontram todas as condições exigidas pelos mais notáveis hygienistas para a vivificação geral do liquido por excellencia vivo e nobre, que é o sangue, d’onde o levantamento das forças orgânicas e vitaes.
A exposição topographica permite franca e poderosa irradiação solar, quebrados todos os excessos de calor e suavisada a crueza da luz no revestimento florestal absorvente a extender-se de todos os lados, farfalhante, sonoroso e fresco. A temperatura média é de 19º. As noites calmas e frescas, sem barulho e sem mosquitos. Residência de verão das mais procuradas, casando o conforto d’um centro civilisado á salutar simplicidade campesina. É um centro escolhido por quantos querem respouso para o espírito e allivio aos seus soffrimentos.
(Extraído de CAPRI, Roberto. Águas Virtuosas de Lambary. São Paulo : Pokay & Comp., 1918.)
Palavras de Coelho Neto
O escritor Coelho Neto, ilustre frequentador de Minas Gerais e amante de suas águas, que se referira a Belo Horizonte como a “cidade vergel”, a Aguinhas não exaltou menos, e dela disse:
Falo como quem veio a gemer e sai deste ameno vale a cantar... Aqui bebe-se a cura aos copos – a paisagem, o céu, as flores, o ar e a gente dando alegria ao espírito dos infelizes que aqui chegam, como eu cheguei sem ânimo. Volto outro! Ora viva Deus!
(Extraido de MARTINS, Armindo. Lambari – cidade das águas virtuosas. Linográfica Rio Ltda, RJ - 2a. edição, 1971.)
Palavras do poeta Vargas Neto
E Vargas Neto, poeta e sobrinho de Getúlio Vargas, que aqui fazia suas estações de águas, de Aguinhas assim disse:
... é nessa cidadezinha de cromo suíço, pousado num seio de montanhas como num côncavo da mão, tendo na frente o grande lago onde se mira o cassino imponente, que o tempo, como nos grandes homens, tira a juventude mas deixa a majestade, é lá onde o meu espírito descansa e o meu fígado se refaz.
(Prefácio ao livro de C. Garden. Uma vilegiatura em Lambari. Empresa a Noite, RJ, s/d.)
Sua Alteza, o Conde D’Eu, quando viajou por estas bandas, em companhia da Princesa Isabel, anotou, no dia 10.10.1868, em carta ao seu pai:
...os arredores daqui são encantadores para excursões a cavalo; os dias são de deliciosa primavera e dificilmente se encontra recanto mais bonito.
E termina afirmando que a decantada Floresta Negra, com sua cadeia de montanhas que correm paralelas ao Reno, não é mais pitoresca do que o aprazível lugar em que se encontra.
(O último Conde D’Eu – Alberto Rangel – págs. 198 a 203. Apud José Nicolau Mileo. Subsídios para a história de Lambari .Graficávila, Guaratinguetá,SP, 1a. edição, 1970.)
Gastão de Orleans - O último Conde D'Eu - de Alberto Rangel
SUMÁRIO
Já comentamos nesta série Águas Virtuosas Futebol Clube sobre diversos jogadores que por aqui passaram e que atuaram profissionalmente no futebol. Aliás, entre 1967 e 1969 o AVFC, com times profissionais, disputou a divisão de acesso à 1a. Divisão do Futebol Mineiro. (aqui)
Recordamos, por exemplos, que Betinho Nascimento, Alemão e Joãozinho Fernandes foram jogadores profissisonais. E assim também Hélio Alves, Ita, Dickson, Jorginho e Adílson (aqui).
Mas hoje queremos focalizar a breve passagem pelo nosso Águas de Heriberto Longuinho da Cunha, que ficou conhecido no mundo do futebol como Heriberto. Vamos lá.
Mineiro de Santa Rita do Sapucaí
Natural de Santa Rita do Sapucaí, nascido no dia 7 de abril de 1960, Heriberto, como jogador, foi um habilidoso meia, que atuou pelo São Paulo, Santos, Cruzeiro, Atlético Paranaense, entre outros clubes. Mas atuou também na lateral esquerda, e quando se aposentou tornou-se técnico de futebol.
Em 1977, no Campeonato da Liga de Caxambu, o Águas Virtuosas ficou com o vice-campeonato, tendo perdido a final para o time do Itamonte. Naquele ano, alguns jogadores de Santa Rita do Sapucaí atuaram pelo Águas, entre eles: Aleluia, Luiz Carlos, Gato e Becão.
Pois foi na fase de classificação para os finais que o jovem Heriberto jogou algumas partidas pelo Águas Virtuosas. Não chegou a disputar a fase final, pois logo foi para os times de base do São Paulo Futebol Clube, onde acabou por se profissionalizar em 1979.
Fotos do Águas de 1977
Abaixo, foto do Águas de 1977, mas nela não aparece o Heriberto. Infelizmente, nem mesmo a ficha de inscrição do jogador na Liga de Caxambu conseguimos localizar.
Em pé: Luiz Carlos, Gato, Evaldo, Dimas, Tinz, Manezinho, Edson Becão e Edgar. Agachados: Bitihura, Aleluia, Décio, Tonho, Gabriel e Guima
Antônio de Campos, conhecido por Aleluia (segundo agachado na foto acima) atuou profissionalmente no Mogi Mirim, Juventus, Paulista de Jundiaí. E depois como técnico foi o descobridor de vários craques, entre eles, HERIBERTO. Confira aqui
A carreira profissional de Heriberto
Confira a carreira profissional de Heriberto Cunha, com passagens por diversos clubes brasileiros, como jogador e como técnico. (aqui)
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Boas recordações dos velhos e divertidos carnavais de Aguinhas...
Baile infantil a fantasia (Carnaval de 1928)
Desfile de fantasias, baile dos anos 1960
Senhoras e moças da sociedade lambariense, em baile de fantasias beneficente
Samba, anos 1960
Sambistas, no Cassino das Fontes, anos 1960
Crianças nas matinês
Crianças, de diferentes gerações, brincando o Carnaval
Moças e rapazes no Carnaval dos anos 1960
Carnaval anos 1960
A rapaziada se diverte, nos anos 1970
Carnaval dos anos 1970
Na foto de abertura, brincadeira de Carnaval nos anos 1980