Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
Ilustração: Capa do e-book Poemas de Portinari. Cândido Portinari. Reprodução. Funarte, RJ, 2018
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PROSA & VERSO (1) Portinari poeta
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SUMÁRIO
          - Apresentação
          - Seleção de poemas de Portinari
          - E-book Poemas de Portinari
          - Referências

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APRESENTAÇÃO
 
Esse modelo — o de cantar sua própria aldeia, como dizem os russos — é universal, mas certamente fala bem de perto com o leitor lambariense, que logo se vê nas coisas e nas pessoas de sua terra.

Post: Literatura de Aguinhas (2) - O Segredo do Águas Virtuosas F. C. (
aqui)

Como está dito na página de abertura do site GUIMAGUINHAS (aqui):
 
Quem vai escrever as pequenas histórias, os fatos da parentalha, os causos e os modos de dizer da nossa gente, os acontecidos de Aguinhas? Quem vai recolher os caquinhos da memória, a lembrança das pequenas coisas que todo mundo esqueceu? Quem vai dar voz aos nossos antepassados? Quem vai se lembrar daqueles que não têm história pra contar? Quem vai contar nossa luta, nossa vivência, nossa terra, nossos amores, nossa sorte, nossos azares?
 
E lá se respondeu: Não vão ser os grandes escritores, é claro.

Com aquela abertura, 
este autor introduz suas Histórias de Aguinhas e convida outros a fazerem o mesmo, estimulando o compartilhamento de informações, fotos e histórias... e de outros acontecimentos novos e antigos de Aguinhas e do Sul das Gerais...

E desse modo escrever também suas histórias e memórias, como ficou redito em:

 
É nesse espírito que vamos lendo, pesquisando e anotando como os autores se inspiraram e escreveram as memórias pessoais e as de sua terra natal.

Pois bem, foi assim que topei com o livro Poemas de Portinari e este trecho fantástico extraído do texto introdutório escrito por Manuel Bandeira, para a edição original (
Livraria José Olympio, 1964):
 
Portinari, estudante de Pintura na Escola Nacional de Belas-Artes, vivia sonhando com a Europa. Um dia ganhou, no Salão, o prêmio de viagem ao estrangeiro, e o grande sonho realizou-se. Mas na Europa um caso extraordinário se passou: Portinari descobriu Brodowski, o seu torrão natal, no fundo de São Paulo. Na verdade, no fundo da sua subconsciência, e a princípio sob a forma do mais pobrinho e mais humilde de seus conterrâneos. Escreveu então o pintor uma página, que pode ser considerada como o prefácio de toda a sua obra de artista plástico – a história de Balaim, um beira-córrego de Brodowski (“Bigode empoeirado e ralo, um só dente, calças brancas feitas de saco de farinha de trigo, ainda com o carimbo da marca da farinha, paletó listrado, com quatro botões, três pretos e um branco, cara mole esbranquiçada pelo amarelão, aspecto de criança doente…”).

Descoberta Brodowski, estava definitivamente traçado o itinerário artístico de Portinari: quando regressasse para o Brasil, iria pintar Brodowski. “A paisagem onde a gente brincou a primeira vez e a gente com quem conversou a primeira vez não sai mais da gente e eu, quando voltar, vou ver se consigo fazer a minha terra.” Pondo de parte a sua prodigiosa técnica, a sua estupenda galeria de retratos, a melhor porção da obra de Portinari é isto: Brodowski, o menino e o povoado, o menino no seu povoado. 

Portinari Poeta. Manuel Bandeira in Poemas de Portinari.

Vejamos um pouquinho dessa citada obra poética de Cândido Portinari.

Vamos lá.
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SELEÇÃO DE POEMAS DE PORTINARI
 
Quanta coisa eu contaria se pudesse E soubesse ao menos a língua como a cor.

C. Portinari. Bordo do Conte Grande, 25 de outubro de 1958

Abaixo, alguns poemas de Cândido Portinari, extraído do e-book referido e ilustrado com sua arte.

Como se verá, " a técnica de Portinari-poeta está longe da técnica de Portinari-pintor" — diz Manuel Bandeira na introdução — aduzindo: 
"Ele próprio tem consciência disso:

Quanta coisa eu contaria se pudesse E soubesse ao menos a língua como a cor."

Ao falar de sua infância e de sua terra, o poeta está a dizer também um pouquinho de nossa meninice e de outras coisas memoráveis do nosso torrão natal — Águas Virtuosas de Lambari.

Confira:

Festas, procissões, banda de música,
Leilões de prendas e o repique dos sinos,
Passeio na retreta, moças bonitas,
Todos com suas melhores roupas.

Na plataforma da estação
Esperávamos a chegada do trem
Talvez viesse qualquer coisa
Para nós: um volume de alegrias. Como

Era imenso o pequeno povoado!
Cada um de nós tinha namorada,
Mesmo sem ela saber.
Nos bailes nossos olhos acompanhavam

A mais bela. Quando tudo terminava,
A tristeza descia sobre nós…
Só nos restava a
Volta do coreto nos domingos.

Badalava a hora da reza.
Melancólicos, éramos obrigados a ir embora.
Como demoravam passar os dias!
As moças das fazendas só viriam no ano próximo. 
 
 
Reprodução. Festa em Brodowski – 1933. Desenho a aquarela, guache e grafite/papel pardo Brodowski, SP. 33 × 51 cm Coleção particular. Fonte: Poemas de Portinari, Funarte, 2018

Aos sete ou oito anos tive
Uma namorada branca, branca.
Nunca lhe disse uma palavra.
Nos víamos à saída da escola

Ou aos domingos na Igreja.
Ela sabia. Ficava vermelha
Quando os meninos diziam
O nome dela. Ao sol ela doía na vista,

De tão branca e luminosa.
Depois nunca mais a vi e
Nem lhe ouvi o nome.
Namorei tantas meninas e
Ninguém soube.

Sofria e sonhava. As tardes
Na hora do trem chegar
Passava milhares de vezes
Em frente à casa dela. Atrás
De minha retina estão todas as casas…
 
 
Reprodução. Menina das trancinhas – 1958. Desenho a grafite, crayon e lápis de cor/papel Rio de Janeiro, RJ. 22,2 × 17,7 cm Coleção particular. Fonte: Poemas de Portinari, Funarte, 2018
O matadouro ficava a uns cinco quilômetros.
Íamos em grupo nadar no córrego barrento.
Quando abatiam o gado, ele recebia toda a sujeira.
Entretinha-me a olhar as montanhas, os animais
Colados a elas ou gravados.
A água Turva corria entre touceiras de barba-de-
Bode, um ou outro arbusto retorcido e dourado
Pelo sol. A estrada era movimentada.Em casa
Sabiam de nossa escapada e desobediência.Quando
Algum mais tímido propunha a volta todos respondiam:
— Vamos apanhar mesmo, aproveitemos até ao escurecer.
Mais adiante ficava a fazenda dos olhos-d’água.
Mais para frente era o fim do mundo
 

Reprodução. Meninos nadando – 1955. Desenho a grafite e lápis de cor/papel Brodowski, SP. 34,3 × 48 cm Coleção particular. Fonte: Poemas de Portinari, Funarte, 2018
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E-BOOK POEMAS DE PORTINARI

Você pode acessar o e-book Poemas de Portinari,  de Cândido Portinari, neste link:

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REFERÊNCIAS

- www.funarte.gov.br
- http://www.portinari.org.br/
-
Nota: textos e artes de Cândido Portinari utilizados para trabalho de cunho educativo e de divulgação da obra do autor, nos termos da legislação vigente.
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Guimaguinhas
Enviado por Guimaguinhas em 23/06/2021
Alterado em 23/06/2021
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