Ilustração: Recorte do timbre do ofício do clube 7 de Setembro, de Encruzilhada (atual Cruzília), de 1939
Fundado a 2 de agosto de 1926, o Águas Virtuosas Futebol Clube (AVFC) inaugurou seu campo de futebol em 7 de setembro de 1926, jogando partida amistosa contra o time de São Lourenço (MG).
Nas décadas de 1920/30/40, o AVFC disputou inúmeros amistosos e o primeiro certame oficial de que participou foi a TAÇA GUARAÍNA, da Liga de Varginha (MG), em 1941. Esse torneio será objeto de post específico aqui no GUIMAGUINHAS, no número 7, desta série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F.C.
Neste post, vamos resgatar amistosos do AVFC, realizados nos anos de 1920/40.
Vamos lá.
Em abril de 1927, um combinado da empresa Western Telegraph, do Rio de Janeiro, realizou uma série de amistosos no Sul de Minas. Esses eventos foram promovidos pela Associação Atlética Cambuquirense, de Cambuquira (MG), e se deram nas cidades de Cambuquira, Caxambu, Três Corações e Águas Virtuosas do Lambary.
O time AVFC foi composto por jogadores da terra, com a participação dos atletas Marcos, de Campanha (MG) e Gattini, de Três Corações (MG). Forte chuva interrompeu a partida, aos 22 minutos do segundo tempo. O placar registrava empate por 3 gols.
Reprodução de O GLOBO, de 21 de abril de 1927
Em abril de 1927, o AVFC disputou partida amistosa contra o Mangueira Futebol Clube, do Rio de Janeiro. E em abril de 1928 foi disputado outro amistoso, desta feita com o Americano Futebol Clube, também do Rio de Janeiro.
Reprodução de O GLOBO, de 21 de abril de 1927 e 24 de abril de 1928
Um partida amistosa contra a Associação Atlética Cambuquirense, de Cambuquira (MG), foi realizada em 18 de agosto de 1935.
Em 27 de agosto de 1939, a partida foi contra o time de Bias Fortes.
Partida amistosa contra o Sete de Setembro, de Encruzilhada (MG) foi combinada para o dia 3 de setembro de 1939. Encruzilhada é a atual Cruzília (MG). Além do Sete de Setembro, nessa cidade há também o Ypiranga Atlético Clube, ambos tradicionais adversários do AVFC e da G.R. ABI, nos anos 1970, pela Liga de Caxambu (MG).
E em novembro de 1939, o jogo foi contra o São Pedro Futebol Clube, de Campanha (MG).
Outros clubes adversários do AVFC, por essa época: Conceiçãoense Futebol Clube e Olímpico Esporte Clube, ambos de Conceição do Rio Verde (MG).
Algumas partidas realizadas:
Como se recorda, os irmãos Jorge André e Ricardinho atuaram pelo Yuracan, nos anos 1980, quando o time disputava a segunda divisão de profissionais do Campeonato Mineiro. Ver este link: aqui
Atlético Clube de Três Corações (MG).
No próximo ano, o Atlético vai disputar a 1a. Divisão do Campeonato Mineiro.
Entre 1967 e 1969, o AVFC disputou a segunda divisão de profissionais do campeonato mineiro, buscando vaga na primeira divisão. Em 1969, em Três Corações, jogando pelo empate, o Águas perdeu a vaga para acesso à primeira divisão, numa final histórica contra o Atlético Clube de Três Corações. Placar de 1 X 0, gol contra do extraordinário zagueiro Pulga, em um lance de rara infelicidade: uma bola cruzada, um cabeceio dentro da área e a bola bateu-lhe na nuca e entrou.
CRAC de Caxambu (MG)
Raul Chaves, de Três Corações (MG)
Yuracan
Elói Mendes
Guaratinguetá
Há nos arquivos do clube algumas súmulas financeiras referentes a jogos contra Baependi, Três Corações e Cristina, realizados em 1940 e 1941.
Entre as despesas: aluguel de charretes, areia para marcar o campo, foguetes, curativos, bolas, telefonemas, taxa de licença policial e custeio de almoço e transporte do time visitante.
Abaixo, prestação de contas do jogo contra time de Baependi, realizado em 6 de julho de 1941.
Anos 1920
Times de estudantes de colégio católico. Jogo em Lambari, anos 1920. O resultado foi 1 X 1.
Anos 1930
Águas do anos 1930. Por essa época, destacavam-se o goleiro Pelota, e os craques: Mané Matos, Azarias e Nico Rosati.
Anos 1940
Por essa época, destacavam-se João Luiz Fernandes e Quinzinho Modesto, entre outros craques.
1949: gol do Águas, marcado por Nenê Nascimento. Jogo contra o Botafogo (Baependi), no antigo campo do AVFC.
Nota: Esta série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F.C. foi elaborada com base em livros, atas, correspondências e outros documentos existentes nos arquivos do clube.
Posts já publicados
Continuidade da Série
A série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C. prosseguirá com os seguintes títulos:
Em preparo: Campo do A.V.F.C.
Em preparo: Sócios
Em preparo: Diretorias
Em preparo: Taça Guaraína - 1941
(*) Caro(a) visitante,
Nosso objetivo é compartilhar informações, histórias e fotos de nossa cidade, com vista à preservação de sua memória. Assim, se você tiver notícias, informações, fotos das pessoas ou famílias aqui mencionadas, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Ilustração: brasão do município de Lambari (MG)
O site GUIMAGUINHAS foi criado em março de 2013, mas começou a divulgar seus primeiros posts em maio de 2013, estando no ar, portanto, há dois anos e meio.
Nesse período, na bibliografia que conhecemos e utilizamos (MEMÓRIAS DE AGUINHAS - aqui), mencionamos alguns textos e trabalhos acadêmicos sobre a rica história de nossa cidade. E, também, fomos contatados algumas vezes por pessoas interessadas em informações e referências bibliográficas, com vistas à elaboração de artigos e textos escolares e universitários sobre aspectos de nossa história: descoberta e propriedade das águas, evolução administrativa do município, as obras fundadoras da cidade (Cassino, Lago, Farol), a Questão Minas X Werneck, etc.
Neste post vamos traçar alguns comentários sobre isso.
Trabalho acadêmico é o texto (em sentido lato ou estricto) resultante de algum dos diversos processos ligados à produção e transmissão de conhecimento executados no âmbito das instituições ensino, pesquisa e extensão universitária, formalmente reconhecidas para o exercício dessas atividades.
Como trabalhos acadêmicos longos citam-se: Tese (para doutorado), Dissertação (para mestrado), monografia (para gradução), Trabalho de Conclusão de Curso- TCC (para tecnlógos e técnicos). De outro lado, artigos, relatórios, fichamentos, resenhas, comunicações são considerados trabalhos curtos.
Para saber mais veja este texto (aqui)
Monografias e artigos técnicos sobre ÁGUAS VIRTUOSAS (DO LAMBARY)
1 - Monumentos da água no Brasil: Pavilhões, fontes e chafarizes nas estâncias Sul Mineiras (1880-1925)
Francislei Lima da Silva. [Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. Disponível aqui
RESUMO: A região do Sul de Minas tem o seu passado histórico marcado pela edificação das estâncias balneárias de Águas Virtuosas de Lambary e Águas Virtuosas do Caxambu, em finais do século XIX e início do século XX. Duas vilas transformadas em Hidrópolis: centros difusores de hábitos saudáveis e civilizados, que fundaram seus princípios a partir do poder de cura das águas minerais. Sua particularidade esteve no esforço por equipar as vilas com monumentos da água, que ofereceram uma abundancia de recursos hídricos, combinando o conhecimento de hidráulica ao do engenheiro e do arquiteto. A construção de fontes, pavilhões e chafarizes favoreceu o processo de edificação do complexo aqüífero. Tais ações fazem dos balneários um importante objeto de estudo para compreendermos o processo de modernização das cidades mineiras, dentro de um exemplo particular, que se oferece por meio de uma política hidráulica. Com a execução dos trabalhos de modelação e embelezamento tinha-se o intuito de edificar imponentes fontaines d’art para a vila com vocação de terma. Criou-se em torno das fontes, utilizando-se de um vasto repertório hidromitológico, uma multiplicidade de interações sociais e um universo simbólico caracterizado pelos temas das águas de cura e da juventude. Palavras-chave: Monumentos da Água, estância balneária, arte das fontes.
2 - Como Esaú e Jacó: Oligarquias Sul-Mineiras no final do Império e Primeira República
Fábio Francisco de Almeida Castilho. Tese. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Programa de Doutorado em História, Área de Concentração em História e Cultura Política, Franca, 2012. Disponível aqui
RESUMO: Este trabalho busca problematizar o posicionamento da elite sul-mineira no processo de derrocada do Império e passagem para o regime republicano. Pretendemos averiguar quais foram, e se é que existiram, as alterações na forma de fazer política e se manter no poder após a Proclamação da República. Analisamos esta questão na região conhecida como “Sul de Minas”, pois a mesma é apontada pela historiografia como hegemônica no período em evidência e seus principais representantes ocuparam importantes cargos dentro do novo governo. Para melhor compreender as estratégias e ações de permanência no poder, abordamos uma série de episódios políticos que contaram com a participação de dois grupos sul-mineiros do início do novo regime. Destacamos a existência do grupo liderado por Silviano Brandão, os silvianistas, e a facção identificada com o republicanismo histórico. Os episódios averiguados; que cobrem disputas nos âmbitos local, estadual e nacional; revelam como o silvianismo construiu uma hegemonia estadual e posteriormente lançou-se à disputa nacional silenciando a oposição e perpetuando-se no poder com base em um discurso que afirmava a coesão e harmonia política em Minas Gerais, camuflando práticas e cabalas políticas de exclusão e alijamento de seus opositores. Palavras-chave: Sul de Minas. Primeira República. Elite Política. Coronelismo. Silviano Brandão.
3 - A lenda de Lambari por uma perspectiva semiótica: Construção de sentido, origens e ideologia
Roberto Junho de Carvalho. 2015. 142 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Vale do Rio Verde (UninCor), 2015. Disponível aqui
RESUMO: A origem da cidade de Lambari, situada no sul de Minas Gerais e conhecida mundialmente por suas águas minerais, é contada numa lenda. A lenda narra a história de um amor impedido de se concretizar, pois, a noiva do jovem Tancredo fora acometida por grave enfermidade e nenhum recurso disponível pela medicina conseguia curá-la. Então, por indicação de um escravo, a família de Cecília e seu noivo viajam para a região do Lambari e a moça, ao se tratar com as águas minerais, reveladas pelo cativo, fica curada. Como gratidão à Nossa Senhora da Saúde, Cecília, manda construir uma capela no local das águas e ali é celebrado seu casamento. Em torno da ermida, surgiria, mais tarde, a cidade de Lambari. Essa lenda circulou no domínio da oralidade por várias gerações tendo surgido, provavelmente, em torno de 1780, a data que se menciona oficialmente a existência das águas minerais em documentos da Câmara da cidade da Campanha, cidade a que, na época da revelação das águas, pertencia o território das fontes. Como nosso trabalho tem por finalidade estudar a construção de sentido na lenda de Lambari, para servir de corpus para nossa pesquisa desejávamos encontrar uma versão escrita da lenda. Esse objetivo foi alcançado através de pesquisa documental realizada na Biblioteca Pública Municipal Basílio de Magalhães. Nesse estabelecimento tivemos acesso às obras de Martins (1971) e Carrozo (1985). Nas duas obras encontramos versões escritas da lenda que foram usadas como corpus para as análises. Esses autores escreveram sobre a história e aspectos geográficos da cidade de Lambari, além de apresentar esclarecimentos sobre as águas minerais e a atividade turística desenvolvida no município. Convém ressaltar que a lenda das “águas santas” se insere entre os discursos fundadores do município, sendo um dos discursos de fundação e identidade mais significativos para a cidade de Lambari e apresenta em seu texto influência mítico-religiosa. Ao constatarmos esse fato buscamos compreender os caminhos percorridos pelo discurso mítico-religioso, até chegar à região de Lambari e projetar sua voz no texto da lenda. Além das influencias míticas contidas na lenda procuramos evidenciar também as ideologias que se apresentam no texto. Em primeiro plano destacando as ideologias de base, que migraram do texto oral para o texto escrito. Em segundo plano investigando vestígios ideológicos que os enunciadores das versões da lenda deixaram no texto escrito. Mas antes de chegar ao nível ideológico procuramos demonstrar como a semiótica, através do percurso gerativo de sentido, oferece ferramentas para a compreensão textual e aplicamos essas ferramentas de análise no texto da lenda. Como o discurso cita outros discursos, a fim de compreender melhor as ideologias presentes no texto da lenda, fez-se necessário algumas incursões na história de Lambari na tentativa de encontrar pontos de ligação entre a lenda e a história da cidade. Em nossas conclusões fizemos uma pequena discussão sobre como as ideologias do momento de fundação e do início do processo de formação ainda permanecem na memória social do povo lambariense influenciando seus ideais. Palavras-chave: Lenda; Mito; Semiótica; Ideologia.
4 - Américo Werneck: O Haussman de Águas Virtuosas
Fábio Francisco de Almeida Castilho. Artigo Técnico apresentado no XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH - São Paulo, julho de 2011. Disponível aqui
RESUMO: Nosso objetivo neste artigo será o de investigar a trajetória de Américo Werneck e a construção da estância balneária de Águas Virtuosas, estudando a cidade e seu processo de transformações no tempo, pois seus projetos e protagonistas lhe conferiram nova forma e novo sentido. Em outras palavras, com o estudo da história de Águas Virtuosa tencionamos identificar as motivações dos atos políticos do Estado e de seus agentes, estabelecendo a relação entre o crescimento da cidade, a urbanização e a organização da vida social e política, pretendemos historicizar as atitudes e comportamento dos indivíduos, dos grupos e das instituições envolvidas no processo modernizador em curso na cidade durante a passagem do regime imperial para o republicano, destacando os bastidores do jogo político que possibilitou a construção da pujante estância.
Lambari foi pioneira na produção de equipamentos para o mercado de laticínios, com a fundação das Indústrias ABI, em 1913.
A ABI, pouco tempo depois, diversificou seus negócios (aqui), nos anos 1970, acabou sendo vendida, e depois encerrou suas atividades. Mas deu origem a diversas outras empresas especializadas na fabricação de máquinas para a indústria leiteira, bem como equipamentos para as indústrias alimentícia, química, farmacêutica e cosmética. (aqui).
Nos primórdios dessa indústria, a matéria-prima era o aço estanhado, depois vieram o aço inoxidável, a fibra de vidro e os materiais plásticos.
As fotos e informações abaixo resgatam algumas pessoas que construíram parte dessa história.
Funcionários da ABI, anos 1970. Na foto, entre outros: Tadeu Abraão, Paulinho do Argemiro, Wilson Costa, Guelinha, Paulinho Costa, Sérgio Teixeira, Aldo, Irineu, Vitão.
Dona Duca, no escritório da ABI. Fonte: Fonte: Reprodução. Facebook
Operários da Biasinox carregando um caminhão (1986). Na foto, entre outros: SérgioTeixeira, Tatá, Tadeu Abraão, Vitão, Paulo Amaro.
Visita do Ministro Mário Andreazza, anos 1970. Na foto, da esquerda para a direita, entre outros: Jairo Ferreira (prefeito), Sebastião Fernandes, Vera Schaib, Andreazza, Wadinho Biaso.
Domingos do Espírito Santo trabalhando uma peça de inox
Festa na ABI. Ao centro: João Batista, Raimundo e Silvinho. Fonte: Reprodução. Facebook
Time do GR. ABI, em 1972: Em pé: Edson, Tinz, Vaca, Delém, Guima e Celinho. Agachados: Roberto, Xepinha, Sérgio, Tatá e Pedro Guela
Sites de empresas (Inox, Plástico e Fibra de Vidro)
Visite os sites de algumas empresas de Lambari
Veja também estas reportagens:
E estes posts:
(*) Se você, caro(a) visitante, tiver notícias, informações, casos e fotos dessa época, ou quiser fazer alguma correção ou complementação ao texto aqui publicado, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Tão velha quanto o mundo, a intriga política está presente em toda disputa eleitoral que se conhece. Antigamente, eram boletins e jornaizinhos — a maioria com matérias apócrifas — que se distribuíam à soturna, ou denúncias anônimas que circulavam em meio ao eleitorado. Atualmente, além desses meios, há a boataria eletrônica — mais rápida e eficiente.
Pois bem, neste post, vamos resgatar uma crônica de autoria de Humberto de Campos em que o escritor lembra expedientes políticos dessa natureza na Parnaíba (PI) do início do Século XX, e também um velho boletim de intriga política que circulou em nossa terra em antiga década do século passado. Vamos lá.
A crônica de Humberto de Campos
Um antigo boletim político de Aguinhas
Como é sabido, na história de nossa cidade, houve dois longos intervalos de tempo sem eleições municipais, época em que os prefeitos eram nomeados, quais sejam:
Mas, claro, mesmo nesses períodos a disputa política permaneceu, e era comum a circulação de boletins, tal o que mostramos abaixo.
Mencionando um ou outro fato, misturados a sugestões e entrelinhas, tais boletins costumavam ser vazados num certo estilo: má redação, erros de português, linguagem grandiloquente, acusações sem prova, insinuações maldosas, surradas citações, frases de efeito...
Abaixo, trechos de um antigo boletim, dos tempos de Lambary com Y, provavelmente elaborado num mimeógrafo a tinta:
E nessa toada, vinham acusações, insinuações e intrigas de toda a espécie — perseguições a adversários, desvios e empreguismo —, como se pode ver da amostra abaixo:
CAMPOS, Humberto de. Memórias [Primeira Parte - 1886 - 1900] - Rio de Janeiro : W. M. Jackson Editores - 1962.
Museu Américo Werneck - Lambari
Veja também estes textos da Série MEMÓRIAS POLÍTICAS DE AGUINHAS:
Ilustração: Gravura de camiseta da marca Minas Brasil.
Também nos divertíamos muito, lembrando ditos, expressões e
trovas populares, além de colecionar palavras em desuso na
língua, catadas tanto aos clássicos como aos matutos do
Sul de Minas Gerais.
(Do livro inédito : Pai Véio, um contador de histórias, de Antônio Lobo Guimarães)
Pelo que respeita à linguagem, tanto culta, como familiar ou popular,
é lá [em Minas Gerais] que me parece estar a feição primitiva.
(Gladstone C. de Melo, linguista e professor, de Campanha, MG,no livro A língua do Brasil)
Topônimo, segundo os dicionários, significa:
(1) Nome próprio de lugar, ou de acidentes geográficos. (2) Nome próprio de um lugar como rio, cidade, povoação, país etc.; GEÔNIMO. (3) História, procedência de um nome geográfico.
Assim, na história de nossa cidade, destacam-se alguns topônimos, como Lambari, Jacu, Mumbuca, Serrote, por exemplos.
É isso que veremos a seguir.
Como se sabe, Lambari é corruptela de Arambari, por sua vez corruptela de Araberi, topônimo tupi que significa sardinha, peixinho (MILEO, 1968).
A cidade de Lambari (MG) surgiu de extensão de terras desmembrada do município de Campanha (MG). Inicialmente, essa extensão chamou-se Águas Virtuosas de Campanha, e abrangia áreas correspondentes aos atuais municípios de Lambari, Jesuânia e Conceição do Rio Verde (parte).
Em 1901, foi criado o município de Águas Virtuosas do Lambary, com dois distritos: Águas Virtuosas (sede) e Lambari (correspondente a Jesuânia).
Conceição do Rio Verde, com território desmembrado dos municípios de Lambari e Baependi, tornou-se município em 30 de agosto de 1911 (Lei Estadual nº 556).
Em 27 de dezembro de 1930, deu-se a mudança do nome da cidade, de Águas Virtuosas para Lambari, pela Lei Estadual nº 9.804. E em 27 de dezembro de 1948, Lambari perdeu o distrito de Jesuânia, emancipado pela Lei Estadual nº 336.
Assim, no mapa abaixo, "Lambari" correspondia à antiga "Lambari", que atualmente é a cidade de Jesuânia, e a Águas Virtuosas, indicada no mesmo mapa, se refere à atual Lambari.
Fonte: Álbum Chorográphico Municipal de MG (1927)
Bairros rurais e outras localidades de Lambari
A origem dos nomes de rios, acidentes geográficos, localidades, bairros, etc. reflete a história das pessoas que ali viveram ou ainda vivem, e, assim, sofre transformações com o passar do tempo. Decorre de alguma característica física ou cultural do lugar, podendo advir de um curso d'água, de um monte ou serra, de uma vegetação, de uma capela ou santo de devoção, de uma fazenda, de uma povoação, de uma família ou morador antigos, de um estabelecimento que lá existiu. Muitas vezes, o nome popularmente conhecido é diferente do nome oficial. O nome oficial é fixado por legislação administrativa do município.
Neste primeiro post, vamos examinar alguns nomes de bairros e localidades rurais de Lambari.
Vamos lá.
Cafundó: Lugar deserto e distante, de difícil acesso, geralmente entre montanhas.
O Dicionário Aurélio diz que se trata de palavra de possível origem africana, e dá esta definição: baixada estreita entre lombadas sensivelmente altas e íngremes.
Silveira Bueno diz que pode ter vindo de cabondó, do Tupi caa [= mato] e bo-ho [= ir pelo mato a dentro]
De cafundó há uma grande sinonímia: cafundó-do-judas, caixa-prego, fim do mundo, calcanhar-de-judas.
Capelinha do Embirizal: Embirizal designa o lugar que tem muitas embiras [do Tupi imbira].
Embira é a fibra que se extrai de certas plantas ou arbustos da fam. das timeleáceas, esp. as do gên. Daphnopsis.
De embira saíram expressões tais como: Chupar (ou lamber) embira --> [= passar fome, não ter o que comer]. Meter (ou amarrar) nas embiras --> [= recolher preso, ou amarrar]
Congonhal: Congonha é designação comum a numerosos arbustos de várias famílias, entre elas as aquifoliáceas, cujas folhas servem para chás ou tisanas. Assim, congonhal designa o lugar que tem muitas congonhas.
Folheta: O Dicionário Caldas Aulete dá os seguintes significados: (1) pequena folha ou lâmina de metal ou de madeira (2) Palheta, latão laminado, dourado ou prateado, com que se fazem obras de passamanaria*.
Já o Dicionário O Globo, anota esta outra acepção: lâmina de metal, que se põe por baixo das pedras preciosas engastadas.
Mandembo: [Entomologia] Certa abelha silvestre de Minas Gerais.
Nos Dicionário Houaiss e Aurélio, há o vocábulo Mandembe [Var. mandengo], com o significado, em MG e GO, de lugar de mato cerrado, de difícil acesso.
Mumbuca: s.f. Espécie de abelha preta. Origem tupi, mõ buca, que furta, que penetra. Var. mombuca.
Jacu: Segundo Silveira Bueno: Pássaro do Brasil, galináceo estimado pelo sabor da carne. Vem do Tupi yacu 'o que come grãos' --> [y = aquele] + [a = grão] + [cu = come].
Piripau: Não encontramos nenhum registro do significado da palavra piripau. O pouco que conseguimos foi isto:
Piri [ variações: piperi, pipiri, piripiri ] é o nome tupi de uma ou mais espécies de junco, que cresce nos alagadiços, utilizado na fabricação de esteiras. Do seu caule, fazem-se flautas de brinquedo.
Encontramos, também, o registro da palavra Pipiripau, de origem Tupi, como nome de alguns rios brasileiros, havendo mais de uma significação para a palavra. Por exemplos:
— rio raso e cheio de pedras no meio. Ou: — caminhos das ilhas dos juncos. E, ainda: — o que recebe.
Já em outras publicações, Piripau aparece como sendo um componente da jangada nordestina, isto é: — a parte arredondada do fundo da canoa, com uma abertura no centro, para firmar o mastro.
Serrote: Pequena montanha. Monte ou serra pequenos. Em Lambari, corresponde à pequena serra, ao pé da qual o Rio Mumbuca desce em direção à foz do Rio Lambari, para formar o Rio Itaici, que acabou por dar nome ao bairro rural.
E Mantiva, o que significa?
Não conseguimos nenhuma informação acerca do vocábulo MANTIVA, que nomeia um dos nossos bairros rurais.
Assim, se você, caro visitante, tiver alguma informação sobre a origem e/ou significado de MANTIVA, entre em contato conosco neste e-mail: historiasdeaguinhas@gmail.com
Em 4 de agosto de 2019, recebemos e-mails de Franciele, que fez as seguintes observações quanto à origem do termo MANTIVA:
Fica registrada a participação da nossa leitora, a quem agradecemos pela informação.
[*] Manto - Segundo os dicionários, manto deriva do latim ibérico mantus, significando:
De mantus vem ainda:
O dicionário eletrônico Michaelis dá o seguintes significados para manto:
Em 28/9/2023, divulgamos este post Topônimos de Aguinhas em nosso Facebook, e recebemos a seguinte colaboração de Elton Siqueira, visando a esclarecer a origem do termo MANTIVA:
Como curiosidade, registre-se que há uma empresa chamada CASA MANTIVA, que produz azeite extravirgem e outros produtos a base de azeite, com sede na Fazenda Serra dos Rosas, localizada entre os municípios de Gonçalves, Paraisópolis e Consolação, no Sul de Minas.
https://www.facebook.com/pg/casamantiva/about/
NOTA
Outros topônimos da zona rural de Lambari:
(*) Há muita atividade religiosa católica nos bairros rurais de Lambari.
Mapa dos bairros rurais de Lambari
Pequena pesquisa sobre o topônimo LAMBARI
No livro A Diocese da Campanha, o Monsenhor José do Patrocínio Lefort informa que:
Ocorre na histório-geografia mineira, desde o século XVIII, o topônimo Lambari. É a designação de um rio — Lambari, também chamado Taici, que nasce no município de Cristina. Após percorrer 85 km, deságua no Rio Verde (1), no município de Três Corações. Também é o nome de um antigo distrito, o do Senhor Bom Jesus de Matozinhos do Lambari, atual Jesuânia, de onde foi desapropriado o topônimo.
De origem tupi: araberi ou arabarê, tem a tradução de: baratinha ou peixinho. (2) Outros tupinólogos, entre eles Martius e Taunay, apresentam os vocábulos aramberi ou araveri, mediante a corruptela do r brando e a dissimilação da líquida, donde o aparecimento de Lambari. Na linguagem nheengatu, segundo Azevedo Marques (3), traduz a expressão rio de peixe cor de prata. Esses peixinhos comuns nas águas doces têm o nome científico de chálceus nematurus.
O topônimo Lambari aparece na carta-ofício do ouvidor sanjoanense, Cipriano José da Rocha, em 1737. Depois, em documentos esparsos de habiatantes diversos que se foram fixando em terras de cultura, nas margens desse rio.
No Grande Dicionário Etimológico, Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, encontramos:
Lambari - s.m. Peixe pequeno d'água doce. A forma correta é arambari e com aferese rambari, dando-se ao r som brando. A forma consignada pelos dicionários lambari, alambari é já acomodação portuguesa do termo tupi, isto porque, nesta língua geral do Brasil, não existe l nem lh.
E do Pequeno Vocabulário Português-Tupi, de Antônio Lemos Barbosa extraímos:
Registro da palavra "lambari" no Pequeno Vocabulário Português-Tupi, de Antônio Lemos Barbosa.