Ilustração: Reprodução. Recorte da planta cadastral da Villa de Águas Virtuosas, ao tempo do prefeito Américo Werneck (1909), mostrando o rio Mumbuca em seu trajeto pelo centro da cidade com seu leito retificado, bem como, na linha tracejada, em seu trajeto original. Acervo de Bibianinho Carvalho Rocha.
No número 1 desta série sobre a Planta cadastral mandada organizar por Américo Werneck em 1909, falamos sobre a área central e o Parque das Águas de Lambari (veja aqui).
Neste número 2, vamos enfocar o ribeirão Mumbuca.
Vamos lá.
Mumbuca, nos dicionários, significa uma
Para os lambarienses, é o riozinho que corta a cidade, e que já foi chamado de Ribeirão Lambarizinho e Lambari Pequeno.
Em 1860, seu curso foi modificado, pois, em épocas de cheias, com frequência as águas invadiam as fontes das águas minerais. [*]
[*] Ainda nos dias de hoje, por vezes, ocorre essa invasão.]
A cidade de Lambari localiza-se no Vale do Mumbuca, numa depressão em que foram descobertas, em 1780, as fontes de águas minerais.
A cidade — com 901 metros de altitude, circundada por serras, morros e colinas — se desenvolveu ao redor das fontes, no côncavo da baixada formado pelo vale do Ribeirão Mumbuca, que cruza toda a zona urbana de oeste para leste.
Mapa de acidentes geográficos. Reprodução (Internet, com adaptações)
O Ribeirão Mumbuca em seu longo percurso atravessa o vale que ora se estreita, ora se alarga, tomando feição assimétrica. Em sua parte mais larga se situa a região central da cidade, encravada entre serras e montanhas que a protegem dos fortes ventos.
O Mumbuca nasce no bairro Mantiva, passa pelos bairros Mumbuca e Jacu, recebe águas dos córregos: Barreiro, Lobos e do Lago Guanabara, passa pelo bairro Serrote e deságua no Rio Lambari, município de Jesuânia, MG.
À esquerda do Ribeirão Mumbuca empina-se a Serra das Águas, cuja altitude varia de 1200 a 1350 metros. À direita do Mumbuca, em faixa de terreno menos acidentada, no entorno das fontes de água mineral, desenvolveu-se o centro da cidade, com ruas planas, cruzadas por ruas mais íngremes.
Reprodução. SIGA - Circuito das Águas/CODEMGE
AS CHUVAS E O DESVIO DO RIO MUMBUCA
Em 1834, os poços das duas nascentes de águas minerais de Lambari não possuíam nenhuma proteção e se localizavam em um largo denominado Largo da Fonte.
Com as chuvas, os poços costumavam ser invadidos pelas águas do Ribeirão Lambarizinho (atualmente, Mumbuca).
Em 1850, os poços foram protegidos por esteiras, para evitar a queda de pequenos animais. [MILÉO, 1970, págs. 25-26]
Em 1860, deu-se o desvio do Rio Mumbuca, então vizinho às fontes. [CARROZO, 1998, p. 72]
Obras de mudança do curso do Rio Mumbuca. Trecho em frente da atual Praça da Fonte Luminosa. Anos 1860. Reprodução colorizada. Fonte: Museu Américo Werneck
Na mapa abaixo, figura o Rio Mumbuca no seu novo leito (desviado nos anos 1860).
Veja também, na linha tracejada, o curso do antigo leito, que ficava no trecho de terreno em que foi construído o Parque Wenceslau Braz (Parque Novo).
Note-se que inauguração do Parque Wenceslau Braz, em 1911, Werneck aproveitou parte da água do Mumbuca fazendo-a serpentear por sobre a área do novo parque, formando pequenas ilhotas.
Confira nesta foto da época águas desviadas do Mumbuca serpeando nos terrenos do Parque Novo:
Parte da água do rio Mumbuca serpenteava pela área do Parque Wenceslau Braz, formando pequenas ilhas
O Rio Mumbuca, da Ponte do Parque Hotel até defronte os jardins do Condomínio Imperial
o Rio Mumbuca segue em linha reta do Posto Gregatti até as Duchas
Ilustração: Reprodução. Planta cadastral da Villa de Águas Virtuosas, ao tempo do prefeito Américo Werneck (1909). Acervo de Bibianinho Carvalho Rocha.
Em 1909, tão logo assumiu a prefeitura de Águas Virtuosas, Américo Werneck providenciou a planta cadastral da vila, a qual tomou como base dos projetos das obras a executar para melhoramento da localidade.
Tais obras abrangiam duas partes:
Pois são aspectos desse documento raro que vamos comentar neste post.
Vamos lá!
NOME DAS RUAS E PRAÇAS DA VILA EM 1902
Em 1902, mediante a Lei n. 7, de 26 de abril de 1902, na gestão de Eustáquio Garção Stockler, então agente executivo de Águas Virtuosas, foram dados nomes a ruas, praças e travessas da vila, como se vê logo a seguir.
As denominações dadas por essa lei — que em parte prevalece até nossos dias — é a que aparece registrada na planta cadastral que estamos examinando.
Curioso notar que já em 1902 dava-se o nome de Américo Werneck a uma das ruas da vila.
O CENTRO DA VILA E O PARQUE DAS ÁGUAS
Nesta Parte 1 veremos o centro da vila e o Parque das Águas.
Centro da cidade e Parque das Águas
O centro da Vila de Águas Virtuosas e o Parque das Águas, início dos anos 1900
Ilustração: Instrumentos de pedra encontrados na região de Lambari (Alto Boa Vista)
As informações deste post foram extraídas do Fascículo 7 - População, emigração e Colônia de Nova Baden, da Coletânea PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI. [1]
São pequenas notas acerca da população indígena que habitou primitivamente a Região Sul do Estado de Minas, especialmente o chamado Sertão do Rio Verde, no qual estavam localizadas a cidade de Campanha e de Águas Virtuosas de Lambari.
Vamos lá.
POPULAÇÃO PRIMITIVA DO SUL DE MINAS
No final do século XVII, à procura de riquezas minerais, os bandeirantes paulistas com seus aliados indígenas atravessaram a garganta do Embaú na Mantiqueira e adentraram as matas Sul do Sertão do Cataguases – como era então chamada a região do centro, oeste e sul de Minas, ocupada por indígenas Cataguases ou Cataguás, conhecidos ainda por Catauás. [2]
O Sul de Minas, além dos Cataguás, era habitado também por Puris, Abatinguaras, Mandiboias, Moropaks, entre outros. À medida que vilas e cidades foram sendo criadas, as aldeias indígenas foram perdendo espaço e desaparecendo ao longo dos anos.
Esses povos indígenas e diversas outras etnias viviam há milhares de anos na região correspondente ao Sul de Minas e deixaram marcas em diversos lugares:
em Andrelândia é possível encontrar utensílios para uso doméstico e pessoal, utensílios para sepultamento dos mortos e cerâmicas pintadas em vermelho e branco. Tais objetos também podem ser encontrados em outros lugares do sul de Minas Gerais, como, por exemplo, os instrumentos de pedra e cachimbos presentes no Museu Regional do Sul de Minas, em Campanha, e os objetos (cachimbos, instrumentos de pedra e vasos funerários) expostos no Museu Municipal de Varginha. [3]
Instrumentos de pedra encontrados na região de Lambari (Alto Boa Vista)
Ferramenta primitiva de pedra, encontrada no bairro rural do Cafundó (Lambari, MG)
Ilustração: Capas dos 10 primeiros fascículos (formato e-book) da Coletânea PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI, contando a HISTÓRIA PRIMITIVA (de 1500 a 1780) e a HISTÓRIA ANTIGA (de 1780 a 1920) de nossa cidade.
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Lançamos hoje os 10 primeiros fascículos da Coletânea PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI, abrangendo as seguintes partes do Plano de Trabalho (aqui) proposto em setembro de 2021:
Confira a seguir.
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo.../Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,/Porque eu sou do tamanho do que vejo/ E não do tamanho da minha altura...
ALBERTO CAIEIRO. O guardador de rebanhos. Poema VII
A COLETÂNEA PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI trata-se de uma série de fascículos, em formato eletrônico (e-book) e em formato impresso (livreto), na qual se narra de forma resumida a história de nossa cidade.
Com essa coletânea, esperamos estar contribuindo para compartilhar histórias e preservar a memória de Águas Virtuosas de Lambari, no desejo de que isso reforce nossa identidade e nos faça, cada vez mais, estimar essa terra e sua gente, porque nossa aldeia é tão grande como outra terra qualquer!
Esperamos também que seja um modesto estímulo a que professores e estudantes da área sintam-se atraídos por trabalhos sobre a história do Sertão do Rio Verde, da Região do Lambari, de Campanha da Princesa e de Águas Virtuosas de Lambari.
Por fim, advirta-se que a PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI que pretendemos escrever não se trata de trabalho acadêmico nem de historiador, e sim de um memorialista que quer divulgar a história de sua terra.
Antônio Carlos Guimarães – Site Guimagüinhas
Capas dos 10 primeiros fascículos (formato livreto) da Coletânea PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI
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Os fascículos são apresentados em dois formatos:
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I - A COLETÂNEA PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS
Fascículo 0. FONTES DE PESQUISAS DA NOSSA HISTÓRIA - Quem contou nossa história
II - HISTÓRIA PRIMITIVA
Fascículo 1. HISTÓRIA PRIMITIVA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI - Sertão do Rio Verde, Região do Lambari e Águas Virtuosas de Lambari
III - HISTÓRIA ANTIGA
Fascículo 2. FORMAÇÃO DA VILA - O primeiro século de existência
Fascículo 3. A ERA STOCKLER - A criação da estância de Águas Virtuosas
Fascículo 4. A ERA WERNECK - As obras fundadoras de Águas Virtuosas de Lambari
Fascículo 5. DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DA SAÚDE - A história da padroeira de Lambari
Fascículo 6. A LENDA DE ÁGUAS VIRTUOSAS - A estória de Cecília e Tancredo
Fascículo 7. POPULAÇÃO, EMIGRAÇÃO E A COLÔNIA DE NOVA BADEN - A formação populacional de Lambari
Fascículo 8. AS ÁGUAS MINERAIS DE LAMBARI - A história de nossa cidade é a história de nossas águas
Fascículo 9. O PARQUE DAS ÁGUAS DE LAMBARI - Em torno das fontes surgiu uma cidade
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Confira o conteúdo dos fascículos:
Nº O - FONTES DE PESQUISAS DA NOSSA HISTÓRIA - Quem contou nossa história
Nº 1. HISTÓRIA PRIMITIVA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI - Sertão do Rio Verde, Região do Lambari e Águas Virtuosas de Lambari
Nº 2. FORMAÇÃO DA VILA - O primeiro século de existência
Nº 3. A ERA STOCKLER - A criação da estância de Águas Virtuosas
Nº 4. A ERA WERNECK - As obras fundadoras de Águas Virtuosas de Lambari
Nº 5. DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DA SAÚDE - A história da padroeira de Lambari
Nº 6. A LENDA DE ÁGUAS VIRTUOSAS - A estória de Cecília e Tancredo
Nº 7. POPULAÇÃO, EMIGRAÇÃO E A COLÔNIA DE NOVA BADEN - A formação populacional de Lambari
Nº 8. AS ÁGUAS MINERAIS DE LAMBARI - A história de nossa cidade é a história de nossas águas
Nº 9. O PARQUE DAS ÁGUAS DE LAMBARI - Em torno das fontes surgiu uma cidade
Ilustração: Capa do e-book PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI, de Antônio Carlos Guimarães, ainda em preparo. Título escrito sobre o Mappa de toda a extenção da Campanha, elaborado no século XIX
Águas Virtuosas de Lambari, outrora Águas Virtuosas da Campanha, a cidade que começou com "uma fonte, depois um povoado, depois uma estância".
JOSÉ BENEDITO RODRIGUES. Apresentação da 2a. edição de Lambari - outrora "Cidade de Águas Virtuosas da Campanha", de JOÃO CARROZZO, 1985
Neste post, vai breve excursão pela História do Brasil, na qual são examinados os principais aspectos — históricos, linguísticos, sociais, administrativos e culturais — que interessam ao que pretendemos contar na série intitulada:
PEQUENA HISTÓRIA DE ÁGUAS VIRTUOSAS DE LAMBARI |
Em linhas gerais, essa excursão terá o seguinte itinerário:
Vamos lá!
O Brasil antes dos portugueses
Como sabemos hoje, a América Portuguesa — o Brasil incluso — fora ocupada muito antes dos portugueses — pelo menos há 10.000 anos — por diferentes civilizações, que se instalaram da bacia Amazônica ao rio da Prata, mas que poucos vestígios deixaram de sua existência.
No entanto, alguns sítios arqueológicos descobertos — chamados sambaquis pelos índios tupi-guaranis — dão conta do assentamento de populações que viviam da agricultura, da caça e da pesca. Esses são os ancestrais dos nativos que Cabral conheceu quando aportou em terras brasileiras.
(12a - A pré-história americana do Brasil); (6a - Antes do Brasil)
Colonização do litoral brasileiro
(...) nas suas feições e fisionomia própria, o Brasil, o que ele é, deriva do colono, do jesuíta e do mameluco, da ação dos índios e dos escravos negros. Esses foram os que descobriram as minas, instituíram a criação do gado e a agricultura, catequizaram longínquas tribos, levando assim a circulação da vida por toda a parte até os últimos confins. Esta história a que não faltam episódios sublimes ou terríveis, é ainda hoje a mesma presente, na sua vida interior, nas suas raças e nos seus sistemas de trabalho que podemos a todo o instante verificar. (O destaque não é do original.)
JOAO RIBEIRO. História do Brasil (1900)
Ao contrário de uma ideia imutável, nada é mais volátil do que a história como disciplina, um reflexo de sua época e sujeita a uma revisão constante. (...)
É preciso também relembrar os povos derrotados, resgatar a dignidade dos escravos e das pessoas subjugadas, como atores de uma história que lhes pertenceu. (O destaque não é do original.)
ARMELE ENDERS. A nova História do Brasil. Prefácio (2012)
Os navegadores portugueses "descobriram" a Costa brasileira, mas seu interior — os sertões — esses foram desbravados pelos bandeirantes, isto é, pelos paulistas. Com efeito, a grande marca deixada pelos paulistas na vida colonial do século XVII foram as bandeiras. [1a, p. 121] [5a, p. 58]
Os primeiros portugueses chegados à Terra de Santa Cruz (nome primitivo do Brasil) tinham como missão promover o povoamento, a exploração, a colonização, a defesa do território e a evangelização dos povos indígenas.
Mas o fato é que os portugueses, apesar de grandes conquistadores de terras, aqui se contentavam de andá-las arranhando "ao longo do mar, como caranguejos", diz Basílio de Magalhães, citando a "História do Brasil" de fr. Vicente de Salvador. [2a, p. 171/72]
A Coroa Portuguesa esperava encontrar metais preciosos no Brasil, como ocorreu com a Espanha e suas minas de prata na região de Potosi, na América Espanhola. Mas ouro e pedras preciosas não foram achados a beira-mar, como se sabe, e a dificuldade de adentrar os sertões brasileiros atrasou a exploração do interior do País.
Acordo assinado em junho de 1494, na vila espanhola de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, delimitando suas posses na América do Sul. O objetivo era encerrar disputas por território no chamado Novo Continente. Uma linha imaginária foi traçada a 370 léguas de Cabo Verde, ficando a Espanha com o território a oeste da linha, e Portugual com o leste. O território de Portugal correspondia, ao norte, mais ou menos do ponto onde atualmente se encontra Belém, no Pará, e terminava, ao sul, em linha reta, perto de Laguna em Santa Catarina.
Mapa da divisão do continente americano entre os Reinos de Espanha e Portugal pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Reprodução [com alterações]. Fonte: Evolução do território brasileiro. DGP Mundo/Youtube |
Tendo em vista as abundantes terras fertéis no litoral brasileiro e após três décadas de exploração do pau-brasil, em 1531, o Rei de Portugal instituiu o sistema das Capitanias Hereditárias. Essas, em número de 14, foram subdivididas em 15 quinhões, por uma série de linhas paralelas ao equador que iam do litoral ao meridiano de Tordesilhas e entregues aos chamados capitães-donatários. Esses afortunados, em número de 12, se tornavam possuidores, mas não proprietários da terra, devendo se estabelecer e desenvolver o quinhão com seus próprios recursos. [5a, p. 24]
Mapa Capitanias Hereditárias
Mapa Capitanias Hereditárias. Reprodução. Recorte. Fonte: Luís Teixeira. Litoral Brasileiro com as Capitanias Hereditárias. Portugal. Biblioteca da Ajuda. 1574 No recorte, estão as Capitanias de Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (dividida em dois lotes: São Vicente e Rio de Janeiro) e Santo Amaro. O território de Minas Gerais, futuramente, seria demarcado nessa região das capitanias estampada no mapa acima. |
No entanto, das 14 capitanias, São Vicente experimentou um breve período de desenvolvimento e a que efetivamente prosperou foi Pernambuco, no nordeste do Brasil.
Na Capitania de São Vicente, cujo território então compreendia parte dos atuais territórios paulista, fluminense e mineiro, apesar de ter sido a primeira capitania a possuir um engenho,
a atividade açucareira progrediu pouco (...). As terras da faixa litorânea, além de reduzidas e limitadas pela Serra do Mar, eram pantanosas e pouco profundas, não favorecendo o cultivo da cana-de-açúcar. Na segunda metade do século XVI, a lavoura canavieira iniciada por Martim Afonso entrou em decadência. [4a]
Favorecida pelo solo, pelo clima, pela maior proximidade da metrópole e dos centros consumidores e pela alta do comércio açucareiro na Europa, a cultura da cana-de-açúcar e os engenhos — que transformavam a cana em açúcar — prosperaram na área litorânea nordestina, especialmente em Pernambuco. [3a] [4a]
À vista do fracasso do regime das capitanias e a precária administração portuguesa na colônia, o rei D. João III, em 1548, instituiu o Governo-Geral. Com essa medida, as capitanias não foram extintas, mas a Coroa superpôs seu poder sobre elas e passou a comandar as funções militares e administrativas na colônia.
Entre 1549 e 1572, três governadores-gerais foram nomeados: Tomé de Sousa, Duarte da Costa e Mem de Sá. Com Tomé de Sousa, em 1549, vieram os jesuítas, com encargo de catequisar e pacificar os indígenas.
Desse modo foi que até (...) o século XVII, a maioria dos colonos que moravam no Brasil esteve concentrada no litoral, seja pelo comércio do pau-brasil, seja pela proteção da região costeira contra invasores e piratas, seja por causa do comércio açucareiro, seja em razão da dificuldade de penetrar o interior do país. [3a]
Nheengatu - a língua geral falada no Brasil nos séculos XVI/XVII Diz-se nheengatu da língua geral do tronco tupi, usada no litoral brasileiro por vários povos indígenas até o séc. XVII, depois difundida e hoje falada na região amazônica por indígenas e não indígenas. (Dicionário Aulete Digital) Os nomes língua geral, língua geral amazônica e língua brasílica eram usados em português para nomear o nheengatu. (Wikipedia) Essa língua geral foi rapidamente assimilada pelos brasileiros, tornando-se a língua brasílica. Já no século 17, com as entradas e bandeiras, o nheengatu foi disseminado por grande parte do Brasil. Somente a Paulistânia (onde também era falado) chegou a abranger um território que ia, ao norte, da região que é hoje Goiás, até o atual Rio Grande do Sul. (Observatório da Imprensa) Por mais de dois séculos, essa língua geral foi a mais falada no Brasil, seja pelos colonizadores portugueses e seus descendentes, pelos forasteiros e estrangeiros, pelos sertanistas e pelos indígenas assimilados. O português brasileiro herdou do nheengatu milhares de vocábulos. Essa herança pode ser vista, por exemplo, nos topônimos [nome próprio de um lugar como rio, cidade, povoação, país etc.], em todo o território brasileiro, especialmente em São Paulo, onde se contam centenas de topônimos, contemplando nomes de cidades, bairros, rios, locais, etc. Exemplos: Anhangabaú, Araçabuta, Araraquara, Atibaia, Avaré, Botucatu, Butantã, Caraguatatuba, Catanduvas, Ibirapuera, Ipiranga, Itaquera, Itaim, Itobi, M'Boi Mirim, Paraibuna, Tietê, Votuporanga, etc. (Wikipedia) Fontes: Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_tupi. Acesso em 23/06/2021 https://pt.wikipedia.org/wiki/Top%C3%B4nimos_tupi-guaranis_no_Brasil. Acesso em 23/06/2021 Dicionário Aulete Digital: https://www.aulete.com.br. Acesso em 23/06/2021 Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/as-origens-da-lingua-brasilica/. Acesso em 23/06/2021 |
Mais tarde, entre 1630 e 1650, a invasão do Nordeste brasileiro pelos holandeses acarretou drásticas consequências socioeconômicas para aquela região litorânea e para comércio açucareiro da colônia. Os holandeses foram expulsos, mas se estabeleceram nas Antilhas. Nessa região, se instalaram tambem engenhos ingleses e franceses. Com elevada produção e custos menores, acabaram tomando a Portugal o predomínio no comércio europeu. Com isso, o açúcar brasileiro se desvalorizou e a Coroa Portuguesa perdeu sua principal fonte de receita, que durara quase dois séculos. [3a]
À vista dessa concorrência, foi preciso encontrar outras fontes de riqueza no interior da colônia. As entradas e bandeiras foram os instrumentos dos portugueses para iniciar a ocupação do interior do Brasil. [3a]
Distinguem-se as entradas das bandeiras, diz Basílio de Magalhães [2a, p. 170/72],
por terem sido aquelas oficiais, ao passo que estas foram de iniciativa particular. Quanto à finalidade de umas e outras, nem sempre é possível uma clareza absoluta, porquanto "entradas" em procura de metais e pedras preciosas se transformaram em "entradas de resgate" (isto é, de caça a escravos índios), do mesmo modo que "bandeiras" caçadoras de índios se transmudaram em "bandeiras de caça ao ouro".
.......................
(...) as "entradas" foram em geral feitas por portugueses. As "bandeiras" deveram-se principalmente aos paulistas, isto é, aos mamelucos.
Logo após o descobrimento, os portugueses organizaram entradas para explorar o interior do Brasil. No entanto,
(...) as expedições não iam tão longe do litoral por causa do desconhecimento da região e do temor de ataques de tribos indígenas. No século XVII, as entradas entraram em declínio e as bandeiras que saíam de São Paulo ganharam força. [3a]
Note-se, contudo, que em meados dos anos 1500, já se praticava o chamado "bandeirantismo defensivo", isto é, o aprisionamento de escravos, provavelmente, indígenas cativos de tribos aliadas. O Porto de São Vicente, anterior à vila, era então conhecido como "porto dos escravos". [4a]
Ciclo da caça ao índio. de Francisco Bernardelli. Reprodução. Fonte: Wikipedia
Mais tarde, ocorreriam incursões ofensivas, como esclarece Eduardo Bueno:
Em 1591, com a chegada do sétimo governador-geral do Brasil, Francisco de Souza, inicia-se o ciclo chamado de "bandeirantismo ofensivo".
Souza militarizou as incursões ao sertão, dando-lhes roteiros fixos, hierarquia rígida e até escrivães e capelães. [6a, p. 64]
Sem nenhum rigor, e baseando-se em Sílvio Romero, MAGALHÃES (1942) considera as seguintes fases do bandeirismo paulista: - De 1580 a 1670 ⇒ aqui domina o cativeiro dos índios, não obstante tenha havido um Ciclo do ouro de lavagem (Iguape, Paranaguá e Curitiba e nos rincões sertanejos de São Paulo) - De 1670 a 1750 ⇒ aqui o descobrimento das minas (grande Ciclo do ouro e dos diamantes - MG, MT e GO) - De 1750 em diante ⇒ aqui começa a sedentarização: preso à agricultura e à mineração, o bandeirante começa a desaparecer. [2a, p. 175] |
As entradas e bandeiras duraram cerca de dois séculos, pois se estenderam de meados do XVI a meados do XVIII. Graças à expansão geográfica efetuada por elas, triplicou-se a área do Brasil, indo muito além do que o Tratado de Tordesilhas dera a Portugal. [2a, p. 172]
Os habitantes do litoral paulista — “terra adentro e serra acima” — tiveram de vencer duas "muralhas" para conquistar o interior das Minas Gerais: a Serra do Mar e a Mantiqueira. Reprodução. Fonte: www.novomilenio.inf.br
A Muralha é uma minissérie brasileira produzida e exibida pela Rede Globo entre 4 de janeiro a 31 de março de 2000. Escrita por Maria Adelaide Amaral, é livremente inspirada no romance homônimo de Diná Silveira de Queiroz.
Enredo: "Século XVII. Três mulheres em busca de um sonho. Para alcançá-lo, devem cruzar a maior cadeia de montanhas do Brasil. Devem cruzar a muralha." Os bandeirantes paulistas foram os pioneiros no desbravamento europeu do território brasileiro. Suas atividades consistiam em abrir rotas rumo ao interior do país em busca de riquezas e, também, de índios para serem vendidos como escravos. Mesmo sob domínio territorial português, a luta pela posse das propriedades era constante. Vindos de diferentes partes do mundo, inúmeros forasteiros tentavam se apossar do território conquistado pelos bandeirantes. A muralha é uma referência à Serra do Mar, um grande obstáculo às incursões ao centro do país. É pelas cercanias da Vila de São Paulo, na fazenda de Lagoa Serena, após atravessar a muralha, que habita dom Braz Olinto, um patriarca que lidera sua família e sua bandeira com muito trabalho e sacrifício. Sua luta principal é dominar e vender mão de obra indígena, adquirida através das empreitadas feitas ao interior. Fonte: [6a.] https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Muralha_(miniss%C3%A9rie) |
Capitania de São Paulo e Minas de Ouro
À medida que se intensificava o povoamento do litoral paulista, "a “boca do sertão” foi sendo empurrada cada vez mais para o interior do território. Assim foi que as bandeiras penetraram o território muito além dos limites do Tratado de Tordesilhas. [14a]
Essa expansão territorial levou a Coroa Portuguesa a criar, em 1709, a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro.
Mapa do Brasil em 1709, após a expansão territorial. Reprodução. Fonte: Evolução do território brasileiro. DGP Mundo/Youtube
No livro A Província Brasileira de Minas Gerais, da Coleção Mineiriana da Fundação João Pinheiro, anotaram HALFED e TSCHUDI uma síntese histórica da descoberta do ouro em Minas Gerais.
Na introdução do livro, editado em 1862, dizem os autores:
Separada do Oceano Atlântico por uma cadeia de montanhas que se estende de norte a sul (a Serra do Mar) e por florestas virgens quase impenetráveis, as extensas terras que formam a atual província de Minas Gerais permaneceram por longo tempo desconhecidas dos descobridores do Brasil. No século XVI foram feitas (por Sebastião Fernandes Tourinho e Antonio Dias Adorno) tentativas isoladas de avançar para o interior seguindo os rios costeiros, que, no entanto, se transformaram em fracassos quase completos, pelas imensas dificuldades que tiveram de enfrentar. [8a, p. 64]
A seguir, mencionam a bandeira de Fernão Dias:
Só 173 anos depois que o Almirante Pedro Álvares Cabral descobrira a costa do Brasil é que, penetrando pelo sul, vinda da província de São Paulo, uma expedição razoavelmente bem organizada, feita por ordem do rei e comandada por Fernão Dias Pais Leme (sic), começou a desbravar o interior desconhecido em busca de valiosas esmeraldas e outras pedras preciosas que, segundo rumores vagos, lá haviam sido encontradas. A expedição chegou até a altura da atual cidade do Serro e teve de lutar contra obstáculos indescritíveis, sem alcançar o objetivo esperado. [8a, p. 64]
(O destaque não é do original.)
O insucesso do Caçador de Esmeraldas — epíteto dado a Paes Leme — não desacorçoou os paulistas, e novas expedições foram formadas.
Prosseguem os autores HALFED e TSCHUDI já citados:
Mais bem sucedidas, embora não menos penosas, foram as expedições que se seguiram, todas saídas de São Paulo. Descobriram jazidas de ouro nos vales do Rio Guaicuí e de seus afluentes, nas encostas das serras que se unem no Itacolomi, principalmente no Ribeirão do Carmo, onde fica hoje a cidade de Mariana, e no Ribeirão de Ouro Preto, situado apenas duas léguas a oeste, onde se formou a atual capital da província. Na direção sul, foram abertas lavras de ouro sucessivamente em Campanha, São João del Rei, São José e Congonhas do Campo; a oeste de Ouro Preto, em Tamanduá e Pitangui; a noroeste, em Paracatu, e na direção norte, em Inficionado, Catas Altas do Mato Dentro, Santa Barbara, Cocais, Itabira do Mato Dentro, Serro do Frio e Bom Sucesso das Minas Novas. [8a, p. 65]
[Nota: JOHN TSCHUDI usa várias vezes os termos império e província referindo-se a períodos anteriores à independência, quando deveria usar colônia e capitania]
A descoberta dos metais e pedras preciosos em Minas espalhou-se rapidamente, atraindo milhares de forasteiros vindos de outras regiões Brasil e de Portugal.
Na Metrópole — anota FAUSTO [5a. p.60] — a corrida do ouro
(...) provocou a primeira grande corrente imigratória para o Brasil. Durante os primeiros sessenta anos do século XVIII, chegaram de Portugal e das ilhas do Atlântico cerca de 600 mil pessoas, em média anual de 8 a 10 mil, gente da mais variada condição, desde pequenos proprietários, padres, comerciantes, até prostitutas e aventureiros.
Em 1720, Portugal dividiu a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, criando a Capitania de Minas Gerais, cuja capital ficou sendo Vila Rica (atual Ouro Preto).
Em 1720 foi criada a Capitania de Minas Gerais. Reprodução. Fonte: Evolução do território brasileiro. DGP Mundo/Youtube
Com o sucesso da mineração, ocorreram mudanças administrativas na colônia. A capital foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, em face de sua proximidade com a região mineira. Essa mudança facilitava a fiscalização da produção aurífera e seu escoamento pelo porto da nova capital. [3a]
A partir da mineração e das atividades em seu entorno, o Porto do Rio de Janeiro tornou-se o principal centro exportador e importador, por onde saíam ouro e diamantes e entravam escravos e produtos manufaturados, entre outros. Além disso, a necessidade de aprimorar e controlar a arrecadação de impostos na região mineira, o aumento do contrabando e a maior proximidade com a bacia do Rio da Prata – objeto do desejo da monarquia portuguesa – explicam a transferência da sede do governo da América portuguesa de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Fonte: O Porto do Rio de Janeiro. Disponível em: http://multirio.rio.rj.gov.br/ |
A dificuldade de trazer o ouro do sertão mineiro para o litoral fluminense, o controle de sua circulação e a necessidade de abastecer a Região das Minas Gerais fez surgir uma rota oficial, controlada pela Coroa Portuguesa — a Estrada Real — como se verá neste tópico.
A construção da Estrada Real também se fez necessária, porque
A economia mineradora gerou uma certa articulação entre áreas distantes da Colônia. Gado e alimentos foram transportados da Bahia para Minas e um comércio se estabeleceu em sentido inverso. Do Sul, vieram não apenas o gado mas as mulas, tão necessárias ao carregamento de mercadorias. Sorocaba, com sua famosa feira, transformou-se, no interior de São Paulo, na passagem obrigatória dos comboios de animais, distribuídos principalmente em Minas. [5a., p. 61]
Os dois caminhos da Estrada Real. Reprodução. Fonte: Instituto Estrada Real [10a]
Dois trajetos foram traçados para a Estrada Real: O velho, usado a partir de 1694; e o novo, aberto em 1701.
O primeiro trajeto — o chamado Caminho Velho — ligava a antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, ao porto de Paraty, no Rio de Janeiro.
Tal caminho, cruzava
as atuais regiões de Taubaté, Guaratinguetá, Serra da Mantiqueira, Passa-Quatro, Itanhandu, Pouso Alto, Baependi, Conceição do Rio Verde, Ibituruna, Rio das Mortes, São João del Rei, Mariana e Ouro Preto. [9a]
Caminho velho: utilizado a partir de 1694, ligando São Paulo a Minas, numa viagem que demorava 90 dias. Reprodução. Fonte: Instituto Estrada Real [10a]
Em 1701, foi aberto o Caminho Novo — ligando o Rio de Janeiro a Ouro Preto (antiga capital de Minas). Com a descoberta das pedras preciosas na região do Serro, a estrada foi estendida até o Arraial do Tejuco (atual Diamantina). [9a]
Caminho velho e Caminho Novo, este utilizado a partir de 1701. Reprodução. Fonte: Instituto Estrada Real [10a]
Como visto, os bandeirantes entranharam sertão adentro, inicialmente à cata de índios e, em seguida, na busca do ouro, e muitas vezes no encalço de ambos, ocupando as nascentes de três grandes bacias hidrográficas: a do Paraná, a do São Francisco e a do Amazonas, muito além dos limites do Tratado de Tordesilhas, ampliando consideravelmente os direitos da Coroa Portuguesa sobre as terras brasileiras.
Tempo houve em que, no interior do Brasil não se avistava uma única choupana, em que as feras entre si disputavam a posse da terra. Foi então que os paulistas o percorreram em todos os sentidos. Várias vezes penetraram no Paraguai, descobriram o Piauí, as minas de Sabará e Paracatu, internaram-se nas vastas solidões de Cuiabá e de Goiás, chegaram ao Maranhão e ao Amazonas e, tendo galgado a cordilheira peruana, atacaram os espanhóis no âmago de seus domínios. Quando, por experiência própria, se sabe quanta fadiga, provações e perigos ainda hoje esperam o viajor que se aventura nestas regiões longínquas e depois se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis dos antigos paulistas, fica-se como estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes. Augusto de Saint-Hilaire (1820)
Domingos Jorge Velho, de Benedito Calixto (1903). Reprodução. Fonte Wikipedia O bandeirante adentrava-se na mata, escalava montanhas, vadeava rios encachoeirados, transpunha cumeeiras, lutava contra índios, escravizava-os ou os dizimava quando não podia escravizá-los, escrevia, enfim, no solo virgem da América o último capítulo de Os Lusíadas. (1) Segundo o escritor Washington Luís (2), os bandeirantes iam armados de arcabuzes, escopetas, mosquetes, espadas, como armas ofensivas, e como armas defensivas, iam com acolchoados de algodão, com que se revestiam, úteis contra as setas indígenas que neles se amorteciam. No entanto, o quadro B. Calixto e a descrição de W. Luís não correspondem à realidade dos bandeirantes. Na verdade, em que pese a penetrarem a pé a brenha entrelaçada, sombria, úmida e mortífera, somente alguns poucos — os brancos — possuíam armas e vestimentas; a maioria — índios e mamelucos — portavam arco e flecha, andavam semi-nus ou de tangas e caminhavam descalços ou de sandálias. (3) (1) MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas (2) LUÍS, Washington. Na Capitania de São Vicente (3) BUENO, Eduardo. Brasil: uma história |
No século XVI, algumas incursões sem sucesso avançaram rumo ao sertão das minas. Mas o desbravamento dessa região começou, efetivamente, com a bandeira de Fernão Dias, em 1674.
Após a descoberta das minas e a difusão dos achados, outras expedições foram adentrando o território mineiro por diferentes pontos, e, a partir de 1700, ocorre uma densa corrente imigratória de gente de toda espécie em busca das riquezas minerais. [11a, Cap. 7] [14a]
Nesse contexto, em 1709/10, aconteceu a chamada Guerra dos Emboabas, uma disputa pelo domínio da exploração da região das minas, dada entre descendentes dos bandeirantes paulistas e aventureiros e exploradores estrangeiros vindos de outras regiões do país e de Portugal.
À vista desse e de outros conflitos e da fragilidade do controle administrativo e fiscal da Coroa Portuguesa sobre a região, foi criada, em 1709, a capitania conjunta de São Paulo e Minas de Ouro. [2a, p. 181],
E desse modo, em poucos anos se formou um considerável número de arraiais. (Vila Rica, Sabará, São João-del-Rei, Serro, São José-del-Rei).
Em 1720, verifica-se a autonomia administrativa da região mineira, com sua separação de São Paulo: nascia a Capitania de Minas Gerais. O território da capitania foi logo em seguida dividido em duas partes: Minas da Nascente do Rio das Velhas (Carmo e Ouro Preto) e Minas do Poente do Rio das Velhas (Sabará e Caeté). [14a]
Os bandeirantes no território mineiro
Paulo Paranhos, em artigo publicado na revista da ASBRAP, informa que o Caminho Velho das Minas foi
o primeiro caminho seguido pelos bandeirantes em direção à região das minas de ouro e pedras preciosas, partindo de São Paulo de Piratininga. [5b]
Em outro artigo, o historiador refere que os paulistas — quando penetraram o atual território mineiro, saindo do Planalto de Piratininga — "seguiram o Rio Paraíba, atravessaram a Mantiqueira pela garganta do Embaú e se internaram no chamado “caminho geral do sertão”. [3c]
(O destaque não é do original.)
E acrescenta que por esse caminho geral do sertão (o Caminho Velho das Minas)
(...) teria passado, em 1596, o bandeirante João Pereira de Souza Botafogo, sem, no entanto, ficar bem estabelecida a sua rota. Outros que se aventuraram, ainda no século XVII, foram Jerônimo da Veiga, em 1643; Sebastião Machado Fernandes Camacho, entre 1645 e 1648, em busca das minas de prata e o próprio Fernão Dias Paes, em 1674. [3c]
A primeira descrição da passagem pela histórica "garganta do Embaú" aparece num relato da expedição de André de Leão, dada em 1601, sob o patrocínio do governador-geral D. Francisco de Sousa. Esse relatório, segundo Washington Luís, foi feito por "Guilherme Glimmer, flamengo, que tomou parte em uma expedição ao sertão e que dela fez uma descrição". [6b, p. 290]
Glimmer descreve que a expedição saiu de São Paulo (Capitania de São Vicente), passou pelo rio Tietê (então chamado Anhembi), atravessou parte do território paulista e chegou à atual Cachoeira Paulista, onde "abicamos neste ponto as nossas canoas", e daí chegaram ao "rio que desce do lado ocidental e não se presta a navegação" (rio Passa Vinte). [5b]
Washington Luís transcreve o trecho em que Glimmer refere à garganta do Embaú:
Com cinco ou seis dias de marcha, chegamos à raiz de um monte altíssimo, e, transpondo-o descemos a uns campos mui descortinados e aqui e acolá sombreados de bosques se vêem lindíssimos pinheiros, que dão frutos do tamanho de uma cabeça humana; as nozes desses frutos têm a grossura de um dedo médio e são protegidas por uma casca como as castanhas, e são mui agradáveis ao paladar e nutritivas...
(Presumo que Glimmer se refere aqui à árvore da Sapucaia - Nota do autor).
Relativamente a esse trecho, Paranhos esclarece que a transposição do monte altíssimo se deu pela garganta do Embaú na Serra da Mantiqueira. [5b]
Reprodução. Fonte: Itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos, estradas, roças, sítios, povoações, lugares, vilas, rios, montes e serras que há da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro. Francisco Tavares de Brito. 1732 [15a]
No Itinerário geográfico menciona-se a garganta do Embáu, deste modo:
Sítios, ou Rossas desse caminho. Embaú - passa-se hum rio vinte vezes, e por isso se chama o Passa vinte. Sobe-se a notável cordilheira, ou serra da Mantiqueira. Passa-se outro rio trinta vezes e lhe chamão o passa trinta; e se vai ao Pinheirinho; dahi a Rio Verde, Pouzos altos, Boa Vista.
Por segundo, vejamos como pai da historiografia mineira, Diogo de Vasconcelos, narra com detalhes a passagem da numerosa comitiva de Fernão Dias Paes Leme pela Garganta do Embaú, na Mantiqueira, quando o bandeirante partiu de São Paulo em direção ao sertão de Minas, em 1674.
Diz ele:
(...) a marcha nenhuma dificuldade ofereceu até Guaratinguetá, região aberta e frequentada, havia anos; mas daí em diante começaram a cair pela serra a bruma das terras ermas. Não eram (...) de todo ignotas as paragens da Mantiqueira. As mesmas regiões do hoje dito Sul de Minas haviam sido penetradas; desde que Felix Jacques deixou entrada franca a Francisco Dias Avila, a Calabar e a outros (...) aventureiros. É, porém, para se imaginar com espanto a passagem destes novos Alpes por véreas, que o mato cegara, e que só a bússola indicava nas caligens do Embaú; e não menos com emoção contemplar o painel que avistavam do alto da serra e que atirava sobre a imensa e triste solidão do continente. Desse cume, que o túnel hoje corta próximo, desceram à região dos Pinheirais, pouco adiante passaram o rio Passa Trinta (hoje Passa Quatro), e vieram a Capivari, de onde, chegando a um sítio ameno, descansaram algum tempo, dando-lhe o belo nome de Mbáépendi (Pouso bom ou alegre). Do Baependi, seguiram para o Rio Verde, transpuseram o Rio Grande, e vieram estabelecer o primeiro arraial na Ibituruna (Serra negra), o mais antigo lar da pátria mineira.
(Os destaques não são do original)
1. Nota do autor: Fato curioso é que a Minas e Rio [Estrada de Ferro Minas e Rio] passa mais ou menos nesta garganta. A Central [Estrada de Ferro Central do Brasil] também passa pela Garganta de João Ayres, Mathias Barbosa, Parayba, Barra do Piray e Belém, pontos por onde Garcia Rodrigues traçou a primeira picada de Minas para o Rio, em 1701. [1b]
Um terceiro relato referindo a Garganta do Embaú nos dá Basílio de Magalhães. Diz o erudito historiador mineiro que [9b]:
Ao ano de 1692 é atribuída a bandeira escravista de Antônio Delgado da Veiga (com seu filho João da Veiga) e Miguel Garcia (Revista do Arq. Púb. Mineiro, IV, 215), os quais, saindo de Taubaté, galgaram a Mantiqueira través a Garganta do Embaú, deram nome ao Pouso Alto e alcançaram um afluente do Rio Verde, a que chamaram Baependi (*), apelação que se presume oriunda da pergunta feita por um dos línguas da expedição aos índios ali encontrados e que naquela região, em ano anterior a 1694, andou outra bandeira descobridora, esta mais inclinada a riquezas minerais, testifica-o um roteiro, a que adiante nos referiremos mais extensamente, dado à estampa na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (V, 269), onde se lê: "...e em um destes montes que se chama o Baependi se suspeita haver metal pela informação que deixou o defunto Bartholomeu da Cunha..."
(Os destaques em negrito não são do original.)
(*) Diz o cronista que bae-pendy equivale a 'que nação de gente é a tua?` Mas Theodoro Sampaio (O tupi na geografia nacional, 114), desconvindo dessa interpretação e baseado na grafia dos roteiros antigos, dá Baependy como corruptela de mbaê-pindí, isto é, ´a clareira`
O Sertão do Rio Verde correspondia à fronteira sul da Capitania de Minas (divisa com São Paulo e Rio de Janeiro) e era aberta ao trânsito dos paulistas, que percorriam a região desde meados do século XVII, a busca de apresamento de índios e de ouro. [1b] [14a]
Desse modo, antes da corrida do ouro na região da Serra do Espinhaço (final do século XVII), já em 172o os paulistas mineiravam ouro no Sertão do Rio Verde, nas terras banhadas pelo Rio Verde e Rio Sapucaí.
A exploração dessas minas atraiu grande número de pessoas e pequenas povoações se formaram. Por conta disso, a região do Sul de Minas ficou conhecida por Minas do Rio Verde (ou Minas do Sul). [14a]
Uma dessas povoações foi o arraial de Santo Antônio do Val da Piedade da Campanha do Rio Verde, futura cidade de Campanha.
Informa MORAIS FILHO que história da cidade originada dêste arraial é muito interessante sob todos os aspectos,
tendo dado margem a uma copiosa literatura em que sobressaem os trabalhos de José Pedro Xavier da Veiga, Bernardo Veiga, Francisco Lôbo, Veiga Miranda , Ferreira deRezende e Cônego Lefort, avultando a magnífica obra do Dr. Alfredo Valladão, que se esmerou na síntese biográfica dos filhos de sua terra natal que mais se distinguiram nas ciências, na política e nas letras. Todos estes escritores deixaram , entretanto , sem o devido esclarecimento o importante capítulo da fundação do primitivo arraial de mineração aurífera, onde o precioso metal fôra explorado livremente durante longos anos, a tal ponto que, ao instituir- se ali o regime legal, em outubro de 1737, pôde o Ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, Cipriano José da Rocha, registrar o elevado número de 6.800 escravos empregados nos trabalhos de lavra naquela região.
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Foi o Dr. Nicolau Navarro, ilustrado Juiz de Direito da comarca e devotado estudioso da história local, o primeiro a publicar interessantes documentos, cujo encontrọ fôra fruto de suas pesquisas, ao revolver a poeira dos arquivos que permitiram avaliar-se a importância da contribuição dos paulistas na fundação e desenvolvimento do arraial que o Ouvidor Cipriano fôra encontrar “ povoado com praças e ruas em boa ordem e muito boas casas e que tão favorável impressão lhe causou , que se moveu então a sugerir ao Governador da Capitania a conveniência de elevar- se logo dita povoação à vila. [10b]
De qualquer modo, tem-se corrente que essa vila foi "descoberta" em 1737 pelo português Cipriano José da Rocha (1685-1746), ouvidor-geral da Comarca do Rio das Mortes na Capitania de Minas Gerais, em missão oficial de reconhecimento da região Sul de Minas, para realizar vistoria nas terras e inventariar locais de extração de ouro. Como se sabe, nessa oportunidade, Cipriano da Rocha encontrou e nomeou o rio Lambari (que nasce em Cristina,MG e passa por Jesuânia, MG), abriu uma estrada ligando essa Região do Lambari até São Cipriano, — arraial que fundou e deu origem à atual cidade de Campanha, um dos marcos oficiais mais relevantes da entrada e da ocupação da região. [8b]
As primeiras cidades do Sul de Minas
Como se viu, o Sertão do Rio Verde, como era então denominada o território ao sul de Minas na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, começou a ser percorrido pelos bandeirantes paulistas, que atravessam a serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú, através do caminho do Rio de Janeiro e São Paulo, chamado de “caminho geral do sertão” e atingiram as cabeceiras do Rio Verde. [2b] [2c]
De fato, como anotou Paulo Paranhos:
(...) da Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté, partiram as primeiras bandeiras em direção às chamadas “minas de cataguás”. Passando pela região de Guaipacaré (atual Lorena), transpunham a Mantiqueira e alcançavam o atual território mineiro. Desta forma, exatamente 36 das mais antigas cidades de Minas Gerais foram fundadas por paulistas, entre elas, Baependi, Aiuruoca e Campanha. [7b]
(Os destaques em negrito não são do original.)
Quanto ao povoamento da região Sul de Minas Gerais, essa
(...) começou a ser mais densamente povoada a partir da década de 1740, a Oeste do Rio Sapucaí. José Pires Monteiro descobre ouro na margem esquerda do Sapucaí; em 1746, Francisco Martins Lustosa é nomeado guarda-mor regente das descobertas do ouro e da região do Sapucaí; em 1755, Pedro Franco Quaresma descobre ouro na região de São Carlos do Jacuí e inicia seu povoamento. Assim, nessas áreas, anotamos a passagem à condição de vila de quatro povoações: São Bento do Tamanduá, em 1791; Campanha da Princesa da Beira, em 1798; Santa Maria do Baependi e São Carlos do Jacuí, em 1814 e Aiuruoca em 1834. Nessa região, a primeira formação administrativa datou de 1798, quando da instalação da Vila da Campanha da Princesa da Beira, atual cidade de Campanha. [7b]
(O destaque em negrito não é do original.)
Inserida no Sertão do Rio Verde estava a Região do Lambari, de cuja origem e do rio que lhe deu nome trataremos a seguir.
Como visto anteriormente, no Século XVIII, uma expedição de paulistas penetrou rumo ao Oeste, cortando a Mantiqueira pela garganta do Embaú em direção ao Sertão do Rio Verde.
Nessa caminhada, nomeiam Pouso Alto e chegam a um afluente do rio Verde, que denominam de Baependi. A notícia de ouro nas terras banhadas pelos rios Verde e Sapucaí chegou a São Paulo e rapidamente houve o deslocamento de homens para essa direção. [1c] [5c] [2c]
Foi a picada feita por essa expedição que deu origem à Estrada Geral, em torno da qual surgiram as cidades de Campanha, Pouso Alto, Aiuruoca, São Gonçalo do Sapucaí, Itamonte e outras.
Nesse trecho da região Sul da Província de Minas, a Estrada Geral ligava a Corte (Rio de Janeiro) à cidade de Campanha (MG), passando por:
A partir de meados dos anos 1700, dois fatos contribuíram para colonização da região do Rio Lambari: em paralelo à Estrada Geral, e no trecho mais próximo ao Rio Lambari surgiram as primeiras casas e agrupamentos de moradores, que foram se estabelecendo com pequenas lavouras.
Em 1749, aparece pela primeira vez o nome de um morador na região: Manuel Vieira. Em 1753 surge a distinção entre Lambari de Cima e Lambari de Baixo, prova de que iam aparecendo moradores em ambas as partes da estrada. E desde 1755 é conhecido o sítio do Lambari, de onde surgiu a povoação que deu origem ao atual município de Jesuânia. [6c] [7c] [5c]
E nas fontes das águas minerais, surgiu a Paragem da Água Virtuosa. [1c] [2c] [8c]
A região de Campanha do Rio Verde foi descoberta pelos paulistas por volta de 1720, tendo pouca divulgação até 1737, quando em 2 de outubro, uma expedição militar sob o comando do ouvidor da Vila de São João Del Rei, Cipriano José da Rocha, veio com a incumbência de reconhecer a região, desbravar os sítios desconhecidos ao longo da bacia dos Rios Verde, Sapucaí e Palmela e tomar posse do território em nome do Rei. [1c] [5c] [2c]
E foi nessa oportunidade que Cipriano José da Rocha conheceu e deu nome ao Rio Lambari. (do tupi araw'ri = peixe pequeno, abundante naquele rio). De fato, diz ele no ofício então mandado a D. Martinho de Mendonça de Pina e Proença, governador da capitania mineira:
As terras destas Minas é (sic) uma dilatada Campanha do Rio Lambari para dentro. Exceto uma serra que tem seu princípio no mesmo rio e se dilata por espaço de uma légua, toda coberta de matos, por onde vem a estrada que mandei abrir e achei muito capaz. São os ares muito alegres, de maravilhosa vista e com melhor assento que as terras de São João d'El Rei. Tem o Lambari copiosa abundância de peixe grosso e miúdo, de admirável sabor e gosto, por ser todo de pedras o rio. E com redes que trouxe fiz uma grande pescaria, sem muito trabalho. (Grifei) [8c]
No mapa a seguir, elaborado entre 1791-1798, já aparece a povoação de Lambari e o caminho para a Corte, que saia de Campanha, passava pela região do Lambari e seguia em direção à Serra da Mantiqueira.
Mappa topografico e idrografico da Capitania de Minas Geraes (sic) -1791-1798. Reprodução. Recorte. Fonte: http://repositoriotoponimia.com.br/mapas
O arraial de São Cipriano - futura cidade de Campanha
A Região do Lambari e o arraial de São Cipriano, como visto, foram nomeados, em 1737, por Cipriano José da Rocha, Ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, que, em missão oficial, inspecionou a região.
Quanto à fundação do arraial de São Cipriano, que daria origem à futura cidade de Campanha, o ouvidor assim escreveu ao governador da Capitania de Minas Gerais, Martinho de Mendonça de Pina e Proença:
Escolhi a beneplácito de todos o sítio para o arraial, onde mandei fazer um rancho para mim a minha custa. E ordenei que todos fizessem para si no mesmo sítio, com ordem de ruas, praças e igrejas. (1° ofício do ouvidor ao governador). [In Cidade da Campanha - Monografia histórica. Monsenhor José do Patrocínio Lefort. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1972. Apud 8c]
Num 2° ofício, datado de 9 de dezembro de 1737, diz o ouvidor Cipriano:
Fundei um arraial em forma de vila a que se deu o nome de S. Cipriano, que está povoado com praças e ruas, em boa ordem e muitas casas. E ficava-se entendido em fazer a igreja; determinei terra para a casa da Intendência que será preciso. [In Cidade da Campanha - Monografia histórica. Monsenhor José do Patrocínio Lefort. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1972. Apud 8c]
Desse modo é que foi lançada a semente da cidade de Campanha.
No final do século XVIII, a então denominada Villa de Campanha compreendia um imenso território (Sul de Minas e parte de São Paulo), o qual, ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, iria se desdobrar em dezenas de outras cidades.
Mapas
No mapa abaixo, vê-se a Villa de Campanha (final do século XVIII), situada entre a margem esquerda do Rio Verde e a margem direita do Rio Sapucaí.
Toda essa região — que incluía parte da Capitania de São Paulo — constituía o território da Villa de Campanha (criada em 1798).
No mapa, ao lado de Campanha, está o povoado de São Gonçalo da Campanha, futura cidade de São Gonçalo do Sapucaí.
Mapa da Capitania de Minas Geraes: com a deviza de suas comarcas (sic). Final Sec. XVIII. Reprodução. (bn.digital.gov.br)
A Villa de Campanha posicionada entre o Rio Verde e o Rio Sapucaí
Legenda do mapa
Parte do território pertencente ao antigo Sertão do Rio Verde, com realce de Campanha e Lambari e o acesso ao Caminho Velho da Estrada Real
Em 1711, a Província de Minas era dividida em três vilas: do Carmo, de Sabará e Villa Rica, sendo esta a capital.
No Sul de Minas, como já visto, em 1737, Cipriano José da Rocha fundara o Arraial de São Cipriano. Essa denominação durou pouco tempo, e a povoação retomou o nome anterior de Campanha do Rio Verde.
Sua evolução político-administrativa se deu assim: em 1738, o arraial passou à freguesia, com o nome de Santo Antônio do Vale da Piedade da Campanha do Rio Verde. Depois, em 1798, foi elevado à condição de vila, sob a denominação de Vila da Campanha da Princesa. E, finalmente, em 1840, tornou-se cidade, com o nome de Campanha. [3b]
Por essa época, deu-se uma disputa territorial de São Paulo e Minas pela região de Campanha. Diz o Atlas Digital da América Lusa que em 1743
a Capitania de São Paulo nomeou Bartolomeu Correia Bueno como guarda-mor da região a fim de anexar a área [pertencente a Campanha] ao seu território. Para não perder a região, os oficiais camarários de São João del-Rei transladaram as atividades da câmara para Campanha do Rio Verde. Em 1748 a contenda foi resolvida pelo Estado português e a área permaneceu sob a jurisdição da Capitania das Minas Gerais. Na década de 1790, os moradores do arraial solicitaram à Coroa a criação de uma vila na região. Apesar dos apelos contrários da Câmara de São João del-Rei, o Estado Português elevou o arraial a Vila de Campanha da Princesa em 1798. [6d]
A Vila da Campanha da Princesa da Beira Alta foi criada por carta régia de 1752. O título – Princesa da Beira Alta – foi dado a Maria Francisca Isabel Jose Antónia Gerrudes Rita Joana de Bragança (Portugal 1734-Brasil 1816), neta primogênita de D. João V, que veio a ser a primeira rainha de Portugal, tendo por alcunha, ‘a Piedosa’. Recorde-se que a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II – visitou Campanha, em 1868, juntamente com seu esposo o Conde D’Eu. |
Desse modo, a Vila de Campanha da Princesa, criada em 1798, até o final do período colonial manteve sua configuração territorial.
Quando da instalação, em 26/12/1799, seu território foi demarcado deste modo:
“todo o espaço da margem esquerda do Rio Grande até os Registros que fecham os limites desta Capitania”.
Essa área compreendia todo o Sul de Minas mais uma parte de São Paulo (incluindo o Rio Pardo e a então freguesia de Franca ([Termo do Jacuí]).
Hoje mais de 160 cidades ocupam seu território original. Por isso, Campanha é dita a cidade-mãe do Sul de Minas. [2c] [5d] [7d]
Em 1901, aparece Águas Virtuosas (atual Lambari).
Desdobramento dos municípios mineiros a partir de 1711
Desdobramento de municípios mineiros a partir da criação, em 1711, do município de Vila Rica.. Reprodução. Águas Virtuosas aparece em 1901. Fonte [1d]
Vista de Campanha. Século XIX. Reprodução. Fonte: [1d]
Campanha é a sede do bispado [5d] e
referência nacional e internacional em diversas áreas, pelo brilhantismo de nossos antepassados, filhos da cidade ou que optaram por fixar residência em nosso terrão, como Vital Brazil Mineiro da Campanha, Silvio Romero, Alfredo Valladão, Euclides da Cunha, Padre Victor, Dom Othon Motta, Padre José Maria Natuzzi, Bárbara Eliodora, Francisco de Paula Ferreira de Rezende, Tristão de Alvarenga, Paulino de Araújo Ferreira Lopes, Gladstone Chaves de Melo, Maria Martins entre tantos outros expoentes. [3d]
E nela, ainda, vamos encontrar o
Museu Regional do Sul de Minas e o Museu Casa de Vital Brazil, além de inúmeros acervos de bens móveis, integrados e documentados, acervos esses que registram toda importância cultural do município, que consta, historicamente, na rota da Estrada Real, é porta de entrada do Circuito das Águas e sede da Rota Turística Religiosa: Caminho de Nhá Chica e Padre Victor. [4d]
Campanha foi o berço cultural do Sul Minas e até hoje
Devido ao seu potencial turístico e à preservação de edifícios de considerável valor histórico, como aqueles onde residiu Bárbara Heliodora e nasceu Vital Brasil, a cidade representa uma parcela importante da riqueza cultural do Estado. [5d]
Bandeira: Cada uma das expedições, na época colonial, que partia de São Paulo a fim de desbravar o território brasileiro, capturar indígenas e buscar ouro e pedras preciosas.
Caligem: 1. nevoeiro denso; vapor negro e espesso. 2. Escuridão, trevas profundas.
Capitania: Designação das primeiras divisões administrativas do Brasil, das quais se originaram as províncias e os Estados de hoje.
Capitania hereditária: primeira divisão administrativa de terras do Brasil, doadas pelo governo português e que se transmitia por herança.
Capitão-mor: Título dado ao governador de uma capitania hereditária.
Chapada: 1. GEOGR Extensão de terreno com certa altitude e topo relativamente plano; planície. 2 GEOGR Área de terreno regular e plano; planície. 3 Esplanada no alto de um morro ou montanha; planície.
Embaú: Garganta do Embaú --> É a passagem por onde os bandeirantes que vinham de cidades do Vale do Paraíba e se embrenhavam pelo chamado "caminho geral do sertão" em direção a Minas Gerais.
Embaú, na língua tupi, quer dizer “a derradeira aguada” segundo Teodoro Sampaio mas Silveira Bueno, em seu “Vocabulário Tupi-Guarani-Português, afirma que quer dizer “bica d'água”. (Wikipedia/Garganta do Embaú)
De sua parte, Diogo de Vasconcelos diz que o termo significa "garganta", por se tratar do nome pelo qual os aventureiros chamavam a depressão da Mantiqueira por onde fizeram a passagem (VASCONCELOS, 1904, p. 35)
Emboaba: HIST Alcunha pejorativa dada pelos descendentes dos bandeirantes paulistas, no tempo do Brasil colonial, aos brasileiros de outras origens, aos portugueses ou outros estrangeiros que eram atraídos pelo ouro e pelas pedras preciosas do país.
Entrada: Expedição organizada por autoridades na época do Brasil colônia, que partia do litoral para o interior do país, com o objetivo de aprisionar indígenas e procurar ouro, prata e pedras preciosas, obedecendo ao tratado de Tordesilhas.
Mameluco: Filho de índio com branco.
Província: No Brasil imperial, cada uma das grandes divisões administrativas que tinha como administrador um presidente.
Sertão: 1. Região do interior, com povoação escassa e longe dos núcleos urbanos, onde a pecuária se sobrepõe às atividades agrícolas. 2. O interior das terras. Mato distante da costa marítima.
Sesmaria: Pedaço de terra devoluta ou cuja cultura fora abandonada, que os reis de Portugal entregavam a sesmeiros, para que o cultivassem.
Termo: Limite geográfico ou circunvizinhança; espaço.
Dentro da organização político-territorial portuguesa, a expressão termo de vila foi utilizada como equivalente a município (não se usava essa última palavra em regiões de colônia). Termo de vila correspondia a uma circunscrição em âmbito do poder civil.
Veréa: (Port. antigo) - Vereda, caminho, direção.
(Fontes: Dicionário Michaelis on-line - Dicionário Aulete Digital)
[1a] CORRÊA, Viriato. História do Brasil para crianças. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1957
[2a] MAGALHÃES, Basílio de. História do Brasil. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1942.
[3a] HIGA, Carlos César. Entradas e bandeiras. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/entradas-bandeiras.htm. Acesso em 22 de junho de 2021.
[4a] DO LITORAL AO PLANALTO. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/america-portuguesa/82-%C3%A1rea-vicentina/8758-do-litoral-ao-planalto. Acesso em 22 de junho de 2021.
[5a] FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp, 1996 (E-book)
[6a] BUENO, Eduardo. Brasil: uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro, Leya, 2012
[7a] https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Muralha_(miniss%C3%A9rie) Acesso em 22 de junho de 2021.
[8a] HALFED, Henrique Guilher Fernando; TSCHUDI, Johann Jakob von. A Província Brasileira de Minas Gerais. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro - Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998
[9a] ESTRADA REAL. Disponível em: https://www.mg.gov.br/conteudo/conheca-minas/turismo/estrada-real. Acesso em 22 de junho de 2021
[10a] INSTITUTO ESTRADA REAL. Disponível em: http://www.institutoestradareal.com.br/. Acesso em 22 de junho de 2021
[11a] PRIORE, Mary Del; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo, Planeta do Brasil, 201o.
[12a] ENDERS, Armele. A nova História do Brasil. Rio de Janeiro, Gryphus, 2012
[13a] KOK, Glória. Vestígios indígenas na cartografia do sertão da América portuguesa. Scielo Brasil, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-47142009000200007. Acesso em 28 de junho de 2021
[14a] ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. O Brasil no Século XVIII/XIV e a formação territorial das Minas Gerais - A Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: ISTO É CAMPANHA Aqui nasceu o Sul de Minas: Patrícia Vargas Lopes de Araújo e a Vila da Campanha da Princesa (istoecampanha.blogspot.com) Acesso em 21 de junho de 2021.
[15a] BRITO, Francisco Tavares de. Itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos, estradas, roças, sítios, povoações, lugares, vilas, rios, montes e serras que há da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro. Sevilha, Oficina de Antonio da Sylva, 1732. Disponível em: https://archive.org/details/itinerariogeogra00brit/page/n5/mode/2up?ref=ol&view=theater
[1b] VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1904. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/view/?45000011821#page/10/mode/2up
[2b] FERREIRA DA SILVA, Edna Mara. Fronteiras ao Sul do Sertão das Minas: Aspectos da formação da Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: https://bit.ly/2T6fyYN. Acesso em 21 de junho de 2021.
[3b] FERREIRA DA SILVA, Edna Mara. “Nesta Nobre e Leal Vila da Campanha da Princesa”: afirmação política sob o território colonial no sul das Minas Gerais. Disponível em: https://bit.ly/3jp56Gq. Acesso em 28 de junho de 2021.
[4b] ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. Os Sertões do Rio Verde e a criação da Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cieia/assets/edicoes/2017/arquivos/39.pdf. Acesso em 21 de junho de 2021.
[5b] PARANHOS, Paulo. A passagem bandeirante pelo Caminho Velho das Minas Gerais.. Revista da ASBRAP nº 11. Disponível em: http://www.asbrap.org.br/documentos/revistas/rev11_art2.pdf
[6b] LUÍS, Washington. Na Capitania de São Vicente. Senado Federal, Conselho Editorial, 2004
[7b] PARANHOS, Paulo. Subsídios para a história de Itamonte. Revista da ASBRAP nº 19. Disponível em: http://www.asbrap.org.br/documentos/revistas/rev_19_2013/subsidios_itamonte.pdf
[8b] SALES, José Roberto. História de Varginha. Disponível em: https://fundacaoculturaldevarginha.com.br/historia-de-varginha-por-jose-roberto-sales/
[9b] MAGALHÃES, Basílio de. Expansão Geográfica do Brasil Colonial. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 2a. edição, 1935
[10b] REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL - v. CXXV - Uma figura que resurge, por J. G. Morais Filho. Prefeitura do Município de São Paulo, Depto. de Cultura, 1949, p. 171
[1c] FERREIRA DA SILVA, Edna Mara. Fronteiras ao Sul do Sertão das Minas: Aspectos da formação da Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: https://bit.ly/2T6fyYN
[2c] ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. Os Sertões do Rio Verde e a criação da Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cieia/assets/edicoes/2017/arquivos/39.pdf. Acesso em 22 de junho de 2021.
[3c] PARANHOS, Paulo. Os primeiros núcleos populacionais do Sul das Minas Gerais. Revista da ASBRAP nº 13. Disponível em: http://www.asbrap.org.br/documentos/revistas/rev13_art2.pdf
[4c] A descoberta das Águas e Criação do Povoado. Disponível em: Criação do Povoado (camaralambari.mg.gov.br)
[5c] LEFORT, José do Patrocínio [Mons.] 8o. Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha. Sul de Minas. 1946.
[6c] LAGO, Isabel. Cartas de um outro Matosinhos. http://www.ograndematosinhos.com.br/isabel/outro_matosinhos_84.htm
[7c] MILEO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, págs. 12 e 56.
[8c] CARROZZO, João. História Cronológica de Lambari - Nascida Águas Virtuosas da Campanha. Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988, pág. 20
[1d] Desdobramento dos municípios mineiros a partir de 1711 - Disponível em: https://www.facebook.com/Centro-de-Estudos-Campanhense-Monsenhor-Lefort-1501226250131026. Acesso em 21 de junho de 2021.
[2d] Um pouco da nossa história [Ronald Ferreira] - Disponível em: Prefeitura Municipal da Campanha - Um pouco da nossa história. Acesso em 21 de junho de 2021.
[3d] Gestão no Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural da Campanha - Disponível em: José Reinaldo Arantes: Março 2009 (josereinaldoarantes.blogspot.com). Acesso em 21 de junho de 2021.
[4d] Campanha - berço do Sul de Minas - Disponível em: http://www.institutoestradareal.com.br/cidades/campanha/193. Acesso em 21 de junho de 2021.
[5d] IBGE - Campanha - História & Fotos - Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/campanha/historico. Acesso em 21 de junho de 2021.
[6d] Atlas Digital da América Lusa. Verbete: Campanha da Princesa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Campanha_da_Princesa. Acesso em 20 de setembro de 2021.
[7d] Campanha (Minas Gerais) - Disponível em: Campanha (Minas Gerais) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org). Acesso em 21 de junho de 2021.
Bibliotecas digitais - História, dicionários, obras raras e outros temas
A seguir, alguns sites que disponibilizam (download ou leitura on-line) e-books/livros de história, dicionários e obras raras
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